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b) A VISITA PASTORAL
“Iremos
pregar, com toda simplicidade, Jesus Cristo e Este crucificado.”
Não espereis de nós sublimidade de
eloqüência, artifícios do saber humano; iremos pregar com toda simplicidade, Jesus
Cristo e Este crucificado. Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, Jesus
Cristo, sem conhecimento do qual, em vão nos afadigaremos para alcançar a
salvação; Jesus Cristo, sua imensa caridade, os seus mistérios, a sua Doutrina,
o magistério infalível da sua Igreja, eis o que irá animar e aumentar a vossa
fé. Oh! a fé! Quanto, ó diletíssimos, não deveis almejá-la! (...)
Procuraremos,
como é nosso dever, despertar em todos vós, esta fé; a fé viva e operosa, com a
qual os santos venceram o mundo e alcançaram o reino; a fé que aniquila os
prazeres da carne e do sangue, que dissipa com sua luz, as trevas da razão
humana, que faz ver as coisas, não pela aparência, mas na sua realidade; aquela
fé, que nos é escudo e couraça, para resistir e combater, fortes contra os
príncipes das trevas e contra as iniqüidades espirituais; enfim aquela fé, como
alimento quotidiano, corrobora com a graça, todas as potências da alma e forma,
no dizer de São Paulo, a vida do justo. O justo vive da fé. 15
“Iremos a
vós em nome de Deus.”
Alimentemos
nossa firme confiança, que o orvalho do céu descerá copioso, para fecundar
nossas humildes fadigas e as vossas, ó veneráveis irmãos. - 214 -
Que na ilustre Igreja Placentina se veja em breve,
reflorescer de nova beleza a pureza dos costumes, a modéstia, a religião, a paz
e particularmente, deveis espargir, ao nosso redor, o bom odor de Cristo. Sim,
uma saudável esperança sustenta e nos promete, com a visita que estamos para
iniciar, o despertar do sentimento católico, a observância dos dias festivos, o
devido respeito aos sagrados templos, a freqüência às solenidades da Igreja,
aos Sacramentos, às escolas de doutrina cristã, o apego à gloriosa e infalível
Sede de Pedro e ao seu digníssimo Sucessor, o Grande, o Angélico, o Imortal Pio
IX, finalmente a caridade, vínculo
de perfeição, alma da alma, germe e fundamento de toda virtude cristã.
Portanto, em nome de Deus, não
confiando nada em nossas forças, mas tudo esperando da graça de seu Santo
Espírito, nós iremos, ó filhos queridos, esperando, para vossa salvação, todo o
bem do Senhor Nosso Jesus Cristo, que é o sustento dos Bispos e de sua Igreja:
é a tocha que os ilumina, é o fogo que os aquece, que lhes comunica a palavra
da vida, que os anima a anunciá-la aos povos, sem hesitação, sem temor, com
toda a franqueza.
Felizes
de nós, se nos for concedido poder consumar de tal modo a nossa carreira e
assim poder dar testemunho do evangelho da graça (At 20), santificando-vos a
todos e vivendo em contínua expectativa do tremendo juízo de Deus. 16
“A mais
doce consolação.”
Para
dispor, convenientemente, os fiéis a esta sagrada visita, ordeno que a mesma
seja precedida, em cada paróquia, por um retiro espiritual, ou ao menos por um
tríduo, com pregação exraordinária.
Nada
poupeis, meus veneráveis cooperadores, para que indo, possa dispensar o pão dos
anjos a todos os meus filhos, às crianças da primeira comunhão, àqueles que
estão às portas da eternidade, a todos, sem exceção.
Será
esta, meus irmãos e filhos, a mais querida, a mais doce consolação que podereis
oferecer ao vosso bispo, em meio aos incessantes cuidados e às grandes
preocupações do seu pastoral ministério.
Recomendo-me
de novo às vossas orações e antecipando com votos mais ardentes o momento de
abraçar a todos em Jesus
Cristo, vos concedo com efusão do mais intenso afeto, a
bênção pastoral. 17
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“Estou aqui para fazer-me tudo para todos.”
Ide,
disse Jesus Cristo a seus apóstolos, pregai aos povos, ensinando-lhes a
observar todas as coisas que vos prescrevi. E os apóstolos, obedientes àquela
voz, foram passando de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, de povoado em
povoado, onde encontravam seguidores do crucificado, para levar a todos a luz
da verdade e a vida da graça.
Sucessor,
embora indigno, dos Apóstolos, eis-me novamente no meio de vós, filhos
caríssimos. Oh! como vos revejo com sumo prazer, depois de tantos anos! Recordo
ainda, com alegria, das provas de bondade que me destes ao pisar em vosso
povoado. Estas provas quisestes renová-las, comemorando minha chegada entre
vós, com sinais da mais viva satisfação. Agradeço-vos, caros filhos, e vos
agradeço em nome de Jesus Cristo, do qual sou apenas um humilde representante.
Não olheis o homem, que é muito fraco e doente, mas sim precisamente aquele que
ele representa e em cujo nome ele age e cujas graças está pronto a
dispensar-vos, haurindo-as dos tesouros da Igreja (...).
Eu
vim para trazer-vos a paz, para abençoar as vossas famílias, os vossos
negócios, os vossos campos, o túmulo dos vossos mortos. Estou aqui para
fazer-me tudo para todos. Para falar aos adultos, com o coração cheio de afeto
paterno, para invocar o divino Espírito Santo sobre a cabeça das crianças, na
Confirmação; para consolar os aflitos, para promover de todos os modos, a
glória de Deus e a salvação das almas. 18
“Vossas
almas são tão caras a mim, quanto me é cara a minha alma.”
Com
a consciência tranqüila, com a recuperação da paz, o coração fortalecido na mesa
do Cordeiro Divino, será mais doce, ó meus caros filhos, unir-vos ao vosso
Bispo, nas santas funções, que irá celebrar. Nós iremos juntos onde repousam as
cinzas dos vossos caros pais, irmãos, esposas, filhos, parentes, amigos, todos
os vossos conterrâneos e prostados sobre aquela terra santa, entre a melancolia
e o sublime silêncio dos túmulos, imploraremos de Deus o eterno repouso, aos
vossos falecidos.
Vós,
ó pais, conduzireis à igreja os vossos filhos para que eu marque suas tenras
frontes com o sagrado Crisma e faça descer sobre eles o Espírito Santo, que os
replene, com seus múltiplos dons, a fim de que não sejam contaminados e
estragados pela corrupção. - 216 -
Quando
eu interrogar, ó pais, os vossos filhos sobre as coisas que todo cristão deve
saber, para ser digno do nome que traz e para se salvar, servos-à gratificante
ouvi-los responder, com satisfação, as minhas perguntas.
Se
algum de vossos filhos tiver necessidade de maior instrução, fareis em vosso
coração, na presença de Deus, o santo propósito de vigiar daqui por diante, com
maior solicitude sua formação religiosa, acompanhando-o sempre ao Catecismo...
Que
santo dia será para todos vós, ó meus queridos, aquele que passareis, em
companhia de vosso Bispo, quando o passardes, na alegria do Senhor e em oração. Fazei
que tenha o conforto ao pensar que também, desta vez, a minha visita fez um
pouco de bem às vossas almas, que me são tão caras, quanto me é cara a minha
alma. Eu não procuro senão as almas, não quero senão as almas de meus filhos e
que nenhuma delas se perca. 19
“Conheço as
minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem.”
Fomos
colocados pelo Espírito Santo, embora imerecidamente, no governo desta, por
tantos títulos ilustre e gloriosa diocese Piazentina, e não pensamos,
veneráveis irmãos e diletíssimos filhos, senão em vós e na salvação de vossas
almas, que para obtê-la, Deus nos é testemunha, daremos de bom grado, se for
necessário, o sangue e a vida.
Tardava
muito ao coração amoroso do pai, ver seus filhos com os próprios olhos; tardava
muito à solicitude do pastor, conhecer de perto todo o seu rebanho. Louvado
seja o Senhor! Finalmente, nossos votos se concretizaram.
Agora
podemos dizer que não existe parte, ainda que remota, desta mística vinha, que
não conheçamos completamente; podemos, a exemplo do príncipe e modelo dos
pastores, Jesus Cristo, repetir com toda a verdade: conheço as minhas ovelhas,
e as minhas ovelhas me conhecem; podemos afirmar aquilo que São Paulo almejava
dizer aos fiéis de Roma; com jubilo eu vim a vós, por vontade de Deus, e
convosco me senti confortado. 20
“Encontramos
em vós a consolação da fé.”
Enfim,
confortamo-nos por ter encontrado em vós, ó diletíssimos, aquelas consolações
que o apóstolo tanto apreciava, as consolações da fé (...) - 217 -
Argumento desta fé, foi, antes de
tudo, ver acorrerem aos tribunais de penitência e aproximarem-se para receber,
por nossas mãos o Sacramento Eucarístico, pessoas de ambos os sexos, de todas as
condições, de todo grau, jovens, crianças (...)
Demonstração
desta fé foi o empenho de todos em participarem das orações públicas, deixando
de boa vontade os trabalhos e negócios; na assistência devota às funções
sagradas; no escutar, com religiosa avidez, a palavra, que várias vezes ao dia,
tanto nas paróquias como nos oratórios públicos e em qualquer ocasião propicia,
não nos omitimos de anunciá-la, com liberdade evangélica, e com toda
simplicidade, admoestando paternalmente a permanecerem firmes na fé e a
caminharem de maneira digna de Deus, agradando a Ele, em todas as coisas,
produzindo frutos de toda boa obra e crescendo na sua ciência.
Demonstração
de fé, a paciente diligência
que percebemos em todos, nos mestres e mestras da Doutrina Cristã, em inculcar
nas crianças, com os primeiros rudimentos da fé, o santo temor de Deus; a sábia
urgência dos bons pais em enviar seus filhos à Igreja, para esta finalidade; no
conduzi-los diante de nós, com transportes de viva alegria, para que fossem
marcados com o santo crisma, o sinal dos fortes.
Demonstração
de fé, o fato de termos encontrado, em geral, as Igrejas restauradas ou
embelezadas, ou também em fase de construção, pela esplêndida liberalidade e pia
generosidade dos fiéis, que unidos aos seus pastores, zelosos e solícitos na
decoração da casa de Deus, não pouparam sacrifícios para dotá-las de alfaias,
de sagrados adornos, de preciosas obras, de nobres trabalhos.
Demonstração
de fé, finalmente, o fato de vir-nos ao encontro, com grande festa, em cada
povoado, que visitamos: o prostar-se, devotamente, quando passávamos, para
serem abençoados; o acompanhar-nos, por longo trecho, à nossa partida, não
obstante, o mais das vezes, a aspereza e dificuldades dos caminhos, o
desencadear-se das chuvas, a cheia dos rios, as intempéries e os incômodos da
estação.
Grato, recordamos a eficacíssima
ajuda que, na sua admirável operosidade e submissão, nos prestaram
continuamente os incansáveis filhos de S. Vicente de Paulo, precedendo-nos, em
quase todas as trezentas e sessenta e cinco paróquias da Diocese, como anjos de
Deus, a preparar-nos o caminho para dar ao nosso povo, a ciência da
salva-ção, para remissão dos seus pecados. O fruto verdadeiramente
copiosíssimo, que recolhemos da sagrada visita, devemos, em grande parte, - 218 -
a
eles; devemo-lo a estes dignos operários do Evangelho; como devemos também ao
nosso clero, seja regular que secular, que na mesma feliz ocasião, exerceram o
santo ministério da palavra. 21
“Visitei a
Diocese pela terceira vez”
Pela
terceira vez, segundo a possibilidade, visitei a Diocese inspecionando 308
paróquias, administrei várias vezes durante o ano o Sacramento da Confirmação,
preguei a palavra de Deus e cumpri os deveres de Bispo.
Nesta terceira visita pastoral, subi ao monte Pena
localizado a 1.700 metros acima do nível do mar. Aqueles lugares montanhosos
são habitados, durante nove meses do ano, por cerca de trezentos operários,
extremamente pobres, que serram lenha, preparam o carvão e fazem outros
trabalhos do gênero; habitam debaixo de azinheiras seculares, protegendo-se das
intempéries, sob seus ramos, e nunca, ou quase nunca, se beneficiam da
assistência espiritual de um sacerdote. A única casa rústica que ali existe,
foi transformada durante aquele tempo, em palácio episcopal e catedral.
Permanecendo ali, por quatro dias, confortei, com a palavra e as obras de
piedade essa porção abandonada do meu rebanho, que muito me alegrou com a
simplicidade da fé e dos costumes. Eminentíssimo Padre, onde falta a obra dos
homens, superabunda a graça de Deus, em favor dos fiéis que buscam Deus, com
coração puro e boa vontade.
Consagrei 28 igrejas, algumas das
quais totalmente novas, outras restauradas e embelezadas. Além disso, abençoei
18 consertos de sinos, na maior parte das vezes, subindo nas torres.
Havia
necessidade urgente de prover muitas paróquias rurais, de cemitérios, aptos
segundo as prescrições da lei.
Toda vez que se apresentou a oportunidade, não deixei
de recomendar isto à autoridade civil competente, tanto pública, quanto
particularmente; não foi em vão, porque neste triênio abençoei 35 novos
cemitérios, aptos e dispostos conforme as prescrições canônicas e sinodais. 22 - 219 -
“Um trabalho
superior as minhas forças.”
Quando retornei da Visita
Pastoral, depois de uma ausência de várias semanas, encontro a vossa caríssima;
há muito a desejava e podeis
imaginar, quanto prazer me trouxe.
Estou contente em saber que estais
bem, graças a Deus; eu também gozo de boa saúde, apesar das contínuas fadigas.
Visitei em três semanas 20 paróquias das montanhas mais altas, fazendo a cavalo
algumas centenas de milhas. Como nos sentimos bem, em meio àquela gente de fé,
longe dos barulhos e dos mexericos do mundo!
Partirei
durante a semana para Borgotaro e continuarei as visitas, durante o mês de
julho. 23
Esta
é a 123ª Paróquia que visito neste
ano; é coisa de louco, mas quero recuperar o tempo perdido no ano passado. Minha
saúde, graças a Deus, está sempre ótima. Dizem que me rejuvenesço. Sim, é a
Juventude da flor que de manhã nasce bela e cheia de vida e à tarde fenece. Mas
pouco importa, contanto que se chegue onde estamos destinados. 24
Pretender
não ter incômodos, em nossa idade, é um pouco demais, o organismo se desgasta e
nós nos aproximamos, a passos largos, do último passo. Enquanto isso fala-se,
prega-se, escreve-se, cavalga-se, anda-se, suase, trabalha-se para, ao menos,
agradar ao Senhor. 25
Com vivíssima alegria, recebo aqui, onde me encontro, em Visita Pastoral, a
vossa gentilíssima de 2 do corrente e vos agradeço pelo vosso afeto. grande
coração e alma generosa. Estes trapalhões de jornalistas me pintaram moribundo,
enquanto a minha indisposição não foi senão uma pequena febre de 24 horas, que
me surpreendeu exatamente no retorno de uma fadigante visita às paróquias dos
montes Apeninos. Foram fadigas de todos os tipos, que paguei com três ou quatro
dias de repouso e depois retomei o meu curso. Não sei me moderar, nem consigo
me adaptar ao pensamento de mudar de método, porém devo fazê-lo.
Os
anos passam; 64, as fadigas se fazem sentir, as necessidades se tornam mais
graves, a maré socialista sobe e tudo me persuade e me impulsiona a um trabalho
superior às minhas fraquezas físicas e morais e vamos em frente, em nome do
Senhor, até que posso. 26
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