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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
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  • TERCEIRA PARTE     HOMEM DA PALAVRA E PARA A PALAVRA
    • 1.  PASTOR
      • d) EDUCAÇÃO CRISTÃ E INSTRUÇÃO RELIGIOSA
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d) EDUCAÇÃO CRISTÃ E INSTRUÇÃO RELIGIOSA

 

Educar é tirar fora aquilo que está dentro.”

 

             A palavra educar tem em si qualquer coisa que deve ser estudada. É uma palavra derivada da língua latina e significa tirar para fora o que está dentro, abrir e desenvolver aquilo que está fechado em germe. Ora, aplicando esta palavra ao homem, convém dizer que a educação é o modo de desenvolver os gérmens que estão no coração humano e de colocar à luz aquilo que está escondido e em germe. Este modo de falar pressupõe que Deus tenha colocado no coração do homem, qualquer coisa, que se assemelha ao germe, de onde sai depois a flor tenra e aromática.

             É de fato, assim. O educador, falando com propriedade, não coloca nada de fora na alma da criança, mas sim, com ação cuidadosa e amorosa, explica e desenvolve o que está envolvido nos recônditos do coração e faz florescer as sementes e os gérmens, não só das virtudes naturais, mas também os felizes gérmens e as sementes de virtudes sobrenaturais, que foram inseridas em nossa alma, no Batismo.

             A este ponto, a verdadeira e sólida educação reduz-se a isto; vossa obra, ó pais, ó mães, ó mestres, ó instrutores, ó sacerdotes,


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ó párocos, vós todos sois chamados, de algum modo, ao nobilíssimo e divino ofício de educar a juventude.

             Note-se porém, que, ao lado dos gérmens do bem, se encontram no coração do homem os gérmens do mal. A criança traz no fundo de seu ser, as sementes de um malvado ou de um santo.

          Portanto, a vossa obra, ó diletíssimos, deve ter em mira, sufocar a semente, para que a boa possa erguer-se e brotar viçosa. Deveis quebrar os estímulos da voluptuosidade e do orgulho, que se manifestam, desde a infância; deveis fazer de tal modo que a criança siga, não o ímpeto das paixões, mas o impulso da virtude; que se prepare para agir pela retidão do bem, que brilha na mente e não atraído pelo prazer dos sentidos que seduz e corrompe. Como conseguir isto? Instilando em sua alma desde os mais tenros anos, o santo temor de Deus; não é possível educação verdadeira, sem a religião. Educar a criança é depositar a verdade, toda a verdade, na sua mente, da mais simples à mais elevada; e abrir o seu coração aos mais nobres sentimentos, os de pureza mais delicada e de honra mais pura, é fazer palpitar sua alma com es palavras: Deus, Pátria, Liberdade, Igualdade, Fraternidade, as quais o evangelho consagra. 38

 

“O sistema da mumificação ou a idade da pedra não é o evangelho.”

 

          Em que consiste a verdadeira educação?

          Talvez em aprender bem um mistér ou uma profissão qualquer, ou na arte de se apresentar ao mundo, com graça? Isto poderá ser a casca, ou o verniz, mas não é a educação.

          E também não se quer confundir, como muitos fazem, a educação com a instrução, fazendo delas uma só e mesma coisa. A instrução se dirige ao intelecto, a educação se endereça à vontade.

          A instrução faz homens sábios, a educação forma os homens virtuosos. A primeira se preocupa com a ciência, a segunda visa à consciência. Aquela tem a razão como meio, esta tem a razão como fim. Portanto, a educação está acima da instrução e da ciência, como o bem domina o verdadeiro e a virtude supera em qualidade, o talento.

             Todavia, hoje, não se fala senão em iluminar a mente. Instrução, grita-se por toda a parte, instrução! e está bem.


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             Discípulos daquele Deus que gosta de ser chamado o Deus da ciência, também nós gostamos de nobres estudos, gostamos de que a eles se dediquem e os cultivem. Desejamos que todos, ricos e pobres, nobres e plebeus, cada um segundo o próprio grau de instrução, adquira os conhecimentos necessários e convenientes ao próprio estado.

        Nós, antes, para os primeiros reputamos uma conquista tudo aquilo que contribui para o avanço, mesmo de um só passo, no caminho do progresso civil, e saudamos com júbilo o reflorescimento da Pátria que se adorna com nova glória. Aquele obstinar-se na velharia e manter-se, como pólipos, agarrados ao antigo; aquele gritarfora” a tudo que tem ares de renovação, no mesmo terreno dos fatos; aquele suscitar desconfiança contra quem não se dobra, para representar o sistema da mumificação, ou a idade da pedra não, não é evangelho, não é religião, é sintoma de ignorância e de teimosia, antes que, de sabedoria e de honestidade.

          Cultive-se também as artes e as ciências, contanto que não se além de seus limites naturais; também se difunda largamente o bem à luz do ensinamento por tudo, mas não se esqueça de unir à instrução a educação. 39

 

“Não poupeis esforços, para educar cristãmente.”

 

          Pais e mães, cuidai também vós, de guardar vossa casa, porque os tempos são muitos tristes, e o adversário de todo o bem, como um leão a rugir, está rodeando, procurando devorar vossos filhos. São almas que valem o sangue de Jesus e Ele vos pedirá contas a preço de sangue. Não poupeis esforços para educá-los cristãmente e ajudá-los a crescer no temor de Deus, se quereis que sejam dóceis, respeitosos e amáveis. Vigiai os lugares que freqüentam, as companhias que escolhem, os livros que lêem, mas sobretudo caminhai na presença deles, como bom exemplo, de tal modo, que tenham em vós uma escola de toda a virtude cristã, continuamente aberta.

        Patrões, chefes de oficinas e todos que tendes autoridade sobre os outros, fazei com que o barulho do trabalho cesse nos dias festivos, e que todos os rumores da indústria emudeçam, para que não fale no sagrado dia de Deus, senão a voz do sacerdote e a voz da religião.


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             Mestres, instrutores, educadores da juventude, que apreçamos de modo singular, uma palavra também para vós. O problema do futuro está nas vossas mãos. Muitos se perguntam se as coisas, no final serão melhores, mas não sabem o que responder. Sim, respondemos nós, sem medo de errar; serão melhores, se os vossos esforços forem dignos da nobre missão a vós confiada, se colocardes todo esforço, para que não seja só racional e sério, o método de ensino, mas muito mais, para que o mesmo ensino seja sadio e plenamente conforme à católica, tanto nas letras, como nas ciências. Assim formareis ótimos cidadãos. A religião e a sociedade, o céu e a terra, os homens e Deus esperam silenciosos a vossa obra; a hora é suprema, o êxito decisivo. 40

 

“A instrução religiosa, eis o grande meio da educação cristã.”

 

             Educação e religião são duas coisas inseparáveis e uma deve ser a base da outra. Portanto, é necessário fazer brilhar na mente das criaturas a luz daquelas verdades que devem ser a norma de seu pensar e agir e ensinar-lhes de modo claro, fácil, respeitável, estável e eficaz, todos os seus deveres; é necessário pegar esta pequena criatura do berço e conduzi-la suavemente a seu fim último, que é o de conhecer o seu Criador, amá-lo e servi-lo, para depois ir gozá-lo eternamente. Em outros termos, é necessário instruir a criança, mas instrui-la, cristãmente.

             A instrução religiosa, eis o grande meio da educação cristã; eis a suprema necessidade do nosso tempo, e eis o maior dos vossos deveres, ó pais... Tendes filhos? — pergunta o Senhor pela boca do eclesiástico: Instruí-os e orientai-os bem, desde a infância.

             Quem pode colocar em dúvida que este seja vosso preciso dever? Quem é esta criatura, que por meio de vós, vem aumentar o número dos vivos? Esta criatura é um homem. Neste ser tão gracioso, tão frágil, assim se expressa um insigne escritor, hospeda uma alma que é de origem celeste, quase hálito do coração de Deus e raio de sua beleza imortal; uma alma resgatada por Jesus Cristo a preço de seu sangue, uma alma que a água do santo Batismo purificou e na qual o Espírito Santo difunde suas graças mais puras e encontra suas complacências mais vivas. O pai e mãe, saudai esta celeste estrangeira que veio assentar-se junto a vós, inclinai-vos a esta hóspede divina, que recolheu suas asas para habitar convosco, sob o bendito nome de vosso filho. Este pequenino corpo que vedes e que tanto vos encanta,


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não é senão invólucro e o santuário de um espírito, tanto mais nobre, que vem de Deus e a Deus deve retornar. Fixai bem este pensamento: Deus vos associou a si mesmo, na obra de dar a vida natural a este ser e quer servir-se de vós, para alimentar-lhe a vida espiritual, para que cumpra sua missão na terra e alcance seu destino, no céu. 41

 

“O inalienável direito dos pais de proporcionar aos filhos uma instrução sadia e vivificante.”

 

A medida tomada para dar instrução religiosa, somente às crianças, que os pais pediam expressamente, é de tudo ilusória. De fato, não se consegue compreender, como os autores da lamentável disposição, não perceberam a impressão que deve causar na alma de criança, vendo o ensino religioso, em condições tão diferentes das outras matérias.

Para ser estimulada a um estudo diligente, a criança precisa conhecer a importância e a necessidade daquilo que lhe é ensinado. Que espenho poderá ter com o ensino daquilo a que a autoridade escolar se mostra fria ou hostil, apenas tolerando-o de vontade? (...).

          Promovendo, em nome da ciência e da liberdade, a escola leiga, como se faz atualmente, infelizmente não se procura, senão arrancar a juventude da religião e da família, para sacrificá-la de corpo e alma à maçonaria imperante.  Até agora, os modernos reformadores procuravam esconder, com sutil astúcia, seu objetivo final (...), mas hoje a máscara caiu. Não é mais (e o dizemos amargurados até as lágrimas por causa dos gravíssimos danos, irreparáveis, que virão à Igreja, e à pátria, os dois supremos amores de nossa alma) não é mais para formar, como eles dizem, as nações fortes e grandes, ou somente para limitar a um ponto, a potência da Igreja, que se quer entregar a juventude ao poder laical; é para arrancar das almas tenras, todo o sentimento de , toda a idéia de Deus. Confessa-se agora sem mistério, à luz do sol.

             No início, especialmente os pais, não olharam muito para as sutilezas, mas agora começam a perceber a traição e se levantam, para proclamar seu inalienável direito de proporcionar aos filhos uma instrução sadia e vivificante, como é aquela que se conhece em nome de Deus, na Igreja. 42


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“As primeiras impressões são fortes e quase sempre decisivas.”

 

              As primeiras impressões são fortes e quase sempre decisivas, para toda a vida.

               Quantos cuidados amorosos deve suscitar este pensamento! É na primeira infância que se imprime, mais facilmente, na sua memória, as lições de e de moral. As verdades cristãs atingem mais vivamente o espírito. As tenras convicções de piedade comovem, com mais força o coração. Sobre a cera mole se imprime facilmente a imagem de Deus, mas se exige o cinzel e são necessários esforços e tempo, para esculpi-la sobre o mármore.

               Quando não existem ainda preconceitos a dissipar, nem maus hábitos para corrigir, a alma se modela mais facilmente aos santos deveres. E quando é que o sábio agricultor coloca a estaca na planta para que não cresça torta? Não é talvez, quando ela ainda tenra? Ele sabe que mais tarde, seria inútil. Assim deveis fazer vós, ó caríssimos.

              A semente da e da religião, que lançais no terreno ainda virgem da infância, se tornará bem cedo seu sustento. O sentimentos cristãos colocará nela raízes profundas, e crescerá uma árvore forte. Os ventos das paixões poderão, às vezes, sacudi-las, poderão jogar por terra os frutos, quebrar algum galho, mas o tronco permanecerá e no primeiro sol de primavera, brotarão os novos galhos e dará frutos abundantes.  43

 

Infundir em suas almas o conhecimento de Cristo sacramentado.”

 

              As crianças e os jovens tenham o primeiro lugar, no vosso zelo. Sabeis que são prediletos de Cristo: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais.” Antes respeitai esta atração que sentem. para comigo e favorecei-a. Ensinai-lhes que possuirão Cristo, acreditando n’Ele e O atrairão, imitando-O.

               Exortai, pois, as mães, que mediante este sacramento, se apoderem de Cristo e o apresentem aos filhos, instruindo-os, oportunamente, desde os mais tenros anos conforme o exemplo de Sta. Mônica; ensinem-lhes a doutrina do apóstolo: “A mulher se salvará através da maternidade, contanto que persevere na ” (lTm 2,15).

               Convencei as mães que não poderão instruir e educar retamente os filhos, se não se preocuparem em infundir-lhes na alma, o conhecimento de Cristo sacramentado. Nossos sacerdotes deverão convidar também os pais a receberem Cristo e atraí-los para Ele, e aprendam de Cristo Senhor, no


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sacramento, a solicitude e a Vigilância com sua família.

          Gostaria que os párocos conseguissem persuadi-los a fazer celebrar três ou quatro missas no ano, para o bem temporal e espiritual dos filhos. Mencionem o exemplo do santo : “ mandava chamar os filhos e os purificava e levantando-se muito cedo, oferecia holocaustos por todos eles” ( 1,5). Portanto, inculcai em todos, este bom costume, certos de que, muitos aderirão ao vosso convite, com grande benefício para suas famílias. 44

 

Educando para a , educamos também para a verdadeira liberdade.”

 

          O futuro de vossa família e da pátria está em vossas mãos, ó pais cristãos. A vós compete a quem vos convém confiar os próprios filhos, que devem ser o doce conforto e o esperado amparo de vossa velhice; à amorosa tutela de Jesus Cristo, o divino Mestre da verdade e de todo o progresso ordenado, ou à condenação, à desventurada e desumana disciplina de mestres de todo tipo de rebelião.

          Educando os vossos filhos, na de Jesus Cristo, nós os educamos para a verdadeira liberdade. E quem nos chama de inimigos ou amigos desleais da liberdade, porque detestamos de coração aquela ignominiosa licenciosidade, que se arroga o nome de liberdade e o direito, lícito ou não, só teremos esta resposta: Nós amamos a liberdade, com todo o ardor da alma, sempre prontos a defende-la, resolutamente, como o sagrado direito, que nos foi concedido pelo Salvador, para exercer o nosso ministério da paz, e para reivindicá-la, por sentimentos de dever, em favor de todas as almas cristãs a nós confiadas. Mas para nós, esta liberdade é poder pensar, falar e agir, desligados de todos os vínculos injustos, submissos, unicamente ao governo de Deus, respeitadores das leis dos homens. E quanto à outra liberdade que parece ser o desaforado direito de molestar os outros, para contentar-se a si mesmo, repelimos, desdenhosamente o nome e a coisa; quem deseja e pretende a liberdade só para si, profana o nome sagrado, dizendo-se livre: ele é digno de ser escravo. 45




38. Educação cristã. Placência, 1889, pp. 8-9.



39.   Id., pp. 5-6.



40.           Carta Pastoral... pela Santa Quaresma de 1879. Placência, 1879, pp. 47-48. As palavras grifadas são da Encíclica Quod apostolicimuneris de Leão XIII.



41.           Educação cristã. Placência, 1889, pp. 11-13.



42.           Id., pp. 23-24.



43. Id., pp. 14-15.



44.           Discurso do Sínodo, 3 0-8-1899, Sínodo Diocesano Placentino Terceiro, Placência, 1900, pp. 256-257.



45.           Os Direitos Cristãos e os Direitos dos Homens, Bolonha, 1898, pp. 10-11. (Carta coletiva do Episcopado Emiliano, redigida por Dom Scalabrini).






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