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a) O PRIMADO DA CATEQUESE
“Apóstolo
do catecismo.” - 245 -
Aflige-me o coração, ao
ver tantos jovens estudantes que se perdem, enquanto muito facilmente nós
poderíamos salvá-los!... Sejam para eles, ó irmãos, os nossos cuidados mais solícitos
e afetuosos. Salvemo-la, oh,
salvemos esta pobre juventude
estudantil, e com ela teremos salvo tudo!... Não é só pelo grande afeto que
tenho por ela, que ouso, aqui novamente, colocar diante de vós este grito, mas também
para desobrigar-me de uma promessa já feita a Pio IX, de saudosa memória.
Continue, disse-me um dia, com aquele seu modo todo paterno, continue a ser
Apóstolo do Catecismo e assim dizendo, talvez para que não me esquecesse da
recomendação, presenteou-me, na presença de vários Bispos, com esta cruz...
Confuso, com tão digno tratamento, tão imprevisto, quando imerecido, não sabia o que responder. Porém, recordo-me muito bem,
que assumi o compromisso de traduzir em atos, do melhor modo possível, aquelas
palavras e também de repeti-las, em toda circunstância oportuna aos meus
co-irmãos do ministério. Portanto, párocos e sacerdotes que aqui estão,
armemo-nos de um zelo forte, iluminado constante, tornemo-nos apóstolos do
catecismo. 1
Distantes, mais do que
estão o céu e a terra, do zelo de um São Carlos Borromeo, de um São Francisco
de Sales, de um Beato Paulo Buralli, nosso glorioso antecessor, de um Ven.
Bellarmino e de outros insígnes pastores vivos, sentimo-nos, porém, arder de
vivíssimo desejo de segui-los, ao menos de longe, nas pegadas, desta obra
salutar do catecismo e nunca, jamais cessaremos de rezar, de afadigar-nos e
insistir oportuna e inoportunamente, com toda a paciência, até conseguir vê-la
perfeitamente cumprida e possa nossa amada Diocese nisto, servir de edificação
e de exemplo, às outras. 2
“Nossos
primeiros pensamentos se voltaram para a juventude.”
Apenas fomos destinados
ao governo desta nobre e insigne Diocese, pelo Supremo Hierarca, nossos
primeiros pensamentos se voltaram para a juventude (...). Suplicamo-vos, em nome de Deus, de velar atentamente sobre a
instrução religiosa das crianças, de descer até elas e nunca perdê-las de
vista, a partilhar com seus pais, das preocupações de encaminhá-las na piedade,
de ensinar-lhes em todos os pontos a doutrina cristã, a consolidá-las na fé
católica.
Nossas palavras que se
referiam ao ensino do catecismo, foram por vós acolhidas, com admiração, e nós
somos felizes em prestar público testemunho de vosso zelo, esperando que os ardentes
votos de nosso coração, a respeito do catecismo sejam coroados. 3 - 246 -
“O
catecismo é o mais natural e primitivo ensino.”
Embora jovem, a alma
quando bem instruída no catecismo, experimenta em si mesma seu Deus, atira-se a
Ele com ardor, ama-O, adora-O, através de belezas que adornam o universo. Quem
faz alguma experiência a respeito, não tem necessidade de palavras para se
convencer.
Falai de Deus a uma criança, no modo que convém a sua idade e
capacidade e ela vos mostrará que não falais de um Ser estranho à sua natureza.
No fundo de sua alma o Ser Supremo fez sentir sua existência, desde os
primórdios da vida e desenvolvendo-se gradualmente pelo catecismo, na criança
este germe precioso, conforme a idade, far-lhe-á brilhar na mente, a parte mais
bela e sublime de sua vida.
A idéia de Deus aparece
desde os primeiros albores da razão humana e todas
as teorias das escolas sem catecismo, são rebatidas cada dia pelas mães, que
falam do Pai Celeste aos pequenos, a quem elevam suas orações; e estes, com as
mãos postas, olhos voltados para o céu, com a voz comovida, repetem as sagradas
palavras que a mãe pronuncia e seu coração enternecido se harmoniza às
palpitações daquilo que os inspira (...).
Educai, religiosamente, um jovem e
vê-lo-eis ainda novo proferir, com respeito, o nome de Deus e, sem que se
aperceba, tomará as máximas da fé, como primeira lei, para a sua inteligência,
para o seu espírito, que começa a sentir-se ele mesmo. Ouvindo maravilhado os
milagres da criação, os imensos benefícios da redenção, conhecerá com alegria
puríssima, o vínculo que une a terra ao céu, o homem a Deus. Sentirá despertar
n’alma o afeto, o reconhecimento, para com o Criador, rezará com amor e com fé;
e tudo isto exercerá uma grande influência sobre o seu futuro, seu espírito,
sua consciência, seu caráter e talvez sobre os destinos de toda a sua vida
(...).
Enquanto
na sociedade, despertou-se um verdadeiro entusiasmo, para dar às crianças, e
isto é muito bom, a mais perfeita educação física e moral, por que não se desejar compreender a
necessidade, bem mais urgente de ensinar-lhes, a tempo, os rudimentos da fé,
que são o princípio da grande obra da educação cristã, o fundamento e a base de
toda a vida? Não há dúvida: o ensino do catecismo deve ser a primeira instrução
a ser dada às crianças. 4
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“O catecismo é a síntese de todos os dogmas e
de toda a moral da Igreja Católica.”
Em seu significado geral,
o catecismo católico não é senão a síntese de todos os dogmas, doutrinas, de
toda a moral da Igreja Católica, síntese maravilhosa, que satisfaz a todas as
aspirações das faculdades humanas, a todas as necessidades d’alma, às quais
esclarece e desvenda as mais árduas e grandes questões que lhe interessam.
Portanto, o catecismo é o
código que dirige a consciência, faz conhecer a Deus, os altos destinos do
homem, os sagrados laços que ligam ao Criador, ao próximo, a si mesmo. É uma
sintética, porém completa exposição de fé, todas as palavras foram de tal modo
ponderadas que dizem muito bem o que definem: a mais pura substância dos dogmas
e da moral do Cristianismo.
É uma teologia elementar,
mas profunda, ajustada à inteligência de todos, positivíssima, porque cada uma
de suas fórmulas encerra uma verdade precisa, expressa, esculpida com palavras
exatas e evidentes ...
O catecismo
contém uma ciência toda divina que tem Deus por mestre (...). Elevando
o homem acima de todas as coisas criadas, transporta-o até o trono do Eterno
Pai e lhe revela a geração do Verbo divino e a processão do Espírito Santo,
descobre-lhe o oceano de grandezas e perfeições infinitas e uma infinidade de
misericórdias inefáveis, os mistérios maravilhosos, como a Encarnação, a Cruz,
os Sacramentos e todas as outras verdades, que nos revelam os mais profundos
mistérios de Deus.
O catecismo,
que se fundamenta na palavra revelada por Deus sua Igreja e que, em germe, está
todo contido nas ordens do Mestre Divino, aos Apóstolos: “ide e ensinai todos
os povos”, um livro que supera a todos os livros, a toda sabedoria humana: o livro dos pequenos e dos grandes,
dos ignorantes e dos sábios (...). Portanto,
não existe depois da Sagrada Escritura, livro mais nobre, nem que possa ou deva
interessar, tão vivamente à sociedade, quanto o catecismo católico.
“Verdadeira fonte
da vida cristã.”
A catequese da Igreja primitiva (...) era uma verdadeira fonte de vida
cristã, onde se desenvolvia e florescia. A catequese não era considerada como
uma simples escola de religião, mas como uma família, na qual as - 248 -
na qual as almas cresciam para
Deus, para a Igreja, para o Céu (...). O espírito dos ouvintes se habituava aos
pensamentos cristãos, a mente era exercitada, para compreender e para julgar as
coisas não mais segundo as luzes da sabedoria pagã, mas segundo as luzes da fé
evangélica. O catequista se aplicava, com a maior caridade, a formar naquelas
almas, ainda jovens na fé, o espírito de Jesus Cristo, antes Jesus Cristo
mesmo: “até que Cristo seja formado em vós.” 6
“O fruto do primeiro Congresso Catequético,
em parte, já obtido.”
Ó irmãos, falar-vos dos
sentimentos que me invadem a alma neste momento, não me é possível. As palavras
eloqüentes que ressoaram entre estas paredes, desde o início, as tão belas e confortantes
coisas ouvidas aqui, as tão úteis propostas discutidas, as tão caras e
oportunas considerações aplaudidas e que foram o sinete mais digno dos nossos
trabalhos, deram a conhecer plenamente quão grande é o amor que arde em vossos
corações, para com Aquele que disse: “vim trazer fogo à terra e não quero senão
que arda?” Portanto a Ele, só a Ele, a honra e a glória, a Ele hoje o hino de
louvor e agradecimento.
Sim, agradeçamo-lo porque não nos reuniu em vão aqui. O fruto do primeiro Congresso Catequético, pode-se dizer, já
foi obtido em parte. De
fato, os nossos povos não poderão permanecer indiferentes à nossa obra.
Grandes
coisas ouviu-se falar a este respeito; grandes coisas convém dizer, sobre este
catecismo, para fazer com que seja melhor conhecido, aqui se reuniram tantas
pessoas insígnes; se um Príncipe da Igreja e dos mais iluminados, se tantos
ilustres Prelados, zelosos pastores de almas, se sábios escritores, vindos de
todas as partes da Itália e não sem sacrifícios e dificuldades, não se ocuparam
nestes dias, de outra coisa, senão de reavivar-lhe o estudo e a prática! Por
certo, deve ser coisa importante! E tal reflexão feita aqui e em todos os
países de onde viestes, acreditai, Veneráveis co-irmãos, que não tenha feito um
grande bem? Acreditai que não sejam gérmens de bons e santos propósitos, para o
futuro? mas nós todos sabemos que nem quem planta é alguma coisa, nem quem
rega, mas quem faz crescer, Deus. A Ele novas ações de graças. 7
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“Promovei a instrução religiosa com ardor e
caridade.”
Promovei, recomendamo-vos
calorosamente, a instrução religiosa, cuidando com ardor e caridade o andamento
regular, nas escolas de catecismo. Por favor, ó veneráveis párocos e
sacerdotes, estimulai os bons, nesta obra de Deus, vos suplicamos: afervorai os
ociosos, animai os tímidos, confortai os diligentes. Oh, quanta alegria
proporcionais aos Anjos, quanta edificação aos fiéis. Quanta consolação ao nosso paterno coração,
se recolherdes em torno de vós, uma fileira de jovens, lhes ensinardes, com
aquele afeto que só a caridade sabe
inspirar, a conhecer, a amar, a servir o Senhor. Logo nos certificaremos disto,
visitando as escolas de catecismo, com particular carinho, em cada paróquia. Pensai
que esperamos ter em tais encontros a mais querida, a mais doce das consolações
e enquanto nos alegramos no Senhor e convosco seremos pródigos de elogios, para
com os verdadeiros pastores; não podemos dissimular nem mesmo em público nosso
triste pesar, a quem não tivesse feito ainda, por quanto lhe fosse possível, o
seu dever, em coisa de tanta necessidade. 8
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