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b) A NECESSIDADE DO CATECISMO
“Instrução religiosa, ou, em outros termos, catecismo!”
Portanto instrução, instrução
religiosa, ou em outros termos: catecismo! sendo exatamente o catecismo, o
fundamento de tal instrução.
Pudéssemos fazer-vos
apreciar este livro como convém, em toda a sua grandeza, importância e toda
eficácia!
O catecismo é o fundamento da
vida cristã. Para usar belas expressões de um dos mais doutos escritores
modernos, ele é o livro dos livros: e embora tenha aparência de um livrinho
muito humilde, mesmo assim, excetuando a Bíblia, supera todos os outros. E a
razão é que ele contém nos seus primeiros gérmens a profundíssima e santíssima
doutrina deixada, como o mais belo dos tesouros, por Jesus Cristo, à Igreja.
Por isso contém, não só tudo aquilo que os papas e os bispos ensinam hoje, mas
aquilo que eles ensinarão sempre. Não só os dogmas cristãos, mas a teologia, a
filosofia e a literatura católica são frutos daqueles germens catequéticos, sem
os quais, não teriam nunca vindo à luz e também agora tem deles, alimento e
vida. Portanto, quem quiser conhecer toda bondade e beleza - 250 -
do catecismo católico, deve fazer
como aquele que, tendo algumas sementes nas mãos, não se contenta apenas de
olhá-las, mas considera virtudes ocultas e pensa que aquelas sementes colocadas
em condições oportunas, pouco a pouco se transformam em grandes árvores, ricas
de galhos, folhas, flores, frutos.
O catecismo! Examinai-o
atentamente e vereis como este livro admirável, este código de sabedoria
popular, embora de pequenas dimensões, contém sozinho aquilo que é mais
necessário saber, isto e, a ciência de nosso destino, com os meios para
alcançá-lo; adapta-se a todas as idades, responde às necessidades de todas as
condições e de todas as inteligências, resolve de modo determinado e seguro
todos os problemas da vida e, sozinho, é capaz de formar bons cristãos, virtuosos
cidadãos. Com fórmulas claras, breves e precisas, que pouco a pouco se
desenvolvem e crescem, ele suscita a fé nos pequenos, alimenta-a nos adultos e
nos homens maduros confirma-a e fortifica-a. 9
“Catequizai
em toda parte, sempre.”
A
primeira comunhão e a crisma são as ocasiões mais comuns. Não basta. Deveis
catequizar as crianças, na igreja, em casa, nas ruas, nas escolas, nas
conversas familiares, nos sermões, em todos os lugares e sempre. E não só os
pobres e os homens do campo, embora a estes deveis ter um amor especial, mas
também os nobres e burgueses, porque são igualmente filhos de Jesus Cristo e da
Igreja e diante do ministro de Cristo, não existe rico ou pobre, nobre ou
plebeu.
Importa,
sobretudo, que vençais um grave preconceito, estabelecido, entre muitos, de que
o catecismo deva ser ensinado somente às crianças, como se a Igreja, depois de
nos ter alimentado amorosamente, com o leite da santa doutrina, quando
crianças, nos deixasse entregues a nós mesmos.
Na
verdade, a Igreja não nos deixa entregues a nós mesmos, em nenhum momento de
nossa vida, porque a sua maternidade é perseverante, continua, incansável. Cada
idade e cada condição de vida tem necessidade de especial e mais abundante
alimento doutrinal. Portanto, catequizai também os adultos.
O catecismo deve ser uma
arma poderosa nas suas mãos, para vencer as terríveis batalhas da vida, e deve,
sobretudo, ensiná-los a fugir do - 251 -
pecado,
a santificar a dor com a paciência, a viver sempre com Jesus Cristo,
imitando-lhe os exemplos, para que coloquem, coração, a esperança da vida
futura. Uma instrução catequética não obtenha estes frutos, não é digna de um
ministro de Jesus e da Igreja e antes é morta, ou quase morta.
Mas
existem almas que requerem, de modo particular, vossos cuidados mais solícitos
e afetuosos e são, como vos dissemos em outras ocasiões, os surdos-mudos e as
surdas-mudas, que porventura se encontram em vossas paróquias. Que também eles
cheguem com o vosso trabalho, bem depressa, ao conhecimento da verdade e possam
sentar-se regenerados, a este festim do espírito. 10
“Eduquemos,
eduquemos!”
Eduquemos,
eduquemos! Com a educação cristã tudo podemos; sem ela, de que nos serve o
resto? Se as artes, as letras, as disciplinas humanas quer-se ver florescer,
convém que a fé torne a reavivá-las. Se se quer o verdadeiro progresso da
ciência, convém que a semente da doutrina Celeste seja espalhada a mãos cheias,
no campo do Senhor e que desde os mais tenros anos se implantem, no espírito
dos jovens, os ensinamentos da Igreja Católica (...).
A
uma falsa ciência inimiga da fé e da mesma razão, devemos opor uma ciência
fundamentada sobre seguros e imutáveis princípios, conforme a razão e a divina
revelação; não podem nunca os ditames da fé e da razão serem contraditórios
entre si, sendo Deus o Supremo Autor de uns e de outros. Não vos esqueçais a
base do verdadeiro saber é o catecismo católico. O catecismo seja ensinado
pelos pais, nas casas, pelos sacerdotes, no templo, pelos professores, nas
escolas e com o catecismo, os filhos aprendam a venerar os pais, que são imagem
do Pai celeste. Com o catecismo os súditos aprenderão a respeitar, nos
princípios, a autoridade que vem de Deus; como catecismo todos aprenderão a
caridade que nos faz semelhantes a Deus e nos torna úteis aos nossos irmãos. 11
“Volte o
catecismo, nas escolas e com ele, ali volte Deus.”
Seja-me
permitido falar, com aquela autoridade que ninguém pode proibir a um Bispo.
Seja-me permitido fazer um voto, antes de dirigir a todos em nome de Deus, para
a salvação das almas, para o bem da mesma
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sociedade civil, uma
oração, que brota do fundo do meu coração, neste momento. Volte, volte a
religião, volte o sacerdote, volte o catecismo, em todas as escolas. Retorne,
não como um mendigo a quem dificilmente se deixa transpor a soleira da casa,
mas como um amigo fiel, como um antigo benfeitor, expulso num momento de
despeito e de ira injusta. Retorne o catecismo nas escolas e, com ele,
retornará Deus. Pois onde Deus não está, existem apenas trevas; lá onde Deus
não está, existe a escuridão, mais densa, quanto aos princípios morais. 12
“Aperfeiçoar
harmoniosamente as faculdades do homem.”
A
instrução, ainda que só do intelecto, e o alfabeto que é seu primeiro degrau,
são um bem que deve ser difundido tanto e mais que os outros, como por exemplo,
a salubridade dos lugares e a higiene do corpo humano. É um desenvolvimento da
natureza humana, antes, um dos mais nobres desenvolvimentos, e quem o contraria
é réu de lesa humanidade. Mas, como tudo tem uma medida, e tudo tem um fim,
esta instrução se proporciona não só às várias classes dos homens, mas deve
harmonizar-se com todas as perfeições de que cada um é capaz. Diz-se educar, ao
aperfeiçoar-se harmoniosamente as faculdades do homem, e a educação compreende
o corpo, e o espírito, o coração, os afetos, a fantasia, a vontade juntamente
com a inteligência (...)
Toda
vez que não se procura educar religiosamente, na criança, a natureza e a
dignidade humana, toda vez que se descuida de formar nele o homem como Deus o
concebeu, o homem como Deus o criou, o homem como Deus quer que se forme e se
complete; toda vez que não se cumprir estas coisas, se atraiçoa e viola-se o
devido respeito à criança e à sua grandeza original. De fato, o homem, nascido
essencialmente, imitador e liberto de si, se não conhecer as grandes verdades
que encontram fácil aceitação em seu coração reto, que é, segundo a bela
expressão de Tertuliano, naturalmente cristão, não formado, no exemplo das
virtudes e no exercício religioso, crescerá disforme, qual plantinha selvagem e
portadora de tristíssimos frutos e a tão graves males não poderá conseguir
remédio oportuno. Harmonizar o ânimo tenro com as virtudes e o bem, é coisa
fácil, mas extirpar os vícios crescidos com os anos, é coisa dificílima. 13 - 253 -
“Despertem-se
os pais.”
Todas
as diligências e criatividades, dos Párocos, de nosso venerável Clero e de todos
os verdadeiros e fervorosos operários da doutrina Cristã, escassos frutos darão
sempre, enquanto os pais despertarem para perceber e exercer seu sacrossanto
dever, para os filhos; por isso, dirigindo-nos a eles, aos seus ouvidos,
intimamos com todas as nossas forças, que se preocupem e se recordem da grave
obrigação que têm de educar bem, as almas, a eles confiadas pela divina
Providência, como sagrados depósitos. Ensina teu filho, como diz o Espírito
Santo (Ecl 30,30) e S. Paulo: Educai filhos na lei do Senhor (Ef 6,4). Recordem
sempre, que principalmente da tenra idade, depende o bom ou mau êxito do Deus
no-lo assegurou e a experiência confirma a cada dia, que a criança, quando toma
um caminho, não se afastará dele, nem mesmo na velhice. (Pr 17,6).
Portanto, ó pais e mães, não sejais vós,
suplicamo-vos pelas entranhas de Jesus Cristo, não sejais daqueles infelizes
pais mais solícitos em educar os próprios filhos, para a comodidade e
proveitos temporais, e de fazê-los
aprender coisas vãs e talvez perigosas, do que
se preocupar com seu verdadeiro bem espiritual e eterno; mais solícitos em
formá-los no espírito, nas máximas, nos usos do mundo, do que nos sentimentos
da religião, da piedade e da fé.
“Vós, pais,
deveis ser os primeiros mestres do catecismo.”
As
novas necessidades dos povos exigem novos cuidados e solicitude sem fim, para
transmitir às crianças, o espírito cristão, fortificar a vontade no bem,
iluminar e indireitar a consciência. nobilitar os sentimentos, formar, segundo
a admirável expressão do Apóstolo, Jesus Cristo em suas almas, sublimando-as
até Deus. Os jovens são os homens do futuro; dentro de poucos anos, eles serão
os pais, as mães, os operários, os ricos, os comerciantes, os magistrados das
paróquias de toda a Diocese; conquistá-los para Deus, eis o caminho mais curto
e mais seguro, para reformar tudo. Em tempo de paz e de fé podem bastar párocos
bons, regulares de virtudes comuns, mas agora que o grito da impiedade não está
tais distante, mas nos persegue e nos traz mortandade; agora, que o furioso
tufão brame e explode e como transbordante enchente ameaça, no seu ímpeto,
levar e arrastar consigo todas as coisas, é necessário que o apostolado da
instrução religiosa da infância, estimulada em outros tempos por Deus, renasça em
toda a sua - 254 -
em toda a sua
amplitude e que o zelo seja ao menos, equivalente à maldade dos tempos.
Mas todas as diligências
e os cuidados do clero em grande parte cairiam por terra se vós não vos
despertardes, ó pais, a compreender e exercer os vossos deveres, para com os
filhos, que em tempos tão tristes tornam-se deveres exclusivamente pessoais.
Como não vos é desconhecido, também lá onde se deveria admirar a gravidade e a
sensatez no pensar, abundam levianos e superficiais, que desprezando toda a
antiga sabedoria dos avós e esmagando a história e a experiência das gerações
passadas, consideram o catecismo um nada, um velho utensílio de casa que se
tornou inútil, um impedimento e um obstáculo à prosperidade e à glória das
nações; deste modo muitos jovens, talvez instruídos em outras coisas, não o
aprendem como deveriam, ou logo, com incrível insipiência, o esquecem e o
desprezam. Vós, ó pais, deveis ser os primeiros mestres do catecismo para os
vossos filhos, já que pelo vínculo conjugal assumistes gravíssima obrigação:
não sois seus pais segundo a carne senão, para sê-lo segundo o espírito. 15
“Vós pais e
mães, tendes a função e a obrigação de transmitir o ensino da Igreja, aos
vossos filhos.”
A vós, ó mães, recordaremos de modo particular, que deveis a
primeira instrução religiosa aos vossos filhos, os quais sempre convosco,
ouvindo vossa voz, acreditam em vós, vos obedecem mais que a qualquer outra
pessoa, a vós que na qualidade exclusiva que adorna a maternidade, tendes
recursos que vos tornam mais aptas que os outros para este nobre dever.
Aquele
cuidado que tendes para que não falte o alimento corporal aos vossos filhos,
deveis usá-lo para o sustento de sua vida espiritual, mediante a primeira
instrução catequética. As grandes verdades recebidas dos lábios maternos não se
apagarão tão facilmente do coração dos vossos filhos, e vós, ó mães cristãs,
realizando esta parte gloriosa do apostolado católico a vós confiada, sereis
merecedoras da gratidão das almas e da Igreja. Esculpi bem na mente, o pais,
pois as crianças vivem da imitação e que o vosso exemplo, mais que as palavras,
sirvam para elas de estímulo e encorajamento.
Não vos contenteis em mandar os vossos filhos à
Doutrina Cristã, mas conduzi-os em tempo, freqüentai vós mesmos os cursos de
preparação, para instrui-los. Ainda que, porventura, tivésseis conhecimento de
toda a - 255 -
ciência da fé, pensai que, quanto
mais se escuta e se medita nas verdades da religião,
tanto mais se descobre nelas as luzes celestes, que esclarecem e deleitam as
almas e por outra parte, deveis dar aos filhos exemplo de respeito, de
obediência à Igreja, de religiosidade, de edificação cristã, para prepará-los a
um futuro feliz. Seja-vos norma de conduta este belíssimo lembrete de Sto.
Agostinho: Os sacerdotes têm a obrigação e o de ensinar doutrina a vós, ó pais
e mães, na casa de Deus, à qual sois convidados a participar e vós tendes o
dever e a obrigação de levar o ensinamento da Igreja aos vossos filhos e
àqueles que estão confiados aos vossos cuidados. 16
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