- 255 -
c) AS ESCOLAS E OS MESTRES DA
DOUTRINA CRISTÃ
“Erijamos em toda a Diocese, as Escolas da Doutrina
Cristã.”
Conhecemos as
graves dificuldades, as muitas fadigas necessárias para este fim, mas nada é impossível
à caridade e ao zelo; esses são os grandes inspiradores e os mestres de todo o
bem. Existem párocos que, embora colocados em posições difíceis, com caridade e
zelo souberam fazer quanto lhes havíamos dito, antes, alguns muito mais,
instituindo festas, exames e prêmios para o catecismo, chamando as crianças da
primeira comunhão a breves exercícios espirituais, ao que merecidamente dão
grande importância, instruindo por longo tempo, os mestres e as mestras,
valendo-se de tudo e de todos, para promover esta obra do Senhor.
Sim, com a
caridade e o zelo faz-se grandes coisas, diremos com Sto. Agostinho, sem muita
fadiga, pois o zelo é fecundo, criativo, paciente, incansável; a caridade não
teme as fadigas, antes as ama e às bendiz: “Onde existe amor, não existe
cansaço, mas se houver cansaço, mesmo este é amado”, com caridade e zelo se
pensa em tudo, tudo se tenta e se cultiva, sucedem-se realizações, a cujo
sustento e incremento é infalível a promessa de Deus. Aqueles que ensinam a
justiça a muitos brilharão como estrelas, na eternidade (Dn 12).
Queremos
retornem ao primitivo vigor, a Companhia e as Escolas da Doutrina Cristã, já
instituídas pelos Bispos, nossos antedessores, repetidamente reerguidas pelos
Sínodos Diocesanos, que em algumas paróquias decaíram de tal modo, que quase
não restem indícios de sua ereção. Como Bispo e Pastor destinado pelo Espírito
Santo a apascentar o - 256 -
rebanho
com o alimento salutar da celeste doutrina, erigimos e declaramos eretas, em
toda a fossa Diocese a Companhia e as Escolas de Doutrina Cristã, para alívio
de nossa consciência, para maior bem das almas a nós confiadas e para a maior
glória de Deus. 17
“Em toda
paróquia sejam formadas quatro classes.”
Em toda paróquia sejam
formadas quatro classes:
I — DO PEQUENO CATECISMO
II — DA PRIMEIRA COMUNHÃO
III — DO CATECISMO GRANDE
IV — DOS ADULTOS
I — Na primeira escola serão inscritas as crianças menores, que devem
aprender as principais verdades da fé e nas paróquias populosas, esta classe
poderá ser subdividida, segundo o número de mestres e das crianças que se
apresentam.
É coisa ótima instruir à parte, aqueles que se
preparam para a primeira comunhão, já que no espírito das crianças causa sempre
grande e salutar impressão, ser separados dos outros para um fim religioso e
santo.
II — Na escola da primeira comunhão serão inscritos os meninos e as
meninas que deverão ser admitidos à mesa eucarística. Quanto à idade, seguindo
a doutrina de São Carlos, poderão ser aceitos aqueles que têm mais ou menos dez
anos (...).
Um ano inteiro, e também
dois, para os menos capazes, de especial instrução e ansiosa espectativa, não é
excessivo, antes necessário e de grande proveito.
III — A terceira escola servirá
para aqueles que já foram admitidos à primeira comunhão. Nesta escola, que
poderá ser subdividida em várias classes, conforme a necessidade, deve-se
completar o ensino religioso com uma exposição clara, nobre, digna, sempre
fácil e lenta; com instrução sólida, bem preparada, que convença, desenvolva e
fortifique a fé, que faça de cada jovenzinho um cristão de juízo reto, franco,
que encontre na sua fé, não impressões passageiras, mas profundas de virtudes,
de santos costumes, que saibam resistir aos ventos furiosos que flagelam a sua
crença, às vagas que sempre surgirão ao seu redor.
IV — À
quarta classe pertencem, enfim, os adultos. Ordinariamente, esta classe é
feita ao povo antes da doutrina explicada do púlpito. Muitos - 257 -
Sínodos Provinciais e Diocesanos ordenam
que também os sacerdotes, que se dedicam a esta instrução, devem ler as
perguntas e as respostas do catecismo, explicando-as com a máxima simplicidade,
quanto às palavras e quanto ao sentido. A finalidade de tal instrução, como a
desta classe, é de capacitar os pais e os adultos em geral, a entender e
explicar exatamente o catecismo aos seus filhos. É tão importante para o futuro
religioso dos famílias, que esta finalidade seja alcançada, que nós esperamos
que todos, também os sacerdotes e párocos, que ensinam na quarta classe a ela
se dediquem para o maior bem da instrução. 18
“Quem não se inflama deste fogo celeste não pode dizer-se
verdadeiramente cristão.”
Quem tem fé,
quem vive de fé, não só ama a Deus, mas se sente impulsionado a fazer com que
também os outros O amem, porque o amor nunca se adapta à indiferença. Disto
resulta aquela febre dos santos, de tudo sacrificar pela salvação das almas.
Daí os prodígios de caridade e de zelo que lemos em suas histórias e que fazem
a admiração dos séculos. O zelo pela glória de Deus os consumia, não os deixava
repousar um só instante. Quem não se inflama deste fogo celeste, não pode se
dizer verdadeiramente cristão e católico. Verdadeiro cristão e católico é
aquele que diz não só com os lábios, cada dia: Senhor venha o teu Reino, mas
que estuda todos os modos, usa todos os meios, emprega todas as suas forças,
para que este Reino se dilate sempre mais e se torne estável sobre a terra.
Verdadeiro cristão e católico é aquele que tem fome e sede de justiça, que
procura praticá-la e torná-la conhecida e amada pelos outros, especialmente,
promovendo a instrução religiosa, aplicando-se ele mesmo a ela. 19
“Jesus Cristo é o eterno modelo.”
O amor inefável e a terníssima
solicitude de Jesus Cristo, para com as crianças, são a glória e a eterna
bênção da infância cristã, de tal modo, que o mestre de catecismo não pode, nem
deve ter outro modelo diferente d’Aquele que catequizou toda a terra (...).
Os maiores mestres do catecismo, os mais perfeitos, não foram tais,
senão porque copiaram em si mesmos, mais que os outros, a imagem deste divino
modelo (...). - 258 -
O mestres de catecismo,
acendei em vós o fogo sagrado do amor que ardia pela infância, no Coração de Jesus
Cristo, e persuadi-vos de que não sereis dignos do vosso ministério, se não
amardes Jesus Cristo e em
Jesus Cristo, as jovens ovelhas do seu místico rebanho (...).
Mas Jesus Cristo deve ser
adorado, não só como modelo, do modo com o qual devem ser tratados os jovens,
mas também do modo de instruí-los. O método usado por Jesus Cristo para ensinar
é divino, por isso o mais conveniente para as crianças.
Aparece desde as
primeiras páginas imortais do Evangelho, que Jesus Cristo instruía, com toda a
autoridade, mas ao mesmo tempo, com a máxima simplicidade. Ele se vale de
exemplos, de trechos de histórias, propõe parábolas, comparações. Jesus Cristo
interroga, deixa-se interrogar, dá esclarecimentos, respostas brevíssimas. No
templo, às margens do Jordão, na barca, sentado no monte, inculca com instrução
familiar as verdades mais profundas, dogmáticas e morais; freqüentemente,
interrompe seus sermões, e pergunta suavemente: compreendestes o que vos
expliquei? Entendestes tudo isso? Às vezes, começa com uma interrogação e para
imprimir mais vivamente a verdade no espírito, aplica-se em diálogos animados
com os ouvintes (...).
Pode-se dizer que o
Evangelho é o livro das catequeses de Jesus Cristo Nosso Senhor e cada lição é
divinamente ampla, sólida, magnífica, simplicíssima; ela replena de luz
celeste, estimula, comove, arrasta com toda a plenitude da verdade, da
autoridade; ela será modelo eterno e adorável do ensinamento cristão, como
Jesus Cristo é o eterno e adorável modelo da caridade e da santa ternura, que o
mestre do catecismo deve dedicar à infância. 20
“A escola de catequese não se limita a ensinar, mas
educar na fé.”
A escola de catequese não
se limita a ensinar às crianças as verdades da fé, mas educa-as na fé, não
somente lhes ensina o cristianismo, mas educa-as no cristianismo. É necessário
não só instruir, mas educar, não só cultivar e desenvolver a mente, mas o
coração. O catequista chamado por S. Paulo não tanto de pedagogo, mas de pai,
deve educar para Deus, para a Igreja, para o céu, aquelas tenras almas,
formando-lhes a inteligência, o coração, o caráter, a consciência com as
exortações, com os exemplos, com as práticas, com os exercícios religiosos. 21 - 259 -
Não se trata apenas de
ensinar às crianças as principais verdades da fé, mas de formar e desenvolver
nelas a consciência e o sentimento cristão; trata-se de prepará-las para as
grandes práticas religiosas, receber os sacramentos da penitência e da crisma;
trata-se de prepará-las a usar a linguagem da fé, a temer e a esperarem em
Deus. 22
Não basta instruir, é
necessário que esta catequese de perseverança
dê uma verdadeira e forte educação cristã, que seja, não só uma boa
escola de ensinamento religioso, mas também uma grande instituição religiosa; que
não só ensine e inculque os princípios da fé, mas lhes insinue no coração,
faça-os contrair os hábitos quotidianos de vida. 23
“Os grandes mestres usem particularmente o zelo.”
S. Bernardo quer que o verdadeiro zelo
seja inflamado pela caridade, informado pela ciência, torne-se invencível pela
constância, prudente na escolha dos meios, fervoroso e invicto na atuação
prática. Quando este mestre é provido de tal zelo, ele não se prende a nenhuma
conduta particular. Ele é calmo, rigoroso,
condescendente, corajoso, contanto que as almas se salvem. Tal zelo ensina
tudo, para aumentar na alma das crianças a verdadeira piedade e afastá-las das
enganadoras e estrepitosas alegrias do mundo.
Os mestres adotem particularmente o zelo, como ensina São Carlos,
procurando manter e aumentar cada dia uma obra de tamanha importância, o que
conseguirão, se com diligência e prontidão cada um procurar fazer bem o seu
trabalho, não poupando nenhum esforço, que julga necessário, para tal tarefa. 24
“Unir ao ensino, uma sólida piedade.”
Para que o
ensino da catequese produza abundantes frutos é necessário que seja
administrado com singular piedade, já que não quem planta, nem quem irriga, mas
Deus que dá o desenvolvimento necessário. S verdade que a graça não destrói,
mas aperfeiçoa a natureza; não exclui, mas supõe as condições humanas, do mesmo
modo que a forma supõe a matéria; todavia é sempre a graça divina que rega e
fecunda as fadigas do catequista, o qual deve unir ao ensino, uma sólida
piedade, a fim de atrair sobre si e seus alunos, as mais escolhidas bênçãos
celestes. 25 - 260 -
Portanto, ó mestres do
catecismo, pedi; Aquele que é de misericórdia, vos atenderá, além dos vossos
desejos; rezai com piedade; é esta a vida dos santos, a vida oculta com Jesus
Cristo em Deus, com a piedade e com oração vos tomareis colunas da casa de
Deus, delícia da Igreja, salvação das crianças, que encontrarão em vós o mais
forte amparo, a mais viva luz. 26
“Os vossos alunos percebam que vós os amais.”
Os vossos pequeninos
alunos percebam que vós os amais, que, se vos afadigais, será unicamente para o
seu bem, então eles receberão de boa vontade, também vossas admoestações e vos ouvirão.
Persuadi-vos; as crianças têm necessidade, mais que de qualquer outra coisa, de
ternura, mas de ternura piedosa. Portanto, longe de vós aquela aspereza e
severidade, aquele tom de voz imperioso que tanto as aborrece. 27
Seja companheira do
mestre do catecismo, uma grande doçura, que não ceda e não degenere em moleza,
que às vezes se converta em prudente severidade, mas não chegue à dureza. Este é um caminho difícil de
se conseguir, mas que é possível atingir-se, quando se pensa nas imensas vantagens,
dos quais é a nobre fonte. 28
Os mestres devem
lembrar-se de que a indulgência com as crianças é sempre mais justa que o
excessivo rigor: que não devem pretender muito, que existe uma sóbria
perfeição, dificílima de se conseguir, mas sem a qual todas as regras, mesmo as
mais sábias, pouco valem; enfim, que a natureza da criança, mais ruim na
superfície que no fundo do coração, necessita ser indireitada, ajudada, mas não
violentada, tendendo com energia ao fim, mas dispondo cada coisa com suavidade.
29
Estenderão sua caridade
também fora da escola, vigiando a conduta dos seus discípulos, lembrados de que
são almas que custam o sangue de Jesus Cristo e que, com pouca fadiga podem ser
formadas para a vida cristã, com imenso proveito das famílias, preparando para
si mesmos, uma coroa de glória. Informarão aos pais sobre o comportamento,
aproveitamento, e sobre as faltas de seus discípulos, mostrando em todas as
ocasiões, zelo prudente e carinhoso interesse pelo bom êxito das crianças. 30 - 261 -
“É mais
fácil formar um orador vibrante, que um bom catequista.”
Costuma-se dizer que é
mais fácil formar um orador vibrante, um bom catequista; por isso não se
aborreça o pároco, ou nem lhe faz as vezes, de reunir os mestres da catequese e
dar-lhes, ele mesmo, algumas lições, explicando o significado de cada palavra
(...). Não se deve contentar em
fazer isto algumas vezes mas deve
continuar por meses, anos, até que o método de ensino tenha penetrado e seja
bem conhecido. 31
“Considero
a catequese uma das ciências mais necessárias.”
Dar catequese às
crianças, ordinariamente é considerada a coisa fácil do mundo; bem ao
contrário! Certo que fazer repetir papagaiamente a doutrina do catecismo é
coisa facílima, mas a e arte de catequizar, tornar compreensível às crianças, a
doutrina de catecismo, esmiuçá-la, adaptá-la àquelas pequenas mentes, enfim
transformá-la em leite para os pequeninos; esta obra dá trabalho. Para
conseguir isto requer-se estudo, diligência, esforço, e boa bagagem de
conhecimento. Considero a catequese uma das ciências mais necessárias aos
eclesiásticos, porque catequizar é uma das principais funções do sagrado
ministério.
Que quero concluir com tudo
isto? Aquilo que meu veneradíssimo co-irmão de Ventimiglia acenou ontem de
manhã, isto é, que favorecer o ensino do catecismo e assegurar os frutos mais
abundantes, que as necessidades atuais reclamam do povo cristão, é
indispensável uma escola de bons catequistas (...)
Existem escolas
destinadas a formar os mestres e as mestras elementares e por que não se
poderia, antes não deveria existir uma, destinada a ensinar e formar os mestres
da mais sublime das ciências, da mais difícil das artes, como é esta de ensinar
o catecismo?
E é exatamente sobre a instituição de uma escola catequética, que
consiste a minha primeira proposta. 32
“Uma grande
associação de catequistas.”
Entre as várias
propostas, eu quero fazer uma, que não seria, senão a atuação do pensamento tão
sábio e oportunamente exposto por Vossa - 262 -
Santidade
na memorável encíclica “Humanum Genus” e que infelizmente, até agora,
permaneceu letra morta. Isto é, a atuação de uma grande associação de
catequistas, na Itália, que tivesse a finalidade de apoiar a instrução
religiosa nas paróquias, nas famílias, nas escolas, que se ocupasse em recolher
ofertas, para instituir as festas do catecismo, da primeira comunhão, para
distruibuir prêmios, em uma palavra, para contrapor uma barreira à maçonaria
imperante (...). Esta associação,
sem dúvida, tomaria logo tão grande impulso, se eu pudesse anunciar no próximo
Congresso que vós, Beatíssimo Padre, não só teria abençoado a idéia, mas
encorajado, eficazmente, a atuação. Oh, se pudesse encerrar o Congresso com
esta simples notícia: O nosso grande e generoso Pontífice Leão XIII oferece,
como base desta associação, a soma de cem mil liras! 33
|