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d) A PEDAGOGIA CATEQUÉTICA
“O conhecimento
e amor de Jesus Cristo Salvador,
deve ocupar o primeiro lugar.”
O conhecimento e o amor
de Jesus Salvador deve absolutamente ocupar o primeiro lugar no espírito do
cristão; por isso, é necessário transmitir-lhe desde a primeira infância uma grande
idéia, inspirando-lhe o mais terno amor, a maior confiança, a mais viva e
eficaz devoção. 34
Quem ensina o catecismo
não deve esquecer-se de que a instrução religiosa tem por finalidade conhecer o
Deus de Jesus Cristo, cujo conhecimento, como está escrito no Evangelho, é a
vida eterna. 35
Além da parte do
catecismo estabelecida para cada classe, coloque-se continuamente sob os olhos
das crianças Jesus Cristo, a Igreja e seu chefe supremo. Jesus Cristo, Autor e
consumador da nossa fé, centro da religião, nossa única esperança, e o que Ele
é como Deus e como homem. A Igreja, sua Esposa Imaculada, coluna e fundamento
de toda a verdade, Mãe de todos os fiéis, fora da qual não há salvação; o
Pastor Supremo, o Bispo dos Bispos, o mestre infalível da verdade, o Papa,
devem ser objeto da fé, da ciência, do mais afetuoso e profundo respeito das
crianças. A fé das gerações jovens é ameaçada de mil modos a respeito destes
pontos; é necessário, portanto, fazê-la crescer sólida, forte, iluminada; uma
fé sem um sério fundamento - 263 -
uma
piedade de hábitos e de sentimentos mal poderia resistir à torrente de erros,
que atualmente devasta a sociedade cristã. 36
“O
catecismo seja compreendido no significado de cada palavra e no conjunto das verdades.”
Os mestres terão o catecismo nas mãos, lerão claramente a pergunta e a
resposta, explicando de modo claro, lento, brevíssimo, o significado de cada
palavra (...). De fato as crianças não entendem aquelas palavras e se forem
preparadas a proferi-las materialmente, não obterão nenhum proveito. Portanto,
é necessário explicar com a maior simplicidade e familiaridade, com noções e
figuras sensíveis, todas e cada uma das palavras do catecismo, a fim de
compreender as sagradas verdades dogmáticas e morais da fé. Acontece
freqüentemente, ver-se jovenzinhos recitar francamente de cor, aquilo que não
entendem; culpa dos mestres que supõem neles excessiva facilidade em entender
as palavras e expressões catequéticas.
Portanto, explicando o
valor de cada palavra, o mestre retorne desde o início, desenvolvendo o sentido
e a força da resposta, propondo novamente sob vários aspectos a coisa, às vezes
errando de propósito as respostas, para deixar às crianças o vivo prazer da
correção, dispensando oportunamente elogios e reprovações, prestando atenção
para que aquela parte do catecismo seja compreendida no significado de cada
palavra e no conjunto da augusta verdade que significa (...).
O catequista não vá além, sem antes
ter percebido, pelo tom da voz, pela alegria dos olhares das crianças, que
foram atingidos pela verdade proposta (...). O mestre que não se atém a esta regra, trairia o próprio mandato,
com grande prejuízo das crianças a ele confiadas. Portanto, o mestre se
abstenha de enfadar-se e cansar-se de repetir, sem pressa de ir adiante,
lembrando o grande dito de Sto. Agostinho: “A profundidade da Doutrina Cristã é
tamanha, que, se desde a infância até a idade decrépita não tivesse estudado como convém, outra coisa, com maior
estudo, com melhor empenho, teria feito cada dia, nisto maior progresso. 37
A capacidade deles é muito limitada; a memória, a reflexão, a
inteligência, não são exercitadas, a linguagem deles é paupérrima a e as
respostas do Catecismo muitas vezes são complexas demais para eles, que - 264 -
necessitam, direi com o Apóstolo,
de leite, não de alimento sólido, isto é, de instrução, expressa com palavras e
frases simplicíssimas, que não superem seu alcance infantil.
Ordinariamente, nos
jardins de infância usem-se algumas perguntas e respostas extraídas do pequeno
catecismo, que não constituem exatamente um ensino gradual, nem tão
inteiramente relacionado para desenvolver no espírito da criança o germe da fé
e da vida cristã, introduzida pela graça batismal. 38
“Torná-lo
quase inapagável.”
Cada aluno tenha o
catecismo próprio da classe a que pertence e o mestre faça estudar o mais
precisamente possível (...).
Cada uma de suas fórmulas
encerra uma verdade importante, as palavras e as frases ponderadas de tal modo,
que a troca por outras, às vezes pode alterar a substância das coisas (...). Disto resulta a importância de marcar
uma lição breve, aula por aula, que deve ser apresentada e recitada à letra,
não permitindo à criança de mudar nem mesmo uma palavra, nem sequer uma sílaba
(...).
Tal estudo imprime tão
fortemente na memória, o texto do catecismo, que torna quase inapagável, com
imenso proveito para as almas, que, também nos seus desvios, encontram sempre no
seu espírito quase indelével as fórmulas, as repreensões e a condenação. Via-se
homens que tinham perdido a fé, tinham passado por todas as fases de
incredulidade, que voltando para Deus, depois de quarenta ou cinqüenta anos de
vida irreligiosa, se recordavam de todas as respostas do catecismo com grande
consolação e benefício para eles. 39
“A
imaginação venha em auxilio do intelecto.”
É necessário aplicar-se
para que a imaginação venha em auxílio do intelecto, colocando-se-lhe diante,
imagens que expliquem as verdades do catecismo. São Francisco de Sales dizia
que o livro da natureza é apto, pelas semelhanças, pelas comparações, pelos
confrontos, e por outras mil coisas. Os antigos Padres estão repletos, e as
Sagradas Escrituras as trazem continuamente. O santo não se limitava a dar
preceitos, mas quando ensinava o catecismo, usava muitas e surpreendentes
imagens e afloravam - 265 -
em seus
lábios, as comparações mais adaptadas. O mestre siga este nobilíssimo modelo e
sua obra será fecunda de frutos consideráveis. 40
A mestra tenha, porém,
bem presente a advertência de não insinuar no espírito das crianças, idéias
muito materiais a respeito paraíso e do inferno, inexatas ou falsas, com o fim
de causar-lhes impressão. No ensino religioso é necessário ater-se sempre que a
fé ensina e não se deixar levar pela fantasia, nem .mesmo por razões de bem. De
fato, uma idéia material pode causar impressão nas crianças, mas crescidas,
percebem a falsidade muito facilmente, como idéia falsa desprezam e rejeitam,
também as verdades mais sagradas. 41
Por quanto lhe seja
possível, os mestres usem histórias; parece que elas tornam mais longa a
instrução, mas ao contrário, abreviam muito, e eliminam a aridez (...). Deus, que conhece plenamente o espírito
do homem que Ele criou, dispôs a religião, em populares, os quais não
sobrecarregam, mas ajudam os simples, a conhecê-las e a reter os mistérios. 42
“Sentidos e
espírito, tudo, a criança ocupe naquilo que estuda.”
A mestra tenha sempre presente esta observação: também na instrução
religiosa da primeira infância, não se deve separar da mente o coração e a
vontade, mas todo o espírito, isto é, mente, coração e vontade devem ser
informados, pela verdade e pelo bem, que a fé cristã nos apresenta. Enfim
valha-se de toda a ocasião, também das recreações, das flores, de tudo, para
fazer as crianças admirarem a grandeza, a bondade, a perfeição de Deus e para
cultivar o sentido de Deus que lhe foi comunicado no santo Batismo, tomo germe
da graça batismal, inserido no espírito, para trazer o seu fruto. 43
Desperte-se nas crianças
o entusiasmo do sentimento, toque-se suavemente todas as cordas do coração,
explore-se todas as suas boas qualidades, para que concebam idéias amáveis,
alegres, e piedosamente belas de sua religião, que as tornem felizes e alegres,
na simplicidade de sua fé. O canto é muito importante para alegrar o espírito
das crianças e tornar querida a religião. 44 - 266 -
Valham-se dos quadros de
que são equipados os jardins de infância, que representam o céu e a terra, para
tornar, de algum modo, compreensível a grandeza e as leis do universo, e
preencham o espírito das crianças de maravilha e admiração. 45
A paixão e morte de Jesus
Cristo devem ser freqüentemente narradas às crianças (...). Para imprimir sempre mais vivamente estes mistérios nos corações,
a mestra utilize imagens do crucifixo e outras relativas à paixão, porque uma
constante experiência ensina ser muito proveitosa na instrução religiosa da
infância. 46
“Prudência e paciência”
A prudência, esta
preciosa virtude, deve ensinar aos mestres o modo de compreender os vários
caracteres e as diversas índoles das crianças. Use prudência, ao repreender, em
tempo e com modos devidos, as crianças dissipadas, orgulhosas, imodestas, para
f azer-lhes sentir a necessidade de serem sábias e atentas. Use prudência, em
apoiar com afeto, os primeiros esforços que a criança faz, contra si mesma para
emendar-se (...). Use grande prudência, em não se permitir nenhuma ação que não
seja boa e não apresente de modo algum, sombra de mal. 47
Portanto, tende muita
paciência, ó mestres; acumulai boas idéias na mente das crianças, pois, chegará
o tempo, em que elas se recordarão por si mesmas. Tende muita paciência em
suportar as naturalmente vivazes, irriquietas, impetuosas. 48
Quando não se usa a
máxima parcimônia e cautela nos castigos, é muito fácil criar no espírito das
crianças, aborrecimentos, desgosto, aversão ao catecismo e à nossa religião. A
história registra nomes que soam incredulidade e cinismo, os quais confessaram
ter iniciado na infância, sua funestíssima disposição à impiedade, quando na
escola de catequese foram punidos muito severa-mente. Desde aquele dia,
perderam todo o prazer, todo o afeto por tal instrução, e quando se tornaram
senhores de si mesmos, não quiseram mais ouvir falar (...).
As punições são necessárias, mas é preciso observar como um sábio
educador, que a alegria e a confiança devem ser as disposições ordinárias das
crianças; caso contrário se amesquinha o seu espírito, abate-se sua coragem,
tornam-se peraltas, irritam-se; se são calmas, tornam-se quase néscias. - 267 -
O castigo rigoroso é o remédio violento
das doenças extremas, que purifica, mas altera o organisino e o frustra. 49
“Uma forma
que atrai e conquista.”
Ensinar religião em toda
sua natural beleza e sobretudo ensiná-la à juventude estudiosa (...) apresentar-lhe o ensino religioso de
maneira mais apta às necessidades da hora presente, de forma que atraia e
conquiste e, como se expressa muito bem um ilustre orador, em um ambiente, se
se quiser, que não seja o templo, mas continue a obra do templo. Para prover a
necessidade extraordinária, é inútil perder-se em vãs discussões; são
necessários meios fora dos habituais. 50
Requer-se esculpir no
espírito dos jovens os princípios da fé, induzi-los contra os mestres da
impiedade, que não faltam em nenhum lugar; ao mesmo tempo, mostrar-lhes toda
indignidade, a loucura, a miséria dos homens incrédulos, não com polêmicas, mas
com exposições claras, nobres, dignas, com instrução catequética sólida, bem
preparada, que convença, desenvolva, ilumine, fortifique a fé, que fundada como
diz o evangelho, não sobre a areia, mas sobre a rocha, possa resistir
vitoriosa, contra todo assalto dos mimigos. 51
“Instuí com
afeto.”
Trata-se de alimentar a
vida, não a material, mas a espiritual das crianças, com o pão da instrução
religiosa. Irmãos caríssimos, deveis persuadir-vos bem! Talvez hoje não exista
obra mais santa mais agradável ao Senhor, mais necessária e útil à sociedade,
mais consoladora e mais meritória, para vós mesmos. Com toda solicitude iluminais
as mentes, combateis a ignorância, destruís os prejuízos fazeis conhecer e amar
a religião, começando exatamente tenra infância.
As crianças, vos diremos
com palavras tão cheias de sabedoria e tão práticas, de um eminente Bispo
italiano, as crianças, acolhei-as, com amor e com doçura paternas, quando
vierem a vós e, se não vierem, à semelhança do divino pastor, perguntai por
elas, procurai-as, pelas ruas e pelas praças. Aguilhoai a inércia e o descuido
dos pais, insisti, pedi-lhes que mandem seus filhos à catequese. Longe os
castigos e as reprovações. Longe os modos - 268 -
duros
e ásperos, que os distanciam de vós também. Tomai-vos crianças, se for
necessário para ganhá-las para Jesus Cristo. Não leveis tanto em conta sua
leviandade e sua indocilidade. Compadecei-vos de sua rudeza e lentidão, em
aprender aquilo que ensinais. Jamais vos mostreis cansados ou aborrecidos com
eles; mas com uma caridade sem limites, contínua, habilidosa, paciente,
benigna, que tudo so fre, tudo espera, necessária para suprir a falta dos meios
e aquele pouco de autoridade, que o tempo e os homens nos tiraram (...). Nas instruções, sede breves, claros e
simples. Os vossos modos sejam amáveis e convenientes. Temperai a aridez do
ensino, entremeando narrações amenas e morais, unindo o útil ao agradável,
estimulando-os a serem assíduos às vossas instruções. Onde os párocos não
tenham coadjutores, ou estes não sejam aptos, dirijam-se a alguns leigos bons,
a algumas piedosas senhoras, para que o ajudem, reunam e conduzam os meninos e as
meninas à Igreja e mantenham o necessário silêncio.
Instruí, instruí os
filhos que a Igreja confiou a vós e seja a vossa, uma instrução educativa; aqui
colocai sentido: um som de lábio vaidoso e estéril não levaria a nada de bem,
se não converterdes a palavra em sentimento. Instruí com afeto e caridade e
instruí sempre. 52
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