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e) UM CATECISMO PARA TODOS
“Um código
de fé, igual para todos.”
Hoje, mais do que nunca, tanto
pelo número dos caminhos, quanto pela variedade e facilidade dos transportes,
as nações mais anti-sociais e longínquas se uniram entre si e se aproximaram,
misturaram-se, por assim dizer, e muitos por falta de trabalho, ou pelo desejo
das riquezas, ou também só pela esperança de melhor sorte, vão de cidade em
cidade, de província em província, de reino em reino, sem nunca ter morada
estável. Nunca, como hoje, o número das migrações e emigrantes foi tão grande.
O que decorre disto? Infelizmente, o que acontece, é que as crianças, em cujo
espírito seria necessário lançar, em tempo, as sementes das virtudes cristãs,
constrangidas a seguir a sorte de seus pais, ficam privadas, muitas vezes,
daquela educação religiosa que se recebe dentro dos muros de casa e
dificilmente são instruidas, nas coisas do espírito. - 269 -
Pensemos
seriamente. Elas imigram do país onde nasceram para outro país de língua
diferente, o que não é raro hoje, em dia, e então a dificuldade é dupla. A
primeira diferença é a da língua; a segunda não uniformidade, ao menos quanto o
sentido é obvio, da doutrina a ser aprendida. Ou ainda, como acontece, pode-se
dizer quotidianamente, elas passam de uma diocese a outra, onde não é a mesma,
quem não vê a que confusão, a que perturbação não está sujeito o intelecto
ainda frágil, pela diversidade do texto.
É bem
verdade que uma mesma coisa pode ser expressa de diferentes maneiras,
permanecendo o conteúdo, mas isso as crianças e as pessoas mais rudes não
chegam a entender. De fato, a experiência demonstra que sua memória é, antes de
tudo, mecânica de tal forma, que em suas mentes, já não são coisas que invocam
o nome, mas os nomes que sugerem as coisas. Antes vejamos, que quando se mudam
as palavras, para elas são mudadas também as coisas, não sabendo, por sua
simplicidade, distinguir a dos acidentes.
Onde
recebem uma mesma catequese mas exposta de forma diversa daquela já aprendida,
acreditavam que lhes estão ministrando uma doutrina também diferente. Portanto,
a confusão, o aborrecimento, a idéia de novo esforço as desanimam, as deprimem
as desviam da escola de catequese, com evidente perigo de ignorá-la para
sempre.
Daqui
a dificuldade da parte de quem deve ensiná-las, seja por que, onde as crianças
são de outra diocese, devem vencer esta sua repugnância e premuni-las contra o
escândalo que poderiam sentir, ao ouvir expor uma doutrina, segundo elas,
totalmente diferente, seja porque se torna necessário retomar desde o início o
ensinamento catequético a respeito delas, não sem grave esforço e perda de
tempo, e com prejuízo para as outras crianças. Acrescente-se que, muitas vezes,
este tempo e este esforço, são tempos e esforços jogados fora, porquanto
existem crianças que, devendo seguir, como se disse acima, a sorte de seus
pais, depois de pouco tempo e no melhor do trabalho, são constrangidas a
truncá-lo, para passar a outras províncias, onde o texto varia, outra vez, o
que as leva ao encontro de dificuldades, sempre maiores.
Enfim,
todos sabemos, quanto o entendimento correto dos divinos mistérios depende da
escolha cuidadosa das palavras. Portanto deixando a variedade dos catecismos,
nada mais fácil, advir, com o passar do tempo que, a fé do povo cristão sofra
as consequências, especialmente agora, que é, em toda parte, assediada. E então, nos perguntamos,
o que será das novas gerações, desde agora tão mal encaminhadas - 270 -
e tão pouco aprofundadas, nas
Coisas do espírito e de Deus?
Tais são, ao que nos
parece, os principais inconvenientes que derivam da variedade e multiplicidade
dos catecismos; por outro lado, inconvenientes que seriam resolvidos logo, se o
catecismo fos. se único e uniforme, para todo o povo católico.
Quem pode dizer quais e
quantas vantagens a Igreja retiraria? Ao menos três nos parecem evidentes:
integridade da doutrina católica, unidade mais segura e mais ampla de todos os
fiéis entre si; mais sensível afeição e uma devoção sempre maior, para com a Sé
Apostólica, de onde parte e se difunde a luz, até os extremos confins da terra,
e, de onde a caridade, que é vínculo de perfeição, e magistério infalível de
quem nos governa, sempre emanaram.
É certo que um código da
fé para todos, no qual se acrescentariam para todos as mesmas orações tanto
matutinas, quanto vespertinas e noturnas, especialmente a respeito dos atos de
fé, esperança, e caridade e contrição, mais os atos a serem feitos pelos fiéis
antes e depois da Comunhão, tal código aprovado, promulgado e estabelecido pelo
Chefe supremo e universal da Igreja, seria um código precioso e admirável, não
só, mas também terrível para os inimigos da fé.
Portanto, apressemos o
dia em que, restabelecida a paz, o Romano Pontífice possa por mãos a uma obra
tão salutar. Oh, quão felizes seremos, se de glória tão bela fosse enriquecido
o Pontificado já tão glorioso de Leão XIII.53
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