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1. A AÇÃO CATÓLICA
Iluminismo, racionalismo,
materialismo e anticlericalismo afasram Cristo da sociedade; é necessário
promover um movimento de retorno, especialmente entre o povo. Só na união está a
força e só na organização, a união é eficiente.
O associacionismo está para se
tornar exclusivo dos inimigos da Igreja: em vez de chorar, é necessário
mexer-se, sair a campo e agir, sob a guia do Papa e dos Bispos.
“Jesus Cristo foi afastado da
sociedade.”
Os modernos incrédulos, já
persuadidos de não poderem derrubar, como desejariam, o trono de Jesus Cristo,
pensaram em confinar este Rei das almas, este invisível Soberano do universo,
entre as paredes do templo, afastando-o de todas as dependências da vida,
particular como pública. Eles usaram todas as artes, recoreram todos os meios,
para conseguir o diabólico intento e infelizmente, em grande parte, por culpa
da indolência dos bons, conseguiram.
Jesus Cristo foi pouco a pouco
afastado da escola, dos costumes, das famílias, da sociedade. Mas (...) quando
Jesus Cristo se afastou, nos demos conta de que fora afastada a alma que
vivificava tudo, percebemos que ao edifício científico, doméstico e social,
veio a faltar o fundamento;
percebemos que estávamos à beira de um abismo!
Tinham dito: cada escola que se
abre é um cárcere que se fecha e depois, os inimigos da Igreja não encontraram
conventos e castelos suficientes para conter o número sempre crescente de
deliqüentes. Tinham dito: o catecismo nas escolas é uma ofensa à liberdade de
pensamento e, uma vez substituído pelo manual dos direitos do homem e depois
por um livro de deveres naturais, nos quais não se falava em Deus, criaram os
novos Espartanos, as bombas de dinamite com as quais a sociedade deverá
combater a última batalha. Tinham dito: a ciência leiga purificará o ambiente - 292 -
e injetará sangue novo
nas veias da crescente geração e as estatísticas dos suicídios, dos duelos, dos
adultérios, os malogros fraudulentos, os assaltos a bancos, a imoralidade
pública, os delitos mais atrozes fizeram calar bem depressa, nos lábios, os
hinos festivos dissolvidos pela nova moral,
sem Deus.
Na família, as ruínas do
tálamo conjugal, a paz perdida, os filhos rebeldes têm demonstrado com muita
eloqüência que só o crucifixo pode proteger o lar. 1
“Reconduzir
Jesus Cristo na sociedade.”
À vista do abismo que
está diante de nós, nos faz voltar atrás horrorizados, e todos sentimos, instintivamente,
a necessidade de um movimento de retorno às santas tradições de nossos pais e
de nossas mães: o abalo do edifício, a poeira das ruínas provocam medo e
sentimos todos a necessidade de restabelecer o equilíbrio, recolocando-lhe a
base que é Jesus Cristo.
Ora, é exatamente esta a
finalidade da ação católica: promover com uma organização conveniente às
exigências dos tempos, um movimento de retorno, já penetrado na consciência de
todos os honestos: reconduzir Jesus Cristo à escola, aos costumes, à família e
à sociedade.
Portanto, a nossa
finalidade não é a de fazer política como gostariam de dar a entender os nossos
adversários. Nós queremos, antes de tudo, fazer obra de saneamento moral, e
depois prover às necessidades de ordem econômica que respondam especialmente às
legítimas aspirações das classes operárias. Os aproveitadores do pobre povo
fizeram até agora magníficas promessas, que não cumpriram.
Prometeram pão e justiça
e hoje faltam ao povo pão e justiça. Nós queremos, exatamente para o bem do
povo, organizar instituições benéficas, estender a ajuda mútua, favorecer a
indústria, facilitar o comércio, fecundar as obras de caridade, mais oportunas
para os nossos dias. Queremos, sobretudo, que a religião dos nossos pais seja
respeitada, que seja respeitada a sua vontade, que seja respeitado o dia do
Senhor, que sejam respeitados os nossos direitos, os sagrados direitos da
igreja e do seu Supremo Chefe, os direitos de todos.
Queremos que o sacerdócio
seja tido em devida consideração, que a juventude cresça informada, por sólidos
princípios e morigerada, que o bem - 293 -
público
seja administrado por homens íntegros tementes a Deus.
Queremos a verdadeira
grandeza da nossa pátria, por isso queremos a liberdade do bem e não do mal,
queremos que acabe a má imprensa, que semeia erros e vomita blasfêmias, que
sejam removidos os escandalos públicos que o povo não seja mais enganado e
traído.
Queremos abrir à criança
aquele livro, que ensina a ser cristão e cidadão; queremos dizer ao operário
que ele, também nesta terra, jamais será feliz, seguindo as máximas do
socialismo, mas que gozará pelo menos uma amostra antecipada da verdadeira
felicidade, seguindo as máximas do Evangelho; queremos dizer aos governantes
que o Senhor não protege os Estados, inutilmente se afadigam aqueles que têm a
sorte nas mãos. Em uma palavra, queremos que a sociedade tome a ser, nas suas leis, nas suas instituições, nos
seus costumes, na sua vida pública, aquilo que deve ser verdadeiramente, isto
é, cristã. 2
“Devemos
nos organizar, devemos nos unir.”
A necessidade da ação
católica é, portanto, urgente e evidente, mas para que seja verdadeiramente
eficaz, convém que seja discip1inada e concorde.
Sim, devemos nos
organizar, devemos nos unir, porque só na união está a força, só a união é o
segredo da vitória.
Daqui a importância e a
necessidade das associações católicas e dos
comitês paroquiais.
Não repetirei aquilo que
vos disse em outras ocasiões a este respeito, seja em particular que em público,
tanto oralmente, como por escrito. Direi antes aquilo que quer o Papa,
intérprete seguro da vontade divina (...).
Ele quer que todas as paróquias da itália tenham seu comitê católico, e
este comitê, sem dúvida, deve estabelecer-se, em cada paróquia da diocese
placentina, e não só deve estabelecer-se mas uma vez estabelecido, deve
manter-se e manter-se operoso.
Desta vez minha palavra
não é palavra de exortação, mas palavra de ordem: dirijo-a principalmente a
vós, meus veneráveis cooperadores, na salvação das almas, porque principalmente
a vós papa dirige em tom solene aquelas graves palavras: “Nas atuais condições da Igreja os sacerdotes devem assumir
também este ofício e dirigir os grupos e as almas dos fiéis abertamente e de
acordo com a autoridade e exemplo.”
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Eu que conheço
suficientemente a vossa filial devoção e perfeita docilidade ao Vigário de
Jesus Cristo, em todas as coisas, não duvido que vos colocareis, se não haveis
já colocado à obra, com vontade enérgica e resoluta.
Fora,
ó meus queridos, às discussões, às desconfianças, aos temores. 3
“Soou a hora de agir.”
Os filhos do trabalho
constituem, em todos os países do mundo, a massa da população. Portanto,
informar os operários sobre o espírito essencialmente pacífico e salutar do
cristianismo, é o mesmo que salvar a sociedade civil.
Os operários, são eles os
prediletos da Igreja, que, no Artífice de Nazaré, reconhece e venera o próprio
Fundador (...).
Enquanto nos alegramos
vivamente porque, em alguns lugares da vossa Diocese, e especialmente nesta
nossa Placência, tais sociedades foram já instituídas e pedimos ao Senhor que abençoe os ilustres eclesiásticos e
leigos que as promoveram. Dirigimo-nos a vos todos, ó queridos e venerandos
co-irmãos, e vos repetimos ser nosso vivíssimo desejo que, em cada Paróquia
ou onde o número dos paroquianos for muito pequeno, ao menos nos pontos
principais de cada vicariato, a associação dos operários seja formada, se
organize e floresça em operosidade, número e concórdia (...).
O socialismo que, impaciente por atirar-se sobre a presa, se agita e
brame e com seus rugidos, faz tremer o mundo, é voz do céu, a nos avisar que
soou a hora de agir, que, inutilmente, vos iludis de poderdes salvar-vos e a
vossos filhos e as vossas coisas. sem colocar um dique seguro à força da
enchente. E qual será este dique, senão a união geral e compacta de todos os
filhos do povo, educados na escola do Evangelho? (...).
Associação e ação católica: eis a característica dos verdadeiros filhos
da Igreja, em nossos tempos; associação e ação, que têm por finalidade secundar
em tudo os desejos do Vigário de Jesus Cristo, de restituir à Igreja e ao seu
Chefe augusto a necessária liberdade, à Itália a grandeza, a prosperidade e a
paz, retornando cristãs as famílias, cristãs as prefeituras, cristãs as
escolas, cristãs as leis, cristão o povo; sobretudo os operários cristãos
(...).
Para atingir mais
facilmente este fim, contribuem admiravelmente os Comitês Paroquiais, que nós
vos recomendamos, em outras ocasiões, e sobre - 295 -
os
quais novamente voltamos a insistir. Oh!, de quantos bens eles são fecundos!
Seja vossa maior preocupação a de estabelecê-los nas paróquias, seja vosso
propósito fazer parte deles. A bênção de Deus não pode faltar às instituições
abencoadas por seu Vigário!
Unamo-nos, unamo-nos. O
que não conseguiriam, se colocassem todos juntos, todos unidos, os italianos
que conservaram a fé?
Oh! se em toda Itália
surgissem os comitês paroquiais e em vez de apenas dois mil, que já existem
fossem dez mil, quantas, çomo se calcula, são as paróquias todas, quem pode
duvidar da grandeza dos resultados que se obteriam em favor da religião e da
pátria? 4
“Os
católicos saiam do seu retiro.”
Os católicos saiam do seu
retiro, cerrados em numerosas falanges, ergam voltadas para o sol, esplêndidas
e respeitadas, as suas bandeiras, discutam, proponham, resolvam, combatam,
trabalhem. E este sopro animador penetrou, graças a Deus, também entre nós.
Ainda não se apagou o eco
das vozes que ressoaram aplaudindo nos fraternos encontros de Alseno, de
Bedônia, de Claraval. Vimos, em pouco tempo, graças à dedicação de zelosos
párocos, murgirem vários comitês católicos. Já temos círculos de juventude,
oratórios festivos, associações operárias, instituições de crédito.
Mas tudo isto, digamos
logo e digamo-lo claro, é muito pouco diante da necessidade da hora presente. 5
“É
necessário que o sacerdote saia do templo.”
Devemos persuadir-nos que
hoje não basta o que bastava tempos atrás. Tempos novos, novas realizações; a
novas chagas, novos remédios; a novas artes de guerra, novos sistemas de
defesa. Hoje, como vos disse outras vezes, é necessário que o sacerdote,
especialmente o pároco, saia do templo, se quiser exercer uma ação salutar no
templo. Porém, entendamo-nos: saia do templo, mas depois de ter haurido luz e
conforto da piedade e da oração; saia do templo, mas tendo sempre o olhar
voltado para o templo; saia do templo, mas como o sol que sai de sua tenda,
resplandecente da luz de Peus e do fogo da caridade que ilumina, aquece,
fecunda (...).
O ódio, a paixão, o zelo áspero, ou
irrefletido da excitação, não devem brotar d’alma e do vosso coração sacerdotal
contra os homens, mas a - 296 -
a
caridade que sofre, geme e se entristece, pela culpe cometida pelo homem e que
o arrasta e arruína (...).
É com estes sentimentos, ó meus veneráveis irmãos, que devemos entrar
no campo da ação católica. Devemos, entrar por ser, hoje, principal e
essencialmente, tarefa nossa. Quem pensasse de outra forma, daria prova de
grande leviandade e de pouca reflexão, para não dizer, de pouca fé.
Não nos iludamos. Se não fizermos, os
outros farão, sem nós e contra nós. Também, se nos acusarem de fins secundários
e de finalidade mundanas.
A acusação antes de a nós
foi feita a Jesus Cristo, que embora ensinasse a dar a César o que é de César,
foi chamado de sedutor da plebe. Convençamo-nos de que é impossível cumprir o
próprio dever e estar em paz com todos. 6
“Recomendo-vos,
a juventude.”
Recomendo-vos de novo, a
juventude. Agora que, com amável atenção e solícito cuidado, admitindo as
crianças à primeira comunhão, tendes certamente cumprido o vosso dever, mas a
missão do pároco não termina aqui, antes é aqui que começa a ser mais grave,
porque é daqui que as paixões começam a despertar no coração dos jovens. É
daqui que os erros, os preconceitos, os escândalos, as seduções do mundo
começam colocar a sua virtude àdura prova. Oh, ai dele, se o pároco fosse tão
descuidado e sem coração, que o deixasse entregue a si mesmo!
Na medida do possível, é
necessário estar a seu lado, é necessário iluminá-los, sustentá-los,
encorajá-los, incentivá-los ao bem, conversando, conservando unido à Igreja e
às práticas religiosas.
O meio mais fácil é o de
instituir, junto ao comitê paroquial, a secção jovem. Entre nós, vários já
fizeram a experiência e com feliz êxito. Exorto-vos todos a imitarem o exemplo.
Encontrareis por isso
dificuldades, mas sereis recompensados com grandes consolações. Se não, para
silenciar outros motivos, como alimentar, depois diante do mesmo comitê estas
outras associacões católicas, também estas tão necessárias?
Para mantê-las florescentes e operosas, será muito útil que cada
Vigário forâneo designe algum sacerdote idôneo, para que, algumas vezes no ano,
faça reuniões familiares, percorrendo as várias paróquias do Vicariato. Melhor
ainda, se o mesmo Vigário forâneo quisesse assumir este compromisso. 7 - 297 -
“Dependência dos pastores.”
Para que a nossa ação
seja e possa dizer-se verdadeiramente católica, recordemo-nos de proceder, em
tudo e sempre, com disciplina. Os soldados não queiram andar na frente dos
capitães. Especialmente em nosso campo, a disciplina é tudo. Sem disciplina, ou
seja, sem a dependência total, rigorosa, constante dos fiéis aos seus pastores,
o fácil ultrapassar do zelo individual gera descontentamento e discórdia,
divide e enfraquece a boa vontade, desvia e desgosta os bons e polui com o
veneno dissolvente do amor próprio, tanto as razões de quem manda, como de quem
obedece. 8
“Estreita
dependência ao princípio hierárquico.”
Entendendo que nada se
faça senão na mais estreita dependência ao princípio hierárquico, o laicato católico,
se quiser ser instrumento de salvação nas mãos de Deus, deve ficar no seu
devido lugar. Na Igreja, ele não é capitão, mas, soldado; não é mestre, mas
discípulo; não é pastor, mas ovelha, e os seus olhos devem estar fixos no Bispo
e ainda mais no Bispo dos Bispos, o Romano Pontífice, em ninguém mais. Não
conhecemos Paulino, ignoramos Melézio, não queremos nem os “se”, nem os “mais,
nem exceções, nem reservas, nem subentendidos de nenhuma espécie.
Deus nunca abençoa as
obras que não forem antes abençoadas por seus legítimos representantes. Um
comitê paroquial que agisse contra ou sem a aprovação de um pároco, um Comitê
diocesano que se permitisse tomar a mínima iniciativa, ou tentasse o mínimo ato
de independência do próprio Bispo, deixaria, por isso mesmo, de ser católico e
receberia imediatamente a nossa condenação. 9
“217
Comitês paroquiais.”
Aconselhado pelo egrégio
Conde Paganuzzi e persuadido de fazer a coisa mais agradável à vossa Santidade,
venho trazer a vosso conhecimento em breve notícia, a IV Reunião Regional dos
Católicos da Emília, realizada aqui sob minha presidência, nos dias 14 e 15 de
junho do corrente ano.
Seja pela intervenção de
quase todos os Bispos da região, seja pelo numeroso comparecimento do clero e
do povo às reuniões, não podia ter sido mais solene. - 298 -
Depois da minha carta
pastoral de 16 de outubro de 1896 (da qual agora lhe envio a cópia)
constituiram-se nesta minha Diocese, além das sessões jovens, as associações
operárias etc., duzentos e dezessete Comitês paroquiais, e todos estavam
largamente representados naquela reunião.
Era também representada
largamente a classe eclesiástica da cidade e da Diocese, verdadeiramente
exemplar e digna de todos os encômios, nisto, como em todo o resto.
Tudo aconteceu com
serenidade e máxima ordem. As deliberações tomadas sobre a Organização
Católica, a Boa Imprensa, as eleições administrativas e políticas, a fundação e
incremento das Caixas Rurais etc..., foram sumamente práticas e oportunas e o
que é mais importante, informadas por aquele espírito de franca submissão aos
Bispos, especialmente hoje, tão necessária e tão desejada por Vossa Santidade. 10
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