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a) AS RAZÕES PROFUNDAS DO CONCILIATORISMO
“A razão reconciliada com a fé, a natureza
com a graça.”
Deus quer (...). Quer que a razão reconciliada com a
fé, a natureza com a graça, a terra com o céu, a obra das criaturas com os
direitos do Criador. Quer que o trabalho e capital, liberdade e autoridade,
igualdade e ordem, fraternidade e paternidade, conservação e progresso, se unam
e se ajudem também eles, como contrapostos harmoniosos. Quer que todos os
elementos da civilização, ciência, letras, artes e indústrias, todo o legítimo interesse,
toda legítima aspiração tenham na religião, na Igreja, no Papado, - 312 -
impulso normas, socorro, elevação,
consagração divina. 1
“Religião e
pátria.”
A pátria terrena e a
pátria celeste. Oh, sim amemos a primeira Ela é um dom de Deus. Amá-la,
procurar a sua prosperidade e grandeza entra no sublime preceito da caridade,
ordenado pelo evangelho, mas para amá-la verdadeiramente, associemos ao seu
amor, o amor pela religião que nos guia à pátria eterna.
Religião e pátria! Estes
dois supremos amores de nossos avós, estas duas aspirações de todo coração
amável, devem, como filhas do mesmo Pai, dar-se o beijo da paz, devem amar-se e
ajudar-se reciprocamente. O que Deus uniu, o homem não separe. 2
“A Itália
sinceramente reconciliada com a Sé Apostólica.”
Religião e Pátria: estas duas supremas
aspirações de toda alma gentil se entrelaçam e se completam, nesta obra de amor
e de redenção, que é a proteção do fraco e se fundem num acordo admirável. As
miseráveis barreiras levantadas pelo ódio e pela ira desaparecem, todos os
braços se estreitam, por caloroso afeto, os lábios, se abrem em atitude de
sorriso e de beijo, e, tolhida toda a distinção de classe ou de partido,
aparece nela, embelezada pelo esplendor cristão, a sentença: homem, irmão dos
homens (...).
Possa a Itália,
sinceramente reconciliada com a Sé Apostólica estimular suas antigas glórias e
acrescentar-lhe outra imperecível, unindo seus luminosos caminhos da
civilização e do progresso, também para seus
filhos distantes. 3
“Santíssimos
amores: o amor da religião e o amor da pátria.”
Depois da má
administração, que fizeram de nossa mísera pátria, os que usurparam o privilégio de se chamarem amantes, seria
mesmo necessário uma boa dose de desfaçatez, para chamar inimigos do país a
nós, que nos opusemos a todos os vexames à
prepotência, às iniqüidades, às explorações, aos crimes que a levaram ao
estado da presente indigência. Estas são acusações ridículas. Nós merecemos
muito mais, o nome dos bons italianos, quanto menos nos misturamos às proezas
de quem traiu e arruinou a Itália.
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Santíssimos amores: o
amor da religião e o amor da pátria.
São dois grandes e nobres
ideais. Ligados ao nosso primeiro choro, morrerão, como o nosso último suspiro,
mas os impulsos generosos de um não devem sufocar as sublimes aspirações do
outro.
A justiça não pode ser
suprimida pelo patriotismo. Os destinos de uma pátria, que se deve conservar,
não podem prevalecer sobre os destinos imortais que nos esperam, nem estes
podem ser conseguidos, sem os meios necessários que a sociedade deve
oferecer-nos, pela observância das leis que Deus deu aos homens, para seu bem
presente e futuro. 4
“A fé se extingue sempre mais.”
Nenhuma coerência de
princípios, nenhum conhecimento dos tempos, nenhuma direção uniforme e segura.
Uma confusão, um bizantismo que não se pode descrever (...). Enquanto
isso, a fé se extingue sempre mais, a caridade sempre mais se esfria e sempre
mais cresce o ódio do laicato contra o Clero. As conseqüências só podem ser
fatais e quem sabe por quanto tempo devemos rê-las. 5
“Uma febre
que causa tormentos.”
A mim permanece outra febre: é a que provêm da vista de tantos que,
se vão distanciando da Igreja, por obra de quem deveria procurar aproximá-los.
Vós sabeis quanto esta febre causa tormentos (...). Verdadeiramente é curioso! Os católicos devem ficar fora do
Parlamento e depois se promovem e se recomendam petições a serem enviadas ao
Parlamento! Será isto coerência? eu não compreendo. 6
“Tranqüilizar
a consciência.”
Compreendo muito bem,
Santo Padre, toda a dificuldade da coisa, todavia peço a Deus que conceda à
Vossa Santidade as luzes e forças necessárias, para aproveitar o momento e não
permitir que deixeis escapar a ocasião que agora se vos oferece, naturalíssima,
de fazer aquilo que, cedo ou tarde, deverá ser feito, e de tranqüilizar a
consciência de tantos pobres - 314 -
operários,
camponeses, empregados; a consciência de todos aqueles, que motivados pelas
condições em que se encontrarão obrigados a transgredir a proibição da S. Sé,
proibição que eu não sei como pode ser de novo publicada, no atual estado de
coisas, sem tirar aquela boa fé que os toma mais desculpáveis, diante de Deus e sem encontrar aborrecimentos de todo tipo,
da parte do poder civil. Calo-me, porque humanamente falando, esta é a única
via que permanece para reivindicar, com alguma esperança de conseguir, os
sacrossantos direitos da Igreja e da S. Sé Apostólica. 7
“Desejamos
que cesse o funesto desentendimento,
sobretudo
para o bem das almas.”
Padre Beatíssimo, não somente falastes de paz, mas ainda indicastes à
Itália os meios seguros para consegui-la. De fato, vós declarastes que a Igreja
Católica, sociedade perfeita e jurídica, que possui em si mesma a virtude de
tornar felizes os povos e as nações, de todos os tempos, não deve sujeitar-se a
nenhum poder terreno, mas gozar da mais absoluta liberdade, com a razão
conclusiva que igual independência e liberdade deve gozar seu supremo guia, o
vigário de Jesus Cristo, o legítimo sucessor do Príncipe dos Apóstolos!
Tolhida esta
independência e esta liberdade, vós nos ensinais que a ação da Igreja é
bloqueada de modo a não poder exercer no mundo, sua sublime missão; missão de
santidade, de ciência, de caridade, e com timbre que nos arranca lágrimas,
proclamais, que nestes tempos estais mais que em vosso poder, em poder dos outros.
Beatíssimo Padre, vós
sofreis e sofrem também muitos de vossos filhos! Mas não sofre menos a Itália,
esta primogênita das nações, que vós amais com razão, com um amor todo
particular.
De fato, vós digno
representante d’Aquele que quer ser chamado de Príncipe da paz, fazeis
esforços, procurando com afeto mais que paterno, reconciliá-lo com o Romano
Pontífice, fonte invejável de toda grandeza e glória. Isto nos parece
transparecer no vosso projeto na memorável Alocução Consistorial de 23 de maio
e mais luminosamente ainda, em sua carta - 315 -
de
15 de junho dirigida ao vosso Exmo. Secretário de Estado.
A estes dois importantes e esplêndidos documentos, nós Bispos da
Província Eclesiástica de Modena, junto às Dioceses de Palma, Placência e de Borgo
S. Donino, fazemos, neste momento um ato de plena adesão, porque desejamos de
coração a liberdade da Igreja e do seu Augusto Chefe e porque desejamos
ardentemente, Padre Beatíssimo, ver terminado o funesto desentendimento,
sobretudo para o bem das almas. 8
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