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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 3.  A QUESTÃO ROMANA
      • b) AS RAZÕES HISTÓRICAS DA QUESTÃO ROMANA
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b) AS RAZÕES HISTÓRICAS DA QUESTÃO ROMANA

 

Está por completar-se o XXV aniversário da ocupação de Roma.”

 

Está se completando, como sabeis, o XXV aniversário da ocupação de Roma, acontecimento que trouxe à Itália tantos aborecimentos e continua sendo motivo de tanto luto, no mundo católico. Quer-se celebrá-lo com festas clamorosas, não obstante homens de provado bom senso político julgarem-nas inoportunas.

Nós que somos católicos e italianos consideramo-las desaconselháveis e perigosas, como desaconselhado e perigoso é tudo aquilo semeia a discórdia, que fomenta a ira nas partes, que torna sempre mais vivo e fatal o desentendimento entre a Igreja e o Estado que divide as forças do nosso país.

Pensai que dor deve experimentar o Papa! E nós não faremos nada para tomar esta dor menos amarga? Não somos nós membros da grande família, da qual Ele é o Chefe? Não é Ele o pai das nossas almas? Não é a ele que tudo devemos, na ordem espiritual? E mesma ordem material, se o refletir, bem, de quantos benefícios não lhe somos devedores? Em tantas confusões de idéias, em tantas convulsões da ordem social, ai de nós, se não existisse o Papa.

Católicos e italianos, não podemos, nem devemos permanecer espectadores indiferentes da guerra que se declara a Ele, a Ele e aquilo que existe de mais glorioso, de mais nobre, de maior na nossa pátria. Oh! é belo declarar-se por Ele, sofrer e combater com Ele especialmente agora que esse papa se chama Leão XIII.


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Portanto, cerquemo-lo sempre de maior afeto, e com aquilo que atualmente domina suas preocupações: é a união de todos os povos a sua Cátedra, estabelecida por Deus, como centro da verdade sobre a terra; cooperando nós também, para este santíssimo fim, prestando-lhe nós, por primeiro, aquela obediência que Ele tem pleno direito, exatamente por causa de sua suprema Autoridade e de seu Magistério infalível; obediência pronta, alegre, generosa, obediência inspirada pelo amor e única digna das grandes almas e dos corações nobres, obediência total, que une os fiéis a seu pároco, os fiéis e o pároco ao seu Bispo, os fiéis, o pároco e o Bispo, ao supremo Pastor. 9

 

“O horrível delito.”

 

Falemos daquele horrível delito, com o qual nossa pátria foi manchada naquela funesta noite de 13 de julho passado. Existe espírito bem formado que, por este motivo, não se sinta encher de horror e ao mesmo tempo, de vergonha?

Um grito de indignação logo se elevou de cada ângulo da terra, de milhões de corações e também nós nos sentimos no dever, como temos feito, de depositar aos pés do nosso Pai comum, os nossos protestos, seja como bispo e como italiano, fazendo-nos intérpretes, também de vossos sentimentos, ó veneráveis irmãos e queridos filhos, que tantas provas de afeição sempre demonstrastes ao imortal Pio IX e ao seu digníssimo sucessor.

Nós vos exortamos a não querer, nisto, dar-vos sossego, mas antes estimular sempre mais em vós mesmos, aquele espírito de ação e de sacrifício, de zelo e de coragem, tão necessários em nossos dias, para defender os sacrossantos direitos da Igreja e de seu augusto Chefe.

Não podemos nos iludir. Um catolicismo especulativo e mental, uma religiosa neutralidade não bastam; não mais são possíveis, na presente sociedade, na convivência atual. É necessário sair do anonimato e manifestar-se abertamente e sinceramente católicos. Por que tanto medo, tanto respeito humano? (...).

É necessidade, é dever de cada um, opor à publicidade do mal, a fecunda, a salutar, a santa publicidade do bem. 10


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Liberdade, só isto a Igreja pede.”

 

Todas as formas de governo são acolhidas e abençoadas pela Igreja, desde a monarquia absoluta, até a democracia mais aberta, pois são, por si mesmas igualmente legítimas, porque sabe-se muito bem que a tranqüilidade dos estados e o verdadeiro bem-estar dos povos dependem, não tanto das formas de governo, quanto da qualidade dos homens chamados à aplicá-las; porque ela toma antes depois o cidadão, e o considera antes nas mãos de Deus, que nas do Estado.

Peregrina celeste, ela não só aceita todas as variedades civis e terrenas, mas abraça-as e as acompanha, contanto que não impeçam o caminho para o céu. Ela não quer ser árbitro nas vicissitudes próprias de toda a ordem social, mas prescreve que não se ofendam as suas leis, que não se passe por cima do seu magistério, que não creia poder fazer, sem Deus, porque sem Ele não existiria mais nada, senão o poder do arbítrio e o império da força.

Ela usurparia mais ou menos os direitos do poder político, se se entrometesse nos tipos de aliança que melhor possam convir a um ou outro tipo de estado, nas instituições dos exércitos, das trocas, dos impostos, das finanças, enfim, daquilo que se refere à economia, às armas, às indústrias, ao comércio. Mas, se em todas as questões políticas, econômicas, administrativas, a Igreja, o lado moral, julgar que as alianças feitas para usurpar alguém ou para oprimir os fracos, são injustas; que o partidarismo, o favoritismo e a corrupção no administrar a justiça é iniqüidade, que ensinar os erros e as más doutrinas à juventude é traição; que o comércio, a indústria, o trabalho, a propriedade sobrecarregada de excessivos impostos é grave infortúnio para os povos, que o juramento falso e a rebelião são horríveis delitos; que os trabalhos e comércio nos dias de festa são escândalos abomináveis; que o chamado matrimônio civil sem o matrimônio religioso é torpe concubinato; que o divórcio absoluto é nulo e abominável, e assim para outras tantas enormidades, ela não faz senão ater-se ao campo estritamente religioso, e nisto não ultrapassa, em nada, o seu direito; cumpre um seu rigoroso dever (...).

Na verdade, a Igreja não é toda a ciência, todo o progresso humano, toda política, mas tem sempre um germe, um sopro fecundo de vida para todas as coisas humanas e quem a repudia, a vida (...).

Liberdade! só isto ela pede, a liberdade com a qual a quer enriquecida, sobretudo, o seu divino Esposo; aquela augusta liberdade que é sua filha natural, aquela legítima e santa liberdade para a defesa


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da qual, milhões e milhões de seus filhos não duvidaram dar o sangue e a vida. Sim, esta liberdade vos pede a Igreja! A liberdade de seus altares e de suas festas, a liberdade de oferecer a Deus o culto supremo que lhe é devido, não só no recinto das sagradas paredes, mas também à luz do sol, a liberdade do ministério e da palavra evangélica, isto é, a liberdade de ensinar, ao mundo, a verdade e a virtude e de vigiar pela sua integridade e pureza; a liberdade da sagrada hierarquia, isto é, a liberdade de vocação de seus levitas e da necessária relação dos Bispos com seu Chefe Supremo; a liberdade de tender à perfeição e de viver a vida comum; a liberdade de propriedade, isto é, a liberdade de possuir e de administrar aquilo que recebe da generosidade dos fiéis, e que constitui seu legítimo patrimônio; finalmente a grande, a fecunda liberdade do ensino e da educação cristã. 11

 

Liberdade e independência do Romano Pontífice.”

 

Dizeis, finalmente, que também vós quereis o bem-estar da pátria, mas que exatamente por isto não podeis deixar de apressar com os desejos mais ardentes, a pronta reconciliação do Estado com a Igreja e com seu Supremo Chefe, permanecendo sempre verdadeiro, que os tempos de maior , já foram para a Itália os tempos de suas maiores glórias; como permanecerá sempre verdade, que a liberdade e a independência da Itália caminharam sempre juntas com a liberdade e a independência do Romano Pontífice. 12

Não existe Bispo que não deplore amargamente as intoleráveis condições a que já tenha sido submetido o Chefe augusto de trezentos milhões de católicos, e a Ele não se una, para renovar os mais formais protestos contra os antigos e os modernos atentados, não há Bispo que não proclame com Ele, ser impossível a prosperidade das coisas públicas na Itália, até que não seja providenciada, como pede toda a razão, a dignidade da Santa Romana, a liberdade e independência do Romano Pontífice. 13

 

“A independência italiana é um fato ordenado

pela divina Providência.”

 

A independência italiana é um fato não somente consagrado pela vontade dos homens e pelo curso fatal da história, mas ordenado pela divina Providência. Não conheço Prelado que conteste a legitimidade de tão solene


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advento, da Nação italiana. Solucionai a questão romana e tereis um clero que será modelo de devoção, para com as instituições da pátria (...). A Igreja nunca condenou estes sentimentos. Ela na sua divina constituição e no equilíbrio prodigioso que a governa, conservando-a aberta a todas as fontes de renovação histórica que nela se acomodam e se disciplinam, não apenas seguiu passo a passo, toda a evolução da civilização, mas foi a sua depositária imanente e o supremo baluarte (...). A Santa é o instituto a quem não se deve esconder a necessidade, a providencial beleza da nação italiana reerguida e sabe-se muito bem que o direito nacional, expresso pelos prebiscitos e com o domínio efetivo não é algo que possa facilmente esconder ou anular. 14

 

Igreja não coloca seu amor nos tronos.”

 

A sua missão é conduzir os homens à maior perfeição moral possível. Por isso todas as questões, nas quais entra religião e moral pertencem necessariamente ao seu domínio: mas por que isto? A Igreja, escreve um moderno apologista, serve-se também do trono para sua necessária liberdade e independência, mas não colocou ainda o seu amor nos tronos e nos seus pobres os seus direitos. Ela recebeu um mandato, muito mais alto, que não é o dos poderes terrenos, um poder bem mais sagrado, que não vem do trono. Ela distribuiu riquezas, tesouros, mas não terrestres, dispensa diademas e coroas que são imarcescíveis e eternos, e dos bens terrenos, quer somente aquilo que for necessário ou útil para promover, com liberdade independência, a difusão dos bens celestes. 15

 

 




9. Carta Pastoral, 16-9-1895, pp. 2-3.



10. Carta pastoral do Bispo de Placência, 15 de agosto de 1881. Placência, 1881, pp. 5-6. Na noite de 13 de julho de 1881 os anticlericais de Roma tentaram jogar no rio Tibre a urna de Pio IX, enquanto a transladavam a S. Lourenço de Verano.



11.           A Igreja Católica, Placência, 1888, pp. 18-22.



12.           Para seu retorno a Roma. Placência, 1882, p. 15.



13.           Católicos de nome e católicos de fato, Placência, 1887, p. 23.



14.           G. Borelli, O clero católico e as condições político-sociais da Itália. Um colóquio com D. Scalabrini, bispo de Placência, “A Aurora”, 15-7-1900.



15.           A Igreja Católica, Placência, 1888, pp. 16-17.






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