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“Memorial
sobre a Congregação ou Comissão ‘Para os Migrantes Católicos.”
I PARTE
(Apresentação do problema)
Exmo. Príncipe,
Tenho a honra de
apresentar ao alto julgamento de V. Emcia. algumas considerações e propostas a
respeito das atuais e futuras condições do Catolicismo, nas duas Américas.
Observações e propostas
que são o fruto de longos estudos realizados nos lugares e mais a experiência
de beneméritos missionários e ilustres bispos que consagraram toda sua vida à
difusão da Religião naquelas terras.
Nunca como agora, ao
escrever sobre este assunto, senti-me tomado por grande emoção e invocado com
maior intensidade de afeto, as luzes do céu e a graça daquela eloqüência, que
vem da palavra misturada pelas cifras e fatos, para poder infundir nos outros,
minhas íntimas convicções, sobre este importantíssimo assunto.
O que vi em minhas
viagens pelos Estados Unidos da América do Norte e pelo Brasil, está diante de
mim como se estivesse presente, e as emoções que experimentei, não se apagarão
nunca, do meu coração.
Visitei cidades populosas
e coletividades nascentes, campos fecundados pelo trabalho e imensas planícies,
não tocadas pelas mãos do homem; conheci migrantes que tinham tocado o ápice da
riqueza, outros que viviam no bem-estar e obscura imensa falange dos
miseráveis, que lutam pela vida, contra os perigos do deserto, as insídias de
climas nocivos, contra a avidez humana, sozinhos, em supremo abandono, na
indigência de todos os confortos religiosos e civis; e de tudo senti corações
palpitarem, em uníssono com o meu, quando lhes falava com a língua pátria, em
nome da religião.
Vi, espetáculo doloroso!
a fé apagar-se em milhões de almas por falta de alimento espiritual, e também,
infelizmente, pela indignidade de seus ministros.
Vi reflorescer em
populações inteiras, como primavera das almas, sob o sopro de um apostolado
santo, as práticas da vida cristã e as inefáveis esperanças da Religião.
Vi, em uma palavra, que
se a Igreja de Deus não tem naquelas regiões maior importância atualmente, seja
na direção da vida coletiva, seja na individual, se as almas se perdem aos
milhões, isto se deve, em grande parte, - 396 -
mais
que às atividades, embora grandes, dos inimigos da fé, à falta de um trabalho
religioso bem organizado e adaptado a cada ambiente e à deficiência do clero.
Tenho firme convicção de que é urgente prover e é grave erro, para não dizer
culpa, de todos nós, colocados no governo da Igreja, deixar que se prolongue um
estado de coisas, causa de tanta infelicidade, para as almas e que diminui
diante dos inimigos de Deus, a importância social da Igreja Católica (...)
As formas da migração
européia na América, depois do período breve e belicoso da conquista, são
totalmente diferentes de todas as outras migrações registradas na história.
Não são hordas de povos
bárbaros, que semeiam massacres e ruínas, mas falange de trabalhadores
pacíficos, que procuram, em outro país, pão, fortuna, esquecimento. Não mais o
ímpeto de uma avalanche, que tudo arrasta, mas o estender-se plácido das águas
que fecundam; não mais supressão de povos, mas fusão, adaptação, nos quais as várias
nacionalidades se encontram, se cruzam, se fortalecem e dão origem a outros
povos; nos quais, embora na diferença, como indivíduos de uma mesma raça,
predominam características determinadas e determinadas tendências religiosas e
civis (...).
A Igreja Católica é
chamada pelo seu apostolado divino e pela sua tradição secular a imprimir a sua
imagem, neste grande movimento social, que tem por fim a restauração econômica
e a fusão dos povos cristãos.
Como sempre e em toda
parte, ela, também neste grande conflito de interesses, tem uma bela e nobre
missão a cumprir, providenciando a conservação da fé, a sua propagação e a
salvação das almas, para depois assentar-se, como Mãe comum e rainha, entre os
diversos grupos, cortando os ângulos de cada nacionalidade, moderando as lutas
de interesses das diversas pátrias, em uma palavra, harmonizando a variedade
das origens, na pacificadora unidade da fé (...).
Que deve a Igreja fazer
para manter vivo e ativo o sentimento religioso e segura a fé católica nos
povos, aos quais se abre, rico de tantas promessas, o futuro e para os quais
anualmente, os povos católicos da Europa enviam tão grande contingente de
migrantes de diversas nacionalidades?
A pergunta é simples, mas
não a resposta, que para ser adequada, deve ser variada e compreensiva ao mesmo
tempo, geral e particular. Geral pela autoridade da qual emana; particular e
variada conforme os ambientes em que deve ser aplicada e às diferentes
necessidades, às quais deve prover, as leis, aos costumes de cada país, para cada
coletividade cristã, que se vai formando.
Procurarei ser breve,
expondo tudo em forma sintética.
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