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II PARTE
(Gravidade e urgência do
problema)
A Igreja, desde os primeiros
tempos do descobrimento, exerceu o seu Apostolado na América, freando a cobiça
e crueldade dos conquistadores e civilizando os índios. Válida por tudo, a luta
sustentada pelo clero, em defesa dos mesmos e das coletividades cristãs entre
os Guaranis, nas Missões do Paraguai, vasto império político, religioso,
admirado também por escritores pouco dados ao catolicismo e não sem razão
chamada a República dos Santos.
Mas em seguida, por causa
dos tempos, a ação do clero se confundiu muito, com a ação política, e o poder
político colonial na América Latina era tudo o que se pode imaginar de
desgoverno, estupidamente tirano e ladrão, não só para com os índios, mas também, para com as ramificações
européias americanizadas. O dito de que um sapateiro europeu tinha direito de
governar uma colônia, mais que qualquer criolo ilustre, tornou-se axioma
daqueles governos coloniais, os quais pareciam constituídos especialmente, para
alienar da mãe pátria as nascentes populações e avivar um senso de hostilidade
por tudo aquilo que fosse Europeu. E divórcio moral foi se acentuando, até que
degenerou em rebelião aberta. E este estado de animosidade e de rebelião se
refletia sobre a religião, pois na mente da maioria, o clero estava confuso, e
muitas vezes estava de fato, com o poder político. Acrescente-se a esta causa a
escassez de Igrejas e de clero, e dever-se-á nessariamente concluir que o
catolicismo, naquelas regiões era mais de nome que de fato, com pouco proveito
moral e religioso, seja dos governos, que dos povos.
Depois, com a migração,
atravessaram o oceano, também muitos sacerdotes,
mas, infelizmente, salvo raras exceções, eram tudo aquilo que o clero oferecia
de corrompido, em questão de costumês e lá, quase sem freio, com a vida
escandalosa e com o tráfico de coisas santas, lançaram o descrédito sobre a
religião e arruinaram populações inteiras.
Agora,
trata-se de restaurar também lá, cada coisa, em Cristo.
Muito foi feito para isto; mas é também
pouca coisa, diante das muitíssimas que estão por fazer. As migrações das
várias nacionalidades, todas têm necessidade, por causa dos perigos religiosos,
de cuidados vigilantes e maternos da Igreja. A migração italiana, porém, merece cuidado especial, porque entre
todos aqueles povos, podese-se dizer, que o italiano é completamente
estrangeiro. Os espanhóis e os portugueses encontraram nos Estados Unidos um
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território onde se
fala sua língua, os ingleses e os irlandeses têm lá e nos territórios
britânicos uma segunda pátria ao menos no tocante à assistência religiosa. Só
os italianos vivem lá abandona. dos a si mesmos, e existiu um tempo não
distante em que por intolerância eram mal assistidos, também nas igrejas! O
mesmo diga-se dos poloneses, dos rutenos e dos alemães.
Nas minhas recentes
viagens por aquelas regiões, assisti a espetáculos de fé, que fazem chorar de
emoção e recolhi fatos e relatos que me fazem corar, na qualidade de Bispo, ao
pensar que tenha sido possível o abandono a que
foram deixados tantos anos e que perdure até hoje para muitos! São centenas de
milhares os irmãos expatriados que pedem, em vão, um sacerdote que lhes fale de
Deus, na linguagem da pátria distante!
Tal é
também a condição dos poloneses atormentados pelo eisma, dos canadenses, dos
alemães onde não existe bons padres Jesuítas, como no Estado do Rio Grande do
Sul, dos rutenos com ardentes questões do celibato para seus padres, dos
italo-gregos e de outras novas migrações católicas espalhadas um pouco, por
toda parte (...).
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