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b) NA IGREJA E PARA A IGREJA
“A vossa
solicitude de Pastor Universal.”
Vossa carta sobre
Cristóvão Colombo (...) chamou mais uma vez nossa atenção
sobre o mísera sorte dos que, cada ano, migram da Itália em grupos, para as Américas, a fim de lá buscarem o sustento para a
vida.
Sim, Santo
Padre! Aquela fé, que ao espírito de Colombo, representava populações
intermináveis, envolvidas, em trevas deploráveis, perdidas atrás de cerimônias
loucas e superstições idolátricas, aquela - 425 -
te mesma fé representa para
nós um espetáculo não menos triste, isto é, milhares e milhares de pobres
expatriados, como ovelhas, sem pastor, errantes por caminhos ásperos e
escarpados, ignorantes sobre as verdades eternas e os preceitos da vida cristã,
expostos às ciladas dos maldosos e dos prepotentes, aos quais se sujeitam,
vítimas infelizes das seitas, lá mais que em qualquer outro lugar, ativas e
numerosas.
Sabemos que vós, na vossa
solicitude de Pastor universal, vos apressastes em ir ao seu encontro, seja
estimulando em seu favor o zelo dos Bispos americanos, seja promovendo na sede
episcopal de Placência a fundação do Instituto Cristóvão Colombo, precisamente
destinado a receber os sacerdotes que quisessem ser seus guias, assistindo-os
amorosamente, com todas as solicitudes do sagrado ministério e com todos os
cuidados da caridade cristã.
A proteção que deste modo
vós, Santo Padre, Vos dignastes conceder à migração italiana, certamente não
será uma das últimas glórias de vosso fecundo e sublime Pontificado, como não
serão leves, nem poucas as vantagens, que trarão à Igreja e à S. Sé Apostólica.
Ela, para silenciar as
mil outras que podem escapar à alta percepção de Vossa Santidade, possui agora,
para a proteção dos migrantes das diversas nacionalidades da Europa, o meio
mais fácil e mais seguro para receber o reconhecimento e o afeto não só dos
expatriados, mas também das mesmas nações às quais eles pertencem. 22
“Dai novo
impulso à obra para os italianos que residem
nas
Américas.”
Nós, abaixo-assinados,
Metropolitas das várias regiões da Itália, inerpretando os sentimentos de Vosso
paterno coração e dos nossos Venerandíssimos co-irmãos sufragâneos, ousamos
pedir-vos para dar novo impulso à Obra já tão benemérita das Missões para os
italianos residentes nas Américas, aproveitando exatamente a ocasião do IV
Centenário da descoberta do novo mundo.
E como as necessidades
morais e materiais, que é preciso prover e este respeito, são, como é de vosso
conhecimento, imensas, contínuas, crescentes, ousamos suplicar-vos, Santo
Padre, para estabelecer que no terceiro domingo de outubro próximo, em
conseqüência de Vossa Venerável - 426 -
carta
e depois cada ano, no terceiro domingo da Quaresma, seja feita, em todas as
Igrejas da Itália uma coleta, em favor da referida Obra, a qual visa a abolição
do tráfego dos brancos, como já achastes oportuno estabelecer para a obra que
visa a abolição do tráfico dos negros. As ofertas recolhidas deste modo
poderão, se Vos agrada, serem enviadas ao card. Protetor da Congregação dos
Missionários, para os italianos migrantes, que têm sua principal sede, em
Placência, e por ele ser administrada e distribuída conforme as necessidades da
mesma Congregação.
Já, Santo Padre, as
Dioceses, antes, poderão dizer, todas as paróquias da Itália dão, filhos, mais
ou menos numerosos, para a migração. Por isso é muito justo que todas
contribuem para uma Obra que redunda em benefício de todos (...).
Deste modo, Santo Padre, o Instituto Cristóvão Colombo, que viria ser
um monumento vivo, levantado nesta solene ocasião, pelos católicos italianos,
ao grande descobridor da América, teria que estável e segura assistência, daria
frutos sempre mais abundantes de e nós dormiremos mais tranqüilos sobre a sorte
de nossos filhos distantes. Muitíssimas outras obras de suprema necessidade
teriam vida e incremento, como igrejas, escolas, oficinas, orfanatos, hopitais
etc.... Não poucos sacerdotes e leigos se sentiriam inspirados a ir em seu
socorro. A mesma S. Congregação de Propaganda Fide experimentaria benefícios
morais e econômicos, não indiferentes e o futuro do catolicismo entre as jovens
nações americanas seria também assegurado por esta parte. 23
“Sob os
altos auspícios do Sumo Pontífice e do Episcopado.”
ad~
A instituição dos Missionários
para os Migrantes italianos, iniciada, há cinco anos na minha Placência, sob os
altos auspícios do Sumo Pontífice e do Episcopado, graças a Deus, deu frutos
consoladores. ~edc
Vossa Excelência não
ignora os perigos espirituais, morais e materiais da nossa migração (...).
Todas as Dioceses da Itália um contingente mais ou menos elevado a este
doloroso êxodo e por isso todas, é-me caro dizê-lo, têm contribuído à obra de
Redenção, fornecendo meios materiais e sacerdotes animados do mais alto espírito
de sacrifício. Com tal ajuda pode-se abrir, na Itália, e precisamente nesta
cidade, um Instituto de Missionários e realizar outras obras de religião, em
diversos países da América, principalmente - 427 -
do
Norte, em todos os lugares onde é mais densa a colonia italiana.
Mas o fato até aqui, se é
muito, tendo presente a exigüidade do tempo e dos meios, é pouquíssimo em
confronto com o que está por fazer. Faltam consideráveis meios materiais e
numerosos operários, para substituir os debilitados e os mortos, se não
queremos definhar as obras empreendidas. Outras deveriam ser assumidas,
urgentemente, entre as quais, a implantação de agência de vigilância e de
orientação, ao menos nos principais portos de embarque e de desembarque, tanto
na América quanto na Itália. Freqüentemente chegam pedidos de ajuda, para as
novas missões e não sei, como prover.
Excelência, se quiser me
ajudar em um empreendimento tão superior às minhas fracas forças,
recomendando-a às orações e à caridade dos fiéis na pregação quaresmal, ou em
qualquer outro modo que lhe pareça mais oportuno. É um pedido que faço, em nome
de tantos filhos nossos distantes, os quais, por falta de assistência religiosa, estão em contínuo perigo de perder
a alma. 24
“Confio na
ajuda dos meus co-irmãos no Episcopado.”
Alegro-me em ver, como
também preocupa V. Excia. Revma., a obra, para os nossos pobres migrantes. O
favor que me vem de um bispo, tão distinto, em sabedoria e virtude, é-me de
grande conforto, em um empreendimento, muito superior às minhas forças. Para
mim, depois de Deus, confio exatamente na ajuda dos meus veneráveis co-irmãos
no Episcopado. Enfim trata-se de uma obra deve se tomar de grande benefício,
para a parte mais abandonada do seu rebanho (...).
Excelência, atingem
milhões os nossos pobres compatriotas, semeados lá, nas vastas planícies da
América e todos são, como ovelhas, sem pastor. Quase todos os dias, recebo
relatórios comovedores deles. Todos acabam pedindo, de mãos juntas, a ajuda de
algum sacerdote.
Já enviei alguns, e
outros lhes enviarei, dentro de alguns meses. Não esquecerei, ótimo senhor
Bispo, sua recomendação, mas preciso de
ajuda, sobretudo de pessoal. Oh, se também V. Excia., com a grande influência
que exerce, fizesse escutar, a propósito, uma sua palavra aos sicilianos, tão
ardentes na fé! Estou convencido de que qualquer vocação para a assistência dos
nossos pobres migrantes seriam encontradas também, naquelas partes. 25
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“Trata-se
de uma causa de interesse comum.”
As urgentes e gravíssimas
necessidades da nossa migração, à qual cada Diocese da Itália leva mais ou
menos largamentc o seu contributo, movem-me a enviar a presente.
Como se verá na carta do
Exmo. card. Secretário de Estado de Sua Santidade, anexa, eu desejo confiar a
um dos meus missionários, e precisamente ao Pe. Beccherini, o encargo de fazer
conferências nos principais seminários, com a finalidade de tornar conhecida a
obra de assistência aos migrantes, na América e de suscitar, alguma vocação,
para este fim.
Gostaria Vossa Excelência
de permitir ao referido Missionário ir também aí? Fico-lhe muito agradecido e
Deus certamente lhe recompensará, com o reflorescimento sempre maior do seu
clero. Por um, que eu dou às missões, dizia um santo bispo, Deus me manda infalivelmente
dois. 26
“Nem todos
os bispos encontram-se nisto, à altura de sua missão.”
Seriam necessárias
pessoas, mas infelizmente são escassas às necessidades. Atualmente tenho aqui
disponíveis, sete padres e seis leigos, mais três clérigos, que fazem os
estudos teológicos. Aspirantes não faltariam, mas nem todos os bispos
encontram-se nisto à altura de sua missão, esquecendo tantas centenas de
milhares de almas, que perecem, entre as quais, cada um, conta com um bom
número, opondo-se a que qualquer sacerdote seu vá em auxílio deles. Que é para
uma Diocese, como as nossas, um padre a mais ou a menos! Oh, Eminentíssimo,
quanta mesquinhez também, para com Nosso Senhor! Seria mesmo necessário que se
pensasse em eliminar também este obstáculo. Vossa Eminência prestaria à
religião um ilustre serviço, se enviasse aos Bispos da alta Itália e da
central, uma carta circular que para poupar-lhe o tempo, permito-me enviar-lhe
uma espécie de formulário. Seria a única maneira de despertar os adormecidos e
faria um bem imenso. 27
“Nunca
empreender coisa alguma, sem a aprovação dos Bispos”
Obediência, antes de
tudo, aos veneráveis Pastores das dioce ses americanas, dos quais, mais de uma
vez exaltastes a doutrina, o zelo, o apego à Sé Apostólica, e aos quais tanto
deveis. - 429 -
Recordai-vos, ó meus
queridos, que exerceis o sagrado ministério em campo reservado à sua imediata
jurisdição, onde só eles são os juízes ordinários e legítimos das obras que se
referem ao bem espiritual dos fiéis confiados aos seus cuidados, mas também do
tempo e do modo mais oportuno, para iniciá-la e conduzi-la ao término.
Por isso, cuidai bem de
nunca empreender nada, sem o consentimento daquele que o Espírito Santo colocou
para reger a diocese em que vos encontrais. Humildes e devotos, reconhecei nele
o vosso pai, aquele que deve invocar sobre vossas fadigas as bênçãos de Deus e
como tal circundai-o do amor mais reverente e do tespeito mais afetuoso. A este
respeito e a este amor dirigi vossa Atenção para informar o espírito dos nossos
compatriotas. Estes vos vejam dóceis em tudo, aos ensinamentos do Bispo,
observantes exatos de suas prescrições, sempre prontos às suas pretensões e
também aos seus desejos, e eles estarão mais prontos à vossa pretensão e
desejo.
Em união com o bispo, far-se-á mais
estreita e mais forte, a união que deveis ter com o Papa supremo e infalível
Mestre, do qual vos vem a missão de apostolado, nessas longínquas regiões.
Lembrados de que, onde está Pedro, aí está a Igreja, não deixeis èscapar nenhuma
ocasião, para tornar conhecida sua grandeza, recordar seus benefícios, para
celebrar suas glórias, para conquistar-lhe os corações de todos; submissos, vós
mesmos, de mente e de coração a quanto Ele ensina e ordena, ou aconselha.
Grande
abnegação de vós mesmos, grande amor à disciplina, obediência grande, generosa,
contínua aos vossos superiores e sobretudo ao Romano Pontífice, eis, em uma
palavra, aquilo que faz a beleza, à honra, a força da humilde Congregação, à
qual vós sois os primeiros a pertencer. 28
“Obediência
plena aos Ordinários do lugar.”
Tenho a firme convicção
de que estes Missionários não podem alcançar a sua finalidade, senão na plena
submissão e obediência aos Ordinários do lugar, não somente pelo que concerne à
jurisdição e à observância das leis eclesiásticas, mas também para a execução
de sua missão: e minha firme vontade é que os missionátios não empreendam nada
sem o conselho e a permissão dos Ordinários.
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É muito importante,
Excia. Revma., que o senhor saiba tudo isto, para poder agir com a máxima
liberdade e autoridade, com os missionários admoestando-os, corrigindo-os e se
for necessário, também submetendo-os às penas eclesiásticas. E com tudo isto,
por quanto for necessário, concordamos, o Superior Provincial e eu. 29
“É um dos
pontos principais da Regra.”
Eu me convenço sempre
mais da idéia de que os missionários devem, em tudo e por tudo, depender dos
Bispos, que os aceitam em suas dioceses.
Este é também um dos
pontos principais da Regra, e o Morelli, que não a observou, sofre e nos faz a
todos sofrer a pena. Seja feita a vontade de Deus! Espero que isto sirva de
lição aos outros, e que o Pe. Vicentini não faça mais nada, sem a sua
aprovação. De resto, se os missionários não puderem ter o subsolo, será
suficiente um quarto, uma capela de madeira, se também
V. Excia. permitir que
continuem naquela parte da missão. Porquanto façam o bem e salvem muitas almas,
qualquer coisa deve ser suficiente. 30
“As
diversas nacionalidades tenham um representante no
Episcopado
americano.”
O bom marquês Volpelandi
deu-me para ler a cópia da carta escrita por V. Excia. ao deputado Cahensly.
Estes dois senhores
ficaram, para dizer a verdade, muito magoados, ao ver-lhes atribuídas idéias
que nunca tiveram, e me pediram para responder em seu lugar, convictos de que a
minha palavra fosse obter êxito muito mais eficaz, junto a V. Excia.
Caro senhor bispo,
permita-me que lhe diga: neste assunto suscitou-se uma verdadeira tempestade em
uma colher de água. Não era, e nem podia ser intenção destes distintos
senhores, fazer a menor ofensa aos direitos do Episcopado americano; eles,
posso assegurar, nunca sonharam de pedir à Santa Sé a dupla jurisdição. O
projeto deles era simplicíssimo: conseguir que as diversas nacionalidades
européias tivessem um representante no Episcopado americano e este não já
estrangeiro, mas cidadão da América.
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Não foi talvez isto já sugerido pelo mesmo Episcopado Americano daquele
alto bom senso e conhecimento prático das coisas que tanto o distingue? Não é
exatamente este, o método que já se usa? Não existem nos Estados Unidos, bispos
alemães? Não existe, na qualidade de bispo também D. Pérsico, que nasceu na
Itália?
Reduzida a questão nestes
termos, como o é de fato, V. Excia. bem vê que não poderia suscitar
inconvenientes de espécie alguma. Antes considero que isto seria muito
vantajoso ao Corpo Episcopal. De fato, devendo os bispos prover
indistintamente, a todos os católicos sujeitos à sua jurisdição, teriam tido,
dos referidos representantes, noções exatas e seguras, sobre os costumes, as
aspirações, as necessidades das respectivas nacionalidades, a providência teria
sido muito mais satisfatória e a Religião teria tido maior proveito. 31
“Liberdade
de ministério, de acordo com o Arcebispo.”
O sacerdote Pe. Francisco
Zaboglio está autorizado a tratar com o senhor arcebispo de Nova Iorque, o
estabelecimento dos nossos missionários, na referida cidade sobre as seguintes
bases:
1) Os missionários devem ter liberdade de
ministério, enquanto na Igreja, oratório ou construção designados por eles,
possam realizar, para os italianos, todas as funções do sagrado ministério,
permanecendo porém as condições que o senhor Arcebispo creia oportuno
estabelecer a respeito de matrimônios e batismos;
II) Os missionários devem ter alojamento livre e
independente, também em casa alugada, com o fim de levar vida comum;
III) Os missionários devem ter liberdade de fazer
coletas sempre de acordo com o senhor Arcebispo, com o fim de erigir uma nova
igreja, para os italianos. 32
“Plena e
inteira liberdade no ministério.”
O cardeal Rampola, a quem
V. Excia. se dirigiu, e a sagrada Congregação de Propaganda Fidei me encarregou
de satisfazer os desejos, que o senhor lhes havia expresso, a fim de ter à sua
disposição missionários para a assistência religiosa aos migrantes italianos. - 432 -
Tenho em grande
consideração o desejo expresso por V. Excia. e tomarei as devidas providências,
para satisfazer a este pedido, inspirado pelo seu zelo pastoral e pelo amor
pelas almas. Espero estar em condições de enviar os missionários dentro de
alguns meses. Mas antes tenho necessidade de saber: 1º) se os padres poderão ter uma residência à parte, por quanto
modesta que seja, de modo que possam viver de acordo com as regras aprovadas
pela Santa Sé; 2º) se terão plena e
inteira liberdade no seu ministério, para os italianos e se por isso, serão
destinados a estar sob a inteira e imediata dependência de V. Excia., de quem
eles deverão respeitar, plenamente as ordens e os planos. Este princípio foi
adotado nas dioceses da América do Norte, para onde eu enviei missionários. Os
bispos dispensaram os italianos das jurisdições paroquiaís, submetendo-os inteiramente
aos missionários enviados da Itália, para cuidarem de suas necessidades
espirituais. 33
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