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c) ESPÍRITO MISSIONÁRIO
“Ide, ó
novos apóstolos de Jesus Cristo!”
Em meio às gravíssimas
provações, a que hoje está submetida a Igreja, entre as tempestades ainda mais
graves que a ameaçam, é belo contemplar a calma, a inquebrantável calma, em
meio à qual ela continua sua obra civilizadora no mundo!...
Segura de si e com o
auxílio que vem do alto, ela, do pacífico exército dos seus soldados, quase
cada dia destaca alguns batalhões, escolhidos entre os mais corajosos, e os
envia aos quatro cantos da terra. Lança-os nas praias mais remotas, além dos
mares, além de imensos desertos, mais espantosos que os mares, para infundir
nos novos a fé, para conservá-la e aumentá-la naqueles que já a possuem, para
salvar as almas.
Este é um fato único no
mundo, um fato que já dura vinte séculos, e do qual nós mesmos temos hoje, aqui
debaixo dos olhos, prova eloqüente.
São almas generosas que, abraçando a
pobreza de Cristo, abandonando comodidades, honrarias, pátria, afetos
domésticos e quanto existe, no mundo, de ternamente querido, vão desejosos de
socorrer os nossos compatriotas migrantes, para além do oceano. Ouviram o grito
de dor daqueles nossos irmãos distantes e vão!... Ide novos Apóstolos de Jesus
Cristo: ide, mensageiros velozes... ao povo que vos espera... e que é pisado. - 433 -
Ide por toda parte do
novo mundo, porque lá não existe povo mais humilhado que o nosso, porque lá vos
esperam almas que têm necessidade de vós. Os povos, os mesmos povos pedem o pao
do espirito e nao existe quem lhes dê! (...).
Ide: que o Anjo dos Estados Unidos
vos chama, mostrando-vos mais de quinhentos mil italianos abandonados. Ide, que
os Anjos do Paraná, do Peru, da Argentina, da Colômbia e de outras províncias
vos chamam, mostrando-vos um milhão e trezentos mil italianos sedentos de
verdade e em contínuo perigo de cair nos laços da heresia (...).
Vasto, sem fim, é o
campo aberto ao vosso zelo. Lá, templos para erguer, escolas para abrir,
hospitais para construir, asilos para fundar. Há o culto do Senhor para prover,
existem crianças, viúvas, orfãos, pobres doentes, velhos decrépitos e todos
para falar brevemente sobre as misérias da vida, sobre elas invocar os influxos
benéficos da caridade cristã. Como prover a tantas e tão graves
necessidades?... Ide! Ide! A Providência, que vigia, com ternura de mãe sobre
as obras que ela iniciou, resolverá, eIa mesma o árduo problema. Procurai
somente seguir seus amorosos conselhos.
Fazei com que todos experimentem como o Senhor é suave (...).
Aguardam-vos, eu sei,
imensas fadigas, não poucos perigos, muitas contradições, lutas e sacrifícios
contínuos, mas, é isto que vos deve fortalecer o trabalho que abraçais. Isto
que deve acresntar energia ao vosso espírito. O vosso conforto, a vossa guia, a
vossa mais certa defesa esteja na Cruz, que vos entreguei: a Cruz, que no dizer
de Crisóstomo é a luz dos humildes, o sustento dos fracos, a árvore da vida, a
chave do céu, o sinal da vitória, o terror de satanás, a força de Deus. Com
esta espada em punho, vencereis. Vencereis, parece-me que isto repete, daquela
urna, o mártir patrono deste templo, o glorioso Antonino. Ele que viu despontar
os primeiros gérmens de vosso instituto aqui, junto às suas sagradas cinzas,
ele vos acompanhará, sem dúvida, com a ajuda do seu patrocínio. 34
“A cruz de
missionário.”
Existem
momentos tão solenes, na vida do homem, tão repletos de suave e profunda
emoção, que é impossível imaginar se não se experimenta e se experimentados não
se esquece mais. E um destes foi o que, deste mesmo templo, há poucos meses
abençoava o primeiro grupo dos generosos, que abraçando a pobreza de Cristo,
abandonado - 434 -
tudo o que tinham
de mais querido no mundo, voavam ansiosos em socorro de nossos compatriotas
migrantes, para além do Oceano. Hoje se renova aquele comovente espetáculo. O palpitar do coração, confesso-vos,
parece-me que se tornou, pela fé, mais vigoroso e forte. A infinita caridade de
Deus me abre o peito, sublima minha mente, à vista e no desejo do apostolado e
apertando ao peito a cruz de ouro do Bispo, docemente quase me queixo com
Jesus, que me tenha negado um dia, a Cruz de madeira do missionário e não posso
deixar de vos expressar, ó jovens Apóstolos de Cristo, a mais alta veneração,
de sentir uma santa inveja de vós, que com espírito forte vos consagrastes à
santa obra das missões. E a quem serão comuns tais sentimentos, quando se
reflete um pouco, sobre a grandeza e sublimidade do apostolado católico, do
qual hoje temos aqui uma prova eloqüente? (...).
“Eu, diz o Senhor, por boca do seu profeta, erguerei em meio aos povos,
um sinal de resgate universal, e escolhendo entre os viventes, os pregadores da
minha palavra, mandá-los-ei aos povos abandonados, para além dos mares. Eles
anunciarão a minha glória e reunindo todos os irmãos, os apresentarão em
oblação ao Altíssimo.”
O sinal do resgate universal,
levantado em meio aos povos é a Cruz. A sociedade dos remidos é a Igreja. A
palavra que voa de lugar em lugar, de povo em povo, anunciadora de salvação, é
o apostolado católico (...).
Nenhum
obstáculo, nenhuma força conseguiu deter os ministros desta palavra (...). E vós hoje, ó queridos filhos, podeis vos
gloriar de estar no número deles, dando nome à humilde Congregação, que foi
aclamada há alguns dias pelo grande Arcebispo de S. Paulo de Minesota, a forma
mais bela dos nossos dias, mais útil, mais fecunda do apostolado católico
(...).
Oh! abençoados os passos
dos Missionários que levam a boa nova aos irmãos abandonados! Quanto é preciosa
a sua obra diante do céu. Quanto é bela e comovente perante a terra! Como nos
atrai à vista destes catequistas que legitimamente enviados, impunham a cruz e
partem a fim de plantá-la, símbolo de salvação e de civilização, em meio a
nossos irmãos obrigados até agora a viver e a morrer desprovidos de todo
conforto da religião (...).
Ide e não temais: sede fiéis, suplico-vos, a estes santos altares, à
vossa vocação: pacientes, prudentes, modestos, repletos de caridade. A isto se
orientaram as minhas pobres orações, as orações de tantas boas almas, dos
vossos coirmãos, dos vossos parentes, e especialmente das vossas boas mães, que
se agora choram pela vossa partida, conhecerão um dia, a glória de ter dado um
Apóstolo a mãe comum, à Igreja. - 435 -
Ah! a oração, não a
esqueçais nunca. É a eficácia e a fecundidade da pregação evangélica. É a parte
mais viva, mais forte, mais poderosa do Apostolado como ensina Jesus Cristo, soberano
modelo da vida apostólica.”
“Ide,
pregai o evangelho a toda criatura.”
Desde o dia em que Jesus, voltando-se
aos seus discípulos disse: ide, pregai o Evangelho a toda a criatura, o
apostolado católico não deixou de existir na Igreja de Deus (...). Hoje, como ontem, como nos séculos
passados, como no primeiro dia do resgate humano, soa doce e insistente aos
ministros do santuário a palavra de Cristo: ide. E para onde? a todo o mundo. E
para que? para difundir a verdade: ensinai a todos os povos (...).
Assim
que, também em nossos dias, vemos partir de todas as praias da Europa católica,
os propagadores da boa nova, os pioneiros da civilização, os mensageiros do
perdão e da paz. São jovens levitas que no entusiasmo de sua fé, no ardor de
sua caridade; Senhores, exclamam, estou atrasado em ir ensinar o teu nome aos
meus irmãos, e arrancamse dos braços de uma terna mãe, que chora. Dão um
generoso adeus aos parentes e amigos, renunciam as doçuras da pátria, a todos
os encantos da fortuna, a todos os prazeres da vida, e, armados unicamente com
o crucifixo, atravessam os mares
impetuosos, afrontam mil perigos, expõem a própria vida terrena, contanto que
levem outros à pátria celeste (...).
Oh,
generosos, salve! Experimento a dor de vos ver partir, agora que aprendi a
conhecer-vos, amar-vos, mas experimento também grandeza e a sublimidade do
sacrifício que estais oferecendo. Deus o registra neste momento, no grande
livro da vida. Ele promete estar sempre convosco: “eis que estou convosco todos
os dias”. Ide, portanto, felizes e confiantes.
Guardai-vos
de confiar em outros, senão n’Ele e na ajuda de sua graça. Não vos preocupeis
pelo vosso futuro e por aqueles que deixais. Aquele que alimenta os pássaros do
céu, que revestiu a terra de ervas a de flores, saberá também alimentar e
vestir a vós e convosco os vossos caros, até o dia em que, vestirá a todos, de
eterno esplendor.
Tende unicamente e
sempre, em vista a glória de Deus e o bem das almas. - 436 -
Tomai-vos dignos do amor
dos bons, do ódio e da perseguição dos maus. Mostrai sempre mais, que ao vosso
zelo, se iguala somente o vosso desinteresse; que em Deus e só em Deus, foi
colocada toda vossa esperança; que de Deus e só de Deus esperais a recompensa e
que nunca abandonareis as fadigas, até que existirem infelizes a consolar,
ignorantes a instruir, pobres a evangelizar almas a salvar. 36
“Cada envio
de missionários é a continuação daquele que o
divino
Mestre fez.”
Cada envio de
missionários é uma silenciosa, mas eloqüente apologia de divindade da Igreja
Católica. Não é senão a repetição, ou melhor, a continuação do que fez o divino
Mestre, quando disse aos Apóstolos: Ide, ensinai todos os povos, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Cada expedição de missionários
confirma ainda a admirável fecundidade e indefectibilidade da Igreja.
São mais de dezenove
séculos, que semelhantes expedições se sucedem, sem interrupção e tanto mais parece multiplicaremse quanto mais
se multiplicam as perseguições e as apostasias. E a Igreja permanece sempre
jovem e sempre bela, como no dia em que nasceu. Não e só. Cada envio de
missionários nos mostra de modo comovente a infinita misericórdia de Deus e o
valor infinito das almas. Deus, para nos salvar, desceu do céu à terra. Fez-se
homem, sofreu a morte e morte de cruz, e eis o missionário católico, a exemplo
de Jesus Cristo, abandonar o que tem de mais querido (...), expor-se a mil perigos, abraçar uma vida de privação e de
sacrifícios, para salvar uma só alma. 37
“Quando os missionários
chegarem aos índios.”
O cardeal Simeoni me
dizia muitas vezes, que ao chegarem os missionários junto aos índios, deveriam
pensar em fazer alguma coisa, também por eles.
O governador do Estado do Paraná falou-me também, garantindo-me o seu
apoio. No momento, serão suficientes tres ou quatro padres. Cuidando
prevalentemente das colônias italianas, estudarão a maneira de se colocarem em
comunicação, com aqueles selvagens. Deus os assistindo e podendo obter a graça,
mandarei as pessoas preparadas a se sacrificarem; senão, será considerado o bom
desejo. Estes selvagens são os descendentes daqueles que - 437 -
Os padres Jesuítas converteram,
mas depois abandonados e perseguidos a tiro de canhão, fugiram para as
florestas. Conservam ainda, pelo que dizem, alguns traços de cristianismo, em
suas cerimônias. Santo Padre, uma oração e uma bênção especial, para esta nova
obra de caridade. 38
“A
catequese dos índios.”
Gostaria que dissésseis
ao venerável Bispo, a quem apresento os meus respeitos, que se a S. Sé confia à
nossa Congregação a catequese dos índios do Paraná, será necessário ajudar
também na parte de Guarapuava e que, quando lhe aprouver destinar aos nossos,
uma residência naquela região, eu pensarei providenciar bons missionários, para
este fim. 39
“Italianos
na África.”
O coronel Baratieri (que já o tristíssimo governo
atual não quer saber de Missionários e de Missões) mandou-me perguntar
novamente se me encarregaria de providenciar sacerdotes, para os italianos, na
África.
Respondi que não podia
tomar, no momento, nenhuma resolução, mas que pensaria no caso. Portanto,
submeto a coisa à bem conhecida sabedoria de V. Emcia., para que decida. Não
nego, Eminentíssimo, que sou favorável a atender ao pedido, já que para a
África seria fácil ter meios e tudo o que fosse necessário e poder-se-ia fazer
um bem imenso.
Porém, conviria, ao que
me parece, que a parte italiana fosse subtraída da iurisdição do Vigário
Apostólico francês e que os Missionários dependessem diretamente de V. Emcia.,
ou de mim, estabelecendo uma espécie de Prefeitura Apostólica. 40
“A vossa
vocação às missões, vem de Deus.”
Ponderei com toda a
atenção vossa carta. Parece-me não me enganar, afirmando que a vossa vocação às
Missões vem de Deus.
E se assim é, Ele
eliminará todos os obstáculos.
Os nossos missionários
formam uma Congregação e os aspirantes - 438 -
permanecem
aqui na casa-mãe, para alguns meses de noviciado, para os que já são sacerdotes,
e depois, feitos os votos simples, partem para a sua destinação. O campo é
vastíssimo: centenas de milhares de nossos pobres irmãos vivem e morrem, como
animais, por falta de assistência religiosa. Feliz de quem é chamado em sua
ajuda e a isto se dedica inteiramente! 41
“Deus vos
chama à alta honra do apostolado.”
Eu vos espero sempre e
creio que não deveis mais resistir à voz de Deus, que vos chama à alta honra do
apostolado. Vô-lo repito: a graça do Espírito Santo desconhece tardos esforços.
Portanto, vamos, com santa coragem. Abri vosso espírito ao vosso venerando tio
e vinde sem demora.
Recolhido
aqui na casa-mãe, vos preparareis para os santos Votos e depois, como um
gigante, percorrendo seu caminho, ireis, para onde Deus vos destinar. 42
“Uma casa
de Missionários ambulantes seria a coisa mais útil do mundo.”
A idéia de D. Satolli é
nossa antiga idéia. Quando fosse possível do ponto de vista econômico, uma casa
de Missionários ambulantes seria a coisa mais bela e útil do mundo. É preciso
pensar no assunto. Não seria conveniente expor o caso ao Arcebispo? 43
“É meu
antigo desejo.”
Pe. Vicentini me escreveu que seria desejo
de V. Excia. que se fundasse uma casa para missionários ambulantes, que não
tivessem outro compromisso que o de ir por todos os lugares, onde existem
colônias de italianos. Este é um meu antigo desejo, um desejo que foi-me
expresso também pelo S. Padre, e de boa vontade realizá-lo-ei, assim que tiver
os meios.
Se V. Excia., com a alta influência
que merecidamente conquistou, pudesse vir-me em auxilio, a implantação da
referida casa, em lugar central, poderia ser uma verdadeira bênção. 44
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