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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUINTA PARTE       HOMEM DOS MIGRANTES E PARA OS MIGRANTES
    • 4.  OS LEIGOS E A MIGRAÇÃO
      • b) A SOCIEDADE DE SÃO RAFAEL
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b) A SOCIEDADE DE SÃO RAFAEL

 

“Um comitê leigo sob a vigilância de um bispo.”

 

Permita-me enviar a V. Ema. Revma. cópia de meu humilde trabalho sobre a migração italiana, como tênue atestado da estima vivíssima que alimento para com o senhor. Sei que este assunto lhe interessa muito, portanto, espero de sua inteligente operosidade, um válido contributo a este respeito.

A idéia foi acolhida com entusiasmo em todos os lugares, e um número de pessoas muito distintas, do clero e do laicato, já se me ofereceram para constituir um comitê apropriado para recolher meios, pedindo-me para assumir a direção.


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Estou convencido, Excelência, que se deve olhar com carinho semelhantes disposições de espírito e colocar mãos à obra, imediatamente, para não nos deixarmos anteceder por outros. Um comitê leigo, sob a vigilância de um bispo, atento aos sinais de Propaganda Fidei considero necessário, para preparar aquele considerável trabalho, que deve preceder à atuação do projeto de evangelização, que se está amadurecendo na S. Congregação.

Urge antes de tudo, liberar os nossos migrantes das mãos dos agentes de especulação, que atiram tantas pobres almas, especialmente as crianças e jovens, à perdição. Para conseguir este fim, parece-me indispensável a ajuda do braço secular, que poderá mais livremente, com maior esperança, ser ouvido em um comitê leigo, que nao em um comitê eclesiástico.

Além disso, parece-me que o projeto leigo, visto do lado humanitário, deve conservar-se separado do projeto eclesiástico, no que diz respeito ao lado religioso. Aquele, deveria determinar todo o trabalho preparatório e os meios para facilitar a atuação deste.

De acordo com o exímio bispo de Cremona, que entraria ele também a dirigir um comitê geral, eu estaria disposto a abrir uma casa para sacerdotes que Deus inspirará a se dedicarem a esta obra de caridade, aqui em Placência, não duvidando que me ajudarão, com meios materiais, as pessoas que farão parte do comitê e os que a ele aderirão, confiando, mais que tudo, na providência de Deus.

O projeto de propaganda encontrará, deste modo, o caminho aberto e não naufragará, como é de se temer, se confiado a poucas pessoas eclesiásticas, que encontrariam obstáculos e oposições. 12

 

“Uma Associação de padroado a um tempo, religiosa e leiga.”

 

As necessidades a que estão sujeitos os nossos migrantes podem ser divididas em duas classes: morais e materiais, e eu desejaria que surgisse na Itália uma Associação de padroado, que fosse ao mesmo tempo religiosa e leiga, de tal modo que respondesse plenamente a esta dúplice necessidade.

O campo que se apresenta para ação, visto do lado religioso é muito vasto. Mas não é menos vasto, se o considerarmos do lado econômico.

De fato, o trabalho da referida Associação deveria ser, como já indiquei, o de prover aos interesses espirituais e materiais dos pobres, que abandonam o lugar de origem para atravessar o oceano, portanto:


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) Livrar os migrantes das especulações vergonhosas de certos agentes de migração, os quais, contanto que ganhem, arruinam material e moralmente os infelizes que caem em suas redes;

) instituir um escritório que prepare o necessário para a colocação dos migrantes, assim que desembarcarem nos portos das Américas, de modo que toda vez que um italiano se dirigisse àAssociação, esta pudesse garantir-lhe uma ocupação útil, ou então, caso contrário, desaconselhá-lo de migrar;

) prestar socorro, em caso de acidente ou doença, seja durante a viagem, seja depois do desembarque;

) mover guerra implacável, permita-me a expressão, aos corretores de carne humana, os quais não evitam de usar os meios sórdidos, por causa de lucro vil;

) promover a assistência religiosa durante a travessia, depois do desembarque e nos lugares onde os migrantes se estabelecerem.

 

Quanto ao primeiro ponto, eu desejaria que na Associação, além dos membros contribuintes, houvesse ainda membros ativos. As contribuições deveriam ser várias e bem distribuídas. Antes de tudo, dever-se-ia fundar comitês em todos os principais portos do Reino e também nos países do exterior, onde embarcam migrantes, para recebê-los, vigiá-los, aconselhá-los, protegê-los, ajudá-los. Outros comitês deveriam ser fundados nos portos onde se dirige a migração italiana, para impedir que aí se renovem os inconvenientes e os perigos, encontrados freqüentemente, nos portos de embarque.

Para atuar o segundo ponto, seria necessário que a Associação se colocasse não só em relação com o Governo italiano, mas também com os vários governos americanos, para dar à migração nacional uma orientação lógica e prática, para impedir que os pobres camponeses, quando chegarem na América, se achem inseguros sobre o lugar onde ir e possam fazer escolha, causadora de aborrecimentos intermináveis para si e para sua pobre família. Deste modo conseguir-se-ia que as nossas colônias agrícolas fossem mais prósperas, melhor organizadas e em condições de receber ajuda e proteção do governo nacional.

O terceiro ponto tem também importância e está em estreita conexão com os dois precedentes. A Associação deveria cuidar que os migrantes fossem, ou acompanhados durante a viagem por um membro ou ao menos recomendados à pessoa de confiança que os socorresse, em caso de necessidade. Depois, nos navios ter sempre um sacerdote, que prestasse o conforto do seu ministério a todos, mas especialmente aos doentes.


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A Associação deveria procurar que nos lugares onde os colonos italianos fossem aglomerados, não se deixasse os doentes abandonados e se socorresse aqueles que a desgraça tivesse reduzido à indigência. Mas para obter este último resultado, é necessário que a migração seja melhor regulamentada, e que os italianos não se dispersem em pequenos grupos pelo imenso continente americano, mas se reunam em fortes e bem ordenadas colônias.

O quarto ponto se refere à enérgica repressão ao tráfico dos brancos. Para fazer algo de prático neste sentido, a Associação terá necessidade, sem dúvida, do apoio eficaz do governo, o que eu acredito, não deverá faltar, a partir do momento em que se coloque claras as coisas abomináveis, que acontecem agora e que por causa da indiferença generalizada, permanecem desconhecidas.

De fato hoje, como já fiz notar, acontecem muitas vezes que agentes de migração, sem consciência e sem coração, enganam as famílias e levam embora pobres jovens que destinam à mina moral e à desonra. Casos como estes, verdadeiramente lastimáveis, acontecem diariamente. A imprensa pública, que se ocupa com tanto interesse dos mínimos mexericos das crônicas da cidade, cala sobre estes delitos abomináveis, ignora-os ou finge ignorá-los. Portanto e necessarlo que uma Associação, que se destina a proteger os migrantes, procure combater abertamente, constantemente este tráfico iníquo e que onde não possa agir por si mesma, recorra ao poder público e em reuniões solenes, alerte a consciência popular, denunciando os abusos e os horrores que cometem em afronta às leis divinas e humanas. 13

 

Obra de redenção religiosa, patriótica e económica

 

Foi então que confiando em Deus e na sua Providência, ousei tentar alguma coisa. E como os aborrecimentos da nossa migração, deixando de lado aqueles inúmeros inerentes à migração em si mesma, derivam do abandono em que é deixada e se resumem nestes: perda da por falta de instrução religiosa, esquecimento da nacionalidade, por falta de estímulos, que conservem vivo aquele sentimento, ruína econômica, porque fácil presa da especulação. Fundei duas sociedades que tivessem por objetivo diminuir e destruir, se for possível, aqueles males. Duas sociedades: uma formada de Sacerdotes, outra de leigos. Uma religiosa, outra civil. Duas sociedades que se ajudam e se completam reciprocamente. A primeira é uma Congregação de Missionários que visa principalmente o bem estar


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espiritual dos nossos migrantes, a segunda principalmente ao seu bem-estar material. Aquela alcança o seu objetivo, fundando igrejas, escolas, orfanatos, hospitais por meio de Sacerdotes unidos, como em uma família com votos religiosos de castidade, de obediência de pobreza, prontos a voar onde são mandados, apóstolos, professores, médicos, enfermeiros, conforme a necessidade. Esta, desaconselhando a migração, quando for arriscada, vigiando a obra dos agentes, para que não ultrapassem os limites da legalidade, aconselhando os migrantes e orientando-os à boa meta quando não podem fazer diversamente.

Empreendimento certamente colossal para quem quer que seja, mais para mim, á senhores, desprovido dos meios e da capacidade, para este fim. Eu pensava e os fatos comprovaram o meu pensamento, que a nossa indiferença era devido à falta de iniciativa, e a ignorância do estado das coisas, à falta de boa vontade. Pensava, que se uma voz, inspirada só por sentimentos de religião e de caridade patriótica se levantasse para sacudir os sonolentos ou os indolentes, não teria soado no deserto. Pensava que uma vontade resoluta, contra tantos males, teria encontrado almas igualmente dispostas a lutar. Pensava que a Itália, que fornece heróicos sacerdotes para as missões, que levam a luz do Evangelho e da civilização aos lugares mais inabitados e convocam aos pés da Cruz os povos bárbaros, a Itália que largamente o seu óbulo e a sua influência para a abolição do tráfico negro, não podia ficar indiferente, ou pior, desdenhosa diante do tráfico dos brancos, neste momento de redenção religiosa, patriótica e econômica, dos nossos irmãos migrantes.

 

“Só a fundação de um Instituto eclesiástico teria sido insuficiente.”

 

Só a fundação de um Instituto eclesiástico teria sido insuficiente, para as providências necessárias, para a assistência completa de nossa migração (...).

Era minha intenção construir uma Associação, mais ou menos conforme a que surgiu na Alemanha em 1868, presidida pelo príncipe Isemburg Birnstein e associada sob o nome de Rafaels Verein Sua finalidade é defender os migrantes com um sistema bem organizado de proteção, dos numerosos perigos que os circundam, assim que abandonam o país de origem.

Minha iniciativa encontrou apoio e ajuda para ação eficaz de um número considerável de pessoas que estão unidas a mim. Constituí


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no ano passado, aqui em Placência, o Comitê Central da Associação de padroado para a migração italiana, cuja presidência foi assumida pelo marquês advogado João Batista Volpe Landi, que dedica à obra toda a atividade e o zelo de que é capaz.

Fazem parte deste comitê, cidadãos de todo tipo, não todos da mesma opiniao, mas rodeados de estima e consideração universais e conhecidos pelo fervoroso sentimento de verdadeiro amor àpátria e de caridade iluminada.

Com a ajuda de pessoas residentes em outras cidades da Itália foi redigido um Estatuto provisório, no qual foram estabelecidos o objetivo e a finalidade da associação. Este consiste em dar oportuna orientação e ajudar àqueles que decidiram expatriar, através de oportunas informaçoes acerca dos países mais adequados para a migração, pela fertilidade de solo, pela facilidade em encontrar trabalho, pela oportuna assistência religiosa e civil, no prestar gratuitamente seus serviços aos migrantes nos portos de embarque, em recomendá.Ios aos Comitês nacionais constituídos, nos países transoceânicos e sobretudo ao delegado ou correspondente que os recebe no porto de desembarque e que inicia com ele, em terra estrangeira, a mesma obra de caridade, mais que útil, necessária, por causa dos novos perigos a que estao expostos.

O comitê de Gênova, que se vangloria de seu chefe, o digno marquês Vitório Del Carretto di Balestrino, iniciará, antes do final do corrente ano, sua ação de eficaz assistência em prol dos migrantes que zarpam daquele importantíssimo porto italiano. Para esta finalidade deliberou a abertura de um escritório especial de assistência e de informações, no qual colocou um seu delegado.

Além disto providenciou para que, no próximo janeiro de 1892, seja celebrada uma especial função religiosa na Igreja de São João de Pré, próxima ao porto, para cada partida de navio, para a América. 15

 

Comitês nas regiões que fornecem maior contingente à migração.”

 

Aqui na Itália, além do Comitê Central e daqueles constituídos ou em constituição, nos portos de embarque, era necessário fundar outros nos centros mais importantes, sobretudo nas regiões que fornecem maior contingente à migração, que recolhessem adeptos e coadjutores, a fim de que a ação da tutela possa ser exercida verdadeiramente, em benefício daqueles que têm maior necessidade.


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A isto principalmente, dedica seus cuidados o Comitê Central, ao qual dei início no passado e me proponho de, em seguida ajudar através de conferências especiais, visando tornar conhecido o objetivo e a natureza da obra.

No inverno falei ao bom e cortez público de Gênova, de Roma, de Florença, de Turim e de Milão. E assim surgiram Comitês nestas últimas quatro, dentre as principais cidades da Itália, sendo que em Gênovaestava formado desde 1890. O Comitê de Roma além do escritório, como os outros comitês, para recolher os meios financeiros indispensáveis, tem também o de ser órgão de comunicação para tudo quanto possa interessar à Associação, seja junto à suprema Autoridade Civil, seja junto à Congregação de Propaganda Fide. Ele ainda não está completo, mas é um núcleo de jovens inteligentes e ativos, tendo à sua frente o príncipe D. Luís Boncompagni Ludovisi, que assumiu de boa vontade a representação. Espero que logo, com a participação de pessoas respeitáveis, que assistem não indiferentes, ao doloroso espetáculo da migração e lhe reconhecem as necessidades, possa o Comitê de Roma completar-se de modo a prestar à Associação aqueles serviços que a mesma, com razão nos promete.

Aceitaram honrar respectivamente os comitês de Milão e de Florença, com o nome e com a autoridade, que lhes foi conferida, pelo alto cargo que ocupam na Hierarquia Eclesiástica, os arcebispos das mesmas cidades, o venerando bispo D. Di Calabiana e o insígne cardeal Bausa que tanto ilustra, com sua doutrina e com suas virtudes, a sagrada púrpura. Ou melhor, este se dignou assumir, ele mesmo, a presidência efetiva do Comitê florentino, enquanto o presidente efetivo do Comitê de Milão é um dos representantes daquela antiga aristocracia piemontesa que tantos serviços prestou à pátria nos feitos de guerra e nas legislações civis, o general Thaon de Revel. O comitê de Turim, também, é presidido por um patrício que leva dignamente um nome querido e honrado, o barão Antonio Manno.

Outros comitês, até o momento, estão em forma embrionária ou estão para se constituir em Treviso, Bréscia, Cremona, Bérgamo, Luca e em outros lugares. 16

 

“As atribuições dos comitês locais.”

 

As atribuições dos Comitês locais serão mais especialmente determinadas no Estatuto definitivo, submetido às deliberações de um


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congresso de representantes dos Comitêsconstituídos ou em via de formação, realizado em Placência, no mês de setembro, deste ano, cujas disposições, o Comitê Central está atualmente coordenando, conforme a incumbência recebida.

Conhecendo as intenções do Comitê Central, posso afirmar ser seu pensamento que os comitês nas diversas Províncias sejam como intermediários e meio de mais solícita e fácil comunicação com ele, no qual se concentra o serviço de informações, e os migrantes, e isto mediante delegados e sub-delegados espalhados em todas as terras, que fornecem qualquer contingente à migração.

É necessário que os migrantes conheçam os países de migração em seu verdadeiro aspecto. Mas é necessário também que cada um deles receba conselhos conforme a condição pessoal própria e da própria família. Ora, multiplicando os Comitês e por meio dos Comitês, os delegados e sub-delegados (cargo que, no campo podem assumir os párocos, os professores, os secretários municipais etc.), cada migrante encontrará uma pessoa de confiança que poderá aconselhá-lo, com perfeito conhecimento de causa. Os delegados e sub-delegados, por sua vez, mediante os comitês e estes por meio do Comitê Central, recebem e pedem instruções, notícias e informações obtidas, nas fontes mais seguras e sobretudo através dos missionários estabelecidos na América, de modo a poder autenticar a verdade. Além disto providenciam, a fim de conseguir para a obra, o fornecimento dos meios que são indispensáveis, auxiliados por comitês compostos por senhores dentre os mais distintos, como em Turim, em Milão etc. 17

 

“A associação necessita da colaboração de todos.”

 

Para conseguir resultados benéficos que se espera, a Associação tem necessidade da colaboração de todos aqueles em cujo coração vibra alto e sereno, o sentimento de pátria e que têm um senso de piedade delicada diante dos sofrimentos e necessidades dos irmãos, que abandonaram esta nossa terra comum. Convém que eles se tornem participantes e cooperadores, ou com o modesto óbulo, ou com a colaboração pessoal, à obra de padroado. Convém que dêem o seu apoio moral ou material e que o divulguem. Uma obra assim tão vasta, difícil e complexa não exige somente um trabalho perseverante, uma abnegação a toda a prova da parte de seus chefes, ela deve também poder dispor de recursos proporcionados.


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          Tenho firme confiança de que este apelo não cairá no esquecimento.’18

 

Foi fundada a Sociedade de S. Rafael nos Estados Unidos.”

 

Foi fundada, há dois meses, a Sociedade de S. Rafael, nos Estados Unidos da América.

O artigo do seu Estatuto indica quais as finalidades:

a) Assistir os italianos migrantes à sua chegada na América e cuidar que não caiam em mãos de gente desonesta.

b) Garantir aos mesmos, quanto seja possível, emprego e trabalho.

c) Vigiar para que não lhes falte assistência religiosa, depois do desembarque e nos lugares em que irão se estabelecer.

d) Providenciar, quanto antes uma casa, onde possam ser alojados, os mígrantes pobres, os meninos e as meninas até que sejam colocados ou entregues aos seus parentes.

O artigo e último estabelece que a Sociedade Italiana de S. Rafael se mantenha em estreita relação com a análoga Sociedade constituída na Itália, sob o título de Sociedade Italiana de Padroado, para os migrantes italianos.

Assim, a obra iniciada na Itália se completa no novo continente e continua a acompanhar o migrante aos Estados Unidos, onde somente, entre as diversas regiões americanas, para onde se dirige a migração nacional, foi possível, até agora, organizar-lhe prática e eficazmente a assistência e a proteção.  19

 

Assitência do porto de Gênova, aos portos da América.”

 

Uma das grandes necessidades dos nossos migrantes era a de proporcionar-lhes assistência no porto de embarque em Gênova. Aquela pobre gente era tratada como vil mercadoria, ou pior. Também lá falei, em público sobre a obra de S. Rafael, parece-me em 1888, e o venerável arcebispo D. Magnasco e o inspetor do porto, o cavalheiro Malnate pediram-me com lágrimas nos olhos, para mandar a Gênova alguns missionários para que se ocupassem daqueles infelizes, iniqüamente traídos e desfrutados de todos os modos. Apenas me foi possível, satisfiz aquele santo desejo, que era também o meu, e abri lá uma casa. O bem que os missionáriosrealizaram é inacreditável. Eles, por isso, e mais que


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tudo para fazer desaparecer tantos abusos e tantos enganos, tiveram, é verdade, que se expor à ira dos interessados e dos jornais maçônicos. Mas, com a graça de Deus triunfaram sobre tudo. Agora seu trabalho é universalmente apreciado, e o nome de Pe. Maldotti, o primeiro missionário enviado à Gênova, é bendito por todos.

Apenas tiveram conhecimento da instituição dos Missionários de S. Carlos e da obra de S. Rafael para os nossos co-nacionais migrantes, escreveram-me de várias partes da Itália, notificando a grave necessidade de oferecer assistência aos migrantes, durante a travessia do oceano. Fiz logo apelo às várias sociedades de navega. ção, pedindo ida e volta gratuitas para aqueles sacerdotes que quisessem se oferecer a uma obra de tamanha caridade, mas uma única a Veloz, respondeu de boa vontade a semelhante apelo. Todavia eram dez ou doze os sacerdotes que partiam, cada ano do porto de Gênova e acompanhavam os pobres expatriados. No navio celebravam, pregavam, confessavam, assistiam os doentes, que nunca faltavam. Em uma única travessia, morreram dezoito pessoas. Felizmente o padre estava no navio. Pôde assistir os moribundos e confortar, com a palavra e com o exemplo, os sobreviventes. Continuou-se deste modo, por quatro anos. Mas a Veloz, decaiu de sua prosperidade, e infelizmente, também ela teve que reduzir a concessão, limitando-a só aos missionários de Gênova. Se se tivesse os meios, oh, quanto maior bem se poderia fazer!

Um destaque especial merece a missão do Porto. Os missionários encarregados são reconhecidos aí como representantes legais da migração italiana, junto o Labor Bureau ou Ministério dos Trabalhos públicos. Assim eles, morando no Barge 0ffice ou escritório de migração, estabelecido no Porto, prestam assistência imediata a todos os migrantes italianos que aí desembarcam, especialmente àqueles que lhes são recomendados e que chegam munidos de cartão especial, que são concedidos pelos comitês da Sociedade de Padroado, instituída na Itália.  20

 

 

 

 




12.           Carta a Dom Jacobini, 2-7-1887 (AGS 1/1).



13.           A migração italiana na América. Placência, 1887, pp. 41-44.

14.          I Conferência sobre a imigração (AGS 5/3).



15. Sobre a assistência à migração italiana e sobre os Institutos que a provêm, Placência, 1891, pp. 13-16. A Raphaels Verein foi fundada por Peter Paul Cahensly.



16.           Id., pp. 18-20.



17. Id., pp. 20-22.



18.           Id., pp. 22-23.



19.   Id., pp. 16-17.



20.           Relatório da Obra dos Missionários de S. Carlos para os Migrantes Italianos, 10-8-1900 (AGS 7/5). A missão do Porto, de que se fala nas últimas linhas, era a de Nova Iorque. Para esta e para a missão no porto de Gênova, (cf. Biografia, pp. 1133-1147).






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