- 462 -
b) A SOCIEDADE DE SÃO RAFAEL
“Um comitê
leigo sob a vigilância de um bispo.”
Permita-me enviar a V. Ema. Revma. cópia
de meu humilde trabalho sobre a migração italiana, como tênue atestado da
estima vivíssima que alimento para com o senhor. Sei que este assunto lhe
interessa muito, portanto, espero de sua inteligente operosidade, um válido
contributo a este respeito.
A idéia foi acolhida com entusiasmo em todos os lugares, e um número
de pessoas muito distintas, do clero e do laicato, já se me ofereceram para
constituir um comitê apropriado para recolher meios, pedindo-me para assumir a
direção. - 463 -
Estou convencido,
Excelência, que se deve olhar com carinho semelhantes disposições de espírito e
colocar mãos à obra, imediatamente, para não nos deixarmos anteceder por
outros. Um comitê leigo, sob a vigilância de um bispo, atento aos sinais de
Propaganda Fidei considero necessário, para preparar aquele considerável
trabalho, que deve preceder à atuação do projeto de evangelização, que se está
amadurecendo na S. Congregação.
Urge antes de tudo,
liberar os nossos migrantes das mãos dos agentes de especulação, que atiram
tantas pobres almas, especialmente as crianças e jovens, à perdição. Para
conseguir este fim, parece-me indispensável a ajuda do braço secular, que
poderá mais livremente, com maior esperança, ser ouvido em um comitê leigo, que
nao em um comitê eclesiástico.
Além disso, parece-me que
o projeto leigo, visto do lado
humanitário, deve conservar-se separado do projeto eclesiástico, no que diz
respeito ao lado religioso. Aquele, deveria determinar todo o trabalho preparatório e os meios para
facilitar a atuação deste.
De acordo com o exímio
bispo de Cremona, que entraria ele também a dirigir um comitê geral, eu estaria
disposto a abrir uma casa para sacerdotes que Deus inspirará a se dedicarem a
esta obra de caridade, aqui em Placência, não duvidando que me ajudarão, com
meios materiais, as pessoas que farão parte do comitê e os que a ele aderirão,
confiando, mais que tudo, na providência de Deus.
O projeto de propaganda
encontrará, deste modo, o caminho
aberto e não naufragará, como é de se temer, se confiado a poucas pessoas
eclesiásticas, que encontrariam obstáculos e oposições. 12
“Uma
Associação de padroado a um tempo, religiosa e leiga.”
As necessidades a que estão
sujeitos os nossos migrantes podem ser divididas em duas classes: morais e
materiais, e eu desejaria que surgisse na Itália uma Associação de padroado,
que fosse ao mesmo tempo religiosa e leiga, de tal modo que respondesse
plenamente a esta dúplice necessidade.
O campo que se apresenta
para ação, visto do lado religioso é muito vasto. Mas não é menos vasto, se o
considerarmos do lado econômico.
De fato, o trabalho da
referida Associação deveria ser, como já indiquei, o de prover aos interesses
espirituais e materiais dos pobres, que abandonam o lugar de origem para
atravessar o oceano, portanto: - 464 -
1º) Livrar os migrantes
das especulações vergonhosas de certos agentes de migração, os quais, contanto
que ganhem, arruinam material e moralmente os infelizes que caem em suas redes;
2º) instituir um escritório que prepare o
necessário para a colocação dos migrantes, assim que desembarcarem nos portos
das Américas, de modo que toda vez que um italiano se dirigisse àAssociação,
esta pudesse garantir-lhe uma ocupação útil, ou então, caso contrário,
desaconselhá-lo de migrar;
3º) prestar socorro, em
caso de acidente ou doença, seja durante a viagem, seja depois do desembarque;
4º) mover guerra
implacável, permita-me a expressão, aos corretores de carne humana, os quais
não evitam de usar os meios sórdidos, por causa de lucro vil;
5º) promover a
assistência religiosa durante a travessia, depois do desembarque e nos lugares
onde os migrantes se estabelecerem.
Quanto ao primeiro ponto,
eu desejaria que na Associação, além dos membros contribuintes, houvesse ainda
membros ativos. As contribuições deveriam ser várias e bem distribuídas. Antes
de tudo, dever-se-ia fundar comitês em todos os principais portos do Reino e
também nos países do exterior, onde embarcam migrantes, para recebê-los,
vigiá-los, aconselhá-los, protegê-los, ajudá-los. Outros comitês deveriam ser
fundados nos portos onde se dirige a migração italiana, para impedir que aí se
renovem os inconvenientes e os perigos, encontrados freqüentemente, nos portos
de embarque.
Para atuar o segundo
ponto, seria necessário que a Associação se colocasse não só em relação com o
Governo italiano, mas também com os vários governos americanos, para dar à
migração nacional uma orientação lógica e prática, para impedir que os pobres
camponeses, quando chegarem na América, se achem inseguros sobre o lugar onde
ir e possam fazer má escolha, causadora de aborrecimentos intermináveis para si
e para sua pobre família. Deste modo conseguir-se-ia que as nossas colônias agrícolas
fossem mais prósperas, melhor organizadas e em condições de receber ajuda e
proteção do governo nacional.
O terceiro ponto tem também importância e
está em estreita conexão com os dois precedentes. A Associação deveria cuidar
que os migrantes fossem, ou acompanhados durante a viagem por um membro ou ao
menos recomendados à pessoa de confiança que os socorresse, em caso de
necessidade. Depois, nos navios ter sempre um sacerdote, que prestasse o
conforto do seu ministério a todos, mas especialmente aos doentes. - 465 -
A Associação deveria
procurar que nos lugares onde os colonos italianos fossem aglomerados, não se
deixasse os doentes abandonados e se socorresse aqueles que a desgraça tivesse
reduzido à indigência. Mas para obter este último resultado, é necessário que a
migração seja melhor regulamentada, e que os italianos não se dispersem em
pequenos grupos pelo imenso continente americano, mas se reunam em fortes e bem
ordenadas colônias.
O quarto ponto se refere à enérgica
repressão ao tráfico dos brancos. Para fazer algo de prático neste sentido, a
Associação terá necessidade, sem dúvida, do apoio eficaz do governo, o que eu
acredito, não deverá faltar, a partir do momento em que se coloque claras as
coisas abomináveis, que acontecem agora e que por causa da indiferença
generalizada, permanecem desconhecidas.
De fato hoje, como já fiz
notar, acontecem muitas vezes que agentes de migração, sem consciência e sem
coração, enganam as famílias e levam embora pobres jovens que destinam à mina
moral e à desonra. Casos como estes, verdadeiramente lastimáveis, acontecem
diariamente. A imprensa pública, que se ocupa com tanto interesse dos mínimos
mexericos das crônicas da cidade, cala sobre estes delitos abomináveis,
ignora-os ou finge ignorá-los. Portanto e necessarlo que uma Associação, que se
destina a proteger os migrantes, procure combater abertamente, constantemente
este tráfico iníquo e que onde não possa agir por si mesma, recorra ao poder
público e em reuniões solenes, alerte a consciência popular, denunciando os
abusos e os horrores que cometem em afronta às leis divinas e humanas. 13
“Obra de
redenção religiosa, patriótica e económica”
Foi
então que confiando em Deus e na sua Providência, ousei tentar alguma coisa. E como
os aborrecimentos da nossa migração, deixando de lado aqueles inúmeros
inerentes à migração em si mesma, derivam
do abandono em que é deixada e se resumem nestes: perda da fé por falta de
instrução religiosa, esquecimento da nacionalidade, por falta de estímulos, que
conservem vivo aquele sentimento, ruína econômica, porque fácil presa da
especulação. Fundei duas sociedades que tivessem por objetivo diminuir e
destruir, se for possível, aqueles males. Duas sociedades: uma formada de
Sacerdotes, outra de leigos. Uma religiosa, outra civil. Duas sociedades que se
ajudam e se completam reciprocamente. A primeira é uma Congregação de
Missionários que visa principalmente o bem
estar - 466 -
espiritual dos nossos migrantes, a segunda principalmente ao seu bem-estar
material. Aquela alcança o seu objetivo, fundando igrejas, escolas, orfanatos,
hospitais por meio de Sacerdotes unidos, como em uma família com votos
religiosos de castidade, de obediência de pobreza, prontos a voar onde são
mandados, apóstolos, professores, médicos, enfermeiros, conforme a necessidade.
Esta, desaconselhando a migração, quando for arriscada, vigiando a obra dos
agentes, para que não ultrapassem os limites da legalidade, aconselhando os
migrantes e orientando-os à boa meta quando não podem fazer diversamente.
Empreendimento certamente
colossal para quem quer que seja, mais para mim, á senhores, desprovido dos
meios e da capacidade, para este fim. Eu pensava e os fatos comprovaram o meu pensamento, que a nossa indiferença
era devido à falta de iniciativa, e a ignorância do estado das coisas, à falta
de boa vontade. Pensava, que se uma voz, inspirada só por sentimentos de
religião e de caridade patriótica se levantasse para sacudir os sonolentos ou
os indolentes, não teria soado no deserto. Pensava que uma vontade resoluta,
contra tantos males, teria encontrado almas igualmente dispostas a lutar.
Pensava que a Itália, que fornece heróicos sacerdotes para as missões, que
levam a luz do Evangelho e da civilização aos lugares mais inabitados e
convocam aos pés da Cruz os povos bárbaros, a Itália que dá largamente o seu
óbulo e a sua influência para a abolição do tráfico negro, não podia ficar
indiferente, ou pior, desdenhosa diante do tráfico dos brancos, neste momento
de redenção religiosa, patriótica e econômica, dos nossos irmãos migrantes.
“Só a
fundação de um Instituto eclesiástico teria sido insuficiente.”
Só a fundação de um
Instituto eclesiástico teria sido insuficiente, para as providências
necessárias, para a assistência completa de nossa migração (...).
Era minha intenção
construir uma Associação, mais ou menos conforme a que surgiu na Alemanha em
1868, presidida pelo príncipe Isemburg Birnstein e associada sob o nome de
Rafaels Verein Sua finalidade é defender os migrantes com um sistema bem
organizado de proteção, dos numerosos perigos que os circundam, assim que
abandonam o país de origem.
Minha iniciativa encontrou apoio e ajuda para ação eficaz de um número
considerável de pessoas que estão unidas a mim. Constituí - 467 -
no ano
passado, aqui em Placência, o Comitê Central da Associação de padroado para a
migração italiana, cuja presidência foi assumida pelo marquês advogado João
Batista Volpe Landi, que dedica à obra toda a atividade e o zelo de que é
capaz.
Fazem parte deste comitê,
cidadãos de todo tipo, não todos da mesma opiniao, mas rodeados de estima e
consideração universais e conhecidos pelo fervoroso sentimento de verdadeiro
amor àpátria e de caridade iluminada.
Com a ajuda de pessoas
residentes em outras cidades da Itália foi redigido um Estatuto provisório, no
qual foram estabelecidos o objetivo e
a finalidade da associação. Este consiste em dar oportuna orientação e ajudar
àqueles que decidiram expatriar, através de oportunas informaçoes acerca dos
países mais adequados para a migração, pela fertilidade de solo, pela
facilidade em encontrar trabalho, pela oportuna assistência religiosa e civil,
no prestar gratuitamente seus serviços aos migrantes nos portos de embarque, em
recomendá.Ios aos Comitês nacionais constituídos, nos países transoceânicos e
sobretudo ao delegado ou correspondente que os recebe no porto de desembarque e
que inicia com ele, em terra estrangeira, a mesma obra de caridade, mais que
útil, necessária, por causa dos novos perigos a que estao expostos.
O
comitê de Gênova, que se vangloria de seu chefe, o digno marquês Vitório Del
Carretto di Balestrino, iniciará, antes do final do corrente ano, sua ação de eficaz assistência em prol dos migrantes
que zarpam daquele importantíssimo porto italiano. Para esta finalidade
deliberou a abertura de um escritório especial de assistência e de informações,
no qual colocou um seu delegado.
Além disto providenciou
para que, no próximo janeiro de 1892, seja celebrada uma especial função
religiosa na Igreja de São João de Pré, próxima ao porto, para cada partida de navio, para a América. 15
“Comitês
nas regiões que fornecem maior contingente à migração.”
Aqui na Itália, além do
Comitê Central e daqueles constituídos ou em constituição, nos portos de
embarque, era necessário fundar outros nos centros mais importantes, sobretudo
nas regiões que fornecem maior contingente à migração, que recolhessem adeptos
e coadjutores, a fim de que a ação da tutela possa ser exercida
verdadeiramente, em benefício daqueles que têm maior necessidade. - 468 -
A isto principalmente,
dedica seus cuidados o Comitê Central, ao qual dei início no passado e me
proponho de, em seguida ajudar através de conferências especiais, visando
tornar conhecido o objetivo e a natureza da obra.
No inverno falei ao bom e
cortez público de Gênova, de Roma, de Florença, de Turim e de Milão. E assim
surgiram Comitês nestas últimas quatro, dentre as principais cidades da Itália,
sendo que em Gênova já estava formado desde 1890. O Comitê de Roma além do
escritório, como os outros comitês, para recolher os meios financeiros
indispensáveis, tem também o de ser órgão de comunicação para tudo quanto possa
interessar à Associação, seja junto à suprema Autoridade Civil, seja junto à
Congregação de Propaganda Fide. Ele ainda não está completo, mas é um núcleo de
jovens inteligentes e ativos, tendo à sua frente o príncipe D. Luís Boncompagni Ludovisi, que assumiu de boa vontade
a representação. Espero que logo, com a participação de pessoas respeitáveis,
que assistem não indiferentes, ao doloroso espetáculo da migração e lhe
reconhecem as necessidades, possa o Comitê
de Roma completar-se de modo a prestar à Associação aqueles serviços que a
mesma, com razão nos promete.
Aceitaram honrar
respectivamente os comitês de Milão e de Florença, com o nome e com a
autoridade, que lhes foi conferida, pelo alto cargo que ocupam na Hierarquia
Eclesiástica, os arcebispos das mesmas cidades, o venerando bispo D. Di
Calabiana e o insígne cardeal Bausa que tanto ilustra, com sua doutrina e com
suas virtudes, a sagrada púrpura. Ou melhor, este se dignou assumir, ele mesmo,
a presidência efetiva do Comitê florentino, enquanto o presidente efetivo do
Comitê de Milão é um dos representantes daquela antiga aristocracia piemontesa
que tantos serviços prestou à pátria nos feitos de guerra e nas legislações
civis, o general Thaon de Revel. O comitê de Turim, também, é presidido por um
patrício que leva dignamente um nome querido e honrado, o barão Antonio Manno.
Outros comitês, até o
momento, estão em forma embrionária ou estão para se constituir em Treviso,
Bréscia, Cremona, Bérgamo, Luca e em outros lugares. 16
“As
atribuições dos comitês locais.”
As atribuições dos Comitês locais serão mais especialmente determinadas
no Estatuto definitivo, submetido às deliberações de um - 469 -
congresso de representantes dos Comitês já constituídos
ou em via de formação, realizado em Placência, no mês de setembro, deste ano,
cujas disposições, o Comitê Central está atualmente coordenando, conforme a
incumbência recebida.
Conhecendo as intenções
do Comitê Central, posso afirmar ser seu pensamento que os comitês nas diversas
Províncias sejam como intermediários e meio de mais solícita e fácil
comunicação com ele, no qual se concentra o serviço de informações, e os
migrantes, e isto mediante delegados e sub-delegados espalhados em todas as
terras, que fornecem qualquer contingente à migração.
É necessário
que os migrantes conheçam os países de migração em seu verdadeiro aspecto. Mas
é necessário também que cada um deles receba conselhos conforme a condição
pessoal própria e da própria família. Ora, multiplicando os Comitês e por meio
dos Comitês, os delegados e sub-delegados (cargo que, no campo podem assumir os
párocos, os professores, os secretários municipais etc.), cada migrante
encontrará uma pessoa de confiança que poderá aconselhá-lo, com perfeito
conhecimento de causa. Os delegados e sub-delegados, por sua vez, mediante os
comitês e estes por meio do Comitê Central, recebem e pedem instruções,
notícias e informações obtidas, nas fontes mais seguras e sobretudo através dos
missionários estabelecidos na América, de modo a poder autenticar a verdade.
Além disto providenciam, a fim de conseguir para a obra, o fornecimento dos
meios que são indispensáveis, auxiliados por comitês compostos por senhores
dentre os mais distintos, como em Turim, em Milão etc. 17
“A
associação necessita da colaboração de todos.”
Para conseguir resultados
benéficos que se espera, a Associação tem necessidade da colaboração de todos
aqueles em cujo coração vibra alto e sereno, o sentimento de pátria e que têm
um senso de piedade delicada diante dos sofrimentos e necessidades dos irmãos,
que abandonaram esta nossa terra comum. Convém que eles se tornem participantes
e cooperadores, ou com o modesto
óbulo, ou com a colaboração pessoal, à obra de padroado. Convém que dêem o seu
apoio moral ou material e que o divulguem.
Uma obra assim tão vasta, difícil e complexa não exige somente um trabalho
perseverante, uma abnegação a toda a prova da parte de seus chefes, ela deve
também poder dispor de recursos proporcionados. - 470 -
Tenho
firme confiança de que este apelo não cairá no esquecimento.’18
“Foi
fundada a Sociedade de S. Rafael nos Estados Unidos.”
Foi fundada, há dois
meses, a Sociedade de S. Rafael, nos Estados Unidos da América.
O artigo 1º do
seu Estatuto indica quais as finalidades:
a) Assistir os italianos migrantes
à sua chegada na América e cuidar que não caiam em mãos de gente desonesta.
b) Garantir aos mesmos,
quanto seja possível, emprego e trabalho.
c) Vigiar para que não
lhes falte assistência religiosa, depois do desembarque e nos lugares em que
irão se estabelecer.
d) Providenciar, quanto
antes uma casa, onde possam ser alojados, os mígrantes pobres, os meninos e as
meninas até que sejam colocados ou entregues aos seus parentes.
O artigo 6º e último
estabelece que a Sociedade Italiana de S. Rafael se mantenha em estreita
relação com a análoga Sociedade constituída na Itália, sob o título de
Sociedade Italiana de Padroado, para os migrantes italianos.
Assim, a obra iniciada na
Itália se completa no novo continente e continua a acompanhar o migrante aos Estados Unidos, onde
somente, entre as diversas regiões americanas, para onde se dirige a migração
nacional, foi possível, até agora, organizar-lhe prática e eficazmente a
assistência e a proteção. 19
“Assitência
do porto de Gênova, aos portos da América.”
Uma das grandes
necessidades dos nossos migrantes era a de proporcionar-lhes
assistência no porto de embarque em Gênova. Aquela pobre gente era tratada como vil
mercadoria, ou pior. Também lá falei, em público sobre a obra de S. Rafael,
parece-me em 1888, e o venerável arcebispo D. Magnasco e o inspetor do porto, o
cavalheiro Malnate pediram-me com lágrimas nos olhos, para mandar a Gênova
alguns missionários para que se ocupassem daqueles infelizes, iniqüamente
traídos e desfrutados de todos os modos. Apenas me foi possível, satisfiz
aquele santo desejo, que era também o meu,
e abri lá uma casa. O bem que os missionários aí realizaram é inacreditável.
Eles, por isso, e mais que - 471 -
tudo para fazer desaparecer tantos
abusos e tantos enganos, tiveram, é verdade, que se expor à ira dos
interessados e dos jornais maçônicos. Mas, com a graça de Deus triunfaram sobre
tudo. Agora seu trabalho é universalmente apreciado, e o nome de Pe. Maldotti,
o primeiro missionário enviado à Gênova, é bendito por todos.
Apenas tiveram
conhecimento da instituição dos Missionários de S. Carlos e da obra de S.
Rafael para os nossos co-nacionais migrantes, escreveram-me de várias partes da
Itália, notificando a grave necessidade de oferecer assistência aos migrantes,
durante a travessia do oceano. Fiz logo apelo às várias sociedades de navega.
ção, pedindo ida e volta gratuitas para aqueles sacerdotes que quisessem se
oferecer a uma obra de tamanha caridade, mas uma única a Veloz, respondeu de
boa vontade a semelhante apelo. Todavia eram dez ou doze os sacerdotes que
partiam, cada ano do porto de Gênova e acompanhavam os pobres expatriados. No
navio celebravam, pregavam, confessavam, assistiam os doentes, que nunca
faltavam. Em uma única travessia, morreram dezoito pessoas. Felizmente o padre
estava no navio. Pôde assistir os moribundos e confortar, com a palavra e com o
exemplo, os sobreviventes. Continuou-se deste modo, por quatro anos. Mas a
Veloz, decaiu de sua prosperidade, e infelizmente, também ela teve que reduzir
a concessão, limitando-a só aos missionários de Gênova. Se se tivesse os meios,
oh, quanto maior bem se poderia fazer!
Um destaque especial
merece a missão do Porto. Os missionários encarregados são reconhecidos aí como
representantes legais da migração italiana, junto o Labor Bureau ou Ministério dos Trabalhos públicos. Assim eles,
morando no Barge 0ffice ou escritório de migração, estabelecido no
Porto, prestam assistência imediata a todos os migrantes italianos que aí
desembarcam, especialmente àqueles que lhes são recomendados e que chegam
munidos de cartão especial, que são concedidos pelos comitês da Sociedade de
Padroado, instituída na Itália. 20
|