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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • PRIMEIRA PARTE       HOMEM DE DEUS E PARA DEUS
    • 1. CRISTO ALFA E ÔMEGA
      • c)      DEUS PARA NÓS: CRISTO CRUCIFICADO
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c)      DEUS PARA NÓS: CRISTO CRUCIFICADO

 

Banido o Crucifixo? O Crucifixo é o fundamento.”

 

Em nosso século uma voz desprendida de cem peitos, fez a volta ao mundo, gritou e grita: fora o Crucifixo! E desgraçadamente, conseguiu, em


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parte, tão infernal intento. Há tempos o Crucifixo era o mais belo ornamento das casas cristãs; hoje, outras imagens tomaram o seu lugar. Há tempos, a família cristã se inspirava no Crucifixo e dele tomava nome e exemplo: hoje outros são os objetivos em que se inspira; bem diversas as normas, que têm diante de si. Mas, banido o Crucifixo dos ambientes, das escolas, dos parlamentos, desterrado o único que poderia remediar seus males, que aconteceu à pobre sociedade? Não quero negar alguns dos títulos de que se orgulha o nosso século: o progresso das ciências, o desaparecimento das distâncias, as muitas descobertas, pelas quais o homem é capaz de arrancar da natureza os segredos mais ocultos, mas com tantas maravilhas é queixa universal que, em nenhuma época, a sociedade foi mais terrivelmente abalada e agitada, do que o é na época hodierna (...).

Moveu-se guerra ao Crucifixo. Eis a causa de tantos infortúnios. É uma verdade que alguns não querem compreender. Culpa-se a injustiça dos homens, a maldade dos tempos. Ah! Não. Convém rasgar as vendas que escondem a verdade, aos nossos olhos. Convém penetrar mais fundo. O crucifixo é o fundamento de todas as coisas, escreve São Paulo. Quem desdenha construir sobre tal fundamentopode acumular ruínas, sobre ruínas (...).

Jesus crucificado é o centro do universo. É a aliança preciosa que une a obra do Onipotente ao Criador Divino. É a meta de todas as produções e de todos os desígnios da Providência. É a razão suprema, última de todos os alvos de Deus sobre a humanidade redimida, que longe d’Ele, toma-se em si mesma, imagem de um cego, que vacila e cai sob os raios do mais esplêndido sol; é a norma de todo verdadeiro progresso social, sendo Ele a verdadeira luz que ilumina todo homem, e a sociedade toda. 43

 

A cruz fica em enquanto a terra gira.

 

Cristo vence, Cristo reina, Cristo triunfa. Temos também hoje, uma prova, em meio aos cataclismas da história, em meio aos frangalhos dos centros e das coroas, entre o nascer e a morte das instituições humanas, entre o surgir e o desaparecer de todas as heresias, entre o bramir dos mares bravios, no enfurecer do turbilhão, está a cruz. A cruz, farol de luz inextinguível, árvore da nossa salvação, troféu glorioso purpurado com seu divino sangue: “A cruz fica em enquanto a terra gira”. 44


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“A Cruz grita-nos: amor!”

 

A cruz nos grita Amor: A cruz grita: amor que se fez vítima de expiação por ti, que a tal ponto te amou até morrer por ti, sobre um patíbulo; mas não compreende este grito quem não repete com o Apóstolo: “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” A cruz é a escola mais segura do Amor. Cuidado, pois, se no correr dos dias, esqueceis o mistério da cruz, mostrareis, que vosso coração não arde de amor, que transcurais o grande preceito, que nos obriga a colocar, em Jesus Cristo, todos os nossos afetos, a estabelecer em vosso coração o seu reino, que é o reino do amor.

Amai Jesus, então compreendereis que o povo cristão, o povo dos crentes, compõe-se unicamente daqueles que honram, que amam a Cruz, ou morrem nela... 45

 

 “Toda vida de Cristo: cruz e martírio.”

 

Ele é o grande modelo da vida cristã; modelo, ó meus queridos, tão essencial, que na semelhança com Ele, como atesta São Paulo, consiste o segredo da nossa predestinação. Que vida teve Ele para subir ao céu? De riqueza, de glória, prazer, ou de pobreza, humilhação e dor? Toda a sua vida, escreve Crisóstomo, não foi senão cruz e martírio! Desde o primeiro até o último instante, quanta miséria, quantos aborrecimentos, quantas fadigas, quantas perseguições, quantas calúnias, quanto sofrimento, quantas dores! E como, depois disto, não reconhecer na penitência, o verdadeiro bem, o caminho breve, seguro, único de nossa salvação? 46

 

Cristo Jesus diz a todos: ‘Fazei penitência.’”

 

O que nos fala, é diletíssimos, o divino Mestre? Antes de tudo, veio, para chamar os pecadores, ou seja, todos os homens, à penitência. Diz que o reino dos céus padece violência e que só os fortes o conquistam. Diz: “quem não leva a sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo.” Diz ainda: “Fazei penitência.” Acrescenta depois: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis”(...).

De seus lábios adoráveis eu não ouço, senão uma palavra, um ensinamento, uma ordem: “Penitência!” E a quem o diz? A todos, adverte o evangelista São Lucas, talvez prevendo as falsas interpretações de tantos


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cristãos modernos, que gostariam de restringir apenas, aos habitantes do claustro, a prática de um preceito tão absoluto. Sim, Jesus Cristo fala a todos: aos pequenos e aos grandes. aos jovens e aos velhos, aos pobres e aos ricos, ao rei que está no trono, aos religiosos em seu retiro, aos sacerdotes, no exercício do seu ministério, aos industriais no seu comércio, aos artesãos, na sua oficina, a todos, sem distinção de grau, de condição, de tempo, de lugar, de idade. Dirigia-se a todos, porque ninguém pode dispensar-se da penitência, que nos conserva firmes, na lei de Deus, a não ser quem renuncia à salvação eterna. 47

 

“O exercício da mortificação evangélica.”

 

Quem quiser vir após mim, diz Jesus, nosso divino Mestre renegue-se a si mesmo, carregue sua cruz” e com este distintivo, siga-me. “Renegue-se a si mesmo”, quer dizer, ao próprio intelecto, submetendo-o à ; à própria vontade, fazendo sempre a de Deus; aos apetites descontrolados, seguindo em tudo, unicamente o Santo Evangelho. “Carregue”, em segundo lugar “a sua Cruz”, quer dizer, sofra com paciência e com resignação todos os males da vida presente, as tribulações, os dissabores, as fadigas inerentes ao próprio estado. Com este sinalsiga-me”, quer dizer: caminhe nas pegadas de Jesus Cristo, revista-se do seu espírito, entre em seu modo de ver, anime-se de seus sentimentos, oriente-se pelas suas máximas, conforme-se com sua vontade, abandone-se à sua Providência. Ora, que significa tudo isto, senão que, para viver vida Cristã é necessário o exercício da mortificação evangélica? É tão necessaria que sem ela, estamos perdidos para sempre: Se não fizerdes penitência perecereis, é a verdade encarnada que nos diz: “perecereis todos, igualmente” (Lc 13,3). 48

 

Dois sacrifícios, indivisivelmente unidos

 

É necessário suprir de nossa parte o que falta a sua paixão, “Completo”, dizia São Paulo, “na minha carne o que falta à paixão de Cristo” (Cl 1,24).

Esta é a suprema lei à qual está subordinada a nossa salvação. O sacrifício de Jesus Cristo e o nosso sacrifício, são dois sacrifícios, igualmente necessários: são dois sacrifícios, que não aplacam a justiça divina, se não forem, indivisivelmente unidos, porque nosso sacrifício,


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desacompanhado do sacrifício de Cristo, é indigno de Deus; o sacrifício de Cristo, desacompanhado do nosso sacrifício é inútil para nós.

             Assim se explica, em parte, o grande mistério da dor, contido na ordem presente do universo. A dor e a morte, chagas inevitáveis da natureza, no estado em que agora se encontra, foram transformadas, em meio de perfeição e de glorificação e por isso, de conforto e de alegria e deste modo, recolocadas na ordem da divina sabedoria e bondade. Daí a obrigação de conformarmo-nos à paixão de Jesus Cristo, se quisermos tomar parte em sua o glória. “Completo na minha carne, o que falta à paixão de Cristo.” 49

 

Mortificando-nos, nós queremos edificar e não destruir.”

 

Alguns fazem uma idéia muito superficial e errônea da penitência cristã; acreditam que mortificar-se seja querer padecer, pelo simples gosto de padecer. Não, diletíssimos. Muito mais alta é a meta que aspiramos. Mortificando-nos, direi como um filósofo ilustre, não queremos destruir, mas edificar, queremos reprimir a carne, para dar liberdade ao espírito, despojar-nos do homem velho, para revestir-nos do homem novo, renunciar nossa vontade corrupta, para colocar em seu lugar a santa vontade de Deus, morrer ao amor próprio, para viver a caridade, e abater o reino do mal, perseguindo-o em si e nos cúmplices externos e internos, para fundar em nós, o reino do bem, o reino da verdade e do amor, perder alguma coisa do presente, para assegurar-nos o futuro. Queremos, em outros termos, retomar a nossa coroa, ser não somente homens, mas cristãos, reinar no tempo e na eternidade. 50

 

Replenar-se de alegria em toda tribulação.”

 

Se o seu ânimo fosse sempre festivo, quanto à carta, que me escreveu, deveria alegrar-me muito e se eu puder oferecer-lhe um pouco de consolação ao seu espírito amargurado, estarei à disposição. Espero que a calma e a alegria retornem. A providência conduz V. Eminência, por caminhos não comuns e inacreditáveis; é este o motivo de alegria para seus verdadeiros amigos, e o é, também para o senhor. A razão e a nos ensinam que o que sentimos em nosso íntimo, isto é, tudo o que se faz, é querido, ou permitido por Deus, infinito amor. Às vezes, pelos desígnios da cruz, embora imerecida, quer os seus servos humilhados, não confundidos, os quais


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devem meditar com prazer as divinas disposições, amar, agradecer sempre, replenar-se de alegria, em cada tribulação.

As tribulações interiores espargem uma salutar amargura na vida presente, nos desapegam insensivelmente de tudo o que é mortal e nos proporcionam o dom inestimável de fazer-nos conhecer o nada das grandezas, em meio a elas, e não existe graça mais bela.

Mas a sabedoria de Deus, Eminentíssimo, dispôs verdadeiramente tudo, com força e suavidade e se por alguns momentos oferece-nos o cálice da amargura, oferece-nos depois, a bebida das mais gratas alegrias. É um cálice misterioso que se alterna e feliz quem sabe apreciá-lo com inabalável fidelidade, unindo-se assim, intimamente a Deus. A principal arma de que necessitamos é a paciência, a oração. 51

 

Ide, apóstolos de Jesus Cristo, e não temais; acompanha-vos a cruz.”

 

O sinal universal de resgate, levantado, no meio dos povos, é a cruz. A sociedade dos primeiros remidos é a Igreja. A palavra que voa de um lugar para outro, de povo em povo, anunciadora de salvação é o apostolado católico. E, graças aos céus, desde que sobre o Gólgota foi hasteado aquele sinal, desde que, no mundo, aparece a Igreja, não cessou de ouvir-se entre os povos, a palavra que anuncia a glória de Deus, que ilumina as mentes, vivifica os corações, regenera as almas, e, atraindo de toda a parte os irmãos dispersos, recompõe na unidade de , esperança e amor, a família humana (...).

Ide, portanto, ó generosos Apóstolos de Jesus Cristo, onde Ele vos chama. Esperam-vos, grandes fadigas, graves perigos, tribulações múltiplas, lutas e sacrifícios contínuos, mas não temais: —   acompanha-vos a Cruz.. Acompanha-vos a cruz, sinal dos triunfos passados, penhor dos triunfos futuros, para vosso conforto, a cruz que, opróbrio aos gentios, escândalo aos judeus, tomou posse da terra. (...)

Não temais: acompanha-vos a Cruz. A cruz é a defesa dos humildes, abatimento dos orgulhosos, a vitória de Cristo, a derrota do inferno, a morte da infidelidade, a vida dos justos, a plenitude de todas as virtudes. A cruz é a esperança dos cristãos, a ressurreição dos mortos, a consolação do pobre, o lenho da vida eterna, a força de Deus. Não temais acompanha-vos a Cruz. A cruz forma os heróis da Religião, sustenta-os, anima-os, guia-os, torna-os


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superiores à carne, ao sangue, às alegrias, às dores, infunde-lhes nos ânimos, os santos desejos do mártir de Cristo, que sabe viver e morrer exclamando: Viva Jesus, viva a cruz, viva o martírio: “Não me gloriarei senão na Cruz de N. S. Jesus Cristo.”

A cruz é loucura para o mundo, mas para vós tomar-se-á sabedoria e vida; vale mais uma hora empregada a meditá-la, que longos anos consumidos sobre os livros eruditos, que sozinhos, incham e perdem, e sem eles, somente com a cruz, sobe-se muito alto na ciência de Deus. Ah! Sim a Cruz é bálsamo para toda ferida, lenitivo para toda dor, sustento para toda fraqueza, conforto para toda fadiga, claridade para toda dúvida, luz para toda obscuridade. Nas aflições, nos desânimos, nas desilusões, abraçai a Cruz que vos entreguei. Com inteiro abandono, nas mãos de Deus, levantando os olhos ao céu, repeti: “Inebria-me, ó Cruz”, não me gloriarei, senão na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. O vosso coração se dilatará e a vossa alma se abrirá a todas as doçuras da esperança cristã e as vossas obras tornar-se-ão preciosas para o céu. 52




43.           Discurso sobre o SS. Crucifixo, 1880 (AGS 3017/3).



44.           Discurso pelo VIII Centenário da Cruzada, 1896 (AGS 3018/26).



45.           Discurso de 13-4-1865 (AOS 3017/3).



46.           A penitência cristã. Placência, 1895, p. 9.



47.           Id., pp. 8-9.



48.           Carta Pastoral (...) para a Santa Quaresma de 1883, Placência, pp. 14-15.



49.           Id., p. 16.



50.           A penitência cristã. Placência, 1895. p. 13.



51.           Carta a um Cardeal, s.d. (AGS 3020/5).



52.   Palavras ditas aos missionários que partiam de S. Calocero, em Milão, aos 10 de junho de 1884. (AGS 3018/2).






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