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e) FÉ E RAZÃO SÃO IRMÃS
“A razão e
a fé, filhas do mesmo Pai Celeste.”
A
fé é muito superior à razão, mas uma não deve estar em contradição com a outra;
o que é verdadeiro para uma, não deve ser falso para outra, ou que se
hostilizem reciprocamente, no próprio desenvolvimento. Quem pretende encontrar
este contraste, é certo que, ou entendeu mal a fé por não ter idéia clara do
seu verdadeiro ensinamento, ou falsificou a razão, classificando os próprios
sofismas como bons argumentos. E como poderia ser diferente, se estas duas
luzes partem da mesma fonte? Filhas do mesmo Pai celeste, a razão e a fé são
duas vertentes da única verdade, são dois raios da mesma luz, são duas irmãs
que se dão as mãos, na viagem deste século tenebroso, unem-se reciprocamente e
se socorrem, com uma aliança indissolúvel e perfeita. A fé, com as suas
doutrinas, ilumina e enobrece a razão. A razão, com justas pesquisas, coloca em
evidência a verdade da fé. Uma com seus subsídios prega as maravilhas da outra,
e a outra com seus mistérios torna-se não somente parte integral da razão, mas
é a sua coroa, triunfo e apoteose. 43
“A fé não teme a discussão, teme a
ignorância.”
A
fé não teme a discussão, não teme a luz. Teme a ignorância, teme a ciência
superficial e leviana, esta falsa ciência, que sempre deu e oferece ainda hoje,
o mais largo contingente à incredulidade. Vós me dizeis, de fato: Em nossos
dias são muitos os que sentem a necessidade e o dever de acrescentar aos
elementos do Catecismo aprendidos na juventude, um estudo sério e profundo da
religião? Quem folheia os livros dos apologistas, antigos e modernos, que
colocam em evidência as provas racionais da religião, que mostram as sublimes
analogias e belezas, que rebatem as dificuldades e calúnias onde elas aparecem?
Será muito se lhes conhecem o nome. Como admirar-se portanto se aqueles, embora
providos de engenho, não saibam em matéria de fé, aquilo que sabem as crianças?
Entendem de tudo: de filosofia, - 61 -
de
matemática, de história, de literatura, mas ignoram o mais importante: a ciência da religião, ou têm um conhecimento
incompleto, misturado com o erro, e pré-juízos vulgares, aprendidos na leitura
de jornais céticos e blasfemos, estudados nos livros de moda, nos romances, que
tudo alteram e confundem, em livros históricos caluniosos ou mentirosos, nos
espetáculos e dramas teatrais mais desavergonhados, nos bancos de um liceu ou
de uma universidade, onde mestres, muitas vezes descrentes, fazem dela alvo dos
seus gracejos e de seus motejos. 44
“O mais
irrestrito dever de contribuir ao triunfo da fé e da ciência”.
Beatíssimo Padre.
O Comitê constituído, em Placência, sob a presidência honorária do
Ordinário, para promover, adesões, entre os italianos, para o Congresso
Científico Internacional, que os doutos Católicos farão em agosto do próximo
ano, em Friburgo, na Suíça, coloca aos pés de vossa Santidade um exemplar da
circular que julga por bem difundir entre os católicos estudiosos. E suplica à
vossa Sanidade que abençoe os esforços do mesmo, a fim de que os italianos
concorram, em número digno da Nação, que gloriosa pelo insigne privilégio de
ter no próprio seio a sede do Infalível Mestre da fé, tem também o mais
irrestrito dever de contribuir para o triunfo da fé e da ciência.
Digne-se Vossa Santidade abençoar o Comitê Italiano
e os abaixoassinados que prostrados ao beijo do sagrado pé se dizem com
alegria.
De
vossa Santidade
Humílimos
Filhos
U João Batista, Bispo de Placência, Presidente Honorário
Alberto Barberis, C. M., Presidente 45
“A função da ciência é
fazer as almas voltarem para Deus.”
Em
setembro de 1894 completava-se, pela terceira vez, um acontecimento de grande
importância para a religião e para a ciência.
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Doutos
católicos de todas as nações, belgas e franceses em maior número, alemães,
austríacos, húngaros, suíços, espanhóis e americanos, não sem alguns
representantes da nossa Itália, reuniram-se em Bruxelas, para encontros da
sabedoria cristã, diante da Igreja e do mundo (...).
No Congresso, todas as ciências encontraram
em lugar digno, a começar por todas as doutrinas religiosas-apologéticas,
depois as filosóficas, as ciências sociais e jurídicas, as doutrinas históricas
e filológicas, as disciplinas matemáticas, físicas e naturais. A tão completa
enciclopédia do saber, não faltava o ornamento da estética cristã.
Tamanho tesouro de multiformes
conhecimentos científicos e de serenas discussões, confiado aos nove volumes dos
Atos do Congresso, para testemunhar os avanços conseguidos, não pode permanecer
sem frutos. Se, somente um douto, que harmonize em si a ciência e a fé, é
dignidade e refúgio para a re1igião e para a sociedade, pode-se bem confiar que
uma numerosa e escolhida assembléia de doutos e de estudiosos cristãos, de cada
nação, obrigará o mundo pervertido por uma ciência cética e anti-cristã, ao
menos a respeitar uma religião, cujos raios fecundantes aviva cada flor do
saber. Antes, não poucas das criações mais nobres, não remuneradas pelas
maravilhosas conquistas da ciência, na ordem material, são atormentadas pela
necessidade de atingir aos mais altos problemas da vida, encontrarão conforto,
elevando mais alto o coração na contemplação das harmoniosas e seguras soluções
que lhe presta a ciência humana, mediante a luz da fé. E enquanto o trabalho
contínuo e simultâneo, em todos os ramos da árvore científica, coordenado à
unidade neste encontro universal de doutos, acumulará copiosos e multiforme
material, tornar-se-á mais formoso o edifício da Apologética católica. Isto
obrigará a razão especulativa e a observação positiva, sobre linhas de uma
critica imparcial e severa, tributar homenagem à religião e entoar o hino da
ciência à verdade do Cristianismo, graças à qual todos os aspectos do
verdadeiro descobrem garantia, esplendor e ordenada cooperação com Deus:
“aqueles que estão em Deus, na mesma proporção e reciprocamente, têm Deus
neles.” (S. Tom.)
As
felizes experiências do passado, e as alegres e infalíveis expectativas do
futuro são, desde agora, exuberante argumento aos abaixo-assinados para dar
andamento cuidadoso, ta Itália, à preparação do IV Congresso Internacional
Científico aos Católicos. Já deliberado para agosto do ano de 1897, em
Friburgo, na Suíça; para o qual estes já foram confirmados pela Comissão
permanente dos Congressos Científicos Internacionais, no Comitê promotor
italiano. - 63 -
Além
de contribuir a tal intento, acrescentam-se motivos de grande honra para a
nossa pátria, enquanto por um conjunto de circunstâncias o nosso país, no
Congresso de Bruxelas, entre 2.500 adesões de todas as nações, só contava 74
italianos, dos quais somente dois intervieram pessoalmente às sessões (...).
U João Batista Scalabrini, Bispo de Placência, Presidente
honorário;
A. Barberis, Professor do
Colégio Alberoni, Membro da Comissão permanente para as obras dos Congressos
Científicos, Internacionais dos
Católicos, Presidente do Comitê italiano, Placência;
Barone Demateis Dom Cano Brera
Dr. G. Toniolo Teol. L.
Biginelli
Mons. L. Brevedan Pe. de Martinis
Conde E. D. Soderini Pe.
I. Torregrossa 46
“A grande obra
do reflorescimento da Filosofia Tomista”.
No
colóquio que tive com V.E.R. que me deixou tão feliz, aconteceu o discurso
sobre o divino Tomás e sobre a obra do ab. Luis Francardi. Sobre o primeiro, o
Senhor deve ter recebido fascículos e ouso pedir-lhe. Exmo. Príncipe, dar-me o
seu respeitável parecer. A revista criada, com a finalidade de cooperar com a
grande obra do reflorescimento da filosofia Tomista, iniciada nosso glorioso
Santo Padre, é lida com geral satisfação, procurada no exterior e conta com um
bom número de assinantes entre os doutos, também leigos. Um Rosminiano me
dizia, há alguns dias: do divino Tomás tirei a convicção de que Rosmini não é
Santo Tomás.
Anseio,
portanto, que a revista periódica prospere em favor da boa causa e é por isso
que V. E. deve me fazer o favor, o que peço também em nome do Diretor, de dar-me
claramente o seu parecer, todos os pontos a retratar e reformar qualquer
expressão, que não seja lealmente conforme à doutrina do Doutor Angélico (...).
Estou
preparando o Decreto para o Patronato
de Santo Tomás para produzir a explicação da Suma Contra Gentios e também as
outras obras, - 64 -
para organizar
deste modo uma verdadeira Academia, sem contendas, e lembrar que o atual
Colégio Teológico de Santo Tomás possui uma belíssima Capela, dedicada ao Santo
e tem excelentes Estatutos, elogiados pela Santa Sé. Eu creio que esta volta
aos verdadeiros princípios será uma das glórias mais belas do pontificado do
nosso Santo Padre e que não obstante as polêmicas impetuosas que atrasam em vez
de facilitar a finalidade nobilíssima do Santo Padre e o espírito de partido,
que domina aqueles que talvez nunca Viram o cartão de uma obra de Santo Tomás,
coisa inevitável entre os homens, o senhor alcance seu alto intento, garantindo
assim um lugar muito distinto na série dos Sucessores de São Pedro. Se tiver oportunidade,
coloque-me aos pés do grande Pontífice e implore para mim uma bênção. 47
“A Igreja
se avantaja sempre com o profundo trabalho intelectual de seus filhos.”
Não
participo inteiramente dos vossos temores, quanto às debatidas questões bíblicas.
É Jesus Cristo que governa a Igreja, sempre favorecida com o profundo trabalho
intelectual dos seus filhos. Será necessário certamente grande sagacidade, para
que ninguém e sob nenhum pretexto, atente à arca santa. Mas esta não faltará. 48
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