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a) CONTINUAÇÃO DA ENCARNAÇÃO
“A Igreja é
a extensão da Encarnação no decorrer dos séculos.”
Igreja é a extensão moral
da Encarnação, no decorrer dos Séculos. Assim como em Cristo, a humanidade e a
divindade, embora distintas, são intimamente unidas e inseparáveis, assim a
Igreja, que O representa, continua a sua obra, produz os mesmos efeitos
sobre-humanos; é ao mesmo tempo divina e humana. Mais claramente: a Igreja
considerada quanto ao seu fim é uma sociedade espiritual, destinada à
santificação e salvação eterna das almas; tem todavia uma parte material,
visível e externa, principalmente em razão dos membros que a compõem, isto é,
dos homens que não são puros - 98 -
espíritos, mas seres compostos de alma e de corpo.
Como a missão reparadora do Homem-Deus, entendida como resgate e salvação das
almas, foi sob as formas corpóreas e sensíveis da encarnação, pregação, paixão,
morte, ressurreição, assim em formas materiais e sensíveis, Ele quis ligar os
atos de sua religião e os meios ordinários de santificação: culto, magistério,
Sacramentos. Por isso nesta sociedade religiosa discerne-se uma parte
espiritual, definida como alma da Igreja. É a que vivifica, informa e encaminha
todos os membros místicos e coloca-os em comunicação com seu Divino Chefe e
entre si, e opera aquela feliz reciprocidade de méritos e de riquezas, chamada
comunhão dos Santos, que abraça todos os justos e amigos de Deus, não só
peregrinos no mundo, mas também os que, superada a carreira mortal, já chegaram
à pátria, ou temporaneamente estão detidos no Purgatório, purificando-se de
suas culpas.
Desta comunhão dos Santos faz parte
tudo o que a Igreja possui de interno e espiritual: a fé, a caridade, a
esperança, os dons da graça, os carismas, os frutos do Divino Espírito e todos
os tesouros celestes, que pelos méritos de Cristo Redentor e de seus servos,
lhe são derivados.
A outra parte forma o corpo da Igreja,
que consiste no que ela tem de visível e externo, ou seja, as associações dos
congregados, culto, ministério do ensino, em sua ordem e diretrizes externas.
A maneira como estas duas partes
essenciais, que constituem a Igreja, são inseparavelmente unidas entre si, como
o é a alma ao corpo, assim entre membro e membro, pela caridade deve reinar tal
harmonia e reciprocidade de serviços que visibilizem a imagem da unidade, da
qual consta o indivíduo físico, como o descreve o Apóstolo dizendo que “de
Cristo cabeça, todo o corpo coordenado e unido por conexões que estão ao seu
dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria, — efetua
esse crescimento, visando sua plena edificação na caridade.” 1
“A Igreja é
a verdadeira imagem do seu fundador.”
A
vida da Igreja emana. diretamente de um princípio divino, que informa e governa
o seu organismo humano, a totalidade dos fiéis, no qual se posiciona,
sublimando-a. Assim, a sociedade de natureza inteiramente - 99 -
diversa das outras, porque
sociedade terrena-celeste, portanto verdadeira imagem do seu Fundador, Homem e
Deus ao mesmo Tempo.
Ela é quase viva encarnação de
Cristo na terra, uma continuação de sua vida mortal; Jesus Cristo difundido e
comunicado, em toda a sua plenitude. De fato a vida da Igreja é radicalmente o
espírito de Deus, segundo o apóstolo: Embora muitos, somos um só corpo em
Cristo: este tudo opera num mesmo Espírito. 2
“A Igreja é
a continuação perpétua da obra do Redentor.”
A
Igreja é a depositária e a dispensadora dos Sacramentos, continuação perpétua
da obra do Redentor e do Santificador dos homens, sobre a terra. A Igreja tem
as chaves deste canal; por meio dos Sacramentos, Ela haure do seio de Deus a
graça santificante e derrama-a na alma do cristão (Is 44,3). Que dom
inestimável, fez-nos Jesus Cristo, ao fundar aqui na terra a sua Igreja e em
ter-nos feito crescer no seu seio? É no seu seio que Ele distribui seus
carismas. Objeto de suas complacências, pupila de seus olhos, palpitar do seu
Coração, a Igreja é sua única pomba, a única sua perfeita esposa e irmã ao
mesmo tempo (cant. passim). Saiu do seu lado aberto, purpureada com seu divino
sangue; é santa e imaculada (Ef 6,25).
Oh!
Igreja, oh! Igreja, quanto sois querida de Jesus! Felizes somos nós por sermos
teus filhos! Na Igreja temos tudo o que pode nos guiar à salvação eterna; fora dela,
obscuridade, desolação e morte. 3
“Jesus
Cristo se retratou na sua Igreja.”
Na criação do universo Deus estampou rastros de sua glória, sobretudo
na criação do homem que é seu chefe. Ele o fez à imagem viva de seu Ser. Jesus
Cristo retratou-se na sua Igreja. Fez o mundo das almas à sua imagem, deu-lhe a
unidade, Porque é uno; a santidade porque Ele é santo, a autoridade, porque Ele
é o Senhor, a universalidade porque Ele é o Deus imenso, a perpetuidade, porque
é o Deus eterno. Como criando os mundos ele Colocou em atividade a força de
atração, em torno da qual gravita tudo num centro comum, assim, na criação da
Igreja Ele difundiu Sua graça, esta lei de atração espiritual, que também faz
gravitar a alma para Aquele, que é o centro comum das inteligências: Deus.
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Colocou
na Igreja a sua graça, força profunda que lhe imprime o movimento e a vida.4
“Os
destinos de Cristo e da Igreja são inseparáveis.”
Os
destinos de Cristo e de sua esposa são inseparáveis. O que acontece ao corpo
físico e material de Jesus Cristo é prenúncio do que acontece e sempre
acontecerá, ao seu corpo espiritual e místico, que é a Igreja. O corpo de
Cristo foi entregue às injúrias, aos flagelos, às pancadas; e às injúrias, às
pancadas, aos flagelos é entregue a Igreja freqüentemente. O corpo de Jesus
Cristo foi suspenso na cruz, agonizou, morreu, foi sepultado; e crucificada,
agonizante e quase moribunda aparece, às vezes, a Igreja. Vede: Jesus Cristo
sai do sepulcro glorioso, impassível, imortal, exatamente do sepulcro em que
seus inimigos acreditam tê-lo sepultado para sempre; e neste momento em que os
hodiernos inimigos acreditam apagar para sempre a Igreja católica, ei-la
erguendo-se mais gloriosa, mais forte, mais bela do que nunca. 5
“A Igreja é
um Pentecostes prolongado.”
A
Igreja católica teve sua origem no Pentecostes, e por isso ela é um Pentecostes
permanente, através dos séculos. Assistida continuamente pelo Espírito Santo,
faz ouvir a todos sua respeitável voz; prega as mesmas verdades, ordena os
mesmos preceitos. Alguns inclinam profundamente a fronte, adoram e obedecem.
Outros, ao contrário, ridicularizam-na e se orgulham de não crer. Por que tal
diferença? Por que muitos em nossos dias, mancham sua língua e sua pena, com
erros e blasfêmias inacreditáveis e perdem a fé? É porque, seus corações estão
manchados. Tal é a sentença infalível de Jesus Cristo (...) a luz veio ao mundo
e os homens amaram mais as trevas que a luz, por isso suas obras são más. É da
corrupção que nasce a incredulidade. 6
“Somos em Jesus Cristo, um só
Corpo.”
Somos
em Jesus Cristo
um só corpo, e como no corpo humano, nem todos os membros têm a mesma
atividade, assim cada membro da Igreja não exerce a mesma função. No corpo
humano, a cabeça é colocada no alto, - 101 -
domina
todos os membros, anima-os, dirige-os e os governa. Na Igreja, como corpo
místico de Jesus Cristo (...) o Romano Pontífice, cabeça visível deste grande
Corpo, tem o governo supremo e universal sobre todos os membros, que se unem a
ele. Existem os Bispos, subordinados ao Romano Pontífice, mas governantes
supremos da parte do rebanho católico que dele, pastor Universal, receberam
para cuidar e dir-se-ia os olhos deste mesmo corpo. Seguem-se os sacerdotes e
os outros ministros inferiores que são, por assim dizer, os braços. Por último
todos os fiéis que são a plenitude e o complemento.
Surge assim uma corrente que,
partindo do papa, chega ordenada e hierarquicamente até o último camponês, que
enquanto conduz penosamente o arado, no seu campo e tem o espírito de Jesus
Cristo, sente-se unido, do mesmo modo que nos sentimos unidos nós mesmos, na
fé, na caridade, na obediência ao Papa e à Igreja. Oh! quanto desejaríamos que
vos deliciásseis freqüentemente, com estes pensamentos, tão belos e comoventes!
E não é maravilhoso e comovente o fato desta imensa família de fiéis espalhados
por todo o mundo, que recitam o mesmo credo, que se alegram com as mesmas
esperanças, que freqüentam os mesmos Sacramentos, que reconhecem o mesmo
sacerdócio, que oferecem o mesmo sacrifício, que obedecem à mesma lei, que
ouvem a mesma voz do Pai comum? (...)
E não é
doce para vós, ó pobrezinhos, nossos filhos amadíssimos quando vos recolheis, nos
dias festivos, no templo, para assistir aos divinos mistérios, não é doce saber
que estais em comunhão com todo o mundo, todos filhos da mesma mãe, que todos
igualmente, sem distinção de nascimento, de grau e de educação, todos chamados
a ganharem, com o exercício das boas
obras, a mesma bem-aventurada imortalidade? Não é bom para vós, saber-vos em
comunhão de afetos não só com a Igreja, que combate aqui na terra, as gloriosas
batalhas do Senhor, mas com aquela que exulta triunfante no céu? Saber que aquilo
que acreditais é o mesmo que acreditaram todas as gerações, em todos os
séculos? (...)
Oh!
Salve, una, santa, católica, apostólica Igreja! Tu Mestra, tu rainha, tu mãe, tu Corpo místico de Jesus Cristo, vivo
nos séculos. De ti vem nossa salvação, nossa glória, nossa paz, nossa alegria,
nossa felicidade, nossa vida. Ouviremos a ti nossa mestra, obedecer-te-emos
nossa soberana, amar-te-emos nossa mãe, ajudar-te-emos e te defenderemos, como
o corpo, do qual somos os membros. 7
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