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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 1.  A IGREJA
      • c) A IGREJA É SANTA
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c) A IGREJA É SANTA

 

“A  Igreja é Santa.”

 

             A obra-prima de Deus Pai é Jesus Cristo e a maior obra de Jesus Cristo é a sua Igreja, que adquiriu e purificou com seu sangue, santificou-a com seu espírito, enriqueceu-a com seus méritos, para apresentá-la a seu Pai isenta de toda ruga e toda mancha, e fazê-la reinar perpetuamente, com Ele, no céu. Ela é santa por seu Autor, que é a origem e a fonte de toda santidade: Santa por seus sacramentos, canais pelos quais chegam até nós todas as graças; Santa pelo sacrifício incruento, com o qual oferece ao nome de Deus uma oblação pura; Santa pelo seu culto, tão grandioso, tão belo, que inspira a viva, o respeito mais profundo, a mais terna piedade, que vence todo raciocínio, que fala fortemente ao coração, também dos heterodoxos.

             Santa, em suas doutrinas. Seu principal cuidado é conservá-las incorruptas, tais quais as recebeu do seu Fundador, para dar remédio às enfermidades espirituais, dissipar as trevas que obstroem as mentes, incentivar seus filhos às boas obras, estimulá-los à prática da pobreza voluntária, da obediência mais perfeita, da virgindade angélica, da vida austera e penitente, à coragem, ao sacrifício e ao martírio.

             Santa nos seus filhos, porque o Salvador deu-se a si mesmo, a fim de resgatá-los de toda iniqüidade, para purificar para si um povo aceitável, zelador das boas obras (...). Vinde e vede. Os milhões de mártires generosos, de solitários penitentes, de virgens ilibadas, de heróis de toda espécie. O grande número de pastores e de sacerdotes, que ardem de Santo zelo pela glória de Deus e pela salvação das almas, que se deslocam para países longínquos, onde cintila a espada das perseguições e em todos os lugares um feroz mal-estar ceifa as vítimas. Os religiosos são muitos, de quem mesmo os inimigos admiram as virtudes, as austeridades, o espírito de recolhimento,


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de zelo, de caridade, de desprendimento de tudo o que é terreno. Tantas almas piedosas, ignoradas pelo mundo, mas conhecidas e amadas por Aquele que perscruta os corações, são todos filhos da Igreja Católica. Ela, santa em si e santa em todas as suas obras, jamais cessará de nutrir em seu próprio seio, portentos de santidade, dignos de suprema honra dos altares e de ser por isso mesmo, inesgotável fonte de todos os bens. 12

 

“A Igreja é mãe de santidade.”

 

          A Santidade é o caráter próprio e inseparável da verdadeira Igreja. Deus é a santidade por essência. Portanto, uma Igreja que vem de Deus deve trazer em si a marca da santidade. Santa, como escreve Agostinho, é exatamente a Igreja Católica: mãe de santidade (...).

          Mananciais de santidade são, antes de tudo, as verdades que nos ensina, pois as doutrinas promulgadas pela Igreja Católica não são simples teoria, mas princípios eternos, dos quais emanam uma infinidade de conseqüências morais, que divinizam a nossa natureza (...). Um Deus justo e infinitamente misericordioso, a imortalidade da alma, a reparação da culpa por meio da penitência, o perdão das ofensas, a paciência, a caridade, a humildade e assim por diante, são todas doutrinas, que em cada tempo serviram para criar inocentes e insignes heróis, sem número. Manancial de santificação são os sacramentos, administrados pela Igreja com afeto de mãeAdministra-nos o batismo, para limpar as manchas de nossa origem humana. Administra-nos a confirmação, para tornar-nos fortes para combater as batalhas do Senhor. Administra-nos a penitência, como meio de expiar nossos pecados. Administra-nos a Eucaristia e nos o mesmo Autor da santidade. Administra o matrimônio, que santifica a família. Administra a sagrada ordem, para perpetuar na terra o Sacerdócio de Jesus Cristo. Administra-nos a Unção dos enfermos e esparge sobre o leito de nossas agonias, as consolações do céu.

             Mananciais de santidade são os preceitos que ela nos impõe, preceitos repletos de indulgência e de bondade, com os quais esta terna mãe nos guia, entre os perigos do mundo, ao porto da salvação, e se ocupa toda a fazer-nos felizes, nesta e na outra vida. Ordena-nos amar a Deus de coração, de referir a Ele, como ao fim último, os pensamentos, os afetos, as obras, tudo quanto


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somos e podemos e de amar o nosso próximo, como a nós mesmos, como o amor que vem de Deus.

             Enfim, propõe-nos a imitar Jesus Crucificado, nosso Senhor, sublime exemplo de resignação, de fortaleza, de glória, a fim de que, crucificados com Ele às vaidades deste mundo, sejamos unidos a Ele nos sofrimentos, como na alegria.

             Manancial de santificação é a comunhão dos Santos, fruto da caridade perfeita, que une entre si a Igreja militante, a Igreja padecente e a Igreja triunfante, formando um só corpo, do qual Jesus Cristo é a cabeça. Somos chamados a participar dos merecimentos dos justos, ainda viandantes sobre a terra e da glória dos eleitos do céu. 13

 

Encontrai-nos qualquer coisa virtuosa que a religião não gere ou não inspire.”

 

             Encontrai-nos algo virtuoso que a religião católica não gere ou não inspire. Talvez a amizade? Mas só a religião católica pode dar-nos amigos verdadeiros e fiéis. Talvez a gratidão? Mas é a religião católica que forma o coração verdadeiramente bom e tempera com alegria pura o consórcio civil. Talvez a união matrimonial? Mas é também verdade que a religião católica, elevando-a a grau de Sacramento, torna-a estável e santa e quer que reflita em si a imagem da união de Cristo com a Igreja. Talvez os deveres da vida civil? Mas é igualmente o Evangelho que nos manda sejamos humildes, dóceis, afáveis, mansos, pacientes, caridosos. Talvez a coragem? Mas que heróis poderiam ser comparados aos que fazem o orgulho da religião católica? Talvez a boa administração do governo? Oh, se os povos, as repúblicas, os reinos fossem governados unicamente com as máximas do Evangelho! Onde estariam os abusos, as injustiças, as calúnias, as ambições, os ódios, os furtos, os homicídios, os sacrilégios, as revoltas? 14

 

“O tesouro da Igreja: a comunhão dos Santos.”

 

             A comunhão dos Santos, ou seja, o tesouro comum de graças e de méritos que existe na Igreja, deve-se principalmente à cabeça (...). Portanto é a Jesus Cristo que a Igreja é devedora, pela plenitude de seus bens. Oh, eu


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não me admiro senão deste fundo de reservas inesgotáveis, infinito. O sangue de Jesus Cristo, este sangue adorável, do qual uma só gota instilada é suficiente para o mundo; suas lágrimas, suas orações, sua vida, suas obras, suas fadigas, suas dores, eis que o que forma e alimenta o tesouro da Igreja. É uma corrente de méritos, que se estende de uma a outra extremidade da terra; é um rio de graças, que escorre incessante sobre a humanidade e a fecunda (...).

             Se é sobretudo da cabeça que deriva a vida dos membros, não se deve pensar que os membros sejam estranhos a esta vida. Pois o Apóstolo disse: Deus criou o corpo de tal modo, que os membros tenham necessidade recíproca uns dos outros, a fim de que a abundância de uns possa suprir a indigência dos outros.

           Pois bem, se tal é a condição natural do corpo do homem, do corpo da família, do corpo da cidade, não deverá isto se verificar na Igreja, que é o Corpo de Jesus Cristo, a família dos eleitos, a cidade de Deus?

             Um olhar às inumeráveis multidões dos Santos, que passaram sobre a terra e que hoje triunfam no céu. Quantos sofrimentos, quantas orações e quantos ascrifícios vão desembocar, como tantos outros riachos, no mar infinito dos méritos de Jesus Cristo, que formam o tesouro da Igreja!

             Eu vejo neste tesouro não só os méritos super-abundantes, satisfatórios e impetrativos de Cristo, mas outrossim, da Virgem e dos Santos: vejo o sangue dos mártires, as austeridades dos anacoretas, o zelo dos apóstolos, a dos confessores, as palmas das virgens; vossas boas obras, as orações, que hoje elevastes a Deus em união com vosso Bispo, estão lá. Em virtude da comunhão dos Santos, a nossa oração sai deste templo, voa nas asas dos Anjos, atravessa os Oceanos, vai direta ao coração de nossos irmãos distantes, de nossos irmãos impenitentes, de nossos irmãos separados. Ela lhes leva o bálsamo da consolação, a graça do remorso, o dom da perseverança. A comunhão dos santos se estende por toda a parte. Para ela não existe limite, nem de tempo, nem de espaço. 15

 

 “O dogma da comunhão dos Santos é doce, é consolador.”

 

           Não ouvis os gemidos, que chegam a nós, do profundo? Tende Piedade de mim, ao menos vós que fostes um dia meus amigos. (...) São vozes de lamento e de dor. É a voz de um pai, de uma mãe, de um irmão, de


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uma irmã, de uma filha, de uma esposa, que sobe a nós do cárcere da expiação, para implorar os nossos sufrágios, pois nem a dor destrói a comunhão dos Santos. E por que a expiação dos justos romperia esta comunhão? Não pertencem eles, como nós, ao corpo de Jesus Cristo? Não são também membros vivos da família dos eleitos e da cidade de Deus? Por que então não teriam parte ao tesouro comum da Igreja, à nossa satisfação, aos nossos sacrifícios, às nossas intercessões? Quão doce e consolador é o dogma da comunhão dos Santos! O céu reza, a terra reza, o purgatório reza. A Igreja padecente, a Igreja militante, a Igreja triunfante estão unidas por uma mútua troca de súplicas e de méritos. Do purgatório a oração sobe à terra, da terra se eleva ao céu e lá através dos Santos, obtém o refrigério, a luz e a paz. O céu e purgatório rezam por nós e nós pobres exilados e peregrinos rezamos ao céu, entre os sofrimentos e a glória.

             É por nosso meio que o grito daquelas almas prisioneiras chega até o trono de Deus. Do céu a abundância das divinas misericórdias se derrama sobre a terra, da terra, qual celeste orvalho, cai até o purgatório, onde pousa sobre os lábios ardentes pelas chamas expiatórias. 16

 

 




12. O Concílio Vaticano I, Como, 1873, pp. 115-117.



13Homilia de todos os Santos, 1886 (AGS 3016/8).



14. Carta Pastoral (...) pela Santa Quaresma de 1879, Placência, pp. 17-18. É de se notar que na época, “religião católica” e “ verdadeira” eram sinônimos.



15. Homilia de todos os Santos, 1897 (AGS 3016/8).



16.   Id.






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