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Congregações Scalabrinianas dos Missionários e Missionárias de São Carlos Scalabrini Uma voz atual IntraText CT - Texto |
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d) NÃO POSSO CALAR
“Três coisas mantém o Bispo em sobressalto.”
No seu ofício de superintendente, sempre difícil e freqüentemente perigoso, o Bispo tem sempre diante dos olhos, três coisas que o mantêm em contínuo sobressalto: os perigos das almas, o pecado do silêncio e o juízo de Deus. Por isso, ele cumpre todos os deveres de bom Pastor, guiando suas ovelhas às pastagens salutares, às límpidas fontes e investindo impávido e resoluto contra os lobos que, em pele de cordeiro, se introduzem no rebanho. Ele fala, escreve, trabalha, não tendo em vista senão a glória de Deus e a salvação das almas. Nada de ambigüidades, equívocos, simulações, fins secundários. Nos seus lábios, a palavra é raio de luz celeste, é semente de virtude cristã. A sua boa fé, às vezes poderá ser enganada, mas ele não engana ninguém, antes, é para tirar os outros do engano que freqüentemente se expõe a contradições e dores quase inacreditáveis. Não busca a própria comodidade, o próprio interesse, as mesquinhas satisfações, mas a verdade, somente a verdade, que é sua regra; e ele sacrifica tudo, antes de traí-la. 26
“Jamais nós, Pastores, nos calaremos.”
Sei que, em nome de falsa liberdade, os modernos incrédulos desejariam bloquear a santa liberdade, que nós católicos, nós Bispos, temos de Deus. Mas se as leis se calarem, nós Pastores não nos calaremos, não serei eu que, com a ajuda divina, me calarei, que cessarei de elevar a minha voz, a voz do dever e da autoridade, para golpear o mal, onde quer que ele se aninhe, para denunciar os perigos e as insídias, onde maus põem em perigo a vida espiritual dos meus filhos; por causa de Sião, não me calarei. Não me calarei e repetirei a todos, com o Evangelho: guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós sob vestes de cordeiros e por dentro são lobos vorazes. Não me calarei e repetirei: é intolerável que mestres estrangeiros, de falsas doutrinas venham, em nossa casa, perturbar a paz de nossas famílias, insultar nossa religião, a religião dos nossos antepassados, a religião que se entrelaça com a nossa história, com nossas artes, com nossos costumes, com nossas aspirações, com nossa vida. 27
“Chamado a fazer parte da solicitude, por todas as Igrejas.”
Será lícito a homens mal intencionados se imporem quando um Bispo falar ou escrever conforme a consciência, o direito e, mais que o direito, o que o dever lhe dita? O Bispo, guarda da ciência divina, como o denominam as constituições Apostólicas, mediador entre Deus e os homens, príncipe e comandante, rei e dinasta, depois de Deus, Deus na terra, como também condecorado com a dignidade de Deus, não poderá mais exercer o próprio ministério, sem temer ver arrastada na lama a própria dignidade, por aqueles que protestam continuamente respeitá-la? O Bispo, colocado pelo Espírito Santo, para reger a Igreja de Deus e chamado a fazer parte da solicitude pastoral por todas as Igrejas, não poderá mais expor candidamente ao Pai comum a sua advertência, acerca dos perigos que correm as almas, sem que seja chamado de pedra de tropeço e de escândalo? Um Bispo não poderá declarar, abertamente, que ama a sua pátria, que quer vê-la grande, gloriosa, feliz na reconciliação com a Sé Apostólica, sem estar sob suspeita de pactuar com o inimigo? Não será permitido a um Bispo pedir a Deus a glória de cumprir esta obra mais árdua de todas e mais necessária, a pacificação de nossa pátria? Que se digne concedê-la ao seu Vigário na terra, sem que outros o reprovem e acusem de querer dar conselhos ao Mestre universal e de procurar forçar-lhe a mão? Chega-se a tal temeridade de criticar atos que o mesmo Sumo Pontífice aprova. Chega a tal ponto a audácia de criticar, se bem que veladamente, aquilo que Ele afirma ser plenamente conforme os seus desejos?! Grande Deus! onde estamos? Para onde iremos nós, com tal sistema? Ai! gritaremos com um Santo Padre, ai da Igreja, quando o Episcopado é forçado ao silêncio! 28
“Brade a palavra Episcopal, como o Senhor a inspira.”
Não existe Bispo, no mundo, que não queira quanto quer o Chefe supremo, e não condene quanto Ele condena; não existe Bispo, que não deplore amargamente, as condições intoleráveis impostas ao venerável Chefe de trezentos milhões de católicos, e a Ele não se una, renovando-lhe os mais formais protestos, contra os antigos e os modernos atentados! Não existe Bispo que não proclame com Ele ser impossível, que as coisas públicas da Itália consigam prosperar, até que não sejam tomadas medidas, sobre a dignidade da Sé Romana, da liberdade e independência do Romano Pontífice. Portanto, brade sem retenção ou medo, a palavra episcopal. Brade, como o Senhor a inspira, e os censores orgulhosos da mesma saibam que “considerar a Igreja como massa inorgânica, que deve receber o impulso de mão onipotente, sem que ninguém possa iluminá-la, nem submetê-la a humildade e devotas reflexões, é o maior dano que se lhe possa infligir”. 29
“Os Bispos têm o direito e o dever de iluminar também os Superiores.”
Recebo a esta altura sua prezada carta de anteontem, e me apresso a agradecer o modo cortez com que se dignou escrever-me. Permito-me dizer apressadamente, poucas coisas, mas de coração aberto e com toda liberdade. Antes de tudo, protesto energicamente contra o suposto apoio, dado por mim contra o modo, como se procedeu à nomeação do novo superior do Rho. Eminência, sou um homem da hierarquia; lutei quase sozinho em toda ocasião para defender o grande princípio da autoridade, sobre o qual se coloca todo o futuro da Igreja, e não desmentirei nunca (...). Os bons padres, não tendo podido ver o Arcebispo, e tendo recebido do Vigário Geral palavras vagas e sem resultados (o estilo faz o homem e vice-versa) dirigiram-se a mim, para conselho. Podeis escrever, respondi, e também ir: Roma pode ficar surpreendida com um fato particular, mas é sempre justa. Ontem se apresentaram a mim dois daqueles padres e me pediram carta para os Exmos. Verga e Galimberti e para Mons. Della Chiesa. Escrevi as três cartas, entreguei-lhes e partiram. Cumpri uma obra de caridade e estou pronto a repeti-la hoje e sempre. É Nosso Senhor que nos impõe o dever. Ofendi talvez alguém? Os Bispos não devem aconselhar, consolar aqueles que a eles se dirigem, embora sejam estranhos à sua Diocese? Eles não foram colocados pelo Espírito Santo para governar a Igreja de Deus? Por isso não têm mais que o direito, o dever de iluminar, se necessário, também os superiores? Eu tenho muita admiração pelo Santo Padre e por aqueles que com ele colaboram no governo do mundo, para acreditar que possa desagradar-lhes que um Bispo franca e lealmente, sem fins secundários, diga a verdade, com o nobilíssimo fim de evitar resoluções, que possam ter conseqüências fatais e desastrosas. O exame dos fatos particulares é muito difícil, onde interferem os negócios do mundo e Deus providenciou o bem de sua Igreja, com a instituição divina do Episcopado. 30 “Os bispos não podem, não devem calar.”
Santo Padre, vos maravilheis que eu fale de revolução e de artes revolucionárias trazidas à Igreja de Deus. Tenho um volume de provas, que pretendo publicar com esta finalidade, com a convicção profunda de defender e sustentar não a causa pessoal, mas a do Episcopado aterrorizado, da Igreja desfalcada, da Religião traída. Se esta fosse combatida somente pelos descrentes, bem pouco se teria a temer; mas quando católicos e padres, isto eu digo com imensa dor, levantam na Igreja o estandarte da revolução e debaixo de belas aparências, pervertem o sentido cristão do clero jovem e do povo, os bispos não podem, não devem calar; nem eu me calarei. Santo Padre, há anos eu clamo por causa destes males e os deploro amargamente diante de Deus. Continuar disfarçando-os é impossível. Beatíssimo Padre, não creiais que eu fale inconsideradamente, ou que nisto seja movido por intenções particulares. Não. Deus me é testemunho, a quem sirvo e diante do qual todos compareceremos, dentro de pouco tempo. Eu não conheço partidos e não tenho preferência por nenhum deles. Por graça sua, não sou apegado senão a Ele, a vós que sois seu Vigário e a sua Santa Igreja. É exatamente para isso, que experimento viva dor, e que depois de ter refletido por muito tempo e rezado, decidi enfrentar o insolente partido, que hoje intenta impor-se e que é fonte de tantas ruínas espirituais. Prevejo que deverei sofrer muito, mas me confortará o pensamento de ter feito o que estava ao meu alcance, para esconjurar males piores. Santo Padre, um grande antecessor vosso, vós o sabeis, habitualmente voltava-se para Deus, suplicando-lhe que inspirasse algum Bispo a dizer-lhe abertamente a ,V verdade e certamente é esse o desejo de vosso nobilíssimo coração; por isto não duvido, me perdoareis toda verdade, que desejo vos confidenciar, ainda que amarga. A obra demolidora e revolucionária do novo liberalismo, Santo Padre, não cessará, se não se fizer algo público e manifesto, a favor da autoridade Episcopal. Espero que compreendereis e me atendereis. Se Deus me privasse também desta consolação, nem por isto diminuiria a profunda veneração e afeto filial à Vossa Sagrada Pessoa e à Santa Sé. Terei sempre a consolação de não ter nunca calado a verdade a ninguém, de ter combatido o bom combate e guardada a fé, com a esperança da coroa que um dia, Ele justo Juiz, me concederá! Beatíssimo Padre, não encerrarei a presente, sem antes declarar-vos que estou e estarei sempre pronto, não só às vossas ordens, mas também aos vossos desejos, por isso, se acreditais que eu deva calar, em consideração a Vós entrarei, calmo e tranqüilo, em profundo silêncio, colocando tudo nas mãos de Deus e Vossas, que lhe fazeis as vezes. 31
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26. Discurso por ocasião do jubileu de D. G. Bonomelli, Cremona, 1896, pp. 10-11. 27. Homilia de Natal, 1885 (AOS 3016/1). Em 1885 os metodistas evangélicos tinham aberto uma Igreja em Placência. 28. Católicos de nome e católicos de fato, Placência, 1887, pp. 21-22. autor defende Bonomelli, acusado de “liberalismo” porque desejava a conciliação entre a S. Sé e o Estado Italiano (cf. Biografia, pp. 679-682). 29. Id., pp. 23-24. Aqui vem citado M. Salzano, o Catolicismo no século XIX. 30. Carta ao Cardeal M. Rampolla, 17-7-1893 (ASV-SE, Rub 3/1893, fasc. 1 Prot. n. 13276). 31. Carta a Leão XIII, 19-11-1881 (Correspondência S. B., pp. 39-40). Scalabrini entendia por “revolução na Igreja” a violação do “princípio hierárquico”, isto é, da autoridade do Bispo, na dependência do Papa e não de sacerdotes ou leigos, sobre a Diocese (cf. Biografia, pp. 524-531). |
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