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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • TERCEIRA PARTE     HOMEM DA PALAVRA E PARA A PALAVRA
    • 1.  PASTOR
      • b) A VISITA PASTORAL
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b) A VISITA PASTORAL

 

“Iremos pregar, com toda simplicidade, Jesus Cristo e Este crucificado.”

 

           Não espereis de nós sublimidade de eloqüência, artifícios do saber humano; iremos pregar com toda simplicidade, Jesus Cristo e Este crucificado. Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida, Jesus Cristo, sem conhecimento do qual, em vão nos afadigaremos para alcançar a salvação; Jesus Cristo, sua imensa caridade, os seus mistérios, a sua Doutrina, o magistério infalível da sua Igreja, eis o que irá animar e aumentar a vossa fé. Oh! a fé! Quanto, ó diletíssimos, não deveis almejá-la! (...)

             Procuraremos, como é nosso dever, despertar em todos vós, esta fé; a fé viva e operosa, com a qual os santos venceram o mundo e alcançaram o reino; a fé que aniquila os prazeres da carne e do sangue, que dissipa com sua luz, as trevas da razão humana, que faz ver as coisas, não pela aparência, mas na sua realidade; aquela fé, que nos é escudo e couraça, para resistir e combater, fortes contra os príncipes das trevas e contra as iniqüidades espirituais; enfim aquela fé, como alimento quotidiano, corrobora com a graça, todas as potências da alma e forma, no dizer de São Paulo, a vida do justo. O justo vive da fé. 15

 

“Iremos a vós em nome de Deus.”

 

             Alimentemos nossa firme confiança, que o orvalho do céu descerá copioso, para fecundar nossas humildes fadigas e as vossas, ó veneráveis irmãos.


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             Que na ilustre Igreja Placentina se veja em breve, reflorescer de nova beleza a pureza dos costumes, a modéstia, a religião, a paz e particularmente, deveis espargir, ao nosso redor, o bom odor de Cristo. Sim, uma saudável esperança sustenta e nos promete, com a visita que estamos para iniciar, o despertar do sentimento católico, a observância dos dias festivos, o devido respeito aos sagrados templos, a freqüência às solenidades da Igreja, aos Sacramentos, às escolas de doutrina cristã, o apego à gloriosa e infalível Sede de Pedro e ao seu digníssimo Sucessor, o Grande, o Angélico, o Imortal Pio IX, finalmente a caridade, vínculo de perfeição, alma da alma, germe e fundamento de toda virtude cristã.

           Portanto, em nome de Deus, não confiando nada em nossas forças, mas tudo esperando da graça de seu Santo Espírito, nós iremos, ó filhos queridos, esperando, para vossa salvação, todo o bem do Senhor Nosso Jesus Cristo, que é o sustento dos Bispos e de sua Igreja: é a tocha que os ilumina, é o fogo que os aquece, que lhes comunica a palavra da vida, que os anima a anunciá-la aos povos, sem hesitação, sem temor, com toda a franqueza.

             Felizes de nós, se nos for concedido poder consumar de tal modo a nossa carreira e assim poder dar testemunho do evangelho da graça (At 20), santificando-vos a todos e vivendo em contínua expectativa do tremendo juízo de Deus. 16

 

“A mais doce consolação.”

 

             Para dispor, convenientemente, os fiéis a esta sagrada visita, ordeno que a mesma seja precedida, em cada paróquia, por um retiro espiritual, ou ao menos por um tríduo, com pregação exraordinária.

             Nada poupeis, meus veneráveis cooperadores, para que indo, possa dispensar o pão dos anjos a todos os meus filhos, às crianças da primeira comunhão, àqueles que estão às portas da eternidade, a todos, sem exceção.

             Será esta, meus irmãos e filhos, a mais querida, a mais doce consolação que podereis oferecer ao vosso bispo, em meio aos incessantes cuidados e às grandes preocupações do seu pastoral ministério.

             Recomendo-me de novo às vossas orações e antecipando com votos mais ardentes o momento de abraçar a todos em Jesus Cristo, vos concedo com efusão do mais intenso afeto, a bênção pastoral. 17


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“Estou aqui para fazer-me tudo para todos.”

 

             Ide, disse Jesus Cristo a seus apóstolos, pregai aos povos, ensinando-lhes a observar todas as coisas que vos prescrevi. E os apóstolos, obedientes àquela voz, foram passando de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, de povoado em povoado, onde encontravam seguidores do crucificado, para levar a todos a luz da verdade e a vida da graça.

             Sucessor, embora indigno, dos Apóstolos, eis-me novamente no meio de vós, filhos caríssimos. Oh! como vos revejo com sumo prazer, depois de tantos anos! Recordo ainda, com alegria, das provas de bondade que me destes ao pisar em vosso povoado. Estas provas quisestes renová-las, comemorando minha chegada entre vós, com sinais da mais viva satisfação. Agradeço-vos, caros filhos, e vos agradeço em nome de Jesus Cristo, do qual sou apenas um humilde representante. Não olheis o homem, que é muito fraco e doente, mas sim precisamente aquele que ele representa e em cujo nome ele age e cujas graças está pronto a dispensar-vos, haurindo-as dos tesouros da Igreja (...).

             Eu vim para trazer-vos a paz, para abençoar as vossas famílias, os vossos negócios, os vossos campos, o túmulo dos vossos mortos. Estou aqui para fazer-me tudo para todos. Para falar aos adultos, com o coração cheio de afeto paterno, para invocar o divino Espírito Santo sobre a cabeça das crianças, na Confirmação; para consolar os aflitos, para promover de todos os modos, a glória de Deus e a salvação das almas. 18

 

“Vossas almas são tão caras a mim, quanto me é cara a minha alma.”

 

             Com a consciência tranqüila, com a recuperação da paz, o coração fortalecido na mesa do Cordeiro Divino, será mais doce, ó meus caros filhos, unir-vos ao vosso Bispo, nas santas funções, que irá celebrar. Nós iremos juntos onde repousam as cinzas dos vossos caros pais, irmãos, esposas, filhos, parentes, amigos, todos os vossos conterrâneos e prostados sobre aquela terra santa, entre a melancolia e o sublime silêncio dos túmulos, imploraremos de Deus o eterno repouso, aos vossos falecidos.

             Vós, ó pais, conduzireis à igreja os vossos filhos para que eu marque suas tenras frontes com o sagrado Crisma e faça descer sobre eles o Espírito Santo, que os replene, com seus múltiplos dons, a fim de que não sejam contaminados e estragados pela corrupção.


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             Quando eu interrogar, ó pais, os vossos filhos sobre as coisas que todo cristão deve saber, para ser digno do nome que traz e para se salvar, servos-à gratificante ouvi-los responder, com satisfação, as minhas perguntas.

             Se algum de vossos filhos tiver necessidade de maior instrução, fareis em vosso coração, na presença de Deus, o santo propósito de vigiar daqui por diante, com maior solicitude sua formação religiosa, acompanhando-o sempre ao Catecismo...

             Que santo dia será para todos vós, ó meus queridos, aquele que passareis, em companhia de vosso Bispo, quando o passardes, na alegria do Senhor e em oração. Fazei que tenha o conforto ao pensar que também, desta vez, a minha visita fez um pouco de bem às vossas almas, que me são tão caras, quanto me é cara a minha alma. Eu não procuro senão as almas, não quero senão as almas de meus filhos e que nenhuma delas se perca. 19

 

“Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem.”

 

             Fomos colocados pelo Espírito Santo, embora imerecidamente, no governo desta, por tantos títulos ilustre e gloriosa diocese Piazentina, e não pensamos, veneráveis irmãos e diletíssimos filhos, senão em vós e na salvação de vossas almas, que para obtê-la, Deus nos é testemunha, daremos de bom grado, se for necessário, o sangue e a vida.

             Tardava muito ao coração amoroso do pai, ver seus filhos com os próprios olhos; tardava muito à solicitude do pastor, conhecer de perto todo o seu rebanho. Louvado seja o Senhor! Finalmente, nossos votos se concretizaram.

             Agora podemos dizer que não existe parte, ainda que remota, desta mística vinha, que não conheçamos completamente; podemos, a exemplo do príncipe e modelo dos pastores, Jesus Cristo, repetir com toda a verdade: conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem; podemos afirmar aquilo que São Paulo almejava dizer aos fiéis de Roma; com jubilo eu vim a vós, por vontade de Deus, e convosco me senti confortado. 20

 

“Encontramos em vós a consolação da fé.”

 

             Enfim, confortamo-nos por ter encontrado em vós, ó diletíssimos, aquelas consolações que o apóstolo tanto apreciava, as consolações da fé (...)


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Argumento desta fé, foi, antes de tudo, ver acorrerem aos tribunais de penitência e aproximarem-se para receber, por nossas mãos o Sacramento Eucarístico, pessoas de ambos os sexos, de todas as condições, de todo grau, jovens, crianças (...)

             Demonstração desta fé foi o empenho de todos em participarem das orações públicas, deixando de boa vontade os trabalhos e negócios; na assistência devota às funções sagradas; no escutar, com religiosa avidez, a palavra, que várias vezes ao dia, tanto nas paróquias como nos oratórios públicos e em qualquer ocasião propicia, não nos omitimos de anunciá-la, com liberdade evangélica, e com toda simplicidade, admoestando paternalmente a permanecerem firmes na fé e a caminharem de maneira digna de Deus, agradando a Ele, em todas as coisas, produzindo frutos de toda boa obra e crescendo na sua ciência.

          Demonstração de fé, a paciente diligência que percebemos em todos, nos mestres e mestras da Doutrina Cristã, em inculcar nas crianças, com os primeiros rudimentos da fé, o santo temor de Deus; a sábia urgência dos bons pais em enviar seus filhos à Igreja, para esta finalidade; no conduzi-los diante de nós, com transportes de viva alegria, para que fossem marcados com o santo crisma, o sinal dos fortes.

             Demonstração de fé, o fato de termos encontrado, em geral, as Igrejas restauradas ou embelezadas, ou também em fase de construção, pela esplêndida liberalidade e pia generosidade dos fiéis, que unidos aos seus pastores, zelosos e solícitos na decoração da casa de Deus, não pouparam sacrifícios para dotá-las de alfaias, de sagrados adornos, de preciosas obras, de nobres trabalhos.

             Demonstração de fé, finalmente, o fato de vir-nos ao encontro, com grande festa, em cada povoado, que visitamos: o prostar-se, devotamente, quando passávamos, para serem abençoados; o acompanhar-nos, por longo trecho, à nossa partida, não obstante, o mais das vezes, a aspereza e dificuldades dos caminhos, o desencadear-se das chuvas, a cheia dos rios, as intempéries e os incômodos da estação.

             Grato, recordamos a eficacíssima ajuda que, na sua admirável operosidade e submissão, nos prestaram continuamente os incansáveis filhos de S. Vicente de Paulo, precedendo-nos, em quase todas as trezentas e sessenta e cinco paróquias da Diocese, como anjos de Deus, a preparar-nos o caminho para dar ao nosso povo, a            ciência da  salva-ção, para remissão dos seus pecados. O fruto verdadeiramente copiosíssimo, que recolhemos da sagrada visita, devemos, em grande parte,


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a eles; devemo-lo a estes dignos operários do Evangelho; como devemos também ao nosso clero, seja regular que secular, que na mesma feliz ocasião, exerceram o santo ministério da palavra. 21

 

“Visitei a Diocese pela terceira vez”

 

             Pela terceira vez, segundo a possibilidade, visitei a Diocese inspecionando 308 paróquias, administrei várias vezes durante o ano o Sacramento da Confirmação, preguei a palavra de Deus e cumpri os deveres de Bispo.

             Nesta terceira visita pastoral, subi ao monte Pena localizado a 1.700 metros acima do nível do mar. Aqueles lugares montanhosos são habitados, durante nove meses do ano, por cerca de trezentos operários, extremamente pobres, que serram lenha, preparam o carvão e fazem outros trabalhos do gênero; habitam debaixo de azinheiras seculares, protegendo-se das intempéries, sob seus ramos, e nunca, ou quase nunca, se beneficiam da assistência espiritual de um sacerdote. A única casa rústica que ali existe, foi transformada durante aquele tempo, em palácio episcopal e catedral. Permanecendo ali, por quatro dias, confortei, com a palavra e as obras de piedade essa porção abandonada do meu rebanho, que muito me alegrou com a simplicidade da fé e dos costumes. Eminentíssimo Padre, onde falta a obra dos homens, superabunda a graça de Deus, em favor dos fiéis que buscam Deus, com coração puro e boa vontade.

          Consagrei 28 igrejas, algumas das quais totalmente novas, outras restauradas e embelezadas. Além disso, abençoei 18 consertos de sinos, na maior parte das vezes, subindo nas torres.

        Havia necessidade urgente de prover muitas paróquias rurais, de cemitérios, aptos segundo as prescrições da lei.

             Toda vez que se apresentou a oportunidade, não deixei de recomendar isto à autoridade civil competente, tanto pública, quanto particularmente; não foi em vão, porque neste triênio abençoei 35 novos cemitérios, aptos e dispostos conforme as prescrições canônicas e sinodais. 22


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“Um trabalho superior as minhas forças.”

 

Quando retornei da Visita Pastoral, depois de uma ausência de várias semanas, encontro a vossa caríssima; há muito a desejava e podeis imaginar, quanto prazer me trouxe.

             Estou contente em saber que estais bem, graças a Deus; eu também gozo de boa saúde, apesar das contínuas fadigas. Visitei em três semanas 20 paróquias das montanhas mais altas, fazendo a cavalo algumas centenas de milhas. Como nos sentimos bem, em meio àquela gente de fé, longe dos barulhos e dos mexericos do mundo!

             Partirei durante a semana para Borgotaro e continuarei as visitas, durante o mês de julho. 23

             Esta é a 123ª Paróquia que visito neste ano; é coisa de louco, mas quero recuperar o tempo perdido no ano passado. Minha saúde, graças a Deus, está sempre ótima. Dizem que me rejuvenesço. Sim, é a Juventude da flor que de manhã nasce bela e cheia de vida e à tarde fenece. Mas pouco importa, contanto que se chegue onde estamos destinados. 24

             Pretender não ter incômodos, em nossa idade, é um pouco demais, o organismo se desgasta e nós nos aproximamos, a passos largos, do último passo. Enquanto isso fala-se, prega-se, escreve-se, cavalga-se, anda-se, suase, trabalha-se para, ao menos, agradar ao Senhor. 25

Com vivíssima alegria, recebo aqui, onde me encontro, em Visita Pastoral, a vossa gentilíssima de 2 do corrente e vos agradeço pelo vosso afeto. grande coração e alma generosa. Estes trapalhões de jornalistas me pintaram moribundo, enquanto a minha indisposição não foi senão uma pequena febre de 24 horas, que me surpreendeu exatamente no retorno de uma fadigante visita às paróquias dos montes Apeninos. Foram fadigas de todos os tipos, que paguei com três ou quatro dias de repouso e depois retomei o meu curso. Não sei me moderar, nem consigo me adaptar ao pensamento de mudar de método, porém devo fazê-lo.

             Os anos passam; 64, as fadigas se fazem sentir, as necessidades se tornam mais graves, a maré socialista sobe e tudo me persuade e me impulsiona a um trabalho superior às minhas fraquezas físicas e morais e vamos em frente, em nome do Senhor, até que posso. 26




15.           Visita Pastoral. Placência, 1876, pp. 11-12.



16.           Id., pp. 16-18.



17.           Carta Pastoral de 5-5-1905. Placência, 1905, pp. 4-5.



18.   Palavras de abertura em uma visita pastoral (AGS 3018/25).



19.           Id.



20.           No encerramento da sagrada Visita Pastoral. Placência, 1880, pp. 3-4.



21.           Id., pp. 5-9.



22.           Relação da 6ª Visita “Ad Limina”, 20-12-1891 (ASV Rub 647/B Placentina, s. C. Concilii Relationes).



23. Carta a G. Bonomelli, 17-6-1894. (Correspondência S. B., p. 315).



24. Id., 8-8-1902. (Id. p. 372). “Tempo perdido no passado fora empregado na visita aos imigrantes, nos EUA”.



25. Id., 11-8-1903. (Id., p. 378).



26. Id., 4-10-1903. (Id., pp. 378-379).






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