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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • TERCEIRA PARTE     HOMEM DA PALAVRA E PARA A PALAVRA
    • 1.  PASTOR
      • e) A FAMÍLIA
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e) A FAMÍLIA

 

“A família, segunda alma da humanidade.”

 

             Depois da religião, não existe na terra coisa mais bela que a família. Ela foi chamada a segunda alma da humanidade. Nada de mais verdadeiro, pois é no seio da família que o homem forma as idéias, os afetos, os desejos, os costumes. A família é o primeiro ninho da alma, a primeira escola para a inteligência, o primeiro abrigo para a fé, o primeiro refúgio para o amor, o primeiro templo de Deus, o santuário das tradições mais caras, o alegre teatro de nossa infância, o primeiro e último suspiro do  coração.

             O que mais amamos em nosso país, aquilo que nos une a ele com laços tão fortes e suaves, que em substância forma a nossa pátria, é exatamente a doçura da família, e a potência secreta dás afetos das recordações da família; o que nós contemplamos, apesar da distância e do tempo, nas doces lembranças da pátria perdida, não é somente o chão que sustentou os nossos primeiros passos, o céu que atraiu nossos primeiros olhares, o sol que brilhou sobre nossos berços; é sobretudo a casa paterna, são as puras e santas afeições que alegraram a nossa infância, são os túmulos onde repousam os nossos caros. Pai, mãe, irmãos, irmãs, as pessoas mais queridas, os cuidados mais ternos, os sacrifícios mais generosos, as consolações mais puras, as imagens mais felizes, os sonhos mais risonhos, tais são as lembranças que a família desperta em nós. São poucos os homens que se subtraem à atração desta memória, e coitados deles! pois significa quanto a natureza os fez tristes, ou que a dura experiência da vida insensibilizou neles todo afeto mais delicado e gentil. 46

 

“Deus mesmo é o autor da família.”

 

             Deus mesmo é o autor da família, e Jesus Cristo, vindo à terra, para restaurar os danos que a catástrofe do Eden havia acumulado sobre a pobre humanidade, começa sua obra regeneradora, conduzindo a família à sua origem primitiva.

             Seguindo constantemente o plano divino, de fazer o exemplo preceder a palavra, Ele, Homem e Deus ao mesmo tempo, nasceu na família, cresceu na família, viveu seus dias na família, e com o primeiro milagre que realiza, nas bodas de Caná, torna evidente sua divindade, inicia a grande obra da redenção humana com a santificação e a elevação da honra da


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família, comunicando-lhe a vida sobrenatural da sua graça. Mas, para que tal comunicação não diminuísse nunca, e exatamente para guardar e salvar a família, que faz Ele, o divino Redentor? Admirai-lhe a sabedoria e a bondade! Não se contenta de colocar à base do edifício doméstico o mútuo consentimento, o simples contrato humano, mas coloca ali toda a dignidade e toda a virtude de um sacramento, o sacramento do matrimônio. E eis abençoada a união dos cônjuges, santificado o seu amor, garantida a sua convivência, aliviado o peso, facilitados os deveres, estabelecidos os laços recíprocos, nobilitada toda ação, aplainado o caminho do céu.

             Não basta: solidificada a base, o divino Artífice completa o edifício. Porque não é dado à paternidade humana o poder de transmitir com a vida natural, também a da graça. Ele, nos tesouros de sua infinita bondade, encontra modo de introduzir aquele fluído celeste, em todos os membros da família, pelo misterioso canal dos outros sacramentos. De fato, por meio deles, é santificado o berço, tutelada a infância, corroborada a idade adulta, sustentada a velhice, confortada a agonia, iluminada a sepultura. Através deles, Jesus Cristo mesmo, autor da graça e da santidade, vive, cresce, habita com a família, perpetuamente. 47

 

“A família cristã é um pequeno reino fundado sobre o amor.”

 

             A família cristã! Ela é um pequeno reino fundado, sobre o amor, crescido por amor, e governado pelo amor. A perfeita harmonia dos corações entrelaçada dos afetos mais suaves, a mais íntima união das almas é a única lei que governa a vida. Semelhante amor, santificado pela graça, purificado pela virtude, nobilitado pela fé, dispõe a frágil natureza, transforma-se de terreno, em celeste e replena o convívio doméstico, com aquela paz, que é aqui na terra, uma sábia antecipação das alegrias do Paraíso.

             Oh, quanto é belo o matrimônio feito com a intervenção de Deus, abençoado pela Igreja, florescido com o sorriso da religião! Nele a graça de Jesus Cristo, comunicada pelo sacramento, penetra, identifica duas vidas, dois corações, duas almas de tal modo, a formar uma unidade sagrada e inalterável, que nenhuma força da terra é capaz de dissolver, ou de diminuir. E quem poderia separar dois corações que se amam, no amor e com amor de Jesus Cristo?

             Talvez o mundo com as suas seduções? Não, porque este santuário, tingido pelo sangue do Cordeiro divino e marcado com o selo da fé, aos pés


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do altar de Deus, vigia o anjo do Senhor, para afastar todo o assalto do inimigo. Talvez as paixões? Não, porque, neste jardim cultivado pela fé, não medra a cizânia, mas floresce a caridade que segundo, o apóstolo, é fonte das mais escolhidas virtudes. Talvez a tribulação? Não porque, com o verdadeiro amor comunica alegria, torna comuns as angústias, e na prova da dor, os dois corações, que se amam profundamente, estreitam-se, sempre mais, derramam um sobre o outro o bálsamo de todo o conforto e encontram a própria felicidade, no sacrificar-se mutuamente. Bem aventurado o homem que nas desventuras da vida e no turbilhão do mundo, pode encontrar o seu refúgio no coração de uma esposa cristã. Talvez o tempo? Ah, este demolidor inexorável de toda coisa bela e mortal? Não, nem mesmo ele é capaz de arrefecer um amor, que arde por Deus. Embora passe a primavera, murchem as rosas da juventude e a árvore da vida perca suas verdes folhas, o amor cristão viverá sempre, porque não se nutre da terra, não é coisa terrena. Ele vem do céu e é filho do amor de Deus e tende à imortalidade. O gelo da velhice, nada, nada pode tirar de um amor alimentado pelo fogo da caridade divina. Portanto ele é sempre jovem, e quando dois esposos cristãos terminada a carreira mortal, se separam aqui na terra, no tempo (admirai o comovente espetáculo!) com o afetuosíssimo beijo, que se dão, parecem dizer-se: continuaremos o nosso amor mais belo e mais perfeito no seio de Deus, na bem aventurada eternidade. 48

 

“Feliz a paternidade coroada pela religião.”

 

             Como é feliz a paternidade coroada pela religião! Olhai os dois jovens esposos cristãos, sobre os quais descem a preciosa bênção da fecundidade, e uma criança, que regenerada pela graça de Jesus Cristo, mediante o batismo, chora e sorri no berço sob seus olhares. Aquele anjinho, dom do céu, é uma felicidade terrena, um êxtase, um arrebatamento. Uma nova doçura, uma alegria sobre-humana inebria os dois corações, e uma força misteriosa os enlaça e os atrai àquele berço, onde tem um, não sei que, de sagrado e de celeste para guardar, para vigiar. Olhai as solicitudes, as ansiedades, as preocupações, daquele homem que, feliz por causa do nome do pai, não desejaria nunca deixar aquele local, que encerra o tesouro de seu coração. Observai aquela criatura, na qual brilha sobre a fronte a coroa de mãe. Que ardentes suspiros, que doces lágrimas, que palpitações afetuosas,


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que olhares de reconhecimento e de amor divide entre o céu e o berço, entre Deus e o fruto de suas entranhas; com o crescimento da criança, cresce o amor, aumenta a felicidade, os sorrisos da inocência alegram a vida daqueles dois felizardos. Para eles, a casa é mais que um trono, vivem em perpétua festa. 49

 

“Pais, educai!”

 

Pais todos, educai; a educação dos filhos seja o vosso primeiro objetivo, a vossa contínua preocupação. O Senhor não vos proíbe, contanto que seja honestamente, de aumentar o vosso patrimônio e de acrescentar novos esplendores à vossa casa; não vos proíbe, embora sejam lícitos, de usar os bens do mundo para o vosso proveito. Viveis em meio à sociedade: cuidai, livremente de vossos afazeres; mas recordai-vos sempre, de vosso primeiro princípio e último fim Deus, já que fostes criados por Ele. Não estais no mundo para fazer coisas, ganhar dinheiro, ou para gozar os prazeres da vida, mas para salvar a alma; e a alma não podereis salvá-la, se não salvardes por quanto, compete a vós, aquela dos vossos filhos. É sentença comum dos Santos Padres, que os pais não se salvam sozinhos, nem se condenam sozinhos. De fato depende de vós pais e mães, depende de vós o bom ou mau êxito dos filhos; somente vós sois os responsáveis!

Portanto, educai, educai. Eu insisto sobre este ponto, ó meus caros, porque é da maior importância. A educação cristã é o maior bem que podeis deixar aos vossos filhos. Ela sozinha tem valor substancial. Sois pobres? dais aos vossos filhos uma boa educação e os valores eles saberão procurar com honestidade e com o trabalho. Sois ricos? de que vale a riqueza, sem a educação? instrumento para fazer o mal e nada mais. A educação cristã é a melhor e a mais segura das garantias. As leis podem, alguma coisa, mas vós, á pais, podeis muito mais que as leis. As leis punem o mal, a educação o previne; a lei o proíbe, a educação o erradica; a lei corta e a educação planta; a lei regula os atos externos, a educação regula o coração e forma o caráter. Quando ouvis fatos funestos, que com seus espetáculos entristecem a sociedade e pedis um remédio, pais, estreitai ao peito os vossos filhos, imprimi-lhes um beijo, sobre sua fronte e buscai sempre mais a sua educação. Esta é a resposta mais bela, o remédio mais seguro. 50


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“Vossa vida sela sempre, como um livro aberto.”

 

             Portanto, seja a vossa vida, como um livro sempre aberto, onde os filhos possam ler, sem dúvida, seus deveres. Falai-lhes freqüentemente  de Deus, tirando motivo de tudo que possa impressioná-los. Procurai que seus lábios infantis pronunciem sempre, com respeito e com confiança, o seu santíssimo Nome. Mostrai-lhes em todas as coisas, a imagem da bondade, da grandeza e da onipotência d’Ele e da harmonia que une as várias partes do universo; fazei-os deduzir o dever imposto ao homem de viver, em harmonia com o fim, para o qual foi criado. Ensinai-lhes a seu tempo, as primeiras verdades da fé, e nunca deixeis de conduzi-los, nos dias festivos à doutrina cristã, à santa Missa, às funções da Igreja. Lereis para eles, ao menos nos dias festivos, algumas páginas do catecismo e a vida dos santos. Habituai-os ao beijo devoto ao crucifixo e à imagem de Maria Santíssima e à oração assídua da manhã e da tarde. Que eles vos vejam cristãos e católicos em tudo. Cristãos e católicos nos hábitos da vida, cristãos e católicos, naquele sinal da cruz que se deve fazer ao sentar-se e ao levantar-se da mesa, cristãos e católicos, na observância das abstinências e dos jejuns Cristãos e católicos, em dar sempre e em tudo o primeiro 1ugar às coisas da religião; cristãos e católicos, no respeito ao vigário de Jesus Cristo e a seus sagrados ministros; cristãos e católicos, em concorrer com ofertas para as despesas do culto, cristãos e católicos, na freqüência à Igreja, aos sacramentos, à palavra de Deus; cristãos e católicos, nas tribulações e na prosperidade, nas palavras e nas obras, em particular e em público.

Fazei passar por suas mãos inocentes as vossas esmolas aos pobres; os vossos filhos experimentem e saboreiem longamente as castas alegrias e as suaves consolações da caridade cristã. A religião não quer ser imposta como um penoso fardo, mas convém admirem as belezas e as prezem; que saboreiem e sintam a misteriosa, a inebriante doçura; comprovem o manto de luz, que a circunda e as características de verdade, que trazem esculpidas na fronte. Se o respeito não é racional, eles serão hipócritas. 51

 

 




46.   A família Cristã, Placência, 1894, pp. 5-6.



47.   Id., pp. 6-7.



48.   Id., pp. 13-14.



49.           Id., pp. 13-14.



50.           Id., pp. 18-19.



51. Id., pp. 19-20.






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