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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • TERCEIRA PARTE     HOMEM DA PALAVRA E PARA A PALAVRA
    • 1.  PASTOR
      • f) O DOMINGO, DIA DA PALAVRA E DO PÃO
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f) O DOMINGO, DIA DA PALAVRA E DO PÃO

 

“O domingo, que sublimidade contém esta palavra.”

 

O domingo é o dia santo, por excelência, santo em si mesmo, santo, na sua instituição, santo no seu fim, santo nas obras que prescreve, santo nos


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efeitos que produz, e igualdade salutar. o dia da verdadeira liberdade, da verdadeira igualdade, da verdadeira fraternidade; o dia do nosso resgate, da nossa grandeza, das nossas esperanças, da nossa glória, da nossa alegria, prelúdio de um dia bem-aventurado sem ocaso.

             O domingo é sobretudo o dia do Senhor, o dia de suas maravilhas, de suas bênçãos, de seus triunfos. Foi no domingo que Ele, criando a luz, iniciava a estupenda obra deste universo (...), no domingo, Ele realizou o seu primeiro milagre, no domingo fez o seu ingresso triunfal em Jerusalém, no domingo saiu glorioso do sepulcro, dando-nos o penhor seguro da nossa imortalidade; no domingo conferiu aos Apóstolos o mandato de pregar o Evangelho a todos os povos e o poder de perdoar os pecados; no domingo enviou aos mesmos Apóstolos, o Paráclito Divino e os transformou em propagadores e defensores magnânimos de sua doutrina; enfim, no domingo estabeleceu indefectivelmente a sua Igreja.

Glória ao domingo! exclama Crisóstomo. Este dia é o monumento que Deus mesmo levantou entre o céu e a terra, como testemunho perene de seus benefícios e de nossa dúplice aliança com Ele; monumento de sabedoria infinita, sobre o qual as gerações humanas verão compendiadas, com caracteres luminosos, até o fim dos séculos, os grandes acontecimentos da religião e da humanidade, os prodígios da natureza e da graça, os milagres do poder e do amor, o nome do Pai que nos criou, o nome do Filho que nos remiu, o nome do Espírito Santo que nos santificou. O domingo é três vezes o dia do Senhor!!! 52

 

“O dia, que Deus reservou para si, é sagrado.”

 

Lugar separado de todos os outros lugares e destinado à oração, eis o templo; dia distinto dos outros dias e consagrado ao culto divino, eis a festa. O que é o templo com respeito ao restante da cidade ou do país, é o dia festivo, em relação aos outros dias da semana. O lugar escolhido por Deus para sua morada sobre a terra é sagrado e inviolável, e conseqüentemente quem o contamina é sacrílego; o dia que Deus reservou para si, no tempo, não é menos sagrado e inviolável, por conseqüência, não menos sacrílego é quem o profana (...).

Certamente, Deus tem direito de ordenar que, ao menos uma parte daquele tempo, que é dom seu, seja empregado por nós, exclusivamente, para sua honra.


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              Não é Ele o nosso Criador e Senhor? Não é o Senhor absoluto do tempo e do espaço?”

 

“Os dias santos são invioláveis, como o dia de Deus.”

 

A profanação da festa tornou-se também entre nós, uma das chagas mais tristes e lamentáveis, um verdadeiro escândalo.

Certo que existem ainda, em grande número, famílias cristãs, seja na cidade, seja na diocese, que, não obstante a tristeza dos tempos e dos esforços da impiedade, oferecem, especialmente nos dias festivos, o espetáculo de uma piedade, verdadeiramente, edificante, e devemos agradecer ao Autor de todo o bem, mas muito mais são aqueles, que de fato, transcuram o mandamento divino, quando não o violam, descaradamente.

Julgai-o vós, irmãos e filhos caríssimos. Não nos entristecem a vista, os negócios abertos e as mercadorias expostas, no domingo, como nos outros dias? Não nos fere, tantas vezes, o ouvido, o rumor das máquinas, o gemer dos carros, o ressoar dos martelos? Não é coisa que aperta o coração, ver freqüentemente, nos dias festivos, os pobres operários, e até as crianças condenadas a trabalhar, sem trégua, nem descanso, como nos demais dias da semana? Também nos campos, na maioria das vezes, culpa de certos patrões (sem fé e sem piedade), alguns trabalham com o arado, também nos dias de festa? Não fazem semeaduras? Não recolhem os produtos? E mesmo aqueles que suspendem o trabalho tristes dias, quantos não se entregam às loucas alegrias, não se abandonam a teatros, a bailes, a diversões, a extravagâncias e coisas piores! O que dizem a esse respeito a razão, o coração e a fé?

A razão, o coração e a fé protestam fortemente, contra tal desordem e repetem, em alta voz, a cada um de nós, a grande, a cada um de nós, a grande solene palavra: Lembrai-vos de santificar o dia de sábado, recordai-vos de santificar a festa. 54

 

“Deixai ao operário, ao menos um dia, para cuidar de si mesmo.”

 

A indústria! O comércio! Coisas santas e nobres sem dúvida, faço votos que se estendam e se multipliquem, cada dia mais, mas nunca devem mutiplicar-se e ampliar-se em detrimento das coisas, bem mais nobres e santas, como são a dignidade e a liberdade humana. O quê? Para multiplicar vossa satisfação, para aumentar a produção, o proveito vosso, quereis fazer do homem um escravo, um animal de carga?


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Bárbaros que sois! Talvez ignorais que naquele corpo bronzeado pelo sol, naqueles ombros endurecidos pela fadiga, vive uma alma, semelhante a vossa, alma imortal? Não sabeis que aos olhos da ciência e da fé cristã, o operário é em tudo, menos na condição, igual ao mais nobre dos príncipes, ao mais poderoso dos monarcas? Antes, ele, exatamente, porque operário, reflete mais vivamente a imagem do Artífice eterno, que deu ser e forma, às coisas e do divino Artesão de Nazaré que, com seu exemplo, nobilitou a pobreza e o trabalho.

Portanto, não mateis o pobre operário, não o humilheis, não o degradeis assim! Respeitai-lhe a dignidade, deixai-lhe ao menos um dia, para cuidar de si mesmo, deixai-o livre para instruir-se, nos seus deveres, para estar com a família, para tomar parte nas solenidades públicas, para saborear, no tempo, as alegrias do espírito e para preparar-se para o seu destino imortal. Dai-lhe o repouso dominical. 55

 

“Abrem-se ao homem, no domingo, as quatro fontes da misericórdia divina: a palavra evangélica, a oração, o sacrifício, os sacramentos.”

 

O preceito da observância festiva, de preferência aos outros preceitos, é jugo suave, fardo leve; e, direi, como um eminente escritor, um retorno às bênçãos do Eden, uma suspensão da terrível lei do trabalho penoso, uma tutela ao pobre e ao fraco, contra as opressões do rico e do poderoso, um grito santo de liberdade, um convite do Pai Celeste, que reunindo em torno a si a família dispersa, entra nas mais íntimas e afetuosas comunicações, com todos os seus filhos. Naquele dia, abrem-se ao homem, a todos os homens, as quatro fontes da divina misericórdia: a palavra evangélica, a oração, o sacrifício, os sacramentos. Naquele dia a terra se eleva, o céu se abaixa. Todas as criaturas nos falam com linguagem de fé, de esperança, de amor, e a alma experimenta toda a própria grandeza moral e saboreia, também em meio às duras provas da vida, as alegrias do paraíso. 56

 

“Um dia, no qual a alma possa elevar-se livre.”

 

A ignorância em matéria de religião, como infelizmente se vê em muitos, especialmente na classe operária, não é talvez mais assustadora que a miséria? Hoje, mais do que nunca, é verdade, fazem-se louváveis esforços


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para instruir as massas populares, mas quantas vezes, sob a máscara da instrução, ensinam-se e difundem-se máximas que são a ruína do povo!

Ter sido, em todo tempo, a grande mestra dos homens, foi e sempre glória imortal da Igreja. Sem dúvida, a ciência não ser senão o privilégio de poucos, mas as verdades fundamentais da religião devem ser patrimônio de todos. Como disse, muito bem, um insigne prelado, pode-se ignorar os árduos problemas da álgebra, mas não os problemas da vida; pode-se ignorar se existem habitantes nos planetas, mas não se pode ignorar que nós devemos ser habitantes do céu. Ora, a tal necessidade de conhecimento provê exatamente a festa. Nestes dias, em toda a terra, abrem-se aos povos, os templos sagrados e deles, como de uma escola universal, se difunde para o bem de todos, a ciência mais nobre e mais sublime.

Não é só. Qual é, ó queridos, o nosso verdadeiro título de superioridade, sobre as coisas que nos circundam? Sem dúvida é este: que dentro do frágil invólucro de nosso corpo, destinado a perecer, existe aquilo que dá vida à matéria inerte, existe aquilo que transcende o espaço, que desafia o tempo e que triunfa da morte; existe o pensamento que reflete em si o universo; existe o sentimento que abraça o infinito, existe a vontade com sua energia livre, existe a alma, em uma palavra, a alma criada à imagem de Deus, que tem contínua sede de Deus e que a Ele aspira incessantemente, como o servo deseja a fonte, como a agulha ao ímã, como a onda se precipita no mar.

Pois bem, não deverá existir na semana, um dia, no qual esta alma, aliviada do peso dos cuidados terrenos, subtraída das agitações da vida material, possa aproximar-se de Deus? Um dia, no qual possa livremente elevar-se aos mais puros horizontes e gozar um pouco de paz? 57

 

“A festa é o dia da família.”

 

Dia de Deus e dia do homem, é outrossim, o dia da família.

Oh, a família! Quantos doces pensamentos, que gentis afetos suscita em nós, esta querida palavra! Todos se lamentam e com razão, que o espírito de família, dia a dia se enfraquece em meio à hodierna sociedade, mas o trabalho em dia santo, cada vez mais freqüente do que no passado, é talvez mais freqüentemente, uma das principais causas de tão funesta desordem. Membros de uma mesma família, não se tornariam de modo algum, estranhos uns aos outros, se não houvesse dias santos para reuni-los na


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intimidade das paredes domésticas? Nos outros dias, a família é mais ou menos dispersa. O pai se ocupa no exercício de sua profissão, a mãe no governo da casa. E os filhos? Estão na escola ou na oficina. Não existe senão o domingo, no qual todos podem se encontrar, estarem mais tempo juntos, ficarem à vontade, estreitarem os laços de afeto recíproco e gozarem juntos a felicidade da vida familiar. Passar o domingo em família; esta frase tão comum na linguagem dos nossos pais, sintetizava para eles a alegria mais pura, e a expressão fiel do sentimento moral. 58

 

“No domingo todos se sentem senhores do tempo,

 dos pensamentos, dos afetos, da vida, da alma.”

 

Observai neste dia, um povoado cristão. Todos se encontram no templo. A alegria brilha em suas faces, a paz desce em todos os corações.

Liberdade, igualdade, fraternidade, não são mais vãs palavras, para aquele povo, mas uma realidade consoladora. O pobre como o rico, o servo como o patrão, o humilde operário como o grande capitalista, o ínfimo empregado, como o juiz mais distinto, estão livres. Naquele dia, todos, sem exceção, se sentem senhores do tempo, dos pensamentos, dos afetos, da vida e de suas almas. Todos se encontram, entre os braços da mesma mãe, elevam ao céu a mesma oração, ajoelham-se com os mesmos sentimentos de adoração, ouvem a mesma palavra da verdade, professam a mesma fé, oferecem o mesmo sacrifício, sentam-se à mesma mística mesa, suspiram pela mesma pátria, e todos, pela comunhão do mesmo dever cumprido, sentem-se mais intimamente filhos do mesmo Pai, que está no céu, e do templo sai uma aura de amor e de paz que tudo vivifica e tudo recria. 59

 

“Participai da Missa na própria paróquia.”

 

A obra, que a Igreja cuidadosamente aconselha aos seus filhos é a de participar à missa, na própria paróquia, quantas vezes comodamente o possam fazer. De fato, o sagrado Concílio de Trento ordena aos Bispos de recordar aos fiéis este dever e em outro lugar, ordena-lhes de advertir o povo a freqüentar a própria paróquia, ao menos aos domingos e nos dias santos, mais solenes. E não sem razão, porque, escreve um grande, a missa paroquial


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a missa da família, celebrada em nome de toda a paróquia reunida e para todos os fiéis que dela fazem parte e costuma ser acompanhada de orações, de atos do cristão, de oportunas recomendações e da explicação do evangelho. O próprio pároco é, exatamente por lei da Igreja, obrigado a aplicar o santo sacrifício, por paroquianos nos dias festivos, a fim de que estes, participando gozem do fruto da Missa e com suas orações e devoções acompanhem às intenções do pastor, e assim subam os votos comuns, aceitos por Deus, como de uma família reunida e concorde com seu chefe. Os pastores conhecerão melhor suas ovelhas e saberão chamá-las pelo nome, como diz o Evangelho. 60




52.   Santificação do domingo, P1acência, 1903, pp. 7-8.

53. Id., pp. 14-15.



54. Id., pp. 9-10.



55.           Santificação da festa, Placência, 1904, pp. 23-24.



56.           Santificação da festa, Placência, 1903, pp. 20-21.



57.   Id., pp. 17-18.



58.           Id., p. 21.



59.           Id., pp. 25-26.



60. Como santificar o domingo, Placência, 1904, p. 14.






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