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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 1.  A AÇÃO CATÓLICA
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1.  A AÇÃO CATÓLICA

 

 

 

 

Iluminismo, racionalismo, materialismo e anticlericalismo afasram Cristo da sociedade; é necessário promover um movimento de retorno, especialmente entre o povo. Só na união está a força e só na organização, a união é eficiente.

O associacionismo está para se tornar exclusivo dos inimigos da Igreja: em vez de chorar, é necessário mexer-se, sair a campo e agir, sob a guia do Papa e dos Bispos.

 

“Jesus Cristo foi afastado da sociedade.”

 

Os modernos incrédulos, já persuadidos de não poderem derrubar, como desejariam, o trono de Jesus Cristo, pensaram em confinar este Rei das almas, este invisível Soberano do universo, entre as paredes do templo, afastando-o de todas as dependências da vida, particular como pública. Eles usaram todas as artes, recoreram todos os meios, para conseguir o diabólico intento e infelizmente, em grande parte, por culpa da indolência dos bons, conseguiram.

Jesus Cristo foi pouco a pouco afastado da escola, dos costumes, das famílias, da sociedade. Mas (...) quando Jesus Cristo se afastou, nos demos conta de que fora afastada a alma que vivificava tudo, percebemos que ao edifício científico, doméstico e social, veio a faltar o fundamento; percebemos que estávamos à beira de um abismo!

Tinham dito: cada escola que se abre é um cárcere que se fecha e depois, os inimigos da Igreja não encontraram conventos e castelos suficientes para conter o número sempre crescente de deliqüentes. Tinham dito: o catecismo nas escolas é uma ofensa à liberdade de pensamento e, uma vez substituído pelo manual dos direitos do homem e depois por um livro de deveres naturais, nos quais não se falava em Deus, criaram os novos Espartanos, as bombas de dinamite com as quais a sociedade deverá combater a última batalha. Tinham dito: a ciência leiga purificará o ambiente


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e injetará sangue novo nas veias da crescente geração e as estatísticas dos suicídios, dos duelos, dos adultérios, os malogros fraudulentos, os assaltos a bancos, a imoralidade pública, os delitos mais atrozes fizeram calar bem depressa, nos lábios, os hinos festivos dissolvidos pela nova moral, sem Deus.

Na família, as ruínas do tálamo conjugal, a paz perdida, os filhos rebeldes têm demonstrado com muita eloqüência que só o crucifixo pode proteger o lar. 1

 

“Reconduzir Jesus Cristo na sociedade.”

 

À vista do abismo que está diante de nós, nos faz voltar atrás horrorizados, e todos sentimos, instintivamente, a necessidade de um movimento de retorno às santas tradições de nossos pais e de nossas mães: o abalo do edifício, a poeira das ruínas provocam medo e sentimos todos a necessidade de restabelecer o equilíbrio, recolocando-lhe a base que é Jesus Cristo.

Ora, é exatamente esta a finalidade da ação católica: promover com uma organização conveniente às exigências dos tempos, um movimento de retorno, já penetrado na consciência de todos os honestos: reconduzir Jesus Cristo à escola, aos costumes, à família e à sociedade.

Portanto, a nossa finalidade não é a de fazer política como gostariam de dar a entender os nossos adversários. Nós queremos, antes de tudo, fazer obra de saneamento moral, e depois prover às necessidades de ordem econômica que respondam especialmente às legítimas aspirações das classes operárias. Os aproveitadores do pobre povo fizeram até agora magníficas promessas, que não cumpriram.

Prometeram pão e justiça e hoje faltam ao povo pão e justiça. Nós queremos, exatamente para o bem do povo, organizar instituições benéficas, estender a ajuda mútua, favorecer a indústria, facilitar o comércio, fecundar as obras de caridade, mais oportunas para os nossos dias. Queremos, sobretudo, que a religião dos nossos pais seja respeitada, que seja respeitada a sua vontade, que seja respeitado o dia do Senhor, que sejam respeitados os nossos direitos, os sagrados direitos da igreja e do seu Supremo Chefe, os direitos de todos.

Queremos que o sacerdócio seja tido em devida consideração, que a juventude cresça informada, por sólidos princípios e morigerada, que o bem


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público seja administrado por homens íntegros tementes a Deus.

Queremos a verdadeira grandeza da nossa pátria, por isso queremos a liberdade do bem e não do mal, queremos que acabe a má imprensa, que semeia erros e vomita blasfêmias, que sejam removidos os escandalos públicos que o povo não seja mais enganado e traído.

Queremos abrir à criança aquele livro, que ensina a ser cristão e cidadão; queremos dizer ao operário que ele, também nesta terra, jamais será feliz, seguindo as máximas do socialismo, mas que gozará pelo menos uma amostra antecipada da verdadeira felicidade, seguindo as máximas do Evangelho; queremos dizer aos governantes que o Senhor não protege os Estados, inutilmente se afadigam aqueles que têm a sorte nas mãos. Em uma palavra, queremos que a sociedade tome a ser, nas suas leis, nas suas instituições, nos seus costumes, na sua vida pública, aquilo que deve ser verdadeiramente, isto é, cristã. 2

 

“Devemos nos organizar, devemos nos unir.”

 

A necessidade da ação católica é, portanto, urgente e evidente, mas para que seja verdadeiramente eficaz, convém que seja discip1inada e concorde.

Sim, devemos nos organizar, devemos nos unir, porque só na união está a força, só a união é o segredo da vitória.

Daqui a importância e a necessidade das associações católicas e dos comitês paroquiais.

Não repetirei aquilo que vos disse em outras ocasiões a este respeito, seja em particular que em público, tanto oralmente, como por escrito. Direi antes aquilo que quer o Papa, intérprete seguro da vontade divina (...).

Ele quer que todas as paróquias da itália tenham seu comitê católico, e este comitê, sem dúvida, deve estabelecer-se, em cada paróquia da diocese placentina, e não só deve estabelecer-se mas uma vez estabelecido, deve manter-se e manter-se operoso.

Desta vez minha palavra não é palavra de exortação, mas palavra de ordem: dirijo-a principalmente a vós, meus veneráveis cooperadores, na salvação das almas, porque principalmente a vós papa dirige em tom solene aquelas graves palavras: “Nas atuais condições da Igreja os sacerdotes devem assumir também este ofício e dirigir os grupos e as almas dos fiéis abertamente e de acordo com a autoridade e exemplo.”


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Eu que conheço suficientemente a vossa filial devoção e perfeita docilidade ao Vigário de Jesus Cristo, em todas as coisas, não duvido que vos colocareis, se não haveis já colocado à obra, com vontade enérgica e resoluta.

Fora, ó meus queridos, às discussões, às desconfianças, aos temores. 3

 

“Soou a hora de agir.”

 

Os filhos do trabalho constituem, em todos os países do mundo, a massa da população. Portanto, informar os operários sobre o espírito essencialmente pacífico e salutar do cristianismo, é o mesmo que salvar a sociedade civil.

Os operários, são eles os prediletos da Igreja, que, no Artífice de Nazaré, reconhece e venera o próprio Fundador (...).

Enquanto nos alegramos vivamente porque, em alguns lugares da vossa Diocese, e especialmente nesta nossa Placência, tais sociedades foram já instituídas e pedimos ao Senhor que abençoe os ilustres eclesiásticos e leigos que as promoveram. Dirigimo-nos a vos todos, ó queridos e venerandos co-irmãos, e vos repetimos ser nosso vivíssimo desejo que, em cada Paróquia ou onde o número dos paroquianos for muito pequeno, ao menos nos pontos principais de cada vicariato, a associação dos operários seja formada, se organize e floresça em operosidade, número e concórdia (...).

O socialismo que, impaciente por atirar-se sobre a presa, se agita e brame e com seus rugidos, faz tremer o mundo, é voz do céu, a nos avisar que soou a hora de agir, que, inutilmente, vos iludis de poderdes salvar-vos e a vossos filhos e as vossas coisas. sem colocar um dique seguro à força da enchente. E qual será este dique, senão a união geral e compacta de todos os filhos do povo, educados na escola do Evangelho? (...).

Associação e ação católica: eis a característica dos verdadeiros filhos da Igreja, em nossos tempos; associação e ação, que têm por finalidade secundar em tudo os desejos do Vigário de Jesus Cristo, de restituir à Igreja e ao seu Chefe augusto a necessária liberdade, à Itália a grandeza, a prosperidade e a paz, retornando cristãs as famílias, cristãs as prefeituras, cristãs as escolas, cristãs as leis, cristão o povo; sobretudo os operários cristãos (...).

Para atingir mais facilmente este fim, contribuem admiravelmente os Comitês Paroquiais, que nós vos recomendamos, em outras ocasiões, e sobre


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os quais novamente voltamos a insistir. Oh!, de quantos bens eles são fecundos! Seja vossa maior preocupação a de estabelecê-los nas paróquias, seja vosso propósito fazer parte deles. A bênção de Deus não pode faltar às instituições abencoadas por seu Vigário!

Unamo-nos, unamo-nos. O que não conseguiriam, se colocassem todos juntos, todos unidos, os italianos que conservaram a fé?

Oh! se em toda Itália surgissem os comitês paroquiais e em vez de apenas dois mil, que já existem fossem dez mil, quantas, çomo se calcula, são as paróquias todas, quem pode duvidar da grandeza dos resultados que se obteriam em favor da religião e da pátria? 4

 

“Os católicos saiam do seu retiro.”

 

Os católicos saiam do seu retiro, cerrados em numerosas falanges, ergam voltadas para o sol, esplêndidas e respeitadas, as suas bandeiras, discutam, proponham, resolvam, combatam, trabalhem. E este sopro animador penetrou, graças a Deus, também entre nós.

Ainda não se apagou o eco das vozes que ressoaram aplaudindo nos fraternos encontros de Alseno, de Bedônia, de Claraval. Vimos, em pouco tempo, graças à dedicação de zelosos párocos, murgirem vários comitês católicos. Já temos círculos de juventude, oratórios festivos, associações operárias, instituições de crédito.

Mas tudo isto, digamos logo e digamo-lo claro, é muito pouco diante da necessidade da hora presente. 5

 

“É necessário que o sacerdote saia do templo.”

 

Devemos persuadir-nos que hoje não basta o que bastava tempos atrás. Tempos novos, novas realizações; a novas chagas, novos remédios; a novas artes de guerra, novos sistemas de defesa. Hoje, como vos disse outras vezes, é necessário que o sacerdote, especialmente o pároco, saia do templo, se quiser exercer uma ação salutar no templo. Porém, entendamo-nos: saia do templo, mas depois de ter haurido luz e conforto da piedade e da oração; saia do templo, mas tendo sempre o olhar voltado para o templo; saia do templo, mas como o sol que sai de sua tenda, resplandecente da luz de Peus e do fogo da caridade que ilumina, aquece, fecunda (...).

O      ódio, a paixão, o zelo áspero, ou irrefletido da excitação, não devem brotar d’alma e do vosso coração sacerdotal contra os homens, mas a


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a caridade que sofre, geme e se entristece, pela culpe cometida pelo homem e que o arrasta e arruína (...).

É com estes sentimentos, ó meus veneráveis irmãos, que devemos entrar no campo da ação católica. Devemos, entrar por ser, hoje, principal e essencialmente, tarefa nossa. Quem pensasse de outra forma, daria prova de grande leviandade e de pouca reflexão, para não dizer, de pouca fé.

Não nos iludamos. Se não fizermos, os outros farão, sem nós e contra nós. Também, se nos acusarem de fins secundários e de finalidade mundanas.

A acusação antes de a nós foi feita a Jesus Cristo, que embora ensinasse a dar a César o que é de César, foi chamado de sedutor da plebe. Convençamo-nos de que é impossível cumprir o próprio dever e estar em paz com todos. 6

 

“Recomendo-vos, a juventude.”

 

Recomendo-vos de novo, a juventude. Agora que, com amável atenção e solícito cuidado, admitindo as crianças à primeira comunhão, tendes certamente cumprido o vosso dever, mas a missão do pároco não termina aqui, antes é aqui que começa a ser mais grave, porque é daqui que as paixões começam a despertar no coração dos jovens. É daqui que os erros, os preconceitos, os escândalos, as seduções do mundo começam colocar a sua virtude àdura prova. Oh, ai dele, se o pároco fosse tão descuidado e sem coração, que o deixasse entregue a si mesmo!

Na medida do possível, é necessário estar a seu lado, é necessário iluminá-los, sustentá-los, encorajá-los, incentivá-los ao bem, conversando, conservando unido à Igreja e às práticas religiosas.

O meio mais fácil é o de instituir, junto ao comitê paroquial, a secção jovem. Entre nós, vários já fizeram a experiência e com feliz êxito. Exorto-vos todos a imitarem o exemplo.

Encontrareis por isso dificuldades, mas sereis recompensados com grandes consolações. Se não, para silenciar outros motivos, como alimentar, depois diante do mesmo comitê estas outras associacões católicas, também estas tão necessárias?

Para mantê-las florescentes e operosas, será muito útil que cada Vigário forâneo designe algum sacerdote idôneo, para que, algumas vezes no ano, faça reuniões familiares, percorrendo as várias paróquias do Vicariato. Melhor ainda, se o mesmo Vigário forâneo quisesse assumir este compromisso. 7


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“Dependência dos pastores.”

 

Para que a nossa ação seja e possa dizer-se verdadeiramente católica, recordemo-nos de proceder, em tudo e sempre, com disciplina. Os soldados não queiram andar na frente dos capitães. Especialmente em nosso campo, a disciplina é tudo. Sem disciplina, ou seja, sem a dependência total, rigorosa, constante dos fiéis aos seus pastores, o fácil ultrapassar do zelo individual gera descontentamento e discórdia, divide e enfraquece a boa vontade, desvia e desgosta os bons e polui com o veneno dissolvente do amor próprio, tanto as razões de quem manda, como de quem obedece. 8

 

“Estreita dependência ao princípio hierárquico.”

 

Entendendo que nada se faça senão na mais estreita dependência ao princípio hierárquico, o laicato católico, se quiser ser instrumento de salvação nas mãos de Deus, deve ficar no seu devido lugar. Na Igreja, ele não é capitão, mas, soldado; não é mestre, mas discípulo; não é pastor, mas ovelha, e os seus olhos devem estar fixos no Bispo e ainda mais no Bispo dos Bispos, o Romano Pontífice, em ninguém mais. Não conhecemos Paulino, ignoramos Melézio, não queremos nem os “se”, nem os “mais, nem exceções, nem reservas, nem subentendidos de nenhuma espécie.

Deus nunca abençoa as obras que não forem antes abençoadas por seus legítimos representantes. Um comitê paroquial que agisse contra ou sem a aprovação de um pároco, um Comitê diocesano que se permitisse tomar a mínima iniciativa, ou tentasse o mínimo ato de independência do próprio Bispo, deixaria, por isso mesmo, de ser católico e receberia imediatamente a nossa condenação. 9

 

“217 Comitês paroquiais.”

 

Aconselhado pelo egrégio Conde Paganuzzi e persuadido de fazer a coisa mais agradável à vossa Santidade, venho trazer a vosso conhecimento em breve notícia, a IV Reunião Regional dos Católicos da Emília, realizada aqui sob minha presidência, nos dias 14 e 15 de junho do corrente ano.

Seja pela intervenção de quase todos os Bispos da região, seja pelo numeroso comparecimento do clero e do povo às reuniões, não podia ter sido mais solene.


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Depois da minha carta pastoral de 16 de outubro de 1896 (da qual agora lhe envio a cópia) constituiram-se nesta minha Diocese, além das sessões jovens, as associações operárias etc., duzentos e dezessete Comitês paroquiais, e todos estavam largamente representados naquela reunião.

Era também representada largamente a classe eclesiástica da cidade e da Diocese, verdadeiramente exemplar e digna de todos os encômios, nisto, como em todo o resto.

Tudo aconteceu com serenidade e máxima ordem. As deliberações tomadas sobre a Organização Católica, a Boa Imprensa, as eleições administrativas e políticas, a fundação e incremento das Caixas Rurais etc..., foram sumamente práticas e oportunas e o que é mais importante, informadas por aquele espírito de franca submissão aos Bispos, especialmente hoje, tão necessária e tão desejada por Vossa Santidade. 10




1. Ação Católica. Placência, 1896, pp. 5-6.



2. Id., pp. 6-8.



3.     Id., pp. 12-13.



4.             Associação Católica. Discurso do Santo Padre, Placência, 1885, pp. 4-7.



5. Ação Católica. Placência, 1896, pp. 3-5.



6. Id., pp. 13-14.



7. Circular de 7-2-1898, Placência, 1898, pp. 23-24.



8. Abertura da IV Reunião Regional da Obra dos Congressos, 11-6-1897 (AGS 3028/18).



9. I Sessão Anual dos Comitês Paroquiais, 1882 (AGS 3018/18).



10.   Carta a Leão XIII, 18-6-1896 (ASV-SE. Rub 100/1899, fasc. 4, Prot. n.o 52038).






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