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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 3.  A QUESTÃO ROMANA
      • c)  AS VIAS DA CONCILIAÇÃO
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c)  AS VIAS DA CONCILIAÇÃO

 

“O Papa tem o direito à livre comunicação.”

 

A Igreja é o reino de Jesus Cristo; o Bispo de Roma é o Monarca. Para cumprir seu mandato divino, deve governar a todos e tudo dirigir livremente, para conservar a unidade da fé e do governo. O Pai nunca é estranho para os seus filhos, em qualquer lugar em que se encontrem e em qualquer grau elevado, é o Pastor lo rebanho, o Monarca para os seus súditos (...).


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Portanto, aquele que se opõe ao pastor de comunicar-se com os cordeiros e com as ovelhas, com os fiéis e com os Bispos opõem-se a um direito divino: aquele que sustenta a necessidade da aprovação secular, para que os decretos do Mestre de todos os po.vos, tenham força e vigor, com os quais tutela a integridade do dogma e da moral, a disciplina e toda a ação eclesiástica, que reflete o governo das almas, perturba a ordem do governo da Igreja enerva o poder da Sé Apostólica, perturba os fiéis e suas consciências, submete um direito divino a um poder humano e anula a força do mesmo Primado. 16

 

“O Papa, nós o queremos sobe ranamente livre.”

 

Entre os ensinamentos do Romano Pontífice declaramos amplamente que reconhecemos e aderimos, especificamente, àqueles que se referem à sua supremacia civil. O Papa, nós, o queremos poderoso, moralmente grande, soberanamente livre. Ele é o único juiz da forma, da extensão e da quantidade da liberdade que lhe é necessária para o governo da Igreja universal.

Nas atuais condições, não existe outro meio para prover a sua autonomia, que a soberania efetiva e real. Caso contrário, o Pontífice, no exercício de seus direitos primaciais, deverá estar sujeito a uma outra autoridade, como a experiência destes últimos anos tornou manifesto. 17

 

“O governo tenha a coragem de enfrentar a questão.”

 

Seria necessário que o governo da Itália fizesse um apelo diretamente à sabedoria e ao amor pátrio do santo Padre. Eu acredito profundamente que o Pontífice acolheria o convite, talvez seria a maior alegria de sua vida gloriosa. Ë absurdo supor que a Cúria Romana queira colocar a Igreja, em condições de um dia dever se desculpar, por não ter sido salva a Itália. Portanto, o governo tenha a coragem de enfrentar o terrível problema e todos seremos felizes. 18

 

“Razões da ordem altíssima, não dogma.”

 

O Santo Padre assegura que, para o bem da Itália, razões de ordem altíssimas aconselham os católicos a não se aproximarem das urnas;


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embora não nos seja dado conhecer estas razões, especificamente na inspirada interpretação da catedra de Pedro, eu, Bispo sigo a mesma norma que foi ditada pelo chefe da Igreja (...).

             Não confundamos, Dogma, não; ninguém de nós aceitaríamos, sob outras palavras, semelhantes conteúdos, na minha consciência sou senhor de discutir a oportunidade e a eficácia da medida; tranqüilizo-me com a palavra papal, porque compreendo, assim como compreendo em toda a minha vida episcopal, a estreita necessidade da observância disciplinar, base da organização unitária inquebrantável da Igreja. 19

 

 “A participação dos católicos às urnas políticas.”

 

Peço, Padre Santo, que nos ilumine a respeito de um assunto que estritamente se relaciona com o bom governo da minha, bem como de todas as dioceses da Itália, quero dizer: a participação católicos às urnas políticas.

Consideradas as novas leis eleitorais, é lícito aos mesmos tal parrticipação?

Beatíssimo Padre, confesso que desde muito estou fazendo a mim mesmo esta pergunta, e tendo examinado diante de Deus, um por um, os argumentos que apresentam os prós e os contras da referida questão, parece-me chegado o momento de tentar alguma coisa, também neste sentido, mas não devo esquecer-me que bmpete unicamente a vós decidir.

É por isto que me sinto no dever de informar Vossa Santidade, que aqui na minha diocese, todos, sem exceção, os proprietários (e são muitíssimos) os chefes de negócios, de oficinas etc. já escreveram entre os eleitores, todos os seus dependentes; isto é um forte motivo, para temer que o “non expedit” da Santa Sé, sendo pouquíssimo observado, o seria menos ainda no futuro, em grandíssimo detrimento das consciências e da mesma autoridade da Igreja.

Permiti-me, portanto, uma nova pergunta: a mudança ocorrida atualmente na legislação italiana a respeito das eleições políticas, não poderia, nos desígnios de Deus, ser ordenada para justificar diante de todos, italianos e estrangeiros, bons ou maus, a mudança da S. Sé a respeito de participação dos católicos às mesmas eleições? 20


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“Fazer prevalecer o candidato católico.”

 

Quanto ao assunto das eleições, embora me tenha dito que, depois de muito hesitar, havia decidido manter “non expedit”, eu todavia não me assustei por isso, e propus uma questão à Sagrada Congregação da Penitência, na qual pedia se, dado o caso, particular não infreqüente, que se encontrem à frente de um dado colégio eleitoral vários candidatos, entre os quais alguns notadamente católicos, dispostos a defenderem dentro de suas possibilidades a causa da Igreja, os outros mais ou menos hostis à mesma, poder-se-ia aprovar, ou ao menos tolerar que os eleitores bem afeiçoados àreligião interviessem, com plena tranqüilidade de consciência, às eleições, com o fim de fazer prevalecer o candidato católico? A questão, acompanhada de uma longa carta, que vos comunicarei em seguida, não foi mal recebida e ontem à tarde fui chamado e foi-me respondido oralmente, que nestes casos com as devidas reservas, deixasse fazer, escrevendo depois ao Cardeal Penitenciário, para conseguir que fosse permitido ao católico eleito fazer parte do Parlamento. Penso que se outros bispos fizessem ao Cardeal Penitenciário a mesma consulta, receberia a mesma resposta. Isto significa que, apesar de pouco, alguma coisa se conseguirá e o que vos posso assegurar é que os nossos escritos sobre isto foram muito apreciados e o Santo Padre ficou muito contente. 21

 

“Sacrificar a lei divina ao ‘non expedit’?”

 

Não quero aborrecer a Vossa Santidade, repetindo a mesma coisa. Vós conheceis as minhas idéias a respeito de eleições políticas e Deus conhece a pureza das minhas intenções.

A este propósito, nos primeiros dias do mês passado permiti-me enviar-vos uma carta, propondo-vos duas questões já apresentadas por mim, de acordo com outros Bispos, ao Emo. Bilio, de santa memória, e pedindo-lhe se das respostas favoráveis tidas então, do mesmo Emo., poderia valer-me nas eleições próximas passadas. O ótimo Mons. Bocalli, em nome de Vossa Santidade, respondia-me assim:

“Como em 1882, assim também agora, Vossa Senhoria poderá valer-se das respostas particulares da S. Penitenciária sobre diversas questões então levantadas por Vossa Senhoria a essa Congregação etc...”


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Beatíssimo padre, valho-me exatamente de tal resposta, nos particulares que se me apresentam. E como poderia não valer-me?

Neste colégio eleitoral de Placência tinham tido propostas, pelo partido radical, como candidatos a deputados, homens notadamente hostis ao Papa e à Igreja, homens que há vários anos estão desgraçando a cidade e os principais povoados com discursos ímpios e blasfemos, em tudo o que dizem. Acreditando ter já corrompido esta minha população, desta vez se apresentaram com um ama dos mais irreligiosos e subversivos.

Seria maravilha que os bons se alarmassem?

Se eles conseguissem se eleger e se tornassem os senhores absolutos do campo e continuassem assim a demolir entre nós todo o principio de autoridade, desviar os fiéis de seus pastores, a espalhar todo o tipo de erros contra a fé, que seria, a curto prazo, da Igreja Placentina?

Assim se perguntaram os mais piedosos e iluminados do clero e do laicato, em muitos dos quais surgiu naturalmente a dúvida se talvez no nosso caso particular dever-se-ia ir às umas, exatamente, com o fim de impedir que os candidatos acima referidos conseguissem, tanto mais que alguns do partido contrário ofereciam, também por declarações pedidas a eles, garantias bastante seguras de suas boas disposições em favor da causa católica.

As coisas estão assim, ó Beatíssimo Padre: poderia eu, em consciência, ficar tranqüilo? poderia o espírito do Pastor não se comover, à vista do lobo que ameaça invadir o seu rebanho? Contudo, verdade Padre Santo! Fazendo-me violência a mim mesmo, sacrificando, não sem remorso, a lei divina ao “non expedit” mantive o mais absoluto silêncio. Apenas, como disse acima, procurei valer-me da resposta, tão lógica, de Dom Bocalli, nos casos particulaque que se me apresentaram.

Alguns distintos católicos, antes que eu partisse para a visita pastoral (bem conhecida por Vossa Santidade) me mantive longe da cidade, ou melhor, da Província de Placência, de 7 de maio a 8 de iunho do corrente, vieram interpelar-me particularmente, convencidos como estavam da necessidade de acorrerem às urnas, se poderiam fazê-lo, com tranqüilidade de consciência. Eu, considerando exatamente as circunstâncias locais, mas também as razões colocadas por outros, da família, do emprego etc., limitei-me a responder individualmente e em modo particular, que acorrer às urnas não era de per si ilícito, que porém existia o “non expedit”, portanto, eu não aconselhava a dar o voto nem os desaconselhava. Fizessem aquilo que a consciência lhes ditasse como melhor lhes parecesse.


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Podia eu, como pastor de almas, como Bispo, como diretor de consciência responder diversamente? ou então poderia dizer não? 22

 

 “A afluência dos italianos às urnas políticas.”

 

Estavamos convencidos de que a afluência dos italianos às urnas políticas, bem dirigida e disciplinada, daria à Câmara Legislativa, um contingente de deputados católicos que, com o tempo, seria também reforçado e que embora numericamente inferior, representaria, moralmente, a maioria da propriedade, da honestidade e da influência sobre algumas classes sociais. Portanto, a probabilidade de impedir a apresentação ou a aprovação de leis contrárias à Igreja, e a esperança de fazer abolir ou anular as já existentes.

Conforta-nos, em tal convicção, o exemplo da Bélgica, e do Centro, na Prússia. Nestes lugares a luta dos católicos acabaram por triunfar. Aqui, se até agora foram conseguidos parciais melhoramentos, não se deve desesperar que o futuro coroe os esforços e as esperanças daquela invicta fileira dos Landtag e dos Reichstag.

Por outra parte, os nossos entendimentos eram comuns com personagens sem exceção, informado somente pelo desejo de tomar úteis à religião e à patria, os espíritos mais escolhidos, os cientistas mais distintos, os administradores mais capazes, que militam nas fileiras dos católicos.

Mas quando nos fizeram compreender que, por motivos de altíssima ordem, as únicas eleições às quais, no momento, os católicos pudessem participar, eram as municipais, nós nos inclinamos reverentes àquelas soberanas palavras, e nos retiramos da discussão de uma hipótese que não era tida como possível.

Entretanto, às urnas municipais atuamos, com ajuda constante e laboriosa, aplicando-nos a colocar nos conselhos comunais, ao menos em grande parte, aqueles cidadãos cuja fé religiosa fosse incontestável, ou ao menos apresentassem seguras garantias de não atacá-la. Nem sempre os nossos eleitos puderam impedir o mal, mas freqüentemente conseguiram atenuá-lo, pelo menos nas suas conseqüências. E, certamente, as gerações presentes e futuras devem ser-lhes reconhecidas, por terem conseguido conservar a instrução religiosa nas escolas elementares. 23


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“Ter os nossos legítimos representantes nas Câmaras.”

 

Em resposta à sua gentilíssima de 29 de novembro pp. tenho o prazer de notificá-lo de que, como deseja, eu já o fiz através de todas as obras pias que presido e me interessei para que os presidentes de obras façam o mesmo.

Devo acrescentar que apesar de tudo isto, não tenho nenhuma esperança de êxito; enquanto não tivermos os nossos legítimos representantes nas Câmaras, os nossos esforços serão buraco n’água.

É certo que todo o católico deve respeitar as altíssimas razões que impedem a participação à vida pública, mas não existe homem de bom-senso que não deplore, do profundo do coração, a existência daquelas altíssimas razões que mantêm inativos, estes preciosos elementos, melhores aqui na Itália que em qualquer outro lugar. Em todo caso, trabalhamos, senão por outro motivo, para termos o testemunho animador da consciência, de ter feito o que nos possível. 24

 

“Razões de oportunidade e razões de substância.”

 

Ontem à tarde, tive com nosso muito amado S. Padre a audiência de despedida (...). O tema das eleições foi abordado duas vezes. Ele me falou de suas razões de oportunidade e eu de minhas de substância. Parece-me ter-lhe impressionado a idéia de que a dissensão de Bolonha subsistirá até que venha eliminado o “non expedit”. A bem da verdade, parece-me que o S. Padre não está bem decidido sobre o que fazer, mas antes propenso à abolição, em um tempo não muito próximo. Eu concluí: Beatíssimo serei feliz se me prometerdes colocar vossa atenção, não sobre razões de oportunidade mutáveis de um dia para outro, mas sobre a substância da questão. E ele: Sim, prometo-vos. E dizendo isto, abracou-me muito comovido e eu, mais comovido, parti. 25

 

“Preferimos a política dinâmica à política estática.”

 

Talvez seja conforme aos deveres de católicos e de cidadão deixar que tudo, religião, moral, pátria acabem em confusão, antes que estender a mão piedosa e impedir a perda das almas, a corrupção de uma parte da


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da juventude, a aprovação de qualquer lei contraditória à religião? Talvez, a organização política seja superior aos direitos da religião, ou os interesses daquela devem subordinar-se aos supremos direitos desta? Coisa fácil e muito cômoda é sentar-se na política passiva da inércia e a expectativa de cataclismas que, com a lei histórica desconhecida pelos sábios, desvie o mundo, para as épocas pré-históricas. Este sistema provavelmente deverá esperar até o dia do cataclisma mundial, que será seguido da grande restauração ou renascimento. De nossa parte preferimos a política dinâmica à estática, que nos possibilite tornar cristã, do melhor modo possível, a sociedade moderna e ter evitado males maiores que ameaçam a humanidade, estamos persuadidos de ter bem merecido da Igreja e da pátria. 26

 

“Toda lentidão chega à meta.”

 

E a conciliação? parece-me que avança lenta, lenta, mas inexorável com o fato, e então? terá razão quem estava errado? Faça-se, Faça-se. 27

O caminho das idéias é de uma lentidão desesperadora, sobretudo quando se chocam interesses e paixões, mas é contínuo, quando as idéias propostas são justas e de verdadeira utilidade. Insistamos, portanto, para que toda a lentidão chegue à meta com a condição de que o cansaço não vença quem se fez apregoador. 28

O meu Instituto, que surgiu admiravelmente, por maravilhosa harmonia de sentimentos religiosos e patrióticos, viria falhar em parte, quanto ao seu fim e não poderia superar os inúmeros obstáculos que se interpõem, nem satisfazer às suas múltiplas necessidades, morais e materiais, sem a ajuda harmoniosa de todos os bons. É por isto, meu bom amigo, que eu chamo sua atenção, e por seu intermédio, a do Governo e de todos aqueles que se interessam pelo bem público, sobre a obra, cara ao meu coração, não só porque ela encontrou um meio eficaz para cumprir os meus deveres episcopais para com tantos infelizes, mas também, porque religião e pátria se dão as mãos e isto é, no meu entender, um meio prático, um início daquela pacificação das consciências, que ésempre um dos mais ardentes desejos da minha alma. 29




16.           O Concílio Vaticano I, Como, 1873, pp. 204-205.



17.           Intransigentes e transigentes, Bolonha, 1885, p. 5.



18.           G. Borelli, obra citada.



19.           Id.



20.   Carta a Leão XIII, agosto de 1882 (correspondência S. B, pp. 65-66).



21. Carta a G. Bonomelli, 9-10-1882. (Id., p. 75).



22. Carta a Leão XIII., 24-6-1886. (ASV-SE, Leio XIII, Miscelânia, D.D. Albertário, IX, A.).



23. Intransigentes e transigentes. Bologna, 1885, pp. 3 1-33.



24.  Carta a um marquês, minuta s.d. (AGS 3021/17).



25. Carta ao Card. D. Svampa, 29-11-1903. (Cit. por L. Bedeschi: A Cúria Romana, durante a crise modernista. Parma, 1968, p. 225). O XIX Congresso Católico Nacional em Bolonha de 10-13 de novembro de 1903, foi perturbado pelas polêmicas entre o ex-Presidente G. B. Paganuzzi e o novo Presidente G. Grosoli.



26. Intransigentes e transigentes, Bolonha, 1885, pp. 28-29.



27. Carta a G. Bonomelli, 19-1-1892. (Correspondência S. B., p. 292).



28. A Itália no exterior, Turim, 1899, p. 12.



29. O desígnio de lei sobre a emigração italiana, Placência, 1888, p. 46. O “caro amigo” era o respeitável Paulo Carcano, deputado socialista, que fora colega de escola de Scalabrini, em Como.






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