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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 4.  HUMANISMO CRISTÃO
      • a)  AMOR À VERDADE
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a)  AMOR À VERDADE

 

O espírito do mundo é um espírito de duplicidade e de desconfiança. Assim como, desta fonte, nasce o amor próprio, do mesmo modo, ele não busca a verdade, senão enquanto a verdade posas agradá-lo. Não se define pela piedade, senão enquanto a piedade encontra partidários favoráveis. Não elogia a virtude, senão nos lugares onde a virtude é honrada. Eis o espírito com o qual muitos se deixam governar, um espírito tímido e conivente,


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receia ser de Deus e, em todas as ocasiões, nas quais deve declarar-se por Ele, vacila e onde, pela sua glória fosse necessário expor-se ao escárneo e às críticas dos homens, volta atrás. O que e covardia de espírito, chama-se prudência. Onde se trata de desgostar alguém, para não faltar ao dever, considera legítima a transgressão, e a primeira coisa que se examina nos passos que Deus exige de nós, é se o mundo nos dará sua aprovação; e para não perder a estima do mundo, finge ser mundano, fala-se a linguagem do mundo, aplaude-se as máximas do mundo, procura acomodar-se aos hábitos do mundo. 1

 

“O culto da verdade até o sangue.”

 

O combate mais forte neste mundo é aquele de dizer a verdade de Cristo, tanto aos inimigos, como aos amigos, e dizê-la na prosperidade e na dor, nas trevas e na luz, nos cárceres e nos cortes, à plebe e aos poderosos, em particular e em público, sem ambigüidade, sem medo, sem ânsia no coração, mas antes com sublime desprezo dos perigos que é o privilégio das grandes almas.

Este é o forte combate do qual falou Jesus Cristo, quando disse ao governador do povo romano: para isto, eu nasci, e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade. Este foi o programa que Jesus Cristo recebeu do seu Pai e deixou aos seus amigos, como herança: o culto à verdade até o sangue. 2

 

“Não podeis deixar de amar a verdade.”

 

Padre Santo, vós conheceis a sinceridade do meu espírito, conheceis os sacrifícios não leves feitos pela glória da Igreja e para mostrar-me o que sinto que sou, todo para vós e para Vossa causa, que é aquela de Deus.

Pois bem, prostrado aos vossos pés, vos peço uma só graça: chamar à ordem aqueles elementos extra-hierárquicos, especialmente os jornalistas (chefiados pelo Observador de Milão), que ostentando acatamento ao sucessor de S. Pedro devoção que não têm, mas usam de capa e veículo de idéias partidárias para tutelar interesses de particulares, ofendem a suprema autoridade dos Bispos, desonram a Igreja e a tornam desprezível diante das pessoas sérias, com as suas violentas e escandalosas polêmicas. E rompem aquela admirável união entre os Pastores que constituiu, até agora uma de suas glórias mais belas. E reduzem o catolicismo a um grupo de fanáticos, excluindo as mais belas inteligências.


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Como foi tratado o célebre Abade Stoppani, glória da nação e da Igreja? Como as outras instituições, padres e leigos? Meu Deus, salvai a vossa Esposa tão horrivelmente lesada!

De talento poderoso como sois, de coração modelado pelo de Jesus Cristo de quem sois o Vigário, vós não podeis deixar de amar a verdade, não podeis não desejar que ela seja conhecida como desejavam os santos; estou mais que certo, SSmo. Padre, dignar-vos-eis perdoar a liberdade desta minha carta, ditada unicamente pelo afeto vivíssimo da glória do vosso imortal Pontificado manchado e diminuído pela atrevida impunidade de um partido cego e petulante. 3

 

“A santa coragem de dizer a verdade.”

 

Continue, caríssimo Pe. Luís, a vir em socorro da Igreja com os seus escritos, pois tanto necessitamos, sobretudo em nossos dias, de quem convoque as mentes, precisamente ao estudo do Evangelho e da doutrina cristã, e assim, procure reconduzir Jesus Cristo, às famílias e à sociedade.

Tenho para mim, que esta seja a maior necessidade, o meio mais seguro, ou melhor, único, para conseguir o que em vão acreditou-se e acredita-se poder conseguir, com outros meios. Vendedores de boatos, como Sto. Agostinho chamaria essa gente, temos até demais... Digo isto, porque já são poucos os homens que têm a santa coragem de dizer a verdade, conforme a expressão evangélica: “sim, sim, não, não”. Muito facilmente, alguns verdadeiramente doutos e merecedores colocam-se de fora, por causa dos insipientes clamores de quem não tem em mira senão o próprio interesse.4

 

“Ai da religião, quando os Bispos são obrigados a calar-se.”

 

Aqui, absolutamente eu devo justificar, ou devo ser justificado.

Vir aconselhar-me o silêncio seria, neste caso, acrescentar ultraje sobre os ultrajes do sacrilégio difamador, seria como dizer: nada importa à Autoridade Episcopal ser atirada na lama; seria acreditar, na voz corrente, que se tem medo do governo oculto de certos homens astutos e que se é impotente para dominá-los. Ai, exclamaria, um doutor da Igreja, ai da religião, quando os Bispos são obrigados a calar-se!


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Eminentíssimo, estou errado? Diga ao S. Padre que me corrija e me terá como sempre, filho submisso, obediente em tudo Mas se ao contrário, encontro-me ao lado da verdade, da justiça, do direito, como se permitirá que um Bispo, embora o último e mais indigno dos Bispos, tenha que ser publicamente levado ao tribunal por um padre, que de padre só tem mesmo o hábito e a aparência?

Para concluir: peço novamente, com todo ardor, testemunho favorável, que me creio com direito e no dever de pedir, invoco-o e o espero.

Eminentíssimo, perdoará se lhe sou importuno mas creia, torna-se mais importuno a mim, ser constrangido a importuná-lo novamente.

Espero que desta vez se dignará ouvir-me, de tal sorte que não sendo atordoado por outras coisas, eu possa atender sereno e tranqüilo a coisas mais relevantes do que estas, e possa orientar todas as minhas fracas forças para a salvação das almas, a mim confiadas, e na defesa dos sacrossantos direitos da S. Sé, que são as duas coisas que mais me são caras. 5

 

 




1.             Homilia de Pentecostes, 1881 (AGS 3016/6).



2.             Homilia de Pentecostes, 1880 (AGS 3016/6).



3. Carta a Leão XIII, 26-9-188 1 (AGS 3042/2). Pelas relações entre Scalabrini e Stoppani, cf. Biografia, pp. 700-709.



4. Carta a L. Arosio, 11-3-1884 (AGS 3022/2). Pe. Luis Arosio escreveu obra de divulgação teológica.



5. Carta ao Card. L. Jacobini, 8-4-1883 (correspondência S. B., pp. 120-121). O padre a quem o autor se refere é padre Davi Albertário, (cf. biografia, pp. 562-565).






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