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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 4.  HUMANISMO CRISTÃO
      • d) A AMIZADE
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d) A AMIZADE

 

“Tudo o que é meu, é teu.”

 

O ar, a calma, a visita, os passeios livres e sem preocupação aproveitariam a mim e também a vós. Vamos; não vos deixeis vencer pelos obstáculos. Todas as minhas coisas são vossas, e sabeis que eu vos amo, não só como coirmão, mas como um irmão muito temo. 22

A carta que me escrevestes de Milão, tão bela e terna, não sei por que distração ficou junto a uma correspondência que apresentei ao Papa o qual, lendo tudo, leu também a vossa carta, que não lhe causou impressão desagradável, embora muito forte. Na segunda audiência falou-me da correspondência e da mesma carta e como temia que qualquer frase o tivesse ferido, tomei a palavra dizendo-lhe: “Santo Padre, vós tendes em Dom Bonomelli um Bispo verdadeiramente douto, zelosíssimo e totalmente consagrado ao bem da religião, não só, mas um filho devotíssimo e afeiçoadíssimo, que fala sinceramente quando lhe parece verdadeiro, conservando sempre profundíssima submissão a Vós...”

Oh, sim, interrompe Ele, conheço bem Dom Bonomelli! e aqui parou para fazer elogios à vossa piedade e doutrina, ao vosso zelo etc. O que isto me alegrou podeis imaginar. 23

Não quis escrever nestes dias para respeitar a vossa dor filial que senti no íntimo do coração, como se se tratasse do meu pai. Tudo o que vos pertence toca-me vivamente, e celebrando a S. Missa, em sufrágio de vosso pai, que cada dia recordo no altar, nunca me esqueço de rezar por vós o que fareis vós também por mim, pobrezinho, que sinto grande necessidade. 24

Nestes dois anos nos escrevemos tantas cartas, que já não se sabe mais o que dizer. Sabeis quantas das vossas eu tenho? 62, sim digo, sessenta e duas; uma mais bela que a outra e todas coordenadas, como os tubos de um órgão, um pouco monótono, dizendo a verdade, porque é quase sempre a mesma nota que é tocada. 25

O fogo da nossa amizade é tão vasto que nem os rios podem apagá-lo: a lenha com que se nutre foi acumulada em tamanha quantidade nestes anos, e é de tal qualidade, que ao menos, por um século, tem com que nutrir-se e mandar a mais bela chama do mundo. Porém, fazeis bem em despertar-me,


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já que eu trato os meus amigos muito mais à vontade. Algumas vezes tenho um pouco de remorso; meu secretário de tanto em tanto me pergunta: escreveu para Cremona? Certo que preciso escrever, escreverei e no entanto passam-se os dias, as semanas, e os meses... Portanto, tende um pouco de paciência. De resto quando não escrevo dizei, sem medo de errar: aquele pobre homem de Placência está tomado pela febre da atividade, convém perdoar-lhe o aparente descuido do seu amigo mais querido. 26

Escrevo-vos duas linhas para desejar-vos felicíssimas santas festas, plenas das mais escolhidas bênçãos. Os votos são para muitos um cumprimento, um ato de conveniência, mas os que faço são uma necessidade do coração, uma expressão da altíssima estima, da profunda e reverente amizade, de inalterável união. 27

Pensai em tudo o que existe de belo, de bom, de terno, de sincero,e subentendei-o como expressão do meu espírito para convosco.

Deus vos acompanhe, vos assista, vos abençoe e satisfaça os vossos desejos, que são também os meus. 28

Ficai tranqüilo. A fase que começa é dolorosa sim, mas cheia de luz.

Deixemos a Providência agir. Quanto a mim, é inútil dizer-vos, que farei por vós aquilo que não faria a mim mesmo. Aborrece aquela perturbação que é natural, em semelhantes circunstâncias, mas antes de tudo, justiça e verdade. 29

Os primeiros e melhores votos do meu coração pelas santas festas natalícias são para vós a metade da minha alma. As nossas almas estão unidas com misteriosos vínculos e mesmo de longe, se comunicam e se entendem sempre.

Já compreendestes quanto vos sou reconhecido, pelo dom do vooso precioso livrinho. De saúde estou perfeitamente bem, sarei quase por encanto, de tal forma que já retomei a minha vida habitual, tendo presentes, porém, as recomendações dos amigos, em primeiro lugar as vossas.

Senhor vos conceda próspera saúde, longuíssima vida, a mais desejada prosperidade, triunfos diplomáticos de primeira qualidade em grande quantidade. 30

Ter contribuído, embora com insignificância, às esplêndidas festas do vosso jubileu, foi para mim uma das maiores satisfações, mas vós quisestes,


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desta vez, fazê-la principalmente, com um dom verdadeiramente magnífico. Isso me é duplamente caro, seja porque é dom vosso, seja porque é recordação de um dos dias mais belos da vossa vida e também da minha.

Agradeço-vos comovido, do íntimo do coração.31

Se estes dias do ano passado, como bondosamente dizeis, eu fui todo para vós, podeis estar seguro de que todo para vós eu sou e serei também no futuro, mesmo quando certos enganos práticos não me agradam. 32

 

“As almas não conhecem distâncias.”

 

Tudo bem, damos e pedimos desculpas mutuamente; mas também isto não é justo, porque eu não tenho necessidade de qualquer desculpa, por não ter ainda agradecido, como faço cordjal mente agora, pelo presente e pelos cumprimentos, pelos meus 25 anos de consagração episcopal.

Digo qualquer desculpa, porque entre espíritos unidos, como somos nós, na caridade de Jesus Cristo, muitas coisas devem ser subentendidas e eu as subentendo facilmente, e assim deve ser também contigo.

As almas não conhecem distâncias, têm pouca necessidade de cartas, já que, mesmo sem falar, elas se falam, se entendem e se ajudam.33

 

 




22.           Carta a (G. Bonomelli, 19-6-1882 (Correspondência S. B., p. 59).



23.           Id., 9-10-1882 (Id., p.   76).


24.           Id., 25-4-1883 (Id., p.   123).


25.           Id., 17-9-1883 (Id., p.   136).



26.           Id., 27-11-1883 (Id., p. 139).



27   Od., 21-12-1883 (Id., pp. 140-141).



28.   Id., 19-9-1887 (Id., p. 223).



29.           Id., 17-4-1890 (Id., p. 267).



30.           Id., Natal 1892 (Id., p. 336). Ao Bonomelli, já tinha sido confiada uma missão diplomática na América Central.



31.   Id., 3-12-1896 (Id., p. 336).



32.   Id., 21-6-1900. Os enganos práticos se referem à fundação da Obra Bonomelli, para os emigrados na Europa. Scalabrini não considerava oportuno que fosse presidida por leigos, tanto mais que eram filo-liberais (cf. Biografia, pp. 779-783).



33.           Carta a L. Cornaggia Medici, 2 1-2-1901. (Arquivo Liberiano de Roma). D. Luis Cornaggia Medici, ligado por amizade a Scalabrini, antes mesmo de tomar-se sacerdote, escreveu, entre outros, “Precursores da Conciliação”, Fidência, 1936. Foi cônego da Basílica de Santa Maria Maior em Roma.






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