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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUARTA PARTE       HOMEM DOS HOMENS E PARA OS HOMENS
    • 4.  HUMANISMO CRISTÃO
      • e)  O AMOR PELO BELO
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e)  O AMOR PELO BELO

 

“Conservem-se as obras de valor artístico.”

 

Em nossa Diocese existem Igrejas e oratórios de antiquíssima valiosa construção, quadros, pinturas e adornos, com belíssimos afrescos; monumentos preciosos que devem ser conservados, de fato, com máximo cuidado, mas que, ao contrário sofreram graves danos, seja por falta dos necessários consertos, seja pela ampliação ou restaurações feitas por pessoas incompetentes.


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Portanto, a fim de impedir novos estragos em tais edifícios, enquanto se recomenda aos mui reverendos Párocos e às Comissões Fabriqueiras, de nada omitirem para a diligente conservação dos mesmos, ordena-se-lhes com a presente, que de agora em diante, sendo necessário fazer inovações relevantes, peçam antes o consentimento do Ordinário Diocesano, que não consentirá, senão após o parecer de artistas que conheçam com certeza, que os trabalhos a serem executados não danificarão a estrutura arquitetônica do templo, nem as pinturas valiosas que possam conter.

Recordem-se, outrossim, que os objetos de arte existentes nas Igrejas ou nos Estabelecimentos Eclesiásticos, entram com as das alfaias a fazer parte do patrimônio eclesial e por isso ninguém pode licitamente vender ou alienar tais objetos, sem antes ter obtido especial permissão do Ordinário Diocesano, sob pena de censura eclesiástica.

Faz-se fervoroso apelo a quem de dever, para que com todo o cuidado, conserve as obras artísticas e proiba-se rigorosamente que sob qualquer pretexto alienem, transportem para outro lugar estes gloriosos testemunhos da piedade e da grandeza dos nossos pais. 34

 

“Aumentar decoro à religião, mas também à arte.”

 

A festa do meu glorioso antecessor Savino (...), oferece-me favorável ocasião para chamar vossa atenção, Mui Reverendíssimo Senhor Pároco, a respeito da célebre Cripta desta sua Igreja, que se está deteriorando, a fim de que procure, com a atividade do seu zelo, encontrar o modo de restituí-la ao culto e assim aumentar o decoro, não só da religião, mas à arte, de que esta Cripta é preciosíssimo monumento.

Aquele subterrâneo é um monumento prociosíssimo, digno de ser reaberto ao público, ao menos de ser subtraído à completa decadência, a que está ameaçado. Por isso, seria necessário, como o senhor vê, preservá-lo da umidade, trazer-lhe ar e luz e impedir que se desconjuntem ainda mais as pedrinhas do célebre mosaico, que se vê no chão (...).

Não tenho palavras suficientes para exprimir-lhe, Senhor Cura, o interesse que esta Basílica me inspira.

Quando, há meses, Deus nos consolava com o reencontro dos veneráveis ossos de S. Savino, circundando pelas pequenas, mas antiquíssimas urnas, que continham as relíquias dos mártires e dos apóstolos,  que para colocá-las o mesmo S. Savino, tinha ereto a basílica dos


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Apóstolos em Le Mose; quando encontrei na mesma sepultura do Santo Bispo a ampola com a inscrição: sangue de Santo Antonino Mártir, experimentei, dentro de mim, um suavíssimo e misterioso sentimento de admiração e de alegria (...).

Que ocasião melhor e mais propícia para restituir ao culto a Cripta, onde o glorioso Patrono repousou por tantos séculos, circundado por tantos tesouros!

Não duvido, senhor Pároco, que em uma cidade tão culta e tão gentil como a nossa, a quem interessam tão vivamente as coisas da pátria, não faltarão estímulos, conselhos e ajuda, especialmente da parte daqueles a quem for confiada a nobilíssima tarefa de velar pela conservação dos monumentos públicos.

Digo-lhe francamente o meu parecer. Seria verdadeira desonra para nós e para todos deixar deteriorar-se uma jóia tão preciosa como a que possuímos e à qual estão ligadas lembranças tão caras à religião e à pátria.35

 

“A catedral é a casa de Deus e a casa de todos.”

 

A catedral é a casa de Deus e a casa de todos. Ela constitui o orgulho e a glória da nossa cidade, como constituiu o orgulho e a glória de nossos pais, que depois de tê-las planejado, com sublime impulso de fé e de orgulho cívico, prodigalizaram tesouros para erigi-la, conservá-la e embelezá-la, embora, repito, não sempre inspirado pelo severo gosto, pela arte, que tinham pensado.

A catedral é o compêndio da vida da cidade. Partiam daqui as insígnias da nossa Câmara, aqui retornavam vencedores ou vencidos, para agradecer a Deus as vitórias, ou para buscar novas forças na desgraça; aqui surgiram os Bispos defensores e vingadores dos direitos comuns; aqui, há nove séculos, os povos da cidade, dos campos placentinos escutam a palavra de seus Pastores e recebem deles a bênção; aqui mais freqüente e solenemente que em outras partes, se eleva ao céu o hino de júbilo e a oracão expiadora, aqui entre os arcos e as colunas, como entre os braços da mãe, nos sentimos todos duplamente irmãos.

Eu não saberia conceber uma cidade italiana sem a sua Catedral; pior, uma cidade, tendo uma bela e majestosa, a deixasse no abandono, lenta, mas segura, presa do tempo, pois significaria que aquela cidade nunca foi viva na história e que nela apagou-se toda a chama daquele vigor religioso e civil, que inflamava nossos pais.


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De Placência não se pode dizer a primeira coisa e não se dirá a segunda. A sua história é tão nobre, quanto antiga e o seu culto pela arte e pelas memórias patrióticas é esculpido perenemente nos seus monumentos e nos muitos escritos valiosos dos placentinos, que colocaram neles todo o engenho para ilustrá-los. 36

 

“A arte, filha da natureza, é a neta de Deus.”

 

De acordo comigo, tendes estabelecido que esta amostra tivesse lugar neste templo magnífico, como a significar que a arte deve estar no lugar sagrado, como em casa própria, porque ali nasceu e cresceu.

Se a religião é filha predileta de Deus, a arte está inteiramente ligada a Ele. A arte, segundo a belíssima expressão de Alighieri, como filha da natureza, é neta de Deus; não sem profunda razão uma obra de arte, quando alcança os supremos ideais artísticos, na linguagem comum, chama-se divina. A arte que não se irradia da luz de Deus, não é arte, não representa o belo, que é esplendor da verdade.

Assim pensava o mesmo Alighieri, quando com mente divina escrevia: não é luz se não vem da calma, que não se agita nunca... Rafael Sanzio, em um momento de sublime inspiração, pintou os pés da nossa admirável Nossa Senhora de S. Sisto, ai de mim não mais nossa, aquele anjinho que saindo de uma pequena nuvem, como criança debruçada na varanda, com um belíssimo rosto voltado para o alto, está imóvel e pensativo contemplando o céu.

A estupenda criação também faz entrever maravilhosamente, a verdade, que nesta propícia ocasião tenho o prazer de recordar-vos: a arte, para ser verdadeira, deve manter os olhos sempre voltados para o sol da beleza eterna, infinita. Semelhante àquele anjo, a arte, apoiando sobre a matéria, purificada por ela, e tornada leve como o branco véu da nuvem, olha arrebatada o céu, e ao céu eleva os pensamentos e os afetos do homem, mestra das virtudes, fautriz poderosa da civilização e da ordem, inspiradora de cândidos e mansos costumes, anjo que nos caminhos do belo guia as almas para a fonte dos mais puros e sublimes ideais. 37


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“A marca de Deus.”

 

Ó mães! Falemos de Deus aos nossos filhos, aproveitando de tudo aquilo que possa impressioná-los.

Falemos de Deus aos filhos, no silêncio contemplativo de uma noite serena, em meio ao fragor do trovão e nas costas solitárias do mar.

Falemos-lhes de Deus, quando, no fim de um dia de outono, vemos pelos interpostos vapores, através de um véu sutil aparecerem as colinas, os bosques, os vales e todos os objetos, ao reflexo daquela melancólica luz tomam várias cores e muitas formas.

E quando à tarde, ao som dos sinos, o longínquo barulho das águas que caem e o murmúrio das folhas, docemente nos convidam à melancolia, falemos-lhes de Deus.

E se percebemos suas mentes se comoverem e se enternecerem diante dos prodígios da arte, das melodias da música, ao ouvirem qualquer fato glorioso, qualquer prova de outra virtude, não deixemos de falar de Deus!

Mostremos-lhes em todas as coisas, a marca da sua bondade, da sua grandeza, da sua onipotência. E da harmonia, que une as várias partes do universo, façamos-lhes deduzir a obrigação imposta ao homem de viver, em harmonia com o fim, para o qual foi criado (...).

Recordai-vos, porém, que no cristianismo, o verdadeiro culto não se limita a um sentimento vago, mas se manifesta e se mantém com as práticas exteriores.

Deveis, portanto, preceder-lhes com o exemplo, no exercício de toda boa obra.  38

 

“A música é uma arte divina.”

 

Não é somente o homem que da cátedra fala de Deus ao homem; mas tudo que neste universo se agita, se vê, se toca e se ouve, tem uma missão divina e sobrenatural, para elevar-nos ao conhecimento e ao amor das coisas celestes. O que fazia S. Leão exclamar: O que existe no mundo que não sirva de instrumento para a eterna verdade? “Existe alguma coisa, pela qual Deus não nos fala?

E mais ainda, as belas artes, criação e obra do gênio do homem, nos revelam a Eterna Beleza, de onde extraem os seus ideais e despertam os seus triunfos. Mais que todas, a música, que o cristianismo levantou e fez dela uma alavanca poderosa, para elevou as almas amáveis a Deus, transportando-as às regiões do infinito.


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A música é uma arte divina, porque Deus é uma melodia eterna entre as três Pessoas da adorável Trindade. Cada nota, cada acorde de música é um eco da harmonia cósmica, que parece ter a sua nascente no céu e na eternidade. Ela recolhe os impulsos, as palpitações, as aspirações, as alegrias e as dores das almas e as propõe, interpreta-as, torna-as sensíveis, reassume-as em forma etérea. Os delírios da vitória e as vergonhas da derrota, as explosões da cólera e a ternura do amor, os gemidos dos infelizes e as exultações dos venturosos, as lágrimas das coisas e o grito dos abandonados, a música tudo assume e exprime em linguagem inefável e puríssima. 39

 

“Vivendo a vida dos Santos, harmoniosamente.”

 

Olhai este órgão: é a imagem da vida cristã, como Deus a constituiu. No órgão existem mil sons diferentes. Cada tubo tem a sua forma, cada lingueta tem o seu timbre, cada abertura a sua grandeza, cada jogo a sua variação e quando se move tudo com um principio inteligente, resultam maravilhosos acordes.

Assim, cada um de nós temos a nossa vocação, o nosso cárater, os nossos deveres; cumpramo-los, segundo o querer de Deus e todas as nossas obras formarão uma celeste harmonia, que nos tornará alegres de graças supremas.

O universo inteiro a isto nos convida; ele é uma harmonia infinita, uma concórdia e será assim, quando estivermos em paz perene. Seja nossa alma uma harmonia viva com Deus, com os irmãos, conosco mesmos, vivendo assim a vida dos santos: harmoniosa.

Jesus Cristo é denominado a arte soberana do Pai, a fonte, e a nascente de toda a harmonia, e é em nome de Jesus Cristo que eu abençôo este novo instrumento musical, fazendo votos que, como ouviremos, dentro de instantes, as harmonias aqui na Jerusalém terrena, assim sejamos todos admitidos às eternas harmonias da Jerusalém, celeste. 40

 

“A alma seja harmoniosa.”

 

Ouvimos poesias estupendas e músicas mais belas ainda. Pois bem; que as flores da poesia se convertam para todos nós, em frutos sempre mais copiosos de boas obras. Que a nossa alma seja

 

 

 


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sempre repleta da harmonia, que desce do alto, seja a alma harmoniosa, da qual fala um antigo Padre; que toda a nossa vida seja, como uma música, um hino de glória ao Altíssimo. 41

 

‘Seja dada ao povo a maior parte nos cantos.”

 

Seja dada ao povo a maior parte nos cantos permitida pela Igreja, antes, deseja que sejam por ele executados. Deixe-se que ele manifeste a sua piedade e sua fé; que assim encontre um alívio, um conforto nas labutas e misérias da vida. E qual o canto mais espontâneo, mais imponente e mais sublime que o canto uníssono de toda uma multidão reunida no mesmo lugar, animada pelo mesmo espírito, participante dos mesmos divinos mistérios?

As nossas esplêndidas catedrais e as nossas mais humildes igrejas paroquiais, onde vive Jesus Sacramentado, solicitam os antigos cantos, os cantos da fé, nos quais se uniam as mil vozes; o povo dos nossos tempos tem necessidade de abandonar os falsos tumultos, os gritos bêbados e sediciosos dos dias festivos, para voltar ao calmo, consolador e puro canto da Igreja; o povo sente a necessidade de que se lhe ensine a louvar a Deus e se lhe expliquem os sublimes sentidos dos hinos, que para ele foram compostos; tem a necessidade que se lhe ensinem as doces melodias da Igreja para participar às honras e às adorações devidas a Jesus, encerrado prisioneiro, no santo Tabernáculo, por amor do povo (...).

Então as Igrejas não ficarão desertas, então as funcões religiosas e solenes não serão abandonadas, então meninos e meninas aprenderão depressa as melodias eclesiásticas e com elas o porquê dos ritos e o sentido dos cânticos da Igreja; então não haverá necessidade de altos gastos para músicas freqüentemente muito longas e não devotas; mas todos (como se usa em Várias paróquias e catedrais da França e também da nossa Itália), possivelmente com o próprio livro nas mãos, homens, mulheres, magistrados, nobres, soldados, jovens e donzelas, reunidos em um só coro, alternarão com os ministros do altar os louvores, as bênçãos, as preces, as adorações a Jesus Sacramentado, com aquele canto aprovado pela Igreja, modulado segundo os próprios sentimentos, estudados pelas crianças nas escolas de cantos das paróquias e que faz parte daquele patrimônio de tradições doces, suaves e queridas, pelas quais os povos se tornaram grandes e abençoados. 42

 

 

 

 

 

 




34. Circular, 22-3-1879, pp. 1-3.



35. Carta ao pároco de S. Saviano, 17-1-1881, publicada nos jornais



36. Para a nossa Catedral, Placência, 1894, pp. 4-5. A restauração Catedral de Placência foi realizada nos anos de 1897 a 1902.



37. Discurso na inauguração da Exposição de Arte Sagrada, 6-9-1902. Nossa Senhora Sistina, de Rafael, subtraída da Basília placentina de S. Sisto, encontra-se na Pinacoteca de Dresda.



38.   Educação cristã, Placência, 1889, pp. 31-35.



39.           Discurso de inauguração do púlpito e do órgão da Catedral, 4-12-1901 (AGS 8/8).



40. Na inauguração de um órgão (AGS 3018/10).



41.           Na Academia, para o jubileu episcopal, 1901 (AGS 3018/13).



42.           Circular de 7-2-1898, pp. 21-22.






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