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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUINTA PARTE       HOMEM DOS MIGRANTES E PARA OS MIGRANTES
    • 1. A MIGRAÇÃO VISTA POR SCALABRINI
      • d) O DESÍGNIO DE DEUS
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d) O DESÍGNIO DE DEUS

 

“A migração é um bem e um mal.”

 

É indubitavelmente um bem, fonte de bem estar para quem vai e para quem fica, verdadeira válvula de segurança social, aliviando o solo do excesso da população, abrindo novos caminhos ao comércio e às indústrias, fundindo e aperfeiçoando as civilizações, alargando o conceito de pátria, além dos limites materiais, fazendo do mundo a pátria do homem; mas é sempre um gravíssimo mal, individual e patriótico, quando se deixa caminhar assim sem lei, sem freio, sem direção, sem tutela eficaz: não forças vivas e inteligentes ordenadas à conquista do bem-estar individual e social, mas forças que se chocam e freqüentemente se destróem reciprocamente, atividade desfrutada, em prejuízo e vergonha do país de origem. Não águas  capazes de fecundar, mas torrentes sem leito, que perdem o tesouro de suas águas por entre as pedras e os abrolhos, quando não arrastam os campos já fecundados. 14

 

“É instrumento da Providência também através de catástrofes.”

 

A migração é lei da natureza. O mundo físico, como o mundo humano estão submetidos a esta força que move e mistura, sem destruir, os elementos da vida, que transporta organismos nascidos em um determinado lugar e os semeia no espaço, transformando-os e aperfeiçoando-os de modo a renovar em cada instante o milagre da criação.


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Migram as sementes nas asas dos ventos, migram as plantas de continente a continente, levadas pelas correntes das águas, migram os pássaros e os animais e, mais que todos, migra o homem ora em forma coletiva, ora em forma isolada, mas sempre lnstru mento daquela Providência que preside e guia os destinos humanos, também através de catástrofes, para a meta, que é o aperfeiçoa. mento do homem, sobre a terra e a glória de Deus nos céus.

Isto nos diz a Revelação divina, isto nos ensinam a história e a biologia moderna, e é só alcançando esta tríplice fonte da verdade, que poderemos deduzir as leis reguladoras do fenômeno migratório e estabelecer os preceitos de sabedoria prática, que deve discipliná-los, em toda sua rica variedade de formas. 15

 

“A grandeza religiosa e moral da causa dos migrantes.”

 

A grandeza religiosa e moral da causa dos nossos migrantes italianos, e a grandeza política e material desse hospitaleiro país que (como me dizia há poucos dias o insígne Presidente da República) abre-lhes a dois batentes, as portas da hospitalidade. São duas grandezas feitas para se confundirem em uma só e para manifestar ao século vinte, os segredos de uma nova era, onde não poderá faltar nem as bênçãos de Deus, nem as conquistas da civilização (...).

Percorri uma parte considerável da vossa gloriosa pátria e admirei com alegria misteriosa, que me entusiasmava, os grandes desígnios de Deus sobre a América. Celebrando o quarto centenário de Cristóvão Colombo, fui convidado a fazer conferências sobre isto, na Itália, pela simples razão de que a família de Colombo pertencia à minha querida Diocese de Placência, embora ele tivesse nascido em Gênova.

Uma destas conferências se intitulava: “Os desígnios de Deus sobre a América”. Pois bem, aquilo que eu pensava então, vi confirmado, durante a minha feliz estada entre vós, na minha longa viagem, pelos vários Estados da União. 16

 

“Matura-se a união de todos os homens de boa vontade, com Deus, por Jesus Cristo.”

 

Aqui portanto, um dia, se a inércia, se a ignorância dos caminhos de Deus, se o repouso sobre os triunfos conquistados, se a opressão de santas


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aspirações, não desviarem os povos do plano divino, todas as nações terão gerações numerosas, ricas, felizes, morais, religiosas, as quais, cada uma conservando embora as caracteríscas próprias de sua nacionalidade, serão estreitamente unidas.

Desta terra de bênçãos elevar-se-ão inspirações, desenvolver-se-ão princípios, desdobrar-se-ão novas forças misteriosas, que virão regenerar, reavivar o velho mundo, ensinando-lhe a verdadeira economia da liberdade, da fraternidade, da igualdade, ensinando-lhe que povos diferentes, pela origem podem muito bem, conservar sua língua, sua existência nacional própria, embora sendo política e religiosamente unidos, sem barreiras para ciúmes e divisões, sem exércitos, para se empobrecerem e se destruírem uns aos outros (...).

Eu espero, sim, á senhores, eu o espero. Porque, enquanto o mundo se agita deslumbrado, pelo seu progresso, enquanto o homem se exalta com suas conquistas sobre a matéria e manda como senhor na natureza, desentranhando o solo, subjugando o raio, confundindo as águas dos oceanos com os cortes dos ístimos, suprimindo as distâncias; enquanto os povos caem, ressurgem, e se repovoam; enquanto as raças se misturam, se estendem e se confundem, através dos rumores das nossas máquinas, para além deste trabalho febril de todas estas obras gigantescas e não sem elas, amadurece na terra uma obra bem mais ampla, bem mais nobre, bem mais sublime: a união com Deus, por Jesus Cristo de todos os homens de boa vontade. 17

 

“A Igreja Católica vitoriosa e pacificadora.”

 

Os servidores de Deus que trabalham inconscientemente para cumprir os seus desígnios são numerosos, em todos os tempos, mas nas grandes épocas históricas de renovação social são muito mais do    que se conhece, mais do que se pensa: eles são inumeráveis. O fim supremo da humanidade pré-fixado pela providência não é a conquista da matéria, por meio da ciência mais ou menos avançada, e nem mesmo a formação dos grandes povos nos quais se encarna hora por hora o gênio da força, do saber, da riqueza, não; mas a união das almas, em Deus, por meio de Jesus Cristo e do seu representante visível, o Romano Pontífice. Os obstáculos que ainda se opõem ao altíssimo desígnio, desaparecerão pouco a pouco, e virá o dia, e virá antes de tudo neste vosso grande e glorioso país, no qual as nações conhecerão onde está a verdadeira grandeza, sentirão necessidade de retornar ao Pai e retornarão.


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Que dia será aquele, senhores! Dia feliz, no qual todas as inflexões, todas as vozes, em diferentes línguas, elevarão ao Onipotente o cântico de louvor e de ação de graças. O sol da verdade resplandecerá mais luminoso e o arco-íris da paz se curvará sobre a terra, em todas as suas admiráveis cores. Será como um arco de triunfo sob o qual a Igreja Católica passará vitoriosa e pacificadora, atraindo a si o mundo moderno; e a sociedade, voltando a ser cristã, continuará na ordem e na justiça, a trilhar o cami. nho da verdadeira liberdade, da verdadeira civilização, do verda. deiro progresso.

Apressemos, com votos, com orações, com obras, aquele dia abençoado! 18

 

“A antiga piedade está se despertando.”

 

Estou comovido sobretudo por quanto vi na minha longa peregrinação. Vi conservada a fé católica, em meio a dificuldades, sem número, nas fazendas, do grande Estado de São Paulo; vi a fé das colônias do Paraná e faço votos que também nas cidades da América Latina, se imite as cidades da América do Norte. Lá, surgem igrejas italianas em todas as cidades. Os nossos Missionários as assistem com outros religiosos. A piedade antiga está se despertando; a credibilidade e a consideração junto às autoridades aumenta cada dia, verificando-se, uma vez mais que, onde um apóstolo ergue a cruz, a civilização surge espontânea e o bem-estar material aumenta. 19




14.           I Conferência sobre a Migração (AGS 5/3).



15. A Itália no exterior, Turim, 1899, pp. 7-8.



16. Discurso no Clube Católico de Nova Iorque, 15-10-1901. “O arauto italiano — The italian herald”, Nova Iorque, 24-10-1901, p. 1.



17. Id.



18.           Id.



19.   Discurso em Curitiba, no Brasil, 28(?)-8-1904 (AGS 3018/3).






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