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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUINTA PARTE       HOMEM DOS MIGRANTES E PARA OS MIGRANTES
    • 2. A IGREJA E AS MIGRAÇÕES
      • a)    A PRESENÇA DA IGREJA
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a)    A PRESENÇA DA IGREJA

 

“Onde está o povo que trabalha e sofre, aí está a Igreja.”

 

A igreja de Jesus Cristo, que impeliu os operários evangélicos entre os povos mais bárbaros e nos lugares mais inabitáveis não esqueceu e não esquecerá nunca a missão que lhe foi confiada por Deus, de evangelizar os filhos da miséria e do trabalho. Ela, com coração inquieto, olhará sempre para tantas pobres almas que, em um isolamento forçado, vão perdendo a fé de seus pais e, com ela, todo sentimento de educação cristã e civil. Onde está o povo que trabalha e sofre, aí está a Igreja, porque a Igreja é a mãe, a amiga, a protetora do povo e terá para ele uma palavra de conforto, um sorriso, uma bênção. 1

 

“A Igreja está suscitando um novo e consolador despertar.”

 

É um novo, maravilhoso, consolador despertar que a Igreja está suscitando, em favor dos pobres e dos deserdados e mil vezes bendito quem souber colaborar, nesta obra de regeneração religiosa e social. Como grita o Apóstolo: quando goza um membro, todos os membros gozem; e se um membro sofre, todos os membros ajudem a aliviá-lo.

Se o passado foi triste, se ate ontem os nossos irmãos foram deixados entregues a si mesmos, lá nas infindáveis planícies da América, entre os Andes, nas Cordilheiras Rochosas, à margem dos vastos lagos do Norte, ao longo dos rios da Prata, do Amazonas, do Orenoco e do Mississipi, nas costas dos mares e até nos bosques, a caridade cristã e a hodierna civilização nos impõem a colocar fim, a um estado de coisas tão deplorável e indigno de uni povo grande e generoso.

A luta que eu proponho ao pensamento e à ação do clero e do laicato italiano é grande, nobre, intencional, gloriosa, e nela poderão encontrar um digno lugar tanto o óbulo da viúva, quanto a oferta do rico, a humilde atividade das almas mais tranqüilas, como o ímpeto generoso dos espíritos mais ardentes. 2

 

“Os infelizes, verdadeiramente infelizes.”

 

Ecoa dentro de mim dolorosamente, até agora, a voz de um pobre camponês lombardo, vindo a Placência há dois anos, do extremo vale do


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Tibagy no Brasil, para me pedir, em nome da numerosa colônia, um Missionário. “Ah, Padre, dizia-me, com voz comovida, se soubesse quanto temos sofrido! quanto temos chorado, junto ao leito de nossos caros moribundos, que nos pediam consternados um padre.., e não poder tê-lo. Oh Deus, nós não, não podemos mais viver, não podemos mais viver assim.” E o pobrezinho continuava, com rude, mas eloqüente linguagem, a narrar-me cenas verdadeiramente dolorosas. Eu confesso: nunca, como naquele momento desejei o vigor dos meus vinte anos, nunca lamentei, como então, a impossibilidade de trocar a cruz de ouro do Bispo por aquela de madeira do missionário para voar em auxílio daqueles infelizes, verdadeiramente infelizes, porque aos outros perigos para eles, se acrescenta o de cair no abismo do desespero. 3

 

“Estamos aqui como animais.”

 

Na sessão da Câmara dos Deputados, de 12 de fevereiro de 1879, o deputado Antonibon, entre outras desoladoras notícias sobre as condições dos nossos migrantes na América, lia uma carta de um colono vêneto, que, como conclusão de uma ilíade de sofrimentos, dizia: estamos aqui como animais; vive-se e morre-se, sem padre, sem professores e sem médicos.

Ora, cartas iguais a esta, neste ano recebi quase uma centena de pais de famílias, suplicando a obra protetora do meu Instituto. E não somente cartas me foram enviadas, mas mensageiros vindos especialmente de várias partes do Brasil, a fim de advogar mais calorosamente, com a palavra, a causa deles. Daquelas pobres cartas não gramaticais e rabiscadas com assinaturas ilegíveis, e da palavra vibrante daqueles mensageiros transpareciam a necessidade do padre e do professor. Necessidade, que se fazia perceber, tanto mais fortemente, quanto maior a prosperidade material das colônias. Todas terminavam com as desoladoras palavras do pobre migrante vêneto; estamos aqui, como animais; vive-se e morre-se, sem padre, sem professores e sem médicos, as três formas sob as quais se apresenta ao raciocínio do pobre, a sociedade civil.

Com meu Instituto de padroado, procuro exatamente satisfazer a estas três grandes necessidades humanas.

Manter viva nos corações, a fé de nossos pais, reavivar as imortais esperanças que vão além do túmulo, educar e elevar seu sentimento moral, pois que, o único tratado de ética do nosso povo é ainda, felizmente, o Decálogo.

Com os primeiros rudimentos de cálculos, ensinar na escola a língua


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materna e um pouco de história nacional e deste modo conservar acesa nos irmãos distantes, a face do amor pátrio e ardente, o desejo de revê-la.

Enfim, um pouco de conhecimento sobre a conservação da saúde, dando aos missionários, nos meses de noviciado, alguma instrução sobre o uso dos remédios mais eficazes e mais comuns, sobre o modo de prepará-los e administrá-los, e instituindo junto a cada casa dos mesmos missionários, pequenas farmácias. Considerada em si é bem pouca coisa, mas torna-se muito, quando se pensa na impossibilidade de ter médicos e medicamentos, lá nas imensas planícies americanas, onde freqüentemente, tendo-se a possibilidade material, não se têm os meios econômicos. 4

 

“O futuro religioso e moral dependerá da religião e da moral

que conservarão.”

 

Portanto, a urgência de providenciar é evidente e aparecerá ainda mais, nas observações seguintes:

Os pequenos grupos de casebres, senieados agora, em uma espécie de deserto, estão destinados a se tornarem florescentes povoados e cidades, seja pelo natural aumento da população, seja por este fluxo da migração, que cresce, cada dia. Portanto, que acontecerá? Como é fácil prever, em poucos anos, teremos lá nas imensas planícies das Américas, uma nova Itália, talvez rica de bens materiais, mas pobre de bens do espírito, ou mais precisamente, teremos uma sociedade conforme a orientação que soubermos dar, desde o início.

As primeiras impressões são as mais fortes e duradouras, e as primeiras tradições garantem a uma família, a uma cidade, a uma colônia, a sua fisionomia própria. A história nos fornece inumeráveis exemplos.

Além disto, deve-se refletir que a índole dos nossos compatriotas é por sua própria natureza eminentemente flexível, de tal modo que facilmente se acomodam às condições dos lugares e dos povos, em meio aos quais a Providência os guia.

Portanto, o futuro religioso e moral das nossas colônias, na América, dependerá daquele tanto de religião e de moralidade, que estes primeiros núcleos de população conservarem. Eles serão formados por sentimentos civis e cristãos? Serão civis e cristãos os seus descendentes, e os que a eles se unirão, vindos da Itália, deverão mais ou menos espontaneamente se adaptarem as tradições de fé e de piedade que ali encontrarão já radicadas.


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Serão deixadas no abandono? Vê-las-eis crescer à maneira de selvagens e também aqueles que virão depois tornar-se-ão, eles mesmos, selvagens.

Além disso, a tendência dos nossos migrantes de se estabelecerem em colônias, é um fato que não pode ser descuidado e que tornará menos difícil a tarefa de quem deverá orientá-los. Transcurá-la agora, que se trata de escolher bem a situação das futuras cidades e de lhes imprimir as características de religiosidade e de italianidade, do que depende sua prosperidade e sua importância futura, seria erro imperdoável. Aquelas características devem ser impressas imediatamente. Toda demora será fatal. Aquelas características serão como o vínculo que as unirá à pátria distante, pois muito mais que os interesses materiais, é a comunhão dos sentimentos religiosos e patrióticos que solidificam, de modo inquebrantável a unidade de um povo. 5

 

“Heróis que vão evangelizar.”

 

Entre nós, nestes dez ou doze anos, em que se fala, com tanta freqüência de migração e de migrantes, que é que se fez? Não seria conforme a verdade dizer que foi feito, quanto se podia e se devia.

Graças a Deus, não faltam sociedades de proteção religiosa e civil que surgiram e dividiram entre si, por seleção espontânea, este novo campo de atividade.

Calo sobre a minha obra, porque vos é bastante conhecida e porque não quero abusar ainda mais de vossa paciente bondade. Direi apenas que, confiando em Deus e na sua Providência, se me dispus à árdua empresa, foi precisamente para estimular os de boa vontade a tentar também, na Itália alguma coisa, especialmente no campo religioso. Eu pensava: se o clero fornece heróis que vão evangelizar povos bárbaros, como não dará os generosos, que com menor perigo, e com menor dificuldade, se disponham a assistir os nossos compatriotas, principalmente nas Américas, entre os quais talvez terão parentes e amigos, certamente, conterrâneos? Se para enxugar as lágrimas passageiras, os ricos e os pobres da Itália, em várias ocasiões competiram, em obras de caridade, dando, uns largamente o supérfluo, outros, tirando o pão da boca, o que não farão, quando souberem ser necessário enxugar o pranto que dura anos e continuará, de geração em geração se não forem tomadas providências? Quando refletirem  que existe uma vergonha ser eliminada, que nos mostra incapazes aos olhos dos


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estrangeiros e nos torna desprezíveis diante deles?

Logo conscientizei-me que havia providenciado bem, pois que não apenas encontrei mãos que aplaudiam e palavras de louvor, mas, aquilo que mais importa, coraçoes abertos, almas generosas vontades enérgicas, prontas para a ação até o sacrifício.  6

 

“A benéfica ação da Cruz de Cristo.”

 

Por todos os lugares surgem igrejas, conventos, escolas cristãs, orfanatos, hospitais. A benéfica ação da Cruz de Cristo consola os migrantes e os encoraja, mantendo os princípios religiosos e preservando-os da corrupção e da apostasia, que pouco a pouco os conduziria a renegar não só o cristianismo, mas os seus deveres para com a pátria.  7

 

“Para a Igreja, fonte incalculável de bens.”

 

O formidável problema da migração acerca do qual trabalham e o fazem quase sempre em vão os Governos, é, ao que me parece, destinado pela Providência, para conquistar um imenso prestígio social, para a S. Sé e vir a ser, para a Igreja, uma fonte de infinitas consolações e bens incalculáveis. Quem conhece as tendências dos nossos tempos não pode duvidar disto. Digo isto, porque, convençamo-nos bem, para resolvê-lo como convém, deve ser-nos leve todo sacrifício. 8

 

 




1. A migração italiana na Amêrica, Placência, 1887, p. 50.



2. Id., p. 53.



3.     A migração dos operários italianos, Ferrara, 1899.



4. O desígnio de lei sobre a migração italiana, Placência, 1888, pp. 47-48.



5.     A imigração italiana na América, Placência, 1887, pp. 47-48.



6. A migração dos trabalhadores italianos, Ferrara, 1899.



7. A migração italiana na América, Placência, 1887, pp. 21-22.



8. Carta ao Card. G. Simeom, 4-4-1889 (AGS 3/4).






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