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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • QUINTA PARTE       HOMEM DOS MIGRANTES E PARA OS MIGRANTES
    • 3. OS MISSIONÁRIOS E AS MISSIONÁRIAS DE SÃO CARLOS PARA OS MIGRANTES
      • c) ESPÍRITO MISSIONÁRIO
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c) ESPÍRITO MISSIONÁRIO

 

“Ide, ó novos apóstolos de Jesus Cristo!”

 

Em meio às gravíssimas provações, a que hoje está submetida a Igreja, entre as tempestades ainda mais graves que a ameaçam, é belo contemplar a calma, a inquebrantável calma, em meio à qual ela continua sua obra civilizadora no mundo!...

Segura de si e com o auxílio que vem do alto, ela, do pacífico exército dos seus soldados, quase cada dia destaca alguns batalhões, escolhidos entre os mais corajosos, e os envia aos quatro cantos da terra. Lança-os nas praias mais remotas, além dos mares, além de imensos desertos, mais espantosos que os mares, para infundir nos novos a fé, para conservá-la e aumentá-la naqueles que já a possuem, para salvar as almas.

Este é um fato único no mundo, um fato que já dura vinte séculos, e do qual nós mesmos temos hoje, aqui debaixo dos olhos, prova eloqüente.

São almas generosas que, abraçando a pobreza de Cristo, abandonando comodidades, honrarias, pátria, afetos domésticos e quanto existe, no mundo, de ternamente querido, vão desejosos de socorrer os nossos compatriotas migrantes, para além do oceano. Ouviram o grito de dor daqueles nossos irmãos distantes e vão!... Ide novos Apóstolos de Jesus Cristo: ide, mensageiros velozes... ao povo que vos espera... e que é pisado.


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Ide por toda parte do novo mundo, porque lá não existe povo mais humilhado que o nosso, porque lá vos esperam almas que têm necessidade de vós. Os povos, os mesmos povos pedem o pao do espirito e nao existe quem lhes dê! (...).

Ide: que o Anjo dos Estados Unidos vos chama, mostrando-vos mais de quinhentos mil italianos abandonados. Ide, que os Anjos do Paraná, do Peru, da Argentina, da Colômbia e de outras províncias vos chamam, mostrando-vos um milhão e trezentos mil italianos sedentos de verdade e em contínuo perigo de cair nos laços da heresia (...).

Vasto, sem fim, é o campo aberto ao vosso zelo. Lá, templos para erguer, escolas para abrir, hospitais para construir, asilos para fundar. Há o culto do Senhor para prover, existem crianças, viúvas, orfãos, pobres doentes, velhos decrépitos e todos para falar brevemente sobre as misérias da vida, sobre elas invocar os influxos benéficos da caridade cristã. Como prover a tantas e tão graves necessidades?... Ide! Ide! A Providência, que vigia, com ternura de mãe sobre as obras que ela iniciou, resolverá, eIa mesma o árduo problema. Procurai somente seguir seus amorosos conselhos.

Fazei com que todos experimentem como o Senhor é suave (...).

Aguardam-vos, eu sei, imensas fadigas, não poucos perigos, muitas contradições, lutas e sacrifícios contínuos, mas, é isto que vos deve fortalecer o trabalho que abraçais. Isto que deve acresntar energia ao vosso espírito. O vosso conforto, a vossa guia, a vossa mais certa defesa esteja na Cruz, que vos entreguei: a Cruz, que no dizer de Crisóstomo é a luz dos humildes, o sustento dos fracos, a árvore da vida, a chave do céu, o sinal da vitória, o terror de satanás, a força de Deus. Com esta espada em punho, vencereis. Vencereis, parece-me que isto repete, daquela urna, o mártir patrono deste templo, o glorioso Antonino. Ele que viu despontar os primeiros gérmens de vosso instituto aqui, junto às suas sagradas cinzas, ele vos acompanhará, sem dúvida, com a ajuda do seu patrocínio. 34

 

“A cruz de missionário.”

 

Existem momentos tão solenes, na vida do homem, tão repletos de suave e profunda emoção, que é impossível imaginar se não se experimenta e se experimentados não se esquece mais. E um destes foi o que, deste mesmo templo, há poucos meses abençoava o primeiro grupo dos generosos, que abraçando a pobreza de Cristo, abandonado


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tudo o que tinham de mais querido no mundo, voavam ansiosos em socorro de nossos compatriotas migrantes, para além do Oceano. Hoje se renova aquele comovente espetáculo. O palpitar do coração, confesso-vos, parece-me que se tornou, pela fé, mais vigoroso e forte. A infinita caridade de Deus me abre o peito, sublima minha mente, à vista e no desejo do apostolado e apertando ao peito a cruz de ouro do Bispo, docemente quase me queixo com Jesus, que me tenha negado um dia, a Cruz de madeira do missionário e não posso deixar de vos expressar, ó jovens Apóstolos de Cristo, a mais alta veneração, de sentir uma santa inveja de vós, que com espírito forte vos consagrastes à santa obra das missões. E a quem serão comuns tais sentimentos, quando se reflete um pouco, sobre a grandeza e sublimidade do apostolado católico, do qual hoje temos aqui uma prova eloqüente? (...).

“Eu, diz o Senhor, por boca do seu profeta, erguerei em meio aos povos, um sinal de resgate universal, e escolhendo entre os viventes, os pregadores da minha palavra, mandá-los-ei aos povos abandonados, para além dos mares. Eles anunciarão a minha glória e reunindo todos os irmãos, os apresentarão em oblação ao Altíssimo.”

O sinal do resgate universal, levantado em meio aos povos é a Cruz. A sociedade dos remidos é a Igreja. A palavra que voa de lugar em lugar, de povo em povo, anunciadora de salvação, é o apostolado católico (...).

Nenhum obstáculo, nenhuma força conseguiu deter os ministros desta palavra (...). E vós hoje, ó queridos filhos, podeis vos gloriar de estar no número deles, dando nome à humilde Congregação, que foi aclamada há alguns dias pelo grande Arcebispo de S. Paulo de Minesota, a forma mais bela dos nossos dias, mais útil, mais fecunda do apostolado católico (...).

Oh! abençoados os passos dos Missionários que levam a boa nova aos irmãos abandonados! Quanto é preciosa a sua obra diante do céu. Quanto é bela e comovente perante a terra! Como nos atrai à vista destes catequistas que legitimamente enviados, impunham a cruz e partem a fim de plantá-la, símbolo de salvação e de civilização, em meio a nossos irmãos obrigados até agora a viver e a morrer desprovidos de todo conforto da religião (...).

Ide e não temais: sede fiéis, suplico-vos, a estes santos altares, à vossa vocação: pacientes, prudentes, modestos, repletos de caridade. A isto se orientaram as minhas pobres orações, as orações de tantas boas almas, dos vossos coirmãos, dos vossos parentes, e especialmente das vossas boas mães, que se agora choram pela vossa partida, conhecerão um dia, a glória de ter dado um Apóstolo a mãe comum, à Igreja.


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Ah! a oração, não a esqueçais nunca. É a eficácia e a fecundidade da pregação evangélica. É a parte mais viva, mais forte, mais poderosa do Apostolado como ensina Jesus Cristo, soberano modelo da vida apostólica.”

 

“Ide, pregai o evangelho a toda criatura.”

 

Desde o dia em que Jesus, voltando-se aos seus discípulos disse: ide, pregai o Evangelho a toda a criatura, o apostolado católico não deixou de existir na Igreja de Deus (...). Hoje, como ontem, como nos séculos passados, como no primeiro dia do resgate humano, soa doce e insistente aos ministros do santuário a palavra de Cristo: ide. E para onde? a todo o mundo. E para que? para difundir a verdade: ensinai a todos os povos (...).

Assim que, também em nossos dias, vemos partir de todas as praias da Europa católica, os propagadores da boa nova, os pioneiros da civilização, os mensageiros do perdão e da paz. São jovens levitas que no entusiasmo de sua fé, no ardor de sua caridade; Senhores, exclamam, estou atrasado em ir ensinar o teu nome aos meus irmãos, e arrancamse dos braços de uma terna mãe, que chora. Dão um generoso adeus aos parentes e amigos, renunciam as doçuras da pátria, a todos os encantos da fortuna, a todos os prazeres da vida, e, armados unicamente com o crucifixo, atravessam os mares impetuosos, afrontam mil perigos, expõem a própria vida terrena, contanto que levem outros à pátria celeste (...).

Oh, generosos, salve! Experimento a dor de vos ver partir, agora que aprendi a conhecer-vos, amar-vos, mas experimento também grandeza e a sublimidade do sacrifício que estais oferecendo. Deus o registra neste momento, no grande livro da vida. Ele promete estar sempre convosco: “eis que estou convosco todos os dias”. Ide, portanto, felizes e confiantes.

Guardai-vos de confiar em outros, senão n’Ele e na ajuda de sua graça. Não vos preocupeis pelo vosso futuro e por aqueles que deixais. Aquele que alimenta os pássaros do céu, que revestiu a terra de ervas a de flores, saberá também alimentar e vestir a vós e convosco os vossos caros, até o dia em que, vestirá a todos, de eterno esplendor.

Tende unicamente e sempre, em vista a glória de Deus e o bem das almas.


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Tomai-vos dignos do amor dos bons, do ódio e da perseguição dos maus. Mostrai sempre mais, que ao vosso zelo, se iguala somente o vosso desinteresse; que em Deus e só em Deus, foi colocada toda vossa esperança; que de Deus e só de Deus esperais a recompensa e que nunca abandonareis as fadigas, até que existirem infelizes a consolar, ignorantes a instruir, pobres a evangelizar almas a salvar. 36

 

“Cada envio de missionários é a continuação daquele que o

divino Mestre fez.”

 

Cada envio de missionários é uma silenciosa, mas eloqüente apologia de divindade da Igreja Católica. Não é senão a repetição, ou melhor, a continuação do que fez o divino Mestre, quando disse aos Apóstolos: Ide, ensinai todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Cada expedição de missionários confirma ainda a admirável fecundidade e indefectibilidade da Igreja.

São mais de dezenove séculos, que semelhantes expedições se sucedem, sem interrupção e tanto mais parece multiplicaremse quanto mais se multiplicam as perseguições e as apostasias. E a Igreja permanece sempre jovem e sempre bela, como no dia em que nasceu. Não e só. Cada envio de missionários nos mostra de modo comovente a infinita misericórdia de Deus e o valor infinito das almas. Deus, para nos salvar, desceu do céu à terra. Fez-se homem, sofreu a morte e morte de cruz, e eis o missionário católico, a exemplo de Jesus Cristo, abandonar o que tem de mais querido (...), expor-se a mil perigos, abraçar uma vida de privação e de sacrifícios, para salvar uma só alma. 37

 

“Quando os missionários chegarem aos índios.”

 

O cardeal Simeoni me dizia muitas vezes, que ao chegarem os missionários junto aos índios, deveriam pensar em fazer alguma coisa, também por eles.

O governador do Estado do Paraná falou-me também, garantindo-me o seu apoio. No momento, serão suficientes tres ou quatro padres. Cuidando prevalentemente das colônias italianas, estudarão a maneira de se colocarem em comunicação, com aqueles selvagens. Deus os assistindo e podendo obter a graça, mandarei as pessoas preparadas a se sacrificarem; senão, será considerado o bom desejo. Estes selvagens são os descendentes daqueles que


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Os padres Jesuítas converteram, mas depois abandonados e perseguidos a tiro de canhão, fugiram para as florestas. Conservam ainda, pelo que dizem, alguns traços de cristianismo, em suas cerimônias. Santo Padre, uma oração e uma bênção especial, para esta nova obra de caridade. 38

 

“A catequese dos índios.”

 

Gostaria que dissésseis ao venerável Bispo, a quem apresento os meus respeitos, que se a S. Sé confia à nossa Congregação a catequese dos índios do Paraná, será necessário ajudar também na parte de Guarapuava e que, quando lhe aprouver destinar aos nossos, uma residência naquela região, eu pensarei providenciar bons missionários, para este fim. 39

 

“Italianos na África.”

 

O          coronel Baratieri (que já o tristíssimo governo atual não quer saber de Missionários e de Missões) mandou-me perguntar novamente se me encarregaria de providenciar sacerdotes, para os italianos, na África.

Respondi que não podia tomar, no momento, nenhuma resolução, mas que pensaria no caso. Portanto, submeto a coisa à bem conhecida sabedoria de V. Emcia., para que decida. Não nego, Eminentíssimo, que sou favorável a atender ao pedido, já que para a África seria fácil ter meios e tudo o que fosse necessário e poder-se-ia fazer um bem imenso.

Porém, conviria, ao que me parece, que a parte italiana fosse subtraída da iurisdição do Vigário Apostólico francês e que os Missionários dependessem diretamente de V. Emcia., ou de mim, estabelecendo uma espécie de Prefeitura Apostólica. 40

 

“A vossa vocação às missões, vem de Deus.”

 

Ponderei com toda a atenção vossa carta. Parece-me não me enganar, afirmando que a vossa vocação às Missões vem de Deus.

E se assim é, Ele eliminará todos os obstáculos.

Os nossos missionários formam uma Congregação e os aspirantes


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permanecem aqui na casa-mãe, para alguns meses de noviciado, para os que já são sacerdotes, e depois, feitos os votos simples, partem para a sua destinação. O campo é vastíssimo: centenas de milhares de nossos pobres irmãos vivem e morrem, como animais, por falta de assistência religiosa. Feliz de quem é chamado em sua ajuda e a isto se dedica inteiramente! 41

 

“Deus vos chama à alta honra do apostolado.”

 

Eu vos espero sempre e creio que não deveis mais resistir à voz de Deus, que vos chama à alta honra do apostolado. Vô-lo repito: a graça do Espírito Santo desconhece tardos esforços. Portanto, vamos, com santa coragem. Abri vosso espírito ao vosso venerando tio e vinde sem demora.

Recolhido aqui na casa-mãe, vos preparareis para os santos Votos e depois, como um gigante, percorrendo seu caminho, ireis, para onde Deus vos destinar. 42

 

“Uma casa de Missionários ambulantes seria a coisa mais útil do mundo.”

 

A idéia de D. Satolli é nossa antiga idéia. Quando fosse possível do ponto de vista econômico, uma casa de Missionários ambulantes seria a coisa mais bela e útil do mundo. É preciso pensar no assunto. Não seria conveniente expor o caso ao Arcebispo? 43

 

“É meu antigo desejo.”

 

Pe. Vicentini me escreveu que seria desejo de V. Excia. que se fundasse uma casa para missionários ambulantes, que não tivessem outro compromisso que o de ir por todos os lugares, onde existem colônias de italianos. Este é um meu antigo desejo, um desejo que foi-me expresso também pelo S. Padre, e de boa vontade realizá-lo-ei, assim que tiver os meios.

Se V. Excia., com a alta influência que merecidamente conquistou, pudesse vir-me em auxilio, a implantação da referida casa, em lugar central, poderia ser uma verdadeira bênção. 44




34. Discurso aos Missionários que partiam, 12-7-1888 (AGS 3018/2).

35.          Jd., 24-1-1889. O Arcebispo de S. Paulo, Minesota era D. J. Ireland.



36.           Id., 10-12-1890.



37.           Id, 9-9-1891.



38.           Carta a Pio X, agosto de 1904 (AOS 3019/3). O “governador do estado” do Paraná, no Brasil.



39.           Carta a Pe. M. Simoni, 31-3-1905 (AOS 3023/2). Pe. Marcos Simoni e outros scalabrinianos cuidaram da paróquia de Tibagi, PR, onde viviam algumas tribos de índios, de 1904 a 1911.



40.           Carta ao Card. G. Simeoni, 4-10-1890 (AGS 4/1). Cf. Biografia, pp. 1032-1033.



41. Carta a Pe. M. Rinaldi, 21-4-1900 (AOS 3023/2). Pe. Máximo Rinaldi, Missionário no Brasil de 1900 a 1910, foi depois procurador geral dos scalabrinianos até 1924 e depois bispo de Rieti. Morreu em conceito de santidade em 1941.



42. Id., 29~8~1900. Rinaldi era secretário do tio, Bispo de Montefiascone.



43. Carta a Pe. D. Vicentini, 9-9-1893 (AOS 3023/2). D. Francisco Satolli, depois Cardeal, foi o primeiro Delegado Apostólico nos Estados Unidos.



44.           Carta a D. F. Satolli, 14-9-1893 (ASV, Deleg. Apost. EUA, 1. Várias, Documentos, 2-159-4-1).






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