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Congregações Scalabrinianas dos Missionários e Missionárias de São Carlos Scalabrini Uma voz atual IntraText CT - Texto |
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d) VIDA RELIGIOSA
“Obrigam-se a viver como verdadeiros religiosos.”
Antes de partir para as missões, tanto os missionários, quanto os leigos fazem os seguintes votos: De permanecer na Congregação por cinco anos consecutivos, qualquer que seja a destinação ou a função que lhe for confiada pelos superiores (...). Voto de castidade para os leigos, de obediência, conforme o direito dos religiosos, ao respectivo Superior e aos Superiores da Congregação. De pobreza, pelo qual nada poderão possuir ou adquirir ou aceitar, como próprio (salvo aquilo que possuísse, ou pudesse possuir na pátria). Por este voto de pobreza, os missionários e os leigos se obrigam a não considerar nenhuma quantia como própria, ou qualquer objeto, ou bens móveis e imóveis, que pudessem receber durante o ministério, seja a título de ordenado, seja como gratificação ou também como simples presente pessoal, ou por qualquer serviço prestado, mas tudo será entregue à Congregação. Igualmente, por este voto de pobreza, os Missionários e os coadjutores se obrigam a estar satisfeitos com o estritamente necessário, ao alimento e à veste, conforme o que disse São Paulo. Por isso quando eles, seja em viagem, seja nas missões, precisassem de qualquer coisa, obrigam-se a fazer as provisões nos limites da modéstia e parcimonia cristã, evitando o luxo e o supérfluo, e cooperando com a economia a bem da Congregação (...). Todas as provisões de qualquer espécie, serão entregues ao respectivo Superior. Todos os que são admitidos a fazer parte do Instituto devem estar bem compenetrados da idéia de que, por cinco anos, se obrigam a viverem como verdadeiros religiosos, animados de zelo pela salvação das almas, de espírito de sacrifício e de desprendimento dos bens e da glória mundana e penetrados de sentimentos de vivo amor e de obediência ilimitada ao Romano Pontífice, aos Superiores do Instituto e aos ordinários dos lugares, onde exercerão o seu sagrado ministério. 45 “Acreditei ser necessário introduzir os votos perpétuos.”
Esteve aqui para dar os exercícios espirituais aos jovens aspirantes, às Missões da América, o bom Pe. Rondina, jesuíta, fazendo grande bem. Consultei-o sobre a reforma do Regulamento e creio necessário introduzir os votos simples, mas perpétuos. Esta, e outras importantes modificações, que eu quanto antes submeterei nas devidas formas, a vossa Eminência, por meio do mesmo bom religioso. Para minha grande consolação, já foram aceitas pelos jovens, sem dificuldade. Portanto é de máxima importância que sejam convocados aqueles que já partiram, sem terem feito os votos e que sejam substituídos por outros, que por terem feito o noviciado regular, como ficou estabelecido agora, oferecem maior garantia moral de bom êxito. 46
“Total confiança no futuro.”
Esteve aqui, para dar os Exercícios Espirituais, o Pe. Rondina, conhecido jesuíta e um dos escritores da “Civilização Católica”. Ele ficou muito contente e de acordo etc. Quis introduzir os votos simples perpétuos e um noviciado regular. Os nossos jovens, quase todos aderiram com entusiasmo. No dia 15 de outubro começarão uma espécie de noviciado e no dia da Imaculada farão votos perpétuos. Encontrei-os todos felizes pelo fato. Os novos que entrarem começarão um verdadeiro noviciado de um ano. a primeira vez que experimento profunda consolação e inteira confiança no futuro. Apenas impresso o Regulamento, assim definido e aprovado pela S. Sé, será comunicado aos antigos Missionários e assim quem desejar entrar, se for aceito, terá seus vínculos perpétuos. Quem não tem vocação sairá imediatamente e será substituído por estes que o Pe. Rondina julga ótimos elementos e santos jovens. Por enquanto, interessa conservar do melhor modo os lugares que temos e quando Deus quiser, serão ocupados por elementos melhores e melhor formados. Que Deus nos ajude. 47
“Vou receber os votos perpétuos dos missionários.”
8 de dezembro de 1894 — 7 horas da manhã. Vou receber os votos perpétuos dos Missionários. Compreendo que devem ser considerados, como aqueles que fazem os capuchinhos nos primeiros quatro anos, isto é, que os indivíduos têm obrigações, para com a Congregação, mas a Congregação pode dispensá-los e com isto se anulam os votos, sem necessidade de dispensa. Para os indivíduos deve ser suficiente uma causa grave, julgada como tal pelos Superiores, para obter a dispensa dos Santos votos. Também se não se encontrasse bem espiritualmente, grave necessidade dos pais, pouca saúde etc. Ó Maria Virgem Imaculada, abençoa-nos todos. 48
“A consagração que Deus, pelas mãos de Maria, se digna hoje conceder-vos.”
Vossa presença, queridos filhos, me replena o espírito de uma suavíssima emoção. Quão feliz é uma alma que tem a graça que Deus vos concede. Hoje, com a profissão dos votos, vós alegrais a Igreja, os coros dos anjos, dos Santos, dos mártires, dos confessores, dos Apóstolos, de Maria Imaculada, de Jesus Cristo, do Eterno Pai. Um dia, o grande Papa S. Clemente recebia os votos de consagração de algumas almas fervorosas. No momento da sagrada função o S. Pontífice foi arrebatado em doce êxtase (...). Voltando a si: oh, meus filhos, exclamou, alegro-me de coração convosco, exultai, chorai de consolação; bendizei a Deus que vos chamou a tanta glória. Eu vi vossa consagração subir ao céu como uma onda luminosa, que avivou de nova alegria inefável a corte celeste; vi a Mãe de Deus, a Imaculada, apresentar os vossos votos ao trono de Jesus redentor, vi descer sobre vossas almas uma chuva de misericórdia, de perdão, de graças. Bendizei, exultai, chorai de consolação, renovai todas as promessas feitas a Deus e prostrados pedi à Maria Santíssima e aos santos que Invocaremos, que intercedam por vós. Quando eu, em nome de Jesus Cristo e da Igreja, impuser sobre vós as mãos e proferir as palavras sacros santas: Dignai-vos, é grande Deus, abençoar, santificar e consagrar estas almas escolhidas, vós pedireis fervorosamente, para que se cumpram em vós os desígnios de Deus, para que vos faça antes morrer que perder a bênção, a santificação, a consagração, que Deus, pelas mãos de Maria Imaculada, se digna conceder-vos, hoje. 49 “Sede fiéis aos vossos votos.”
Como representante, embora indigno, de Jesus Cristo e sucessor dos Apóstolos, recebo estes votos que pronunciastes, estas vossas generosas promessas, estes nobilíssimos vossos sentimentos. Recebo-os com a mais viva exultação do meu espírito, e pelas mãos da Virgem Imaculada, eu os deponho sobre este sagrado altar, para sua gloriosa Mãe, neste dia feliz para vós e para ela. Peço-lhe que deponha no coração de Jesus, para que Ele, fonte de toda bênção, os confirme e vos consolide neles. Vós, ó caros filhos, tenho plena confiança, sereis constantemente fiéis, com a ajuda de Deus e com as bênçãos de sua Mãe Imaculada, à qual quisestes, para minha inefável consolação, consagrar com divina inspiração este primeiro ato solene de vossa carreira, as primícias do vosso apostolado. Sim, sereis fiéis aos vossos votos, constantemente, fiéis em meio às fadigas, fiéis em meio às tribulações, fiéis nas viagens, fiéis em meio às angústias da vossa sublime missão, fiéis até o derramamento de sangue, fiéis até a morte. É assim que vós, ó caros filhos, buscareis a glória de Deus, a salvação das almas, a vossa santificação, a alegria da Igreja triunfante, a glória da Igreja militante. É assim que para a Igreja, nossa terna mãe, tão perseguida em nossos dias, sereis uma apologia viva, mostrando a santidade com os fatos, a divindade do magistério. Para este fim conservai, com carinho, a cruz que vos entreguei (...). Não esqueçais, nunca a divina sentença: Vigiai sempre; Deus vos conceda isto, ó filhos queridos. Uni-vos todos a mim durante o sacrifício incruento e suplicai ao Eterno a fim de que possais sair daqui, transformados, como um dia saíram os Santos Apóstolos do Cenáculo, a fim de que vos conserve sempre sob sua santa custódia. 50
“Vida do Missionário na Missão.”
O missionário, como operário evangélico, deve recordar-se de que é obrigado a difundir com a sua vida, o bom odor de Jesus Cristo, pregar o Evangelho mais com o exemplo que com a palavra. Portanto, terá cuidado de observar a própria regra sempre e em todos os lugares. Praticar especialmente a temperança, a mansidão, a humildade, a castidade, a modéstia, a caridade, e demonstrar o máximo desinteresse, O mesmo diga-se dos Irmãos catequistas. Colocarão, como fundamento das próprias ações, a grande máxima: nunca se aplicarem demasiadamente ao exercício do Apostólico Ministério a ponto de transcurar a vida interior, e de não se abandonarem tanto às doçuras da vida interior a ponto de descuidar do exercício do Apostólico Ministério. Recordem-se sempre: o missionário que transcurar a meditação e a oração, dificilmente poderá conservar-se na graça de Deus (...). Os missionários terão cuidado de conservar sempre e em todos os lugares a união estreita com os companheiros de Congregação, tratando-se reciprocamente, com espírito aberto e afeto sincero. 51
“Embora poucos, vós podeis muito, quando sois animados do espírito dos Apóstolos.”
Graças a Deus, a nossa humilde congregação pode se consolidar de maneira a ganhar o amor dos bons e a simpatia dos honestos de cada partido. O vosso zelo, ó meus queridos e veneráveis irmãos, tendo presente as imensas dificuldades que encontrastes no início, verdadeiramente fez prodígios. Vós, é-me doce dizê-lo, tendes bem merecido pela religião e pela pátria e Deus saberá recompensar-vos de maneira digna d’Ele. Mas não é suficiente ter iniciado bem; é necessário perseverar até o fim. Muito niais é o que está por fazer, ó meus queridos. Sois ainda poucos, para as necessidades, eu o sei, mas embora poucos, podeis muito, quando sois todos animados pelo espírito, com que eram animados os Apóstolos; quando sois todos bem compenetrados da importância e sublimidade da vossa vocação. É grande, inefavelmente grande, ó meus queridos, a honra que vos fez Jesus Cristo chamando-vos a participar de sua obra redentora, incluindo-vos entre os seus apóstolos. É a vós, particularmente, que Ele repete também hoje aquelas confortadoras palavras: Eu vos escolhi e vos constitui, para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça. Notai, ó caríssimos; não disse “fostes chamados”, mas “eu mesmo vos chamei”, eu que sou o Filho do Deus vivo, eu Rei imortal dos séculos, eu que fundei a Igreja e a guio vitoriosa, através das batalhas e das tormentas do mundo. Eu vos escolhi e vos constituí. Que predileção! 52
“União com Jesus Cristo.”
Ao seu chamado, ó queridos, tendes respondido. Tendes feito muito bem, mas não basta, repito: é necessário que este bem seja duradouro, produzais frutos e que vossos frutos permaneçam. O que se requer para que o sarmento produza fruto? Que permaneça unido à videira. Ora, a videira é Jesus e os sarmentos, óqueridos, sois vós. Eu sou a videira, vós os sarmentos. Ele mesmo o disse. Portanto, enquanto permanecerdes n’Ele, vos sentireis repletos de energia sobre-humana e o fruto que trareis será abundante e duradouro. Tudo vos será fácil, também diante das mais graves contradições. Ao contrário, separados d’Ele, vos tomareis como corpo sem alma, estéreis de toda boa obra. Sereis como ramos, aptos só para serem jogados ao fogo. Sem mim nada podeis fazer. Portanto, união ó queridos irmãos e filhos, união com Jesus Cristo antes de tudo. E esta união vós a conseguireis, alimentando em vós a fé, com exercícios contínuos de piedade e conservando viva em vosso coração a graça. 53
“União entre vós mesmos.”
Fruto de tal união será a união entre vós mesmos, aquela união que Jesus Cristo invocava tão ardentemente para os seus discípulos e que é tão necessária. Nenhuma classe de homens, por quanto rico de forças individuais, se não se submeter à grande lei da unidade, poderá fazer grandes coisas e muito menos o poderão os missionários que, atuando sobre as almas, como simples instrumentos de Jesus Cristo, haurem deste soberano princípio que os informa, toda a sua eficácia. Por isso vos peço, ó meus queridos, vos suplico pelo amor de Jesus Cristo e pelo bem de nossos irmãos, não desagregueis as vossas forças, usando-as cada um por própria conta, e sem outro guia que a própria vontade, mas sejam unidos como uma só coisa: que sejam um. Unidos de pensamento, de afetos, de aspirações, como sois unidos para um mesmo fim. Rogo-vos irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo sejam unânimes no falar e não haja entre vós separação: sede perfeitos em todo sentido e em toda sentença. E como podereis conseguir isto? Com toda humildade e mansidão e com paciência suportando-vos, uns aos outros. O segredo é do Apóstolo: com toda humildade e mansidão e com paciência, suportando-vos uns aos outros na caridade. Portanto longe dos missionários os vãos ciúmes, as palavras injuriosas, as contendas e as competições! Cada um seja calmo e tolerante no cumprimento dos próprios deveres, cada um se compadeça dos defeitos do outro, cada um procure conservar a unidade do espírito, no vínculo da paz. 54
“Paz em casa e fora dela, paz com todos.”
Paz, ó meus queridos, não somente entre vós, mas também com os irmãos de ministério. Pelas condições de apostolado deveis estar freqüentemente, em contato com os sacerdotes e missionários de nacionalidades diferentes; deveis aproveitar de suas experiências. Usai para com eles a máxima deferência, amai-os de coração, respeitai-os sempre. Paz em casa e fora de casa, paz com todos. Mas não é possível ter paz, sem a ordem, sem regra. E vós, meus irmãos e filhos, tendes as vossas regras, aprovadas pela Santa Sé Apostólica. Sede exatos até o escrúpulo, na observância das mesmas. Não basta. Só existirá paz entre os homens, escreve santo Agostinho, quando todos e cada um se ativerem, fielmente ao lugar designado para ele, pela benevolência divina. Existe a paz, quando todos estão no seu lugar. Portanto, quem dentre vós é destinado a mandar, cumpra com firmeza e ao mesmo tempo com modéstia a própria incumbência; quem deve obedecer, obedeça como disse S. Bernardo, simples e prontamente, com alegria, sempre. A obediência aos legítimos superiores seja o vosso distintivo. 55
“São Carlos, exemplo maravilhoso.”
Honrar-vos-ei de chamar-vos de agora em diante, os missionários de São Carlos. São Carlos! Ele era, como disseram muito bem, um daqueles homens de ação que não hesita, não se divide, não volta atrás. Que, em cada ato atira-se com toda a força da própria convicção, com toda a energia da própria vontade, com a totalidade do seu carater com todo o seu ser, e triunfam. São Carlos! Exemplo maravilhoso de impávida constância, de generosa paciência, de ardente caridade, de zelo iluminado, incansável, magnânimo, de todas as virtudes que fazem de um homem, um verdadeiro Apóstolo de Jesus Cristo. Ele tem sede de almas. Não deseja senão almas, não pede senão almas, não quer senão almas: dá-me almas, continua dizer, tira-me o restante, e precisamente para ganhar almas, para Jesus Cristo, meu Deus! o que não fez, o que não suportou, o que não disse? São Carlos! Este é um nome que o Missionário não deveria escutar, sem se sentir inflamado, pelo mais nobre, pelo mais vivo entusiasmo sem se sentir, profundamente comovido (...). Queridos, espelhai-vos nele, recomendai-vos a ele, colocai nele toda a vossa confiança e tereis a certeza de sua proteção. 56
“Ajudai-vos a crescer no conhecimento e no amor de Jesus Cristo.”
Alegro-me convosco e com Pe. Vitório, pelo bem que fazeis. Continua vivamente a obra de Deus. Ajudai-vos a crescer, no conhecimento e no amor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sede Santos e tudo reflorescerá em vossas mãos. É o voto, a oração que faço por vós e por todos.57
“Ocupar-se seriamente, mas sem agitação, na paz de Deus.”
Tu me perguntas quais são os teus deveres? Eu te digo: faze tudo aquilo que podes para os nossos órfãos, age sempre de pleno acordo, com o provincial, procura conservar a concórdia e a paz entre os coirmãos e terás cumprido o teu dever. Medita freqüentemente as sábias palavras de Kempis. Se decidires, como homem forte, permanecer na batalha, verás logo sobre ti, do céu, a ajuda de Deus. Certo que, jovem como és, não faltarão cruzes, contradições e é bom que seja assim, porque elas favorecem a humildade e nos defendem da vanglória. O campo em que deves trabalhar é belo e fecundo e terás o prêmio d’Aquele que disse: deixai os pequenos virem a mim”. Ocupar-se seriamente, mas sem agitação, na paz de Deus, tudo esperando d’Ele, eis o segredo para conseguir a vitória, nas graves dificuldades. 58
“Seja tudo conforme as nossas Regras.”
Recomendo-te introduzir as práticas de piedade, quanto for possível, em comum; a meditação, a leitura espiritual, a visita ao SS. Sacramento, o santo rosário. Começa aí em Boston, se não existe a prática. Chegando os novos, que tudo seja conforme as nossas Regras. É um ponto essencialíssimo. Os nossos que partiram, para o Brasil, escrevem cartas consoladoras, de verdadeiros missionários, cheios de fervor, de afeto pela Congregação, de desejo de se santificarem, na exata observância das regras e no constante exercício do sagrado Ministério. São cartas, que fazem bem ao coração e que mando ler em comunidade para a edificação comum. Que Deus abençoe aqueles bons filhos, que se esforçam por todos os modos, para me compensar as amarguras que outros me fazem experimentar. Rezemos e peçamos que rezem muito, para que se cumpra em nós e nos nossos, os adoráveis desígnios de Deus. 59
“Reavivar o espírito de piedade, de concórdia, de obediência”
Agora quero recomendar-te com todas as forças as práticas de piedade e especialmente a meditação em comum, segundo a Regra. É necessário insistir, oportuna e inoportunamente, fazer uso da ordem, se não for suficiente a exortação, mas fazer observar absolutamente, quanto é prescrito a respeito. A meditação e os Exercícios espirituais são essenciais para a vida sacerdotal e é necessário desejá-los a qualquer custo. Tornar-te-ás altamente benemérito da nossa obra, se com a ajuda de Deus, tiveres êxito neste santíssimo fim. Vejo com grande consolação que Deus abençoa a tua missão e tua ação calma, decidida e prudente e alimento confiança de que saberás conduzir as coisas de maneira a reavivar nos nossos, o espírito de piedade, de concórdia, de obediência. 60
“Estabeleça-se a observância.”
Coloquem-se em prática, as regras e sobretudo as que tratam das práticas de piedade em comum, e em de maneira absoluta, a meditação (...). Quero chamar tua especial atenção sobre este gravíssimo assunto (...). Aconselha, vigia, exorta, e se for necessário, ordena. É coisa tão necessária, que qualquer sacrifício para obtê-la, seria pouco. Como já te disse, o Senhor abençoa a tua obra e vê-se mais uma vez que o homem obediente canta vitória. Mas a maior vitória, a meu ver, será a observância introduzida nas duas casas elencadas, para depois introduzi-las nas outras, onde estão ao menos dois padres. Portanto estamos entendidos. Trabalha como bom soldado de Cristo e Deus te recompensará. 61 “Colocar juntos os que têm os votos perpétuos.”
O ano que está por terminar foi para mim repleto de cruzes, mas talvez, o mais fecundo, graças a Deus, de obras santas. É mesmo verdade, que na Cruz está o vigor, na Cruz está a força, com tudo o que vem depois (...). Como vão as coisas por aí? Como vai a tua saúde? Como distribuíste os padres? Quem fica? Quem volta? Quanto à distribuição, recomendo-te ardentemente uma coisa: cuida de colocar juntos aqueles que têm os votos perpétuos. Eles assim poderão observar melhor as regras e estar mais à vontade (...). Agora existem também as contas que cada casa deve enviar-te e tu me as enviarás. E importante que a administração seja revista e que se possa saber como se gasta, com que critérios se fazem as despesas. Aqui estamos na miséria, eu, mais que nossa casa. Portanto, é preciso ter presente as necessidades da casa-mãe e mandar quanto se pode. 62
“Difícil conservar por muito tempo o espírito da própria vocação, vivendo isolados.”
Através do bom sacerdote Marchetti, recebi sua nobilíssima do dia 11 de novembro e nem sei dizer-lhe quanto prazer me trouxe. Para mim é uma verdadeira consolação, toda vez que me é dado encontrar homens de espírito e de coração, sem interesse e com todas as suas forças voltadas para aliviar as misérias alheias. Portanto, agradeço-lhe ilustre senhor Cônsul, por suas ótimas disposições, em favor dos nossos pobres migrantes. De minha parte, considerar-me-ei muito feliz, em poder satisfazer os desejos que o senhor me manifestou. Para mim, a maior dificuldade será a de ter que deixar os missionários separados uns dos outros. O senhor é homem experiente e sabe quanto é difícil conservar por muito tempo o espírito da própria vocação, vivendo isolado, em meio aos elementos heterogêneos, com os quais é preciso combater freqüentemente; com o passar do tempo, o espírito se debilita e tem necessidade de ser confortado e revigorar-se de vez em quando, pela palavra e pelo exemplo dos companheiros, no espírito da própria regra. Portanto, seria conveniente que os missionários estivessem ao menos em dois e que pudessem levar vida comum. No início bastaria que tivessem uma igrejinha, ou também um oratório e uma casa próxima. Um dos dois poderia ir aos barracões dos migrantes, voltando depois, sempre para casa. 63
“Estejam ao menos dois juntos.”
A um aceno do Sr. Arcebispo e teu, enviarei logo a Boston dois misionários e um catequista. E necessário insistir, para que estejam em dois. A S. Congregação de Propaganda aprova com insólita presteza, nosso regulamento, e quer que em cada casa estejam, ao menos, dois padres. Creio que não haverá oposição (...). Parece-me ser uma regra muito sábia: um padre isolado, em meio a um clero que, ao menos no início, não lhe pode ser amigo, que quer que faça? Perderia a coragem. Portanto, estejam ao menos dois juntos, indo aos domingos, onde houver necessidade. 64
“Conservem forte o espírito da própria vocação.”
Tendes já convosco, ou logo recebereis os dois novos padres que eu vos recomendo muito, muito. Querei bem a eles como pai e filhos, exortai-os, corriji-os e fazei com que mantenham o espírito da própria vocação. Para tal fim vos recomendo observar exatamente as Regras e sobretudo as práticas de piedade, a meditação absolutamente, em comum. E necessário dar às vossas residências aspecto de casa religiosa, senão, não podereis nunca fazer o bem que vós desejais e todos desejamos. São bons jovens e serão como vós os desejais. Começai imediatamente;cada coisa segundo seu lugar. É um dever de consciência e para cumpri-lo é necessário impor-se toda espécie de sacrifício.65
“Confiar em Deus, com toda simplicidade.”
O Instituto subsistirá, não subsistirá? Existirá até que a Deus aprouver. Quem tem verdadeira vocação, caro Monsenhor, entra nele, sem se preocupar com o futuro, sabendo que ele está nas mãos de Deus. Confiar nele com toda simplicidade vale bem mais que a busca de qualquer garantia moral, econômica e condições estáveis acerca do mesmo Instituto. 66
“Formamos uma pequena e humilde Congregação, mas uma Congregação.”
Eu me alegro convosco e com os vossos colegas, pelo bem que fazeis: é certo que devemos contentar-nos do bem, com os inevitáveis defeitos de nossas misérias, mas não podemos desconhecer que fazemos o bem e muito. Portanto rendamos infinitas graças ao Senhor. Repito-vos estas coisas, para que vos sirvam de conforto, nas vossas dificuldades e vos façam procurar o bem, com entusiasmo, com perfeição, sempre crescente. Um santo fundador de ordem religiosa dizia que a Providência lhe tinha mandado, no início, alguns homens de grande coração, mas que algumas vezes, abraçando empreendimentos superiores às suas possibilidades, e mal vistos pelos outros co-irmãos mais prudentes, parecia que andassem em frente, às cegas, porém, no final, teve que confessar publicamente, que sem aqueles homens, sua obra estaria, morta ou quase morta. Roguemos ao Senhor, caro Pe. Domingos, que na sua santa bondade queira fazer o mesmo para nós, e o fará se nos tomarmos sempre mais dignos de suas bênçãos. Nós formamos uma pequena e humilde congregação, mas uma congregação. Portanto é justo que aquele pouco que o Senhor nos manda, sirva para ela. Por isso, quando o Pe. Morelli tiver necessidade e vós podeis ajudá-lo, ajudai-o também em nome do Senhor. (...). Quando vos for possível, recordai-vos da casa-mãe, que vos recomendo calorosamente, porque está sempre pobre e necessitada. Atualmente tenho em vista comprar uma nova casa com a Igreja e serão necessárias, ao menos, cem mil liras. E de onde tirá-las? Deus m’as proverá, sem dúvida. 67
“O cerne e a vida de cada comunidade.”
Devemos juntos agradecer ao Senhor pelo grande bem que a nossa Congregação, não obstante as imensas dificuldades e os muitos defeitos, pôde realizar, até aqui. Todavia, desejoso de que ela prospere sempre mais, para maior glória de Deus e bem das almas, como já vos disse oralmente, tendo presente os votos que me expressaram vários dos nossos missionários e as necessidades da mesma Congregação, após invocar o auxilio do celeste Patrono, São Carlos, ordenei e ordeno quanto segue:
1. Cada dia seja feita por todos, em comum, meditação e leitura espiritual e se recitará o santo Rosário. 2. Todo ano, ou cada dois anos (conforme o uso nas diferentes dioceses), serão feitos os Exercícios Espirituais, em união com o clero da diocese onde residem. 3. Cada ano seja enviado ao provincial, o atestado para confissões. 4. Cada ano os superiores das Casas, após comunicado do Provincial reunam-se em uma das nossas casas, designada pelo mesmo Provincial, para estudar e sugerir os meios mais aptos para obter uma progressiva melhora das missões (...). 5. A administração das casas seja feita com escrupuloso cuidado. Registre-se, diariamente, as entradas e saídas, de maneira clara e particularizada, e cada mês faça-se o balanço. 6. Cada mês os administradores das casas, feito o balanço das despesas para a manutenção das casas, e uma soma conveniente para as despesas imprevistas, enviarão o “Superavit” ao Provincial, o qual o enviará ao Superior da Casa-mãe. Ninguém se subtraia a este grave dever, por mais insignificante que sejam, às vezes, as economias (...). As presentes ordenações, padre caríssimo, vós as divulgareis a todos os missionários da nossa Congregação, assim que chegar na América, e, quanto a vós, cuidareis com todo zelo e urgência da exata observância (...). Vós bem sabeis que o cerne e a vida de cada comunidade é a concórdia e a disciplina. E estas duas coisas recomendareis aos Vossos co-irmãos, de modo especial. Sem elas, ainda que fossem um exército, bem pouco conseguiriam. Com elas, embora poucos, farão prodígios. Promovei e cultivai sempre mais em cada casa, o espírito de piedade e de oração fundamento e sustentáculo de tudo. 68 “Tudo isto é necessário para o bom andamento da Congregação.”
1. O superior provincial, ao menos cada seis meses e os superiores das várias casas, ao menos uma vez por ano, entrarão em comunicação direta com o superior geral, residente na Itália, para uma particularizada prestação de contas das obras promovidas, ou estabelecidas em cada Missão da América, bem como os frutos produzidos e os que se esperam, como também das condições econômicas das mesmas missões. 2. O superior Provincial, como sabeis, tem a alta direção de todas as casas, e autoridade sobre todos os missionários residentes na sua região, e vigiará sobre a exata observância das regras e comunicará e fará cumprir as ordens vindas do Superior Geral. 3. Visitará, periodicamente, cada casa da província, tomará as disposições que forem reclamadas pelas necessidades urgentes, e exigirá fiel prestação de contas das entradas e das despesas de cada casa. 4. No governo da província, ele será assistido por dois consultores (...); ouvirá o seu parecer sobre o bom andamento das missões e a transferência dos missionários, como também (o que nunca deveria acontecer) sobre a aplicação de penas canônicas, como seriam: os exercícios espirituais, a suspensão da faculdade de ouvir confissões, e assim por diante. 5. O mesmo reunirá uma vez por ano os superiores das casas, com a finalidade de avaliarem juntos, as várias necessidades das colónias e combinarem entre si, para que haja uniformidade na ação. Os que, por qualquer razão, não pudessem participar a esta reunião, mandarão suas propostas por escrito. 6. Os superiores das casas, além de vigiar para que tudo seja feito segundo a ordem, procurarão cultivar e aumentar nos seus dependentes, o espírito de Nosso Senhor Jesus Cristo, espírito de humildade e de sacrifício, de mansidão e de caridade. 69
“O superior de cada casa é um verdadeiro superior eletivo.”
Com grande desgosto, soube coisa que me parece inacreditável, ou seja, que alguns dos nossos missionários sacerdotes consideram o superior de cada casa, como superior de título e de honra, não como superior efetivo. Para estirpar este erro, que leva à desordem e à destruição da nossa pequena e humilde Congregação, declaro fortemente que o superior de cada casa é verdadeiro, efetivo superior de todos os missionários, sacerdotes e ir mãos que se encontram na mesma casa e que por conseguinte lhe devem submissão e obediência, em toda e qualquer coisa que ele haja por bem prescrever e ordenar, tanto para a família, como para cada indivíduo e que faltando a esta obediência deverão prestar sérias contas a Deus e a mim, seja pela má ação em si mesma, como pelo escândalo dado. Espero que não haverá mais ninguém que ouse levar adiante esta falsa teoria. 70
“Prudência e fortaleza, eis o que forma um bom governo.”
O governo dos homens é difícil e a cruz do mando é pesada. Foi o que pensei ao receber as tuas últimas cartas. Mas étambém verdade que tudo posso n’Aquele que me conforta e isto se verifica sempre que nos tornamos dignos: o Senhor me assiste e me conforta. Coragem, então, calma e confiança em Deus (...). Fizeste muito bem em responder a Vicentini o que respondeste. Teria sido uma dispensa nula, se ele tivesse tido um pouco de força no início, as coisas não teriam chegado a este ponto. Mas o medo do pior, o fez fechar uni e talvez os dois olhos, sem pensar no “é necessário”. Quem é superior deve ser forte, quando o dever o requer, e não se deixar amedrontar pelo que possa acontecer. Prudência e fortaleza, eis o que faz um bom governo; eis o que imploro de Deus para ti, cada dia. 71
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45. Regulamento da Congregação dos Missionários para os migrantes, 1888 (AGS 127/2). 46. Carta ao Card. M. Ledóchowski, 26-9-1894 (AGS 7/2). 47. Carta a Pe. D. Vicentini, setembro de 1894 (AGS 3023/2). 48. Folha do diário autógrafo (AOS 3027/2). 49. Apontamentos para a primeira profissão dos votos perpétuos, 6-12-1894 (AGS 7/2). 50. Apontamentos do discurso da profissão dos padres Sovilla e Bertorelli, 8-12-1891 (AGS 3018/2). 51. Regra da Congregação dos Missionários de São Carlos para os italianos, Placência, 1895 pp. 73-74 52. Aos missionários para os italianos nas Américas, Placência, 1892, pp. 3-4. 53. Id., pp. 4-5. 54. Id., pp. 5-6. 55. Id., pp. 6-7. 56. Id., pp. 13-14. 57. Carta a Pe. O. Alussi, 26-8-1893 (AGS 3023/2). 58. Carta ao Pe. C. Pedrazzani, 16-5-1905 (AGS 357/2). 59. Carta a Pe. F. Zaboglio, 3 1-8-1895 (Arquivo do Seminário de Como). 60. Id., 21-9-1895. 61. Id., 23-9-1895. 62. Id., 11-12-1896. 63. Carta a Gherardo Pio de Savóia, 26-12-18 94 (AGS 7/2). O conde Gherardo Pio de Savóia foi cônsul da Itália no Rio de Janeiro e em São Paulo. 64. Carta a Pe. F. Zaboglio, 17-10-1888 (Arquivo do Seminário Como). 65. Carta a um missionário, sem data (AGS 3023/2). 66. Carta ao can. A. Valdameri, julho de 1891 (AOS 3022/32). 67. Carta a Pe. D. Vicentini, 5-3-1892 (AGS 3023/2). A “nova casa com a Igreja” é o Instituto Cristóvão Colombo com a anexa Igreja de S. Carlos, casa-mãe dos scalabrinianos, comprada em 1892. 68. Carta a Pe. P. Novati, 2-4-1905 (AGS 3023/2). Pe. Paulo Novati foi superior provincial nos Estados Unidos de 1901 a 1905. 69. Aos missionários para os italianos nas Américas. Placência, 1892, pp. 9-10. 70. Circular aos superiores locais, 15-2-1893 (AGS 7/1). 71. Carta a Pe. F. Zaboglio, 29-11-1895 (Arquivo do Seminário do Como) |
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