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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • PRIMEIRA PARTE       HOMEM DE DEUS E PARA DEUS
    • 1. CRISTO ALFA E ÔMEGA
      • b) DEUS CONOSCO — CRISTO NA EUCARÍSTIA
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b) DEUS CONOSCO CRISTO NA EUCARÍSTIA

 

“Aquele que crê na Eucaristia, crê em todas as verdades cristãs”

 

Aquele que crê na Eucaristia, acredita, pode-se dizer, em todas as verdades cristãs. Crê na inefável Trindade das Pessoas, na absoluta unidade do Ser divino; crê na Encarnação do Verbo, na sua imolação por nós, na gloriosa ressurreição e ascensão ao céu; crê na maternidade divina da Virgem, e no envio do Espírito Santo, sobre os Apóstolos reunidos com Maria; crê na instituição divina da Igreja, na sua infalibilidade e na necessidade de sermos membros vivos, para conseguir a vida eterna (. . .). Ela é obra-prima da mente e do coração de Deus, o centro da nossa religião, o ponto de contato onde o finito e o infinito, a natureza e a graça se unem, no inefável amplexo da verdade e do amor, por essência (...)

Aos pés dos nossos altares encontra-se o Gólgota, onde choramos abraçados à cruz, e o Tabor, onde construímos tabernáculos, para inebriarmo-nos na paz celeste; (...) onde acontece a agonia do Getsêmani e a manhã da ressurreição, a morte mística e a fonte da vida. 16

 

 “A mais perfeita solução do problema do Emanuel.”

 

Preconizada nas palavras: isto é o meu corpo, isto é o meu sangue, temos a mais perfeita solução do problema do Emanuel, do Deus conosco, solução que por muito tempo manteve suspenso o coração da humanidade que, sendo de origem divina, procura sempre comunicar-se pessoalmente com seu princípio e fim último. Através daquelas palavras, de fato, não só de Belém, Nazaré, Cafarnaum, Tiberíades, Jerusalém, enfim a Palestina, mas toda a terra passou a ser habitação do Homem-Deus. Agora Ele habita tanto nas basílicas das grandes cidades, como na rústica igreja que lhe oferece o pobre camponês, ou na tenda de folhas de árvore, onde o selvagem o adora; agora tornou-se acessível a todos: aos gregos, como aos bárbaros, ao povo de Israel, como aos filhos do deserto. 17


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“A eucaristia é o centro da Igreja.”

 

A eucaristia é o centro da Igreja, o compêndio do culto divino, a árvore da vida plantada no meio da Igreja, cujas frondes dão descanso aos povos. É o fermento escondido pela sabedoria Encarnada, neste sacramento. Se a alma fiel aplica-a a suas três faculdades: a racional, a concupiscível e a irascível, ou seja, à mente, ao espírito e ao coração, o homem todo torna-se espiritual. Além disso, se este fermento for introduzido pela Igreja, através do ministério dos sacerdotes, nos diversos estratos sociais, isto é, no corpo dirigente, na juventude e na família, tornará mais maduro este mundo incipiente; reunirá os povos dispersos, no único corpo da Igreja e tornará constantes, em obra virtuosa, os que antes permaneciam inertes, diante do bem. 18

 

“Tudo converge para a Eucaristia.”

 

A Eucaristia é, no mundo espiritual, o que é o sol, no mundo físico. Como tudo gravita, no firmamento, para este astro magnífico, cuja luz e calor difundem, por toda parte, fecundidade e vida, assim tudo gravita igualmente, para a augustíssima Eucaristia. É por ela que a universalidade das coisas criadas que descendem do Criador, a Ele retornam, incessantemente. 19

 

“Eucaristia, extensão da Encarnação.”

 

Enquanto caminhamos peregrinos nesta terra, além de um auxílio sobrenatural, que nos sustenta na dura luta da vida, é-nos necessária uma vítima imaculada, para oferecer a Deus expiação pelos nossos pecados. A ajuda, encontramo-la na Sagrada comunhão, e a Vítima, na Missa, que é o sacrifício da cruz, através dos séculos, na presença de todas as gerações (...).

A Eucaristia é uma extensão da encarnação e também do sacrifício do Gólgota. Este na verdade, foi oferecido uma única vez, em poucas horas, em Jerusalém, enquanto a Missa é oferecida em todos os momentos do dia e em todos os recantos da terra. Quem o ignora? Enquanto um hemisfério dorme, o outro está vigilante, outros irmãos rezam por nós, outros sacerdotes suspendem, entre o céu e a terra, a vítima Eucarística, da qual emana o


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sangue de Cristo, como torrente misteriosa de vida, que percorre o universo de uma extremidade a outra (...).

Se o Filho de Deus, na primeira oblação, entregou-se por todos, na Missa oferece-se para cada um de nós, em particular. Isto acontece, em cada momento, a cancelar o quirógrafo do decreto que é contra nós, por causa de nossos pecados e elimina-o afixando-o, com seu corpo adorável, no altar da cruz. Se é grande o débito que o homem, pecando, contrai com Deus, muito maior é o preço da redenção. O resgate é feito não a preço de coisas corruptíveis: ouro, prata, mas a preço do sangue do Cordeiro, sem mancha, sangue de valor infinito, porque de Pessoa divina. Sangue do qual uma única gota seria suficiente para redimir o mundo. Portanto, como o oceano está, para uma gota d’água, assim superabundam às nossas culpas, os merecimentos de Cristo na Missa. 20

 

“Na missa inflama-se a vida sobrenatural da Igreja.”

 

A missa não é somente a redenção quotidiana e a salvação do mundo, mas também o alimento da verdadeira e sólida piedade, a fornalha que inflama a vida sobrenatural da Igreja. Perguntai a esta virgem esposa do Nazareno, como nutre e desperta em seus filhos o espírito de sacrifício, até o heroísmo, como a pobreza, os sofrimentos que nos oprimem, sejam argumentos de especial amor para conosco. Ela responderá, indicando-nos a inscrição que adorna o seu altar: “Assim Deus amou os homens!” Palavras sublimes, que exprimem uma verdade ainda mais sublime. E desde que a eternidade gerou o tempo, nunca o horizonte da caridade cristã se dilatou tanto, como a partir do momento em que o Verbo de Deus imolou-se a si mesmo, sob as espécies de pão e de vinho. Só a partir de então, compreendeu que o sacrifício é a consumação da vida pura, nobre e santa; desde então só desejou dar vida por vida, amor por amor. 21

 

“A Missa!”

 

A Missa! É o compêndio de todos os sacrifícios antigos, nos quais se desenvolvia a corrente dos atos religiosos, que a humanidade oferecia a Deus; sacrifício único, holocausto, hóstia pacífica e vítima pelo pecado. A Missa! É o sacrifício da cruz que se aproxima de nós, para poupar à nossa fé um retorno cansativo, a um passado distante e esforços freqüentemente vãos, para a nossa fraqueza e negligência. A Missa! É a imolação de um Deus que


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é colocado em nossas mãos, a fim de que possamos apanhar a parte que nos convém nos tempos, nas condições, na medida e para os fins determinados pela Providência. A Missa! É um Deus que adora, um Deus que agradece, um Deus que aplaca, um Deus que implora. A Missa! Ainda uma vez, ela é coroa do culto religioso, centro da vida cristã, o carisma mais esplêndido da grandeza e poder do sacerdote. 22

 

“Na Eucaristia temos um banquete admirável.”

 

Apelo à vossa experiência, veneráveis irmãos. Não é verdade que celebrado o divino sacrifício, torna-se insípido tudo o que o mundo oferece de agradável? Em tudo o que se vos apresenta, não vedes como um incentivo a serdes solícitos? Não abraçais cada adversidade, como exercício de virtude?

É certo que da celebração da missa vem-nos uma suave propensão ao recolhimento, um forte incentivo à oração, uma secreta doçura no desapego de si, um desejo de perpétua imolação, a escolha da vida escondida em Cristo, as maravilhosas experiências de Deus.

Na Eucaristia, temos um banquete admirável, o mais precioso e salutar. É a comida que alimentou nossa infância espiritual, fez crescer a nossa adolescência, corrobora a maturidade, impede o envelhecimento e conserva longe de tudo, a morte (...).

A Eucaristia é o centro de toda a Religião, a síntese das obras divinas, o sumário do Verbo, por este motivo, foi a devoção primeira e essencial dos cristãos. Sem aceitar esta devoção, ninguém pode chamar-se cristão, porque lhe falta a cabeça, que é Cristo.

A Eucaristia é a mais salutar de todas as devoções; através dela nos é dirigido o convite de Cristo: “Vinde a mim, vós todos que sofreis e estais sobrecarregados e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Nela acolhe à sua mesa os pecadores, esquece todo pecado, reveste-os de graça. Nela Cristo, como águia que incita ao vôo os seus pequeninos e esvoaça sobre eles, abre as suas asas sobre os justos, recolhe-os e carrega-os sobre os ombros, e os eleva à culminância da santidade (Dt 22).

Cristo, na Eucaristia, cria Apóstolos, fortifica mártires à coroa do triunfo, suscita virgens, “de fato é o sagrado banquete, no qual se toma Cristo em alimento, relembra-se sua paixão, a mente se replena de graça e nos é dado o penhor da glória futura.” (Of. Corpus Christi). 23


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“Foi a primeira norma de vida na Igreja.”

 

A Eucaristia foi, verdadeiramente, a primeira norma de vida, na Igreja. Cristo era tudo em todos; Cristo, na Eucaristia, era a vida de todos os cristãos. Assim, nos primórdios da Igreja; agora, os tempos mudaram e outras formas de piedade foram, em certo sentido, sendo substituídas à fé e ao amor por Cristo; quero dizer, o culto dos santos e a devida homenagem de devoção filial à Mãe de Deus.

Não digo isto para deplorar ou diminuir tais devoções, nenhum ciúme nas minhas palavras. Louvo, ardentemente, estas manifestações e orientações de piedade, antes trabalho e me esforço quanto posso, para que se firmem e se difundam sempre mais. São, de fato, muito úteis à piedade e queridas pela divina bondade.

Como a contemplação dos espíritos bem aventurados tem uma dúplice “teologia”: a “matutina”, das perfeições divinas vistas em Deus desce a contemplar a obra do Senhor; a “vespertina”, parte das obras divinas, para subir à contemplação de Deus mesmo; assim é a piedade dos fiéis. Alguns, apoiando-se, como a degraus, no culto dos Santos e da Mãe de Deus, querem chegar a Deus; outros, em vez, mais utilmente, se apoderam do mesmo Cristo, mediante a fé e mediante Cristo, sobem ao Pai, para abraçar, portanto também, os Santos. Ambos os caminhos conduzem ao fim; mas é necessário prestar atenção que, talvez, enquanto insistimos sobre mediações e sobre os exemplos dos Santos, não diminuam a nossa fé e o nosso amor a Cristo.

Ardentemente, portanto, eu desejo que o amor de todos, por Cristo aumente e supere a devoção que se professa à Mãe de Deus e aos Santos. Cristo de fato “é o Caminho da Verdade e a Vida”, como Ele mesmo disse, ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14,6.17).

Também Paulo: “Por ele temos acesso, em um só Espírito, ao Pai.” (Ef 2,18). 24

 

 “Cristianiza o nosso ser”

 

A comunhão é fonte da qual a alma extrai a água, que leva à vida eterna; é o lugar onde se cicatrizam as nossas feridas; é o princípio e o fim da união com Deus, elevada à mais sublime potência e, conduzida ao último grau de perfeição, na ordem presente. De fato, se na Encarnação o Verbo de


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Deus uniu-se, pessoalmente, à natureza humana, na comunhão se une, ainda mais, a nossa personalidade. De tal maneira, Ele diviniza a nossa essência, cristianiza o nosso ser individual, e sua união conosco, tem por símbolo aquela que transforma o alimento, na substância do corpo que o nutre. Por isso os que comungam, como deixou escrito um santo doutor: têm Jesus na mente, no coração, no peito, nos olhos, na língua. O Salvador endireita, purifica, vivifica tudo. Ele ama com o coração, entende com a mente, infunde vigor no peito, vê com os olhos, fala através da língua, e movimenta todas as outras faculdades. Ele opera tudo, em todos e estes não vivem mais para si mesmos, mas é o Verbo de Deus que vive neles e fixa às suas ações, metas mais nobres e elevadas e motivos mais puros e mais perfeitos. 25

 

“Germe luminoso da ressurreição.”

 

O pão comum que vem da terra, diz São Macário, não nos pode dar a vida eterna, mas aquele pão que tem origem no corpo santo de Cristo, unido à divindade confere imortalidade a quem o recebe. A carne do Senhor, depois que é comida não é destruída, nem o seu sangue, depois que é bebido acaba, porque ambos são indissoluvelmente unidos à divindade. Portanto, o corpo glorioso do Senhor, coloca um germe luminoso de ressurreição e de incorruptibilidade, no corpo corruptível do homem e este germe, fecundado com o sangue d’Aquele que venceu a morte, desenvolve-se e cresce, até que o homem renovado deponha, como veste inútil, a carne mortal e mostrando todo o esplendor da sua vida oculta em Deus, entre nos tabernáculos eternos.26

 

“Penetrar no espírito da Sagrada Liturgia.”

 

A instrução abstrata, especulativa, embora excelente, sozinha não basta, deve ser acompanhada pela prática. Se tantos cristãos, enquanto celebram os divinos mistérios, estão na Igreja desatentos, sem vontade e alheios a tudo quanto ali se realiza, é exatamente, porque só vêem nos sagrados ritos a forma exterior. Pois bem, ensinai-lhes a distinguir as diversas partes das sagradas funções, fazei-os, penetrar no espírito da sagrada liturgia; logo sua mente se concentrará em Deus e seus lábios, naturalmente, se abrirão em prece. Não existe ânimo tão frio, que custe a


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subir do sensível ao intengível e não se sinta arrebatado pelo culto católico, o que converge para a Eucaristia, do mesmo modo que, nos templos levantados, pelos gênios cristãos, todas as linhas arquitetônicas são coordenadas para o santuário. 27

 

“Gastar tempo nas confissões?”

 

Nem aqui quero calar sobre sacerdotes, que julgam perder tempo, quando são solicitados, no seu ministério, por almas privilegiadas, as quais gostam de freqüentar o tribunal da penitência e, ainda mais freqüentemente, alimentar-se da carne do Cordeiro Imaculado. O melhor que se pode dizer deles é, que não pensam, ou não sabem que, como não se dá vida sem alma, assim não existe paróquia animada pela vida de Cristo, até que esta não tenha um certo número de fiéis, que se confessem, freqüentemente e comunguem quase todos os dias. São estas almas que, com o exemplo de suas virtudes, estimulam os outros ao bem; são elas que fazem resplandecer o ideal da perfeição cristã, são elas finalmente, as zeladoras do bem que se inicia e se realiza na paróquia. Feliz o pároco que souber formar tais almas, cultivando-as, com atenção toda particular. O tempo que, com discrição, investe nisto, é o mais bem empregado, pois elas farão descer sobre nossas populações a graça que as preservará da corrupção e se já corrompidas, transformá-las-á como transformou o mundo grego e romano, nos tempos apostólicos, e conduziu, através dos séculos, tantas outras nações aos pés da Cruz. 28

 

“A comunhão freqüente.”

 

Um cristão adornado, com a graça santificante, embora tenha imperfeições, e caia em faltas veniais, é todavia filho de Deus, herdeiro do paraíso e portanto digno de aproximar-se também, quotidianamente, do grande banquete que Jesus Cristo preparou em sua Igreja: participa do mesmo, com fervor sempre crescente e com maior desejo de retornar. Por que então se deverá exigir dos fiéis uma extraordinária pureza de mente, de coração e de obras, antes de admiti-los a tal banquete? A melhor disposição para aproximar-se dignamente da Eucaristia, não é exatamente a comunhão freqüente?

Oh! se todos tivessem bem alto, o conceito da beleza e da nobreza de uma alma, em graça, certo a nossa comunhão freqüente, não tardaria acontecer,


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com incalculável vantagem, para o povo cristão e ao próprio convívio civil. 29

 

“A piedosa prática da visita quotidiana.”

 

Um meio eficaz, para estabelecer e desenvolver a devoção a Jesus Sacramentado é a piedosa prática da visita quotidiana a Ele prisioneiro de amor, nos nossos tabernáculos. A visita ao SS. Sacramento é um constante testemunho do sincero amor dos povos, para com a divina Eucaristia, como pelo contrário, o lamentável abandono, no qual é deixada por muitos, parece desmentir a fé.

Quanto é belo colocar nossas almas, em freqüente e familiar colóquio com Jesus, com uma prática tão salutar! Feliz, exclama o profeta, aquele que habita junto ao santo tabernáculo! O Senhor é sua força e sua luz, o remédio para todos os seus males, o bálsamo, para todas as feridas, o conforto para todo sofrimento. Aos pés do altar, a alma esquece o mundo, as misérias da vida, pois onde está Jesus, não existe mais dor, porém alegria, até entre as mais amargas tribulações. Este é o lugar onde o fiel, no segredo do seu coração, ouve vozes misteriosas e suaves e de onde sai com vivo desejo de retomar, com aquele santo desejo que sempre o faz voltar-se, para onde encontra o seu bem e onde acumula tesouro de forças sobrenaturais.

Todos, portanto, rendam esta homenagem quotidiana à divina Eucaristia. Recomendo-a às crianças, para que Jesus as dirija, no caminho das virtudes; aos jovens, para que Jesus lhes dê força, para resistir aos encantos e às seduções do vício, recomendo-a a quem está no declinar da vida, para que Jesus o ajude a encarar, com serenidade a morte. 30

 

“Adoração diurna e noturna ao SS. Sacramento.”

 

Em algumas paróquias da Diocese, digo-lhe com viva satisfação, já foi instituída a Associação para a Adoração diurna, ao SS. Sacramento. Gostaria de vê-la surgir, também em todas as outras. Onde a população é numerosa, conseguir-se-á, facilmente. Se a paróquia contar, com poucos habitantes e não for possível estabelecer ali a adoração quotidiana, não poderia ser feita ao menos duas ou três vezes por semana, especialmente, nos dias festivos? Confio no zelo de meus ótimos colaboradores e na solicitude, que, em cada circunstância, demonstraram os meus amados diocesanos, pelo culto eucarístico.


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Mas, se é coisa sumamente cara, deter-se de dia diante de Jesus, é também lindo velar a seus pés, no silencio e na calma da noite! Imita-se deste modo, os habitantes da Jerusalém celeste, que não cessam de celebrar as glórias do Senhor (...).

Vede, irmãos e filhos muito amados, a necessidade de compreender a importância desta adoração noturna, de estabelecê-la, nas vossas paróquias e de fazê-la, ao menos uma vez por ano (...).

No que se refere à Eucaristia, jamais saia de vossos lábios aquelas inexpressivas palavras: Isto é impossível. A impossibilidade, neste caso, só tem lugar, para os que fogem da abnegação e do sacrifício. 31

 

“Diante da hóstia de perdão e de paz.”

 

É aqui diante da hóstia de perdão e de paz, que sentimos aquietar-se o tumulto dos afetos terrenos, equilibrar-se a solicitação das coisas mundanas, enfraquecer-se o orgulho, despertar-se o amor e a compaixão, para com o próximo, estimular-se a competição para as obras santas, os desejos de vida melhor. Não percebeis vir daquele tabernáculo, uma voz que enobrece e torna preciosos os próprios sofrimentos, assegurando que as lágrimas derramadas sobre o altar são recolhidas por aquele que cuida do lírio do campo, do pássaro do bosque, do último cabelo de nossa cabeça? Oh! aqui se retemperam os ânimos, na força da resignação e da esperança. Nada é perdido aqui, onde se encontra a confiança em Deus; aqui, todos somos filhos de Deus; não é engano do acaso ou da violência que atinge aqui a fortaleza, que jorra do divino Tabernáculo (...).

O templo é o refúgio do pobre, abrigo das almas atribuladas e dos oprimidos! Aqui, nos sentimos nós todos, verdadeiramente irmãos! aqui, diante do Pai comum, desaparecem as distinções do luxo, da riqueza, do poder humano! Aqui, nos proclamamos e nos sentimos todos iguais, no banquete comum de Jesus! Aqui, na presença de um Deus, que no Sacramento se abaixa, igualmente ao pequeno e ao grande e tudo eleva até Ele, consagramos, não a falsa democracia do mundo, mas a verdadeira democracia de todos os redimidos! 32

 

“Unidos a Ele, sentir-vos-eis todos irmãos.”

 

Uni-vos, em santa aliança, em torno de Jesus, hóstia divina, em espírito de fé, de reparação, de amor. A Ele unidos, vos sentireis todos


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irmãos, todos ligados por um pacto: o amor recíproco, e a procurar um, o bem do outro. Daqui nascerá aquela perfeita concórdia, que vos fará comuns as alegrias, como as dores, o sorriso, como as lágrimas e por toda parte se espargirá o bálsamo da resignação e da esperança cristã. Uni-vos e organizai-vos em Associações de adoradores, para as diversas horas do dia, a fim de que a divina Eucaristia, nunca seja por vós abandonada. 33

 

“Sois participantes do Sacerdócio eterno de Cristo.”

 

Compreendei a nobreza de vossa dignidade. Fostes feitos participantes do mesmo sacerdócio eterno, que o Filho de Deus não usurpou para si mesmo, mas recebeu do Pai (...).

Vós que tendes alcançado o sacerdócio, deveis, segundo o Apóstolo, ter também alguma coisa para oferecer (Hb 8,3) e exatamente disto deriva a vossa nobreza. Sabeis que a vítima do nosso sacrifício é o mesmo Filho de Deus, que é, ao mesmo tempo, o sacerdote principal, que oferece, por meio de vosso ministério, e o Deus ao qual é oferecido.

Deste sacrifício, a ação mais elevada e mais sublime da Igreja, avaliai vossa dignidade.

O sacramento e o sacrifício eucarístico são o tesouro da Igreja, o seu sumo bem, a sua suprema beleza: “Qual a sua bondade e qual a sua beleza, se não o trigo dos eleitos e o vinho que gera as virgens?” (Zc 9,17). Sob espécies diferentes, agora puros sinais, estão escondidas realidades excelsas: carne que é alimento, sangue que é bebida. A Igreja é formada por este sacramento, e todas as suas riquezas sintetizam-se, no pão e no vinho. A vós, a ordem de enriquecer-vos de tal tesouro e de enriquecer os outros. Assim instituiu este sacrifício, quis confiar sua administração só aos sacerdotes, que o recebem e o dão aos outros (Of. Corpus Christi).

A Eucaristia, tesouro dos sacerdotes, é ao mesmo tempo, tesouro confiado a sua fidelidade e a sua guarda. Mas trata-se de um “tesouro” de natureza particular, bem diversa dos demais. Por lei, quem recebe um “tesouro” deve custodiá-lo e conservá-lo fielmente, de modo a poder restitui-lo íntegro ao requerente. Não é assim com a Eucaristia: é um depósito de trigo, que seria delito escondê-lo; “quem esconde o trigo será amaldiçoado pelo povo” (Pr 11,26). (...)


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A Eucaristia é o sinal, sob o qual fostes reunidos: “O Senhor nos reuniu com a comunhão do cálice, com o qual assumimos Deus mesmo, não com o sangue de vitelos” (Of. Corpus Christi).

A Eucaristia é a vossa estrela. Apareceu-vos, na infância, e vos conduziu a Cristo; guiou vossa adolescência, fortificou vossa juventude; seja na maturidade e na velhice, o vosso “forte protetor, sustenta da virtude, refrigério e sombra, prevenção dos obstáculos; ajuda em toda dificuldade, exaltação da alma, luz dos olhos, saúde, vida e bênçãos!” (Ecl 34,19-20).

Tudo o que sois e tendes, veneráveis irmãos, provém da Eucaristia; de cada lado, o sacerdote é entrincheirado pela Eucaristia, em tudo é marcado pela Eucaristia. 34

 

“Cristo na Eucaristia é o livro oferecido aos sacerdotes.”

 

Repensai nas palavras que ouvistes na vossa ordenação; Conhecei o que fazeis. (Pont. Rom). Na realidade, Cristo na Eucaristia é o livro oferecido aos sacerdotes, para que o devorem. Numerosos são os escritos dos Doutores e dos Padres, dos quais podeis recolher messe abundante de doutrina. Tendes a Suma de Sto. Tomás que trata de modo verdadeiramente angélico, do adorável Sacramento; tendes a explicação da Sagrada Escritura, no catecismo do Concílio de Trento, publicado, expressamente, para a vossa instrução. Tendes também os livros ascéticos, primeiro dos quais, o livrinho da Imitação de Cristo, que no livro IV fala, como nenhum outro, da Eucaristia. Numerosos escritores modernos têm tratado sobre a Eucaristia, oferecendo-nos muitas sugestões úteis.

Recordem com o Apóstolo, “A mim, o mais insignificante dentre os Santos, foi-me dada a graça de anunciar, entre os pagãos a inexplorável riqueza de Cristo” (Ef 3,8). Não estão ocultas neste Sacramento todas as riquezas de Cristo? 35

 

“Vossa devoção seja interior e exterior.”

 

Se desejais verdadeiramente vivenciar a devoção eucarística em vossas paróquias, mostrai com fatos, que vós a tendes radicada profundamente, no coração. Vossa devoção interior e exterior, proceda de uma fé viva e de um sincero amor a Jesus, hóstia divina.

Entretanto a fé, frequentemente, é lânguida e, muitas vezes, depois de


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tantos anos de sacerdócio, não se ama ainda o divino Mestre, ou Ele é amado com um amor sem vida. Não obstante, o verdadeiro sacerdote é o homem que vive, trabalha e se sacrifica por Jesus Sacramentado, única meta de todas as suas aspirações! Sois assim? O santuário, o altar, o tabernáculo, que vos dizem? Que impressões vos fazem? Depois de ter recebido o Corpo e o Sangue de Jesus, dizia São Vicente de Paulo, aos seus padres, não sentis acender o coração de fogo divino? Pois bem, este fogo, que ardia vivíssimo no peito daquele humilde sacerdote, herói da caridade cristã, devora também o vosso, ou ele permanece frio, gelado? ... Como podeis ter zelo para inspirar aos outros uma devoção, a mil milhas, longe de vós? Suplico-vos, se não vos sentis chamados a uma vida profundamente interior e de alta contemplação, ficai todavia com Jesus sacramentado no ser e no agir, sozinhos e em público, agora e sempre. Freqüentemente vossa língua fale d’Ele, por Ele suspire o vosso coração. Não passe uma hora do dia, sem que O tenhais lembrado com carinho e reconhecimento. 36

 

“A adoração perpétua dos sacerdotes.”

 

Outra coisa que eu desejo de coração é que vós todos, veneráveis irmãos, vos inscrevais na Pia Sociedade de Sacerdotes, instituída em nossa Diocese, para a adoração perpétua.

Se todos os fiéis devem retribuir a Jesus, amor com amor e reparar os ultrajes que os ímpios, os mais cristãos lhe fazem, vós de modo particular, deveis derramar lágrimas em sua presença e vos interpor entre o altar e os pecadores, como ministros da paz e do perdão. Vós, especialmente, deveis viver a vida eucarística e fazer vossa delícia o estar junto ao tabernáculo, de onde tirareis a força para sacrificar-vos e morrer por Jesus, pela glória de Deus e bem das almas. Eis o único ideal do verdadeiro sacerdote. 37

Proponho que seja instituída em todas as Dioceses, a adoração permanente ao SS. Sacramento, feita pelo Clero, obrigando-se a uma hora de adoração, periodicamente (...).

Que pensamento comovedor saber que, em cada hora do dia e da noite um padre está prostrado diante de Jesus Sacramentado a rezar por si, por seus irmãos, pela Igreja, pelo Santo Padre, pela constância na fé, pela perseverança final dos convertidos, pelos que estão prestes a morrer (...).


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Um padre, adorador fervoroso do SS. Sacramento, será um eloquente Apóstolo, infatigável, constante e abençoado pelo seu zelo. Tornar-se-à criativo, para descobrir as inúmeras atividades próprias para fazer ressurgir e propagar esta devoção nas almas. O zelo deste padre, deste bispo, será abençoado e fecundo. 38

 

“Na comunicação, ter presente a Eucaristia.”

 

Na pregação a insistência sobre a Eucaristia exige que, apresentando-se ocasião, ou qualquer circunstância, recordeis freqüentemente aos fiéis, Cristo no seu Sacramento. O Apóstolo insistia, com o discípulo Timóteo, a fidelidade na pregação: “Prega a palavra oportuna.” Fazei vós também assim. Em todas as circunstâncias de tempo: inverno ou primavera, verão ou outono, podeis encontrar motivos, para introduzir a pregação sobre a Eucaristia, como também a chuva, o orvalho, as múltiplas necessidades e ocupações dos homens. Assim, o Cristo Senhor aproveita as preocupações da multidão, pelo pão do corpo, para falar sobre seu sacramento. “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que permanece, que o Filho do homem vos dará” (Jo 6,27). Nisto, o Apóstolo imitou-O no discurso aos atenienses, tomando como ponto de referência, o altar do Deus desconhecido.

Existe outro ponto de máxima importância para insistir na pregação eucarística: ter presente a Eucaristia, em cada pregação e concluí-la com a Eucaristia. Falais sobre uma virtude? Proponde o exemplo perfeito, Cristo na Eucaristia. Sobre o pecado? Mostrai Cristo no Sacramento, propiciação pelos pecados de todo o mundo. Podeis apontar a Eucaristia como antídoto que nos livra das culpas quotidianas e nos preserva dos pecados mortais, Cristo médico e medicina. Ó mesa admirável, que nos provê a humildade, contra a soberba, a caridade, contra a inveja, a esmola contra a avareza, a castidade, contra a luxúria, as virtudes contra os vícios! (Tertul. De Ressurrect.) 39

 

“O século XX será chamado o século eucarístico.”

 

Cristo, por meio deste sacramento, torna presente, diante de quem teme a Deus, os seus apelos ao Pai, isto é, o sacrifício do seu corpo e do seu sangue, oferecido sobre a cruz. Qual será o fruto de tão sublime


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sacrifício? “O que o Senhor fizer crescer será o ornamento e a glória, e o fruto da terra será o orgulho e o ornato de Israel que foram salvos.” (Is 4,2). De fato comerão os pobres e serão saciados, viverão suas almas, pelos séculos dos séculos. Reencontrarão em si os pecadores e toda terra se converterá a Deus, e O adorarão todas as raças. Saciar-se-ão e adorarão todos os homens, cairão de joelhos em sua presença, todos os mortais. Do nome do Senhor tomará nome a geração futura; porque os céus, isto é, os sacerdotes, anunciarão a santidade do povo, povo feito pelo Senhor, que está por nascer. Será o povo do SS. Sacramento e o século XX, será chamado o século EUCARÍSTICO. “Por que do Senhor é o reino e Ele dominará os povos” (Sl 21).  40

 

 “Agora deixai...”

 

Quando o Senhor, na sua infinita bondade e misericórdia, ter-me-á concedido ver profundamente radicada a devoção eucarística, na minha querida Diocese, então não me restará que exclamar com o profeta Simeão: “Agora deixa, ó Senhor, que vá em paz o teu servo, porque os meus olhos viram o Salvador que nos deste, amado, reconhecido e venerado por aqueles que estão no tempo, e serão na eternidade, a minha alegria e a minha coroa”.41

 

“A mais doce consolação.”

 

Nada poupeis, meus veneráveis cooperadores, para que eu, vindo, possa dispensar a todos os meus filhos, o pão dos anjos, a todos, desde as crianças da primeira comunhão, àqueles que estão às portas da eternidade. Esta será, meus irmãos e filhos, a mais doce consolação que podereis proporcionar ao vosso Bispo, em meio aos cuidados incessantes e às graves preocupações do seu ministério pastoral. 42

 

 




16.           A devoção ao SS. Sacramento, Placência, 1902, pp. 5-6.



17.   Id., pp. 7-8.



18.           3º Discurso do 3º Sínodo, 30-8-1899. Sínodo Diocesano Placentino, Placência, 1900, p. 259.



19.           Carta Pastoral (...) para a Santa Quaresma de 1878, P1acência, p. 15.



20.           A devoção ao SS. Sacramento, Placência, 1902, pp. 26-28.



21.          Id.. p. 20.



22.           O padre católico, Placência, 1892, pp. 11-12.



23.           1º Discurso do 3º Sínodo, 28-8-1899 (3º Sínodo da Diocese de Placência, 1900, pp. 228-232.



24.           Id., pp. 223-225.



25.           A devoção ao SS. Sacramento. Placência, 1902, pp. 22-23. O “Santo doutor” é São Francisco de Sales.



26.           Id., pp. 20-21.



27.           Id., p. 9.



28.           Id., p. 25. O autor exorta os sacerdotes a se disporem, para as confissões, a fim de que aumente a freqüência dos fiéis à comunhão.



29.           Id., p. 24.



30.           Id., pp. 11-12.



31.           Id., pp. 12-13.



32.           Pela inauguração do templo do Carmo, em Placência, 17-2-1884 (AGS 3018/2).



33.           A devoção ao SS. Sacramento, Placência, 1902, p. 15.



34.           1º Discurso do 3º Sínodo, 28-8.1899. 3º Sínodo da Diocese Placentina. Placência, 1900, pp. 229-231.



35.           2º discurso do 3º Sínodo, 28-8-1899. Ibidem, pp. 242-243.



36.           A devoção ao SS. Sacramento, Placência, 1902, pp. 34-36.



37.           Id., p. 14.



38 .Discurso no Congresso Eucarístico de Turim, 1894 (AGS 3018/2).



39.           2º Discurso do 3º Sínodo, 29-8-1899. 3º Sínodo da Diocese Placentina, Placência, 1900, pp. 241-242.



40.           Id., pp. 245.



41.           A devoção ao SS. Sacramento, Placência, 1902, p. 37.



42.           Carta Pastoral de 5-5-1905. Piacência, 1905, pp. 4-5.






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