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Congregações Scalabrinianas dos Missionários e Missionárias de São Carlos Scalabrini Uma voz atual IntraText CT - Texto |
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e) A IGREJA É MESTRA
“A Igreja é Mestra infalível.”
A Igreja Católica, no seu conjunto, é a sociedade dos anjos e dos fiéis, que atravessa os séculos e passa sobre a terra para recolher-se na santa unidade universal e perpétua e retornar com os seus filhos à eternidade de onde saiu. É ela a assembléia dos filhos de Deus, o exército do Deus vivo, o seu reino, a sua cidade, o seu trono, o seu tabernáculo. É a nobre sociedade, que existe desde o princípio dos séculos e que aparece nas sombras e nas figuras com Adão, anunciada pelos Patriarcas, acreditada em Abraão, revelada por Moisés, profetizada por Isaías; no seu último período se manifesta em Jesus Cristo, como uma sociedade de homens, unidos pela profissão da mesma fé, pela participação aos mesmos sacramentos, sob o governo dos legítimos Pastares e principalmente do Romano Pontífice, Chefe visível, Chefe supremo, Pastor universal desta feliz reunião, fundada pelo Homem-Deus. Jesus Cristo se compraz em entregar-lhe o depósito da revelação, o conjunto total das doutrinas pertencentes à fé e à moral! Ele mesmo trouxe-as do céu, para ensiná-las a todas as gerações com certeza, com facilidade e sem mistura de erros. Era necessário que fosse enriquecida com a gloriosa qualidade de mestre infalível, a fim de transmitir, em todos os tempos, as verdades reveladas, tais como as recebeu de seus próprios lábios divinos (...). Não acolher todas as definições do Concílio, com plena e pronta submissão de intelecto e de vontade, sem restrições, sem transações, hesitações ou compromisso é não só negar a verdade particular que contraria as próprias idéias, como negar o infalível magistério, que no-la propõe a crer; é destruir o catolicismo e ferir mortalmente a mesma sociedade. De fato, com o magistério infalível da Igreja, o Catolicismo ó divino, a filosofia é por ele conduzida à fé; o mundo é renovado por Ele; o martírio torna-se racional. Os Concílios são reconhecidos e respeitados, as heresias destroçadas, a ciência e a sociedade fecundadas, a moral assegurada, a paz da consciência certa e tranqüila, todos os frutos da santificação derramados abundantemente sobre os povos, a existência da Igreja invencível, a sua unidade indissolúvel. Tirai da Igreja católica esta gloriosa prerrogativa e ela se desmantelará e se destruirá, como se desmantelou e destruiu a fé naquelas almas infelizes, que combateram nestes últimos anos, as suas santas e solenes definições. 29
“A Igreja docente e a Igreja discente.”
Se existe, por ordem divina, uma autoridade unitiva e dirigente, esta pertence à ordem sacerdotal; deveis, portanto, reconhecer que na Igreja existe distinção de classes, de serviços e de poder. Existe superior e súdito, existe pastor e rebanho; existe quem ensina e quem aprende, quem apascenta e quem é apascentado. Existe, em outros termos, a Igreja docente e a Igreja discente, as quais, embora distintas entre si, não formam senão uma só e mesma Igreja. À primeira pertencem os sucessores dos Apóstolos, os Bispos e especialmente o sucessor do Príncipe dos Apóstolos, o Papa. À segunda pertencem todos os fiéis. Quanto aos simples sacerdotes, se de um lado parecem pertencer à Igreja docente, enquanto administram os Sacramentos e ensinam os fiéis, na realidade pertencem à Igreja discente, porque não possuem a plenitude do Sacerdócio, porque não têm nenhuma jurisdição, porque não administram Sacramentos, nem ensinam os fiéis, senão enquanto são autorizados pelos bispos. 30
“A infalibilidade do Papa não é separada da fé de Igreja.”
O Papa é pessoalmente infalível, mas a sua infalibilidade não pode ser pessoal e separada, de tal modo que sua fé seja desligada da fé da Igreja. A Igreja é um corpo vivo e não um cadáver, nenhum poder terreno pode roubar-lhe a força vital, porque é divina e reflete em si, a vida íntima de Deus. O Papa é cabeça, os Bispos são os membros do corpo docente e vivo. Se a cabeça pudesse se separar dos membros, teríeis um corpo morto, e a Igreja, contra as promessas de Jesus Cristo, seria destruída. Portanto, o Pontífice, que em si mesmo une e concentra todo o episcopado, nunca poderá encontrar-se solitário e isolado, quando ensina a todos os fiéis as coisas da fé e da moral, porque o Espírito Santo, que assiste a cabeça e a defende de todo erro, opera e inspira a submissão aos Bispos, que unidos a Pedro formam a verdadeira Igreja (...). O Papa é infalível, mas a sua infalibilidade não o desobriga de aplicar-se à doutrina, de manter consultas, de apoiar-se nos bispos e nos Concílios. A infalibilidade se compõe de duas partes bem distintas: a parte divina, que é inspiração, a luz que Cristo, mediante o Espírito Santo irradia sobre o sucessor de Pedro; a parte humana, que encerra os elementos da ciência, a pesquisa necessária na tradição e na Escritura, o modo mais apto para exprimir ao povo a verdade. A verdade não vem por meio de novas revelações, nem por ilustrações imediatas, mas deve unir o elemento humano ao elemento divino, que aprofunda o sagrado depósito confiado à Igreja, contido nos livros do velho e do Novo Testamento, nos escritos dos Padres, nos monumentos da religião, no ensinamento oral e no uso sempre vivo e constante das Igrejas, em comunhão com a Igreja Romana, Mãe e Mestra de todos. Não pode haver uma definição sem o devido exame. O Espírito Santo, em cuja assitência se fundamenta a infalibilidade, não pode permitir que a negligência do homem leve a Igreja ao erro, omitindo a pesquisa necessária para descobrir, ilustrar, promulgar com solenes e novas definições, as verdades antigas. 31
“A Igreja causa de ignorância?”
Conhecemos bem o que se diz: A Igreja corta as asas do espírito e é causa de ignorância! Que acusação mais imbecil e mais irracional! A Igreja fautora de ignorância, ela que nada mais teme que a ignorância, e que antes, considerando ignorância uma culpa, obriga todos ao mais diligente e desapaixonado estudo da verdade? Quando a verdade foi obstáculo ao desenvolvimento da inteligência humana? A Igreja causadora de ignorância? Pode existir maior igorância da história, que tal acusação coloca em evidência? A história proclama altamente que a Igreja, dissipando as trevas das superstições mais entranhadas, impeliu a humanidade para os caminhos da verdadeira civilização. Foi a Igreja que abriu diante de nós novos céus e novas terras e mediante sua luz vivificante, elevou a nossa razão acanhada e fortificou-a tanto, que a libertou de todo erro. (...) Hoje, ainda que se fale tanto de instrução e tantas máximas constitucionais se espalhem em abundância por todos os lugares, quem pensa em conservar intactos, nos povos, os princípios eternos de verdade e de justiça? Quem, senão a Igreja católica? E não é também a Igreja católica que envia ainda hoje, seus missionários aos lugares remotos e entre os povos mais bárbaros, para conquistá-los à civilização, ao mesmo tempo que os conquista para a cruz? Não é a Igreja Católica que manda os seus padres, também aos lugares mais montanhosos e desfavorecidos, onde com escasso pão e privações de todo tipo, passam os dias entre as neves durante o inverno e entre mil intempéries durante o verão, para civilizar tantas pobres criaturas, santificá-las e fazê-las prelibar consolações do céu? O ataque contra a Igreja católica, da parte de quem não a conhece, é para escarnecê-la. Ela foi e será sempre a única mestra verdadeira, tanto dos indivíduos como das nações, constituindo-a como tal, aqui na terra, o seu Divino Fundador. Só ela tem a força, para preservar a razão das mais vergonhosas quedas; só ela pode fazer com que o belo seja imagem esplêndida do verdadeiro e do santo; só ela pode aproximar o homem daquela Sabedoria infinita e luz por essência; antes, este é o fim de todas as suas obras; por isso grita-nos continuamente, pela boca do Apóstolo: vós outrora éreis trevas e agora sois luz, no Senhor: viveu como filhos da luz. 32
“Ai da Igreja Romana se tivesse sido atingida pela imobilidade.”
A Igreja, como sociedade universal e perpétua, recebeu o poder de adotar suas leis, às necessidades de todos os tempos e de todos os lugares. Devendo pois proceder, em razão direta, às leis providenciais que regem a humanidade, a cujo bem é ordenada, é necessário que siga seus movimentos, interrogue sobre suas exigências, satisfaça-lhe as necessidades, no âmbito de sua missão. Ai da Igreja Romana se tivesse sido atingida pela imobilidade, como o foi a Igreja cismática! Daqui se pode obter uma esplêndida demonstração de sua divindade. De fato, a Igreja cismática trocou o elemento imóvel, isto é o dogmático, e permaneceu estacionária no elemento variável. Enquanto a Igreja Romana, permanecendo firme, como torre que não cai, no elemento divino, soube mostrar uma juventude sempre viçosa, uma vitalidade sempre exuberante, dobrando-se e redobrando-se sobre o fluxo e refluxo das gerações humanas, cercada de variedades 33
“Olhar o céu, sofrer e calar.”
É necessário ter paciência e esperar somente no auxílio de Deus. Mas não pense que eu esteja desanimado: trabalho indiretamente, porque não acredito viável fazê-lo diretamente. A oposição àquele partido, eu a considero como um dever de ministério e jamais deixarei de cumpri-lo, com prudência, firmeza, quanto Deus queira, se bem que tenha perdido a confiança nos homens. A experiência do mundo, querido irmão, me fez reacreditar em muitas e muitas coisas e lamento aqueles dias nos quais a minha alma, todo ardor, via a Igreja toda perfeita e tudo o que lhe pertence, cor-de-rosa. Mas as mudanças chegaram e elas também têm a sua razão. Sempre mais me desprendem das coisas deste mundo e me fazem voltar ao programa que vos propunha tempos atrás. 34 Caro Monsenhor, precisamos esquecer as tristezas da hora presente, aos menos por algumas semanas. A Igreja parece transformada em uma verdadeira babel. Talvez o presente seja um dos mais tristes períodos da sua história. Lá em baixo vêm o mal, talvez o deplorem em segredo, mas em público ou nada, ou atos que parecem encorajar os demolidores da ordem hierárquica. É prudência humana? É fraqueza? É cumplicidade? É por medo dos homens, que se deixam demolir? Só Deus o sabe; aquilo que eu sei é que em nenhuma sociedade organizada se toleraria semelhante patifaria e semelhantes patifes. É mesmo necessário olhar para o céu, sofrer e calar. Se sabes calar e sofrer. “Se sabes calar e sofrer, sem dúvida, verás sobre ti a ajuda do Senhor”. Ë uma grande máxima, cheia de sabedoria. 35 Acredito que a seguinte máxima contém uma grande sabedoria: “Permanecer em perfeita tranqüilidade a respeito de tudo o que acontece, por disposição divina, não só em relação a si mas também em relação à Igreja, agindo em seu favor, seguindo o chamado divino. 36
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29. Homilia de Natal, 1876 (AGS 3016/1). 30. União com a Igreja, obediência aos legítimos Pastores. Placência, 1896, pp. 14-15. 31. O Concílio Vaticano I, Como, 1873, pp. 214-215. 32. A Igreja Católica, Placência, 1888, pp. 10-13. 33. Intransigentes e transigentes, Bologna, 1885, pp. 16-17. Alguns “intransigentes” criticavam Leão XIII por ter abandonado a rígida disciplina que Pio IX havia adotado contra o governo italiano. 34. Carta a G. Bonomelli, 23-5-1883 (correspondência S. B., p. 126). O “partido era aquele dos intransigentes” mais radicais. “Que tal programa: ‘Chorando os males da Igreja, entregar-me-ei inteiramente à oração e ao exercício do sagrado ministério, fazendo o que julgarei oportuno, para o bem das almas e não procurando senão preparar-me para a morte.’” (Id., 19-9-1882, Id., p. 71). 35. Id., 6-5-1891. (Id., pp. 284-285). 36. Id., janeiro, 1886 (Id., p. 191). A máxima é de Antonio Rosmini. |
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