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Congregações Scalabrinianas dos Missionários
e Missionárias de São Carlos
Scalabrini Uma voz atual

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  • SEGUNDA PARTE       HOMEM DA IGREJA E PARA A IGREJA
    • 3. O BISPO
      • b) PATERNIDADE E SERVIÇO
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b) PATERNIDADE E SERVIÇO

 

“Abraçarei a todos, fazendo-me servo de todos.”

 

Confortado pelo dom da divina consagração, aumenta em mim a  esperança de que o Supremo Pastor do rebanho de Jesus Cristo Nosso Senhor, volvendo benigno o olhar à pureza da fé, ao amor à religião, ao fervor da piedade deste ótimo clero e povo da Igreja placentina, será constante e eficaz sustento à excessiva fraqueza do indigno Pastor.

             Quanto a mim, devedor a todos, segundo minhas forças, abraçarei a todos com meu ministério, fazendo-me servo de todos pelo Evangelho (1 Cor 9) e enviado antes de tudo aos pobres e aos mais infelizes, que levam a vida miseravelmente, na desolação, sofrerei com eles, sobretudo, procurando socorrer e evangelizar os pobres que, ricos de fé, foram os primeiros escolhidos pelo Redentor e herdeiros do Reino, prometido por Deus, àqueles que o amam (Tg 2).

             Sabendo ser chamado ao martírio do Episcopado, isto é, às fadigas, às asperezas, às angústias, será para mim dulcíssimo sofrer o peso e o calor da jornada. Alegremente consumirei o que é meu e mais, a mim mesmo, para vossas almas (lCor 11).

A fim de não desanimar, espelhar-me-ei com o Apóstolo, no autor e conservador de nossa fé, que pela glória do Pai e salvação das almas, se fez homem, obediente até à morte de cruz. Renovado no espírito de minha vocação, opor-me-ei fortemente às artes sacrílegas dos ímpios, com as quais se tenta derrubar a casa erigida pelo mesmo Cristo sobre a pedra firme.


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             Revestido com a couraça da justiça, sustentando o escudo da fé, cujo poder extingue os dardos fogosos dos inimigos de Deus e impunhando a espada do espírito que é a palavra divina, combaterei o bom certame, firme na esperança de que, quem iniciou a obra celeste em mim, saberá concluí-la, confirmá-la e consolidá-la. Quem me revestiu deste cargo, virá Ele mesmo, em meu auxílio, para administrá-lo bem (S. Leão Magno, Sem. 2).

             Portanto, se em mim existir conselho, virtude, ciência nas coisas divinas e humanas, prudência, tudo vos será completamente dedicado, a fim de que o Reino de Deus se dilate entre nós, domine a paz, e cada um, quanto possível, conduza santa e placidamente a vida. Não evitarei fadigas, para tornar-me pai dos infelizes, preceptor dos ignorantes, reitor dos Sacerdotes, pastor de todos, a fim de que, fazendo-me tudo para todos, possa ganhar todos para Cristo.

             Com o exemplo das virtudes pastorais, com retos conselhos, com sérias sugestões, admoestando, conjurando, virilmente se for necessário, repreendendo os veteranos, como pais e os mais jovens, como filhos, esforçar-me-ei, segundo minhas forças para preparar um povo perfeito, para o Senhor, não cessando jamais de suplicar junto a Deus, com humildade e lágrimas, para que Ele mesmo incremente as minhas obras. 13

 

“No Bispo não pode deixar de existir plenitude de amor.”

 

             Sacrificar-se de todos os modos, para dilatar o reino de Jesus Cristo nas almas, expor, se necessário, a própria vida, para a salvação de seu amado rebanho, colocar-se de joelhos diante do mundo para implorar, como uma graça, a permissão para lhes fazer o bem, eis o espírito, o caráter, a única ambição do Bispo. Quanto possui de autoridade, de espírito, de saúde, de força, tudo usa para este nobre fim...

             Qual a obra melhor e mais benéfica que não alcance proteção e favor do Bispo? Talvez ele seja recompensado, com ingratidão, não importa. A sua caridade nunca diminui (...).

             Deus é caridade e quanto mais uma alma for unida a Deus, tanto mais existe nela a plenitude de caridade. Eis porque o Bispo não ama apenas a Deus, não ama só os irmãos, mas ama, outrossim, tudo o que é digno de amor. Tudo, sem exceção. Ele ama cada coisa verdadeira, cada coisa bela, cada coisa grande, cada coisa boa, cada coisa santa: matéria e espírito, razão e fé, natureza e graça, civilização e religião, Igreja e estado, família e pátria. Ele ama todas as harmonias da natureza humana, e as ama porque, não pode deixar de amá-las;


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porque, no seu coração, unidos pela plenitude do Espírito Santo Deus, verdade, beleza, bondade, vida, amor por essência não podem ser, senão, plenitude de amor.14

 

“Não existe, para mim, entre vós amigo ou inimigo,

porque todos sois filhos.”

 

           Falei-vos, francamente, e de coração aberto, como exige o meu dever. Talvez a alguém pareceu amarga alguma reprovação? Ser-me-ia muito doloroso, porque, crede meus filhos, se detesto o mal, não tenho sombra de ressentimento com ninguém. Amo-vos e exatamente porque vos amo, me indigno contra quem se torna para vós, pedra de escândalo e procura vos trair. Abraço-vos a todos em Jesus Cristo, gostaria de colocar-vos todos aqui, dentro do meu coração; darei a minha vida e me tornarei de boa vontade anátema por causa de vós para reconduzir-vos à salvação.

             Para mim, não existe entre vós, amigos ou inimigos, sois todos filhos da minha família, todos assinalados na fronte com o sinal da redenção, todos destinados a ser a minha alegria e a minha coroa. Dir-vos-ei aquilo que um santo Bispo dizia a seu povo: Quando talvez fosse do agrado de Deus, viesse o dia no qual, às adversidades e às contradições do meu ministério, se acrescentassem as vossas ingratidões e as vossas maldições, tenho convicção de que, com a graça do Senhor, vos responderia bendizendo-vos e amando-vos ainda. 15

 

 

 “O coração de pai.”

 

             Os anos de episcopado que por vossa fé e bondade são hoje motivo de festa, para mim são de tremor e temor. Hoje, mais do que nunca, eu sinto o peso formidável, que se agrava sobre meus ombros. Penso em tantas graças particulares, insignes, extraordinárias, graças de predileção, que através de uma assídua cooperação me teriam levado a um alto grau de perfeição, e temo. Penso na grande conta que deverei prestar ao juiz Divino, dos cinco lustros, desde que sou Bispo; penso nos perigos que traz consigo,


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especialmente em nossos dias, o cuidado pastoral, penso que terei de dar conta de tantas almas que me precederam na grande viagem para a eternidade, de todos e de cada um de vós, e se me aterroriza o futuro, o passado me humilha profundamente e me perturba. Aterroriza-me, porque sou vosso Bispo, direi com Sto. Agostinho.

             Humilha-me e me confunde o pensamento de todos os bens que vos teria obtido uma vontade mais enérgica, um zelo mais iluminado, uma vida mais operosa.

Lembro-me de uma promessa que vos fiz, no dia do meu solene ingresso, a primeira vez que tive a consolação de vos falar. Depois de vos ter prevenido de que nada teríeis encontrado em mim, de quanto admirastes nos meus predecessores, francamente acrescentei: Asseguro-vos, porém, que encontrareis um coração de pai. Os fatos correspondem à palavra dada? Não ouso afirmá-lo.

Somente posso assegurar-vos: que sempre vos amei, que vossa alegria, sempre foram minhas alegrias, as vossas dores, minhas dores. Meu amor por vós, ó placentinos, não conheceu alternância, nem jamais foi enfraquecido por contradições ou ofensas. Se odiei a culpa, procurei sempre abraçar o culpado.

Vim, desejoso unicamente de vossa salvação: Vim, como o Apóstolo, aos Coríntios, não confiando nas palavras da sabedoria humana, mas na manifestação do espírito e da virtude. Vim, anunciando a paz; nunca poupei sacrifícios, para crescer no vosso meio, de preferência como a modesta oliveira, procurando que à sombra florescessem a caridade, o amor a Jesus Cristo, à Igreja, a seu Chefe Augusto, o desejo eficaz do bem desta amadíssima cidade e diocese.

             Amei-vos a todos sem distinção. Se alguém, alguma vez viu minha face tomar ares de estranha severidade, enquanto passava sobre minha fronte uma nuvem de tristeza e minha palavra assumia tom de reprovação, saiba que aquela tristeza, aquela severidade, aquela reprovação saíam de um fundo de amor, partiam de um coração que gemia, porque contrariado, no desejo do bem.

             Amei-vos por dever de justiça, porque meu povo, assim não fossem defeituosos os meios, como gostaria de demonstrar-vos não só com palavras, este amor! Cada ano que passou foi um anel a mais na corrente que me une a vós, corrente construída pelo amor recíproco, corrente que, longe de enfraquecer com o tempo, é sempre mais reforçada, torna-se inquebrantável.16




13.  Primeira Carta Pastoral, Como, 1876, pp. 2-3.



14.  Discurso do Jubileu de D. G. Bonomelli, Cremona, 1896, pp.14-15



15.  União com a Igreja, obediência aos legitimos Pastores, Placência, 1896, pp. 42-44. A “pedra de escândalo” era o Pe. apóstata, Pe. Paulo Miraglia (cf. Biografia, pp. 872-905).



16. Discurso do Jubileu episcopal, 1901 (AGS 3018/13).






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