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Bento XVI
Discurso à Diocese de Aosta

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A questão da comunhão aos fiéis divorciados e novamente casados.

Todos nós sabemos que este é um problema particularmente doloroso para as pessoas que vivem em situações em que são excluídas da comunhão eucarística e, naturalmente, também para os sacerdotes que desejam ajudar estas pessoas a amar a Igreja, a amar Cristo. Isto levanta um problema.

Ninguém de nós dispõe de uma receita já feita, também porque as situações são sempre diversificadas. Diria que é particularmente dolorosa a situação de quantos tinham casado na Igreja, mas não eram verdadeiramente crentes e só o fizeram por tradição, e depois, contraindo um novo matrimónio não válido, converteram-se, encontraram a fé e agora sentem-se excluídos do Sacramento. Este é realmente um grande sofrimento e quando fui Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé convidei várias Conferências Episcopais e especialistas a estudarem este problema: um sacramento celebrado sem fé. Se realmente é possível encontrar nisto uma instância de invalidade, porque ao sacramento faltava uma dimensão fundamental, não ouso dizer. Eu pessoalmente pensava assim, mas dos debates que tivemos compreendi que o problema é muito difícil e ainda deve ser aprofundado. Mas considerando a situação de sofrimento destas pessoas, deve ser aprofundado.

Não ouso dar agora uma resposta, mas em todo o caso parecem-me muito importantes dois aspectos. O primeiro: mesmo que não possam receber a comunhão sacramental, tais pessoas não são excluídas do amor da Igreja e do amor de Cristo. Uma Eucaristia sem a comunhão sacramental imediata não é certamente completa, pois falta algo essencial. Todavia, é também verdade que participar na Eucaristia sem a comunhão eucarística não é igual a nada, é sempre um estar envolvido no mistério da Cruz e da ressurreição de Cristo. É sempre uma participação no grande Sacramento, na dimensão espiritual e pneumática; e também na dimensão eclesial, se não estreitamente sacramental.

E dado que é o Sacramento da Paixão de Cristo, Cristo sofredor abraça de modo particular estas pessoas e comunica-se com elas de outra forma, e portanto elas podem sentir-se abraçadas pelo Senhor crucificado que cai por terra e sofre por elas e com elas. Por conseguinte, é necessário fazer compreender que mesmo que, infelizmente, falte uma dimensão fundamental, todavia tais pessoas não devem ser excluídas do grande mistério da Eucaristia, do amor de Cristo aqui presente. Isto parece-me importante, como é importante que o pároco e a comunidade paroquial levem tais pessoas a sentir que, por um lado, devemos respeitar a indissolubilidade do Sacramento e, por outro, amamos as pessoas que sofrem também por nós. E devemos também sofrer juntamente com elas, porque dão um testemunho importante, a fim de que saibam que no momento em que se cede por amor, se comete injustiça ao próprio Sacramento, e a indissolubilidade parece cada vez menos verdadeira.

Conhecemos o problema não apenas das Comunidades protestantes, mas também das Igrejas ortodoxas, que muitas vezes são apresentadas como modelo em que os fiéis têm a possibilidade de voltar a casar. Mas somente o primeiro matrimónio é sacramental: também eles reconhecem que os outros não constituem um Sacramento, mas são matrimónios de forma reduzida, redimensionada, numa situação penitencial; e de certo modo tais pessoas podem receber a comunhão, mas conscientes de que isto lhes é concedido "em economia" como dizem por uma misericórdia que todavia não impede que o seu matrimónio não seja um Sacramento. Outro ponto nas Igrejas Orientais é que para estes matrimónios foi concedida a possibilidade de divórcio com grande facilidade, e que portanto o princípio da indissolubilidade, verdadeira sacramentalidade do matrimónio, fica gravemente ferido.

Portanto, por um lado há o bem da comunidade e o bem do Sacramento que devemos respeitar, e por outro há o sofrimento das pessoas que devemos ajudar.

O segundo ponto que devemos ensinar e tornar credível, também para a nossa própria vida, é o facto de que o sofrimento, de diversas formas, faz necessariamente parte da nossa vida. E diria que se trata de um sofrimento nobre. É necessário, novamente, fazer compreender que o prazer não é tudo. Que o cristianismo nos dá alegria, como o amor dá alegria. Mas o amor é também sempre uma renúncia a si mesmo. O próprio Senhor nos ofereceu a fórmula do que é o amor: quem se perder a si mesmo, encontrar-se-á; quem ganhar e se conservar a si mesmo, perder-se-á.

É sempre um Êxodo e, portanto, também um sofrimento. A verdadeira alegria é algo distinto do prazer; a alegria aumenta e amadurece sempre no sofrimento, em comunhão com a Cruz de Cristo. Somente aqui nasce a verdadeira alegria da fé, da qual também tais pessoas não são excluídas, se aprenderem a aceitar o seu sofrimento em comunhão com o de Cristo.




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