Enunciado
detalhado, feito ao bispo de Nantes, das razões pelas quais o Instituto cessou
de pagar a pensão de um jovem protegido do irmão Urvoy de Saint Bedan.
2 de julho
de 1867
Monsenhor,
Recebi
a carta que Sua Grandeza me fez a honra de me escrever no dia 22 do mês
passado, com uma nota entregue pelo Mestre Billot, notário, concernente à
pensão que pagamos durante alguns anos a seu Seminário para um jovem protegido
do Sr. Urvoy de Saint Bedan, e que cessou de ser paga por nós desde o mês de
outubro passado.
As
razões graves que nos obrigaram a tomar essa decisão não parecendo ter sido
apresentadas à Sua Grandeza, devo fazer-lhe um breve enunciado.
Os
dons que foram atribuídos às nossas obras pelo Sr. Urvoy nos foram feitos por
ele, não a título de sucessão, mas enquanto ele vivia, e com sua vontade
expressa de consumá-los imediatamente. É verdade que, no momento em que suas
disposições acabavam de ser regradas e formuladas com o pleno assentimento de
sua família, ele caiu doente e faleceu após uma breve doença, mas manteve
constantemente suas liberalidades que já estavam realizadas a seus olhos. Ele
as tinha feito, segundo nossa convicção, sem restrição alguma e ninguém de nós
guardou a menor lembrança de que tenha posto condição onerosa alguma a seus
dons. Longe disso, se as resistências de nossa Comunidade não tivessem feito
oposição, sua família também não o ignora, o Sr. Urvoy teria favorecido bem mais
ainda as obras.
No
entanto, o Sr. Billot, intermediário dessas medidas, e cuja reputação tão
merecida e sentimentos cristãos respeitamos, acredita poder afirmar que, na
conversa que houve entre ele, o Sr. Urvoy e o Sr. Le Prevost, concordou-se
verbalmente que nossa Comunidade se encarregaria da educação de dois jovens
protegidos do Sr. Urvoy. Sem querer infirmar em nada a palavra tão autorizada
do Sr. Billot, declaramos que o Sr. Le Prevost não guardou um só instante a
mais leve impressão dessa circunstância. Não sendo sozinho para administrar os
interesses de sua Comunidade, prestou conta logo a seu Conselho das disposições
resolvidas em nome do Sr. Urvoy e todos podemos testemunhar que nenhuma menção
foi feita de nenhuma condição concernente a esses jovens protegidos.
Mais
tarde, um dos membros do Conselho teve que ir a Nantes, a pedido do Sr. Billot,
para receber de suas mãos as importâncias destinadas às nossas obras. Nem nessa
ocasião, nem em nenhuma das correspondências posteriores do Sr. Billot durante
os três anos que se seguiram, foi questão uma só vez do encargo deixado nesse
sentido à nossa Comunidade. Foi somente após esse longo prazo que, contra toda
expectativa de nossa parte, uma nota bastante considerável (de 1.300f se não me engano) nos
foi enviada. O Sr. Le Prevost, menos doente então do que hoje, expressou sua
surpresa ao Sr. Billot desse encargo imposto fora de tempo à nossa Congregação
e declarou nossa intenção de não aceitá-lo. No entanto, diante da insistência
do Sr. Billot e segundo o sentimento expresso pelo Sr. Conde de Bouillé,
consentimos em assumir essa boa obra, não como obrigação de justiça, mas como
sinal de nosso respeito e de nossa gratidão para com o benfeitor dos órfãos e
dos pobres. Nossa aceitação foi feita formalmente nesses termos.
Não
saberia repetir demais, Monsenhor, que está tão longe quanto possível de nosso
pensamento suspeitar um só instante a perfeita convicção do Sr. Billot e a
inteira sinceridade de suas declarações. Nossa confiança, no que diz respeito a
isso, é absoluta, mas tivemos de considerar que se tratava unicamente, afinal,
nessa circunstância, de impressões de memória das duas partes e que,
admitindo-se a retidão e a sinceridade dos dois lados, não se podia justamente
atribuir um peso preponderante antes a um do que a outro. É nesse sentido que
não pudemos ver, na reclamação que nos foi feita, uma obrigação de justiça.
Aceito
como ato de conveniência e de gratidão, esse fato foi cumprido fielmente por
nós durante vários anos e até o momento em que encargos pesados multiplicados
nos caíram em cima de repente. Nossa posição, desde então, tornou-se tão
difícil que ameaçava comprometer a existência de nossos estabelecimentos e
preparar um tipo de escândalo na diocese. O Arcebispado de Paris, ele mesmo inquieto
com essa situação, teve que testemunhar disso ao Sr. secretário de Monsenhor
que viu recentemente um dos Srs. Vigários Gerais.
Já
forneci, numa precedente correspondência, detalhes precisos que mostram ao
mesmo tempo a situação crítica de nossas principais obras e os sacrifícios
extremos pelos quais estávamos tentando impedir-lhes a ruína. Não acho,
portanto, Monsenhor, que seja necessário insistir nisso, assim como em algumas
apreciações pouco justas da nota do Sr. Billot. Se fosse necessário, apresentaria-lhe
documentos tão formais quanto possível sobre todos esses pontos.
Se,
bem pouco conhecidos por Monsenhor, tivéssemos necessidade de dar aos seus
olhos mais peso ao nosso Instituto, lembraria a bênção tão ostensivelmente dada
aos nossos começos por Dom Affre, a proteção constante de Dom Sibour, as
bondades e assistências notáveis do Cardeal Morlot, enfim o apóio que nos
concede ainda hoje Dom Darboy. Podemos acrescentar o testemunho do venerável
Bispo de Angers que, desde nosso primeiro dia, não cessou de nos acompanhar com
o olhar, iluminando-nos com sua elevada experiência, ajudando-nos em toda
ocasião por seus conselhos.
Não
sei que julgamento formará, Monsenhor, após esse longo enunciado. Declaro, ao
terminar, que, levados ao tribunal de Sua Grandeza, não declinaríamos sua
jurisdição. Encontramos na sua pessoa, Monsenhor, o Pontífice venerável, o
companheiro fiel do Santo Mártir que abençoou nosso berço. De antemão, nos
submetemos à sua decisão.
Dissemos
nosso sentimento sobre nosso direito, nossos embaraços presentes, as
dificuldades que nos causaria uma sobrecarga nova. Mas se, contra nossa
expectativa, Sua Grandeza julgar que deve, apesar de tudo, nos impor essa
obrigação, tomaremos as providências necessárias, devêssemos, para tanto,
vender os vasos sagrados, como estivemos a ponto de fazer numa ocasião recente.
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