Plano de um
diálogo para a distribuição dos prêmios. Empenho do Sr. Le Prevost em educar o
senso moral dos operários e dos pobres.
Vaugirard,
13 de julho de 1867
Caríssimo
filho em N.S.,
O
Sr. Emile [Beauvais] está muito embaraçado para seu diálogo da distribuição dos
prêmios. Examinou vários, fez experimentar um, nada vai. Está persuadido de que
Le Jugement Téméraire do Sr. Wilhem serviria melhor do que qualquer
outro. Mas acha, e sou de sua opinião, que essa pequena peça é curta demais,
vira bruscamente demais e, por isso mesmo, não dá satisfação ao espírito.
Pensava que poderia ser alongada um pouco, mais ou menos assim:
No
momento em que o juiz indiscreto, dissipadas suas falsas suspeitas,
começa a mudar e já está enternecido, aparece um bom velhinho que conseguiu
descobrir seus jovens visitadores e que chega a eles todo animado, tendo mil
coisas a lhes dizer. Sua mulher, que estava doente, acaba de ser curada pelos
cuidados de um médico enviado por eles; começa a andar; queria, a todo o custo,
achá-los, mas ainda fraca demais, insistiu para que ele os procurasse: ela quer
vê-los, lhes agradecer, chora de alegria quando fala deles, não estará contente
antes de tê-los visto e abençoado por sua caridade que a salvou, etc. (Se esse
bom velhinho pudesse evitar ser ridículo, sendo simples, singelo e tocante em
sua linguagem, acrescentaria um elemento de interesse à peça).
De
outro lado, um dos jovens visitadores enxerga nesse momento, pela janela, dois meninos
de uma família que ele visita; o mais novo parece banhado em pranto. O visitador vai
a seu encontro e o introduz. O que ele tem? O que querem? Como acharam o
patronato? Viram os visitadores entrar ali; o pequeno fez questão absolutamente
de falar com o Sr. Adolphe (não me lembro do nome do aprendiz); o porteiro não
queria que entrassem, daí suas lágrimas.
Imagine
um pequeno colóquio amável. Ele queria lhe mostrar um livro obtido na escola,
lhe recitar lições que o visitador lhe ensinou e que guardou bem: o pequeno
Moisés em seu berço nos caniços, o pequeno Jesus no presépio; (mistura um pouco
tudo isso) Jesus abençoa as crianças, etc. os passarinhos que não semeiam e que
colhem grãos de trigo etc. O irmão maior tem também coisas cordiais a dizer. (Se
tudo isso fosse dialogado de uma maneira viva, sem cair nem no idílio, nem no
grotesco, resultariam disso cenas comovedoras, que motivariam a conversão do juiz
temerário. Ele mesmo, emocionado, dá doces ou outros bombons às
criancinhas. Ao velhinho, tinha dado uma laranja e um dinheirinho para a mulher
doente. Assim convencido da felicidade que se tem em freqüentar o patronato e
fazer um pouco de bem aos que sofrem, ele se reúne aos aprendizes do patronato.
Indico
esses meios que podem, certamente, ser trocados por outros, mas que mostram a
lacuna a preencher, ao mesmo tempo que salientam melhor a moral da peça:
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É agradável ser bom.
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Só nos sentimos bem na sociedade dos bons.
O
Sr. Emile e eu contamos que você vá arranjar esse pequeno desenvolvimento hoje
mesmo, os momentos estando tão contados que um atraso torna a execução da peça
impossível. Essa pequena peça, um pouco recheada, terá seu valor para os
patronatos. Tal qual, não serve quase para nada.
Seu
afeiçoado amigo e Pai
Le Prevost
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