Exortação para
voltar-se para Deus. O Sr. Le Prevost gostaria de exprimir-llhe com mais calor
sua amizade, mas seus próprios sofrimentos não se prestam a isso.
3 de março
de 1835
Quantas
tribulações, quantas penas. Como o lastimo, caro amigo. Sua última carta
fazia pressentir coisas melhores, e eu tinha reprimido, por simples obediência,
as atenções e a alegria que acreditava doravante plenamente justificadas. Mas
eis mais uma reviravolta, não será a última, caro amigo, esperemos. Os
antecedentes exigem uma outra conclusão, e qualquer que seja, aliás, não
posso pensar que se resuma, no total, em algum conselho recebido de um espelho,
na embriaguez de uma valsa após uma noite de baile. A experiência e amargas
revelações, quaisquer que fossem para você, tenho confiança, a mão de Deus, que
lhe foi tão suave até agora, saberia ainda amenizá-las. Ela o dotou de uma
imaginação rica e de um coração confiante. A tais dons que poderiam tornar-se
tão funestos, ela teve que acrescentar-lhes um ambiente e pontos de defesa;
quais são, não sei, mas você precisa deles, amigo, e conto com isso, não
lhe faltarão. Gosto de pensar, aliás, que seu ardor demais vivo pôde exagerar
muito o valor de algumas circunstâncias explicáveis e pouco significativas
talvez em si. Aguardo a esse respeito uma nova carta que você fará curta,
se sua disposição o exigir, mas que desejo pronta, você acreditará facilmente,
caro amigo.
Tenha coragem, caro Victor, talvez isso não passe de uma provação, ou, antes o
acharia, uma lição. Suporte-a suavemente e tudo se apaziguará. Quem sabe o que
um ardor como o seu podia trazer de humilhação e de esquecimento para um outro
amor que sempre quer ganhar e não sofre depressão. Não receio, caro amigo, ao
acaso, trazer sempre de volta seu pensamento para esse lado, porque conheço
profundamente sua alma e porque na felicidade como no sofrimento, não lhe seria
necessário outro remédio, o uso variando somente, mas tendo que aplicar a uma
como a outra uma calma refrescante e moderadora.
Pedirei mais ardentemente a Deus por você, caro amigo, durante esses dias de
tormenta; qualquer que seja sua própria situação, procure também sair um pouco
por ali. Será ao menos um instante para retomar fôlego, e você ficará mais
forte. Quereria, querido amigo, encontrar acentos mais ardentes, mais simpáticos
e consoantes com o estado de sua alma, mas minha vida facilita isso tão pouco!
Perdão, caro Victor, e se não me achava a voz bastante emocionada, bastante
penetrante, acredite, ao menos, que é do mais profundo de meu coração que ela
vem para chegar até você.
Seu irmão e amigo
Léon Le Prevost
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