Festa de
Nossa Senhora da Salete. Terrível acidente nas oficinas; proteção de Maria.
Votos de cinco escolásticos. Grandeza e mérito dos pequenos fatos de cada dia:
“a nós cabe elevá-los pela intenção que os transforma, os torna gloriosos para
Deus e meritórios para nós; deixemos nossos pés sobre a terra, mas tenhamos a
cabeça e o coração no Céu”.
Chaville,
25 de setembro de 1867
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Estou
feliz porque as águas de Allevard lhe foram salutares. Vai voltar para nós
refeito e forte, senão gordo, o que não é absolutamente necessário. Alegro-me
também de que a Sra. de Varax foi, por sua presença, dar uma amável conclusão à
sua viagem. Por doce que lhe tenha sido a solidão absoluta, a solidão a dois,
quer dizer com uma afeição toda íntima, lhe será ainda melhor.
Aqui,
onde seu pensamento de religioso o reconduz às vezes, tudo anda segundo nossos
costumes. A festa de Nossa Senhora da Salete foi tão edificante como podíamos
desejar. Embora tenhamos feito uma abertura na grande capela do Sagrado
Coração, para ter uma entrada e vista sobre o santuário da Salete, este último,
em todas as missas da manhã, sempre esteve repleto de uma multidão solícita. À
tarde, 1200 ou 1.500 pessoas acompanhavam a procissão e tomavam parte nos
exercícios. No entanto, não fazemos anúncio nenhum, para não nos afastarmos das
recomendações do Arcebispado.
Nossa
Senhora da Salete nos protegeu visivelmente em uma de nossas oficinas, onde um
terrível acidente, acontecido nestes últimos dias, poderia ter sido funesto
para várias de nossas crianças. Foi na oficina das pontas de aço que esse
triste acontecimento se realizou. A mó de uma roda que gira com uma extrema
rapidez estourou de repente com explosão, despedaçando um grande fogão de ferro
fundido colocado perto de lá e quebrando a cabeça do coitado jovem operário ou
patrão que dirigia os trabalhos. Os cuidados mais solícitos do médico e de
nossos irmãos em primeiro lugar, os esforços do cirurgião do hospício em
seguida, não puderam fazer voltar o pobre jovem, que expirou uma hora e meia
depois, munido da extrema unção somente, não tendo recuperado os sentidos, ao
menos aparentemente. Esse acontecimento nos afligiu profundamente. Esse jovem,
inteligente, trabalhador, dedicado à sua obra, notavelmente instruído e
perfeitamente distinto, tinha um futuro muito prometedor. Estava sozinho com
sua mãe e tinha juntado todos os elementos de uma fortuna quase assegurada.
Tudo perece com ele, a pobre mãe vai ficar numa viuvez profunda. Deus tem seus
segredos, esperamos que o pobre jovem tenha encontrado graça diante dele.
Parece-nos que sua retidão de coração devia colocá-lo não longe do Deus de
verdade e de misericórdia. Rezará certamente por ele e por sua mãe. Nenhuma das
doze crianças que estavam ao redor da roda foi atingida. Que o Senhor e Nossa
Senhora, protetora de nossas oficinas, sejam benditos!
Já
que estou falando de oração, reze por nosso irmão Alexandre [Legrand]. Faz-se,
neste momento (o Sr. Chaverot com ele) uma novena de missas em Saint Lazare, rua de
Sèvres, e toda a Comunidade se une ao ato. Terminará amanhã, sexta-feira,
aniversário do falecimento de São Vicente de Paulo.
Nesse
mesmo dia, se realizará a cerimônia dos votos de cinco de nossos jovens
seminaristas e do irmão Lebrun, de Metz, os quais não podem assistir ao retiro.
Tomaram dois dias de recolhimento e vão todos pronunciar seus compromissos com
grande alegria de coração. Lamento que este aviso lhe chegue tão tarde, mas,
quem sabe, seus bons anjos da guarda lhe levem, talvez, algum pressentimento.
Recebo
neste instante para você, vindo de Arras, o aviso anexo, que nossos irmãos não
puderam entender e para o qual vimos uma só saída: reenviá-lo imediatamente. O
Sr. Trousseau pergunta se não seria por causa do vinho não pago. Pedir
explicações prontas na sucursal de Arras nos pareceria o partido único a tomar.
Acabo de consultar seu livro de despesas. O pensamento do Sr. Trousseau poderia
ser justo, pois encontro, nos dias 7 e 8 de julho, o pagamento dos direitos de
entrada e do porte de um barril de vinho, mas não vejo em seguida nenhum
pagamento para o preço do próprio vinho.
Acho
que o jovem Lefebvre se acostuma pouco a pouco em Vaugirard. Teve, no começo, um pouco de saudade
misturada com algum mal-estar, ambos se ajudando reciprocamente. Vai bem agora.
Parece manso e flexível, mas um pouco demais, talvez, como é costume para as
naturezas de Arras.
Gosto
muito da flanela e acredito que lhe convém perfeitamente. Nenhuma carta
interessante chegou para você. Um agradecimento do Sr. de Bonnière para o São
Vicente, e de uma irmã de São Carlos por diversos objetos dela que você lhe
enviou.
Coisa
que acreditará dificilmente: nesta hora exata, ainda não sei precisamente em
que dia começará nosso retiro. Nossos irmãos se desesperam. Multipliquei os
recursos, mensageiros, cartas; o R.P. Olivaint, passando de um retiro para
outro, não escuta mais, não escreve mais. Quando o Sr. Hello o viu de nossa
parte, na última vez, ia começar o retiro do Seminário de São Sulpício para o
clero diocesano, assunto importante e bastante preocupante, entendo, para
deixar-lhe pouca liberdade de espírito. O Sr. Paillé vai tornar a vê-lo.
Teremos
definitivamente, acho, uma pequena amostra de cursos de filosofia este ano em
Chaville para o Sr. Girard e o Sr. Moes.
Acho
ter-lhe dito tudo em
pormenores. Gostaria, em lugar de todos esses detalhes, tê-lo
entretido somente de coisas espirituais e levando mais diretamente a Deus, mas,
infelizmente, o decorrer da vida se compõe de fatos banais, não sem propósito e
para nos manter bem humildes. A nós cabe elevá-los pela intenção que os
transforma, os torna gloriosos para Deus e meritórios para nós. Essa disposição
é verdadeiramente marcada pelo selo divino e cheia de consolação para a alma.
Deixemos, portanto, nossos pés sobre a terra, mas tenhamos a cabeça e o coração
no Céu.
Adeus,
caríssimo amigo e filho. Todos comigo o abraçam aqui, esperando melhor, já que
estaremos logo reunidos.
Le Prevost
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