Diligências
para um preceptor.
Chaville,
2 de março de 1868
Senhora Marquesa,
Vi ontem o preceptor que me havia sido indicado
para seu caro filho. Seu nome é Bonnald, tem 39 anos. Tudo o que vi dele nesta
primeira entrevista é extremamente em seu favor.
O Sr. de Caulaincourt poderá, aliás, tomar mais
amplas informações com o Sr. Conde de Guébriant, 14, rua Saint Guillaume. O Sr.
Bonnald passou muitos anos nessa família. Deve voltar a ela daqui a dois anos
para a educação do segundo filho do Sr. de Guébriant, o mais velho tendo
entrado num colégio para estudos especiais, para se preparar à carreira
militar.
O Sr. Bonnald me parece ser um cristão sincero
e bem esclarecido. Está atualmente em excelentes condições no que toca a seus
interesses próprios, mas não quer continuar nelas porque não vê,
conscienciosamente, que possa fazer algum bem a um aluno que não tem gosto
nenhum para o trabalho e não cumpre os deveres mais essenciais de religião, nem
a Santa Missa no domingo. Está, portanto, determinado a não ficar nessa
posição.
Acho que o Sr. Bonnald é muito capacitado para
preparar um jovem ao bacharelato.
É perfeitamente simples e sem pretensão em suas
maneiras. Porta-se bem, conversa bem, mas não tem a elegância de um homem da
sociedade, sem que haja nada nele, todavia, que cheire nem a falta de jeito nem
o embaraço. Noto essa circunstância porque me parece um indício de costumes
modestos e deferentes que manteriam o Sr. Bonnald em seu lugar, sem criar para
a Senhora nem para a Sra. d’Hurbal nenhum constrangimento nem mal-estar.
Pressenti também, nos pormenores que me dava, que se poderia esperar dele para
seu aluno os cuidados prudentes e afetuosos que os pais têm de pedir de um
preceptor.
Tinha, disse-me, na família do Sr. de
Guébriant, 300f
por mês e se tinha reservado, ao menos para o tempo que se passa em Paris,
algumas horas no domingo, para visitar alguns amigos, em particular o saudoso
padre Pereyve, sacerdote tão distinto e de um tão lindo talento. Talvez
consentisse em contentar-se com vantagens um pouco menores se achasse, como
aconteceria junto de você, Senhoraurbal
Hur
, tudo o que poderia lhe convir moral e
cristãmente.
Desejo muito que o Sr. de Caulaincourt veja o
Sr. de Guébriant e converse em seguida, se for o caso, com o Sr. Bonnald. É uma
grave responsabilidade, a de escolher um preceptor e não ousaria tomá-la
sozinho.
O Sr. Bonnald reside, em seu novo e provisório
emprego, na rua Truffaut, 25 nas Batignolles. Desejaria, no caso de se ter de
vê-lo, que o fizessem vir, indicando-lhe um lugar de encontro na rua Saint
Florentin ou de outra maneira. Está livre quase somente à noite, das 8 às 10h.
Não achei, Senhora, dever esconder-lhe seu nome, que me pediu. Disse-me ter
encontrado muitas vezes, nos passeios, seu caro filho, sem ter tido ocasião de
falar com ele.
Acreditei pressentir que um eclesiástico lhe
teria sido mais conveniente. Para a Senhora, e para a Sra. d’Hurbal, concebo
bem que teriam preferido assim, mas parece-me que, na idade do Sr. Richard, um
leigo seguro, instruído, sinceramente cristão, será mais ativo, mais
disponível, dando-lhe, no entanto, as mesmas garantias. Acha-se, aliás, mais
dificilmente um preceptor eclesiástico que reúna as qualidades desejáveis,
porque é somente por exceção que eclesiásticos de um verdadeiro mérito podem e
querem consagrar-se a educações particulares.
Aliás, na minha conversa com o Sr. Bonnald, não
prejulguei, de maneira alguma, a decisão a intervir. Queria reservar-lhe
inteiramente, Senhora, assim como à Sra. d’Hurbal e ao Sr. de Caulaincourt,
julgar por si mesma o que será o mais vantajoso no interesse de seu caro filho.
Tenho sempre em memória a lembrança de sua tão
saudosa avó. Rezo por ela e pela família aflita que consolará, espero, do alto
do Céu.
Queira aceitar, Senhora Marquesa, e partilhar
com a Senhora sua mãe, todos os meus sentimentos de bem respeitoso devotamento
em N.S.
Le Prevost
Já que me permite ser também o amigo de seu
caro filho, ofereço-lhe minhas bem afetuosas lembranças.
P.S. Nenhuma dificuldade para o repetidor.
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