Conselhos
sobre a parte de autoridade a deixar ao Sr. Charrin. Necessidade da entrega à
vontade de Deus: entrado na vida religiosa, o religioso entrou “na conduta de
Providência onde Deus se reserva conduzir tudo sem lhe deixar prever nada, ao
menos de longe”. Notícias de Sainte-Anne. Bênção do papa.
Chaville,
12 de abril de [1868]
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Não achei, até agora, o momento para lhe
escrever e responder às suas afetuosas cartas. A vida nômade que levo desde o
começo do inverno favorece pouco a ordem e a atividade nas ocupações, mas levei
em conta as comunicações que continha sua correspondência e, sobretudo, me
recordei, diante de Deus, de tudo o que lhe interessava.
Estranharia muito que suas caras irmãs não
tivessem recebido sua primeira carta: eu mesmo a pus num envelope com um selo e
a confiei a um de nossos irmãos para levá-la imediatamente. O Sr. Myionnet
esteve à sua casa ontem para avisar suas irmãs dos pedidos que fazia em roupas,
etc., e, ao mesmo tempo, para dar-lhes notícias suas e tomar delas. Não o revi
depois, mas o Sr. Charrin lhe dirá o resultado dessa visita, o qual, espero,
será tranqüilizador para você.
Acho, meu caro amigo, que será melhor, por
causa de sua idade e de sua maior experiência, ter autoridade sobre o Sr.
Charrin que, aliás, encontraria dificuldade, tenho certeza, em pegar as coisas
de outra forma. Encontrará nele um ajudante dedicado e cheio de boa vontade. É
também de um caráter manso e amável que o tornará agradável aos que freqüentarão
o Círculo. Não se apresse, no entanto, sistematicamente, para lhe deixar plena
influência, direção, vigilância. Necessita de amadurecer um pouco para que se
possa confiar tanto nele. Ainda não está acostumado a prever o conjunto das
coisas num empreendimento ou operação qualquer e a acompanhá-lo com ordem e
precisão. Contar demais com ele, desde o início, seria se expor a decepções.
Guarde, portanto, por enquanto, a responsabilidade dos movimentos. Verá aos
poucos o que pode, sem medo, lhe entregar. Vejo bem, como você, que resultará
um pouco de incômodo e talvez de atraso para seus estudos nesses cuidados dos
primeiros tempos, mas conte com Deus que bem saberá lhe devolver em assistência
de graça o que tiver sacrificado para seu serviço. A obra que faz é empreendida
para sua única glória. Nem você, nem nós intrometemo-nos nela por nossa vontade
própria; estamos nela porque nos pareceu claramente que Ele nos chamava.
Tenhamos, portanto, confiança: com ou sem êxito, com dificuldades ou atrasos,
tudo será bem, já que tudo será pesado e determinado por sua sabedoria e seu
amor. Façamos bem hoje o que Ele nos dá para fazer; amanhã, Ele nos dirá o que
espera de nós. Pareceu-me que não estava isento de um pouco de preocupação
sobre o futuro e sobre o momento em que reencontraria uma plena liberdade para
retomar a regularidade costumeira de seus movimentos e de seus estudos.
Entrando totalmente à disposição de Deus pela vocação religiosa, entrou na
ordem sobrenatural, na conduta de Providência em que Deus se reserva tudo
conduzir sem nos deixar prever nada, ao menos de longe. É preciso, nessa via,
muita entrega e não muito raciocínio. Quando se entra nela francamente e sem
resistência, se é grandemente consolado, pois se sente a ação divina quase
visivelmente e nada é tão doce para a alma do que ver que não está sozinha e
que Deus lhe é presente. Entrega de si e confiança, chegaremos a melhor do que
teríamos ousado esperar.
Todos os nossos irmãos me falam de você com
interesse e afeição, os de Chaville e de Sainte Anne em particular, mas todos
de maneira geral. Você já é da família e seu lugar, preparado um pouco desde há
muito, se fez bem rapidamente. Nossos retiros se processaram bem, ainda não sei
os resultados definitivos, mas tenho motivo para confiar que serão felizes. Não
ouvi dizer quase nada de Sainte Anne: os Srs. Planchat e Derny, saídos há mais
de oito dias, não deram sinal de vida, mas não terão ficado inativos. Está bem
certo disso como eu, o Sr. Planchat, nesse ponto, deu bastantes provas, de modo
que não haja inquietude sobre o emprego de seu tempo.
Hoje, dia da Páscoa, recebemos a bênção obtida
para nós do Soberano e bem-amado Pontífice Pio IX. Somos convencidos de que
traz para nós graças abundantes. Sem dúvida, você a terá recebido diretamente
com o Sr. Maignen. Invejamos sua felicidade. Confio que sua estada em Roma,
qualquer que seja sua duração, será benfazeja para sua alma e vantajosa para
sua carreira no sacerdócio. É uma grande alegria, é uma graça de escol para um
padre ter tocado os túmulos e as relíquias dos Santos Apóstolos e de tantos
Santos que compõem em Roma como que uma cidade à parte e como que um vestíbulo
do Céu.
Se encontrar à disposição o livro de Monsenhor
Gerbet sobre Roma, você o lerá com proveito. Outros dizem as maravilhas
exteriores dessa cidade abençoada, ele penetra-lhe a vida íntima e a elevada
significação.
Adeus, meu excelente amigo e filho em N.S. Quando o reverei?
Logo ou após muitos dias? Não sei, não sabemos. Mas está bem guardado, os anjos
com os santos devem agradar-se em
Roma. Meu espírito miserável se enfiará muitas vezes entre
eles para visitá-lo, abençoá-lo e também para abraçá-lo terna, paternalmente.
Seu amigo e Pai afeiçoado em Jesus e Maria.
Le Prevost, padre
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