Para
amparar seus irmãos provados em seu apostolado. Dificuldades da educação das
crianças. A insuficiência de pessoal é sua mais dura cruz. Refundição das
Constituições. Primeiro pensamento de uma viagem a Roma. Parecer sobre a
vocação do Sr. Le Camus.
Chaville,
30 de novembro de 1868
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Partilho os sentimentos que
experimenta sobre as dificuldades de suas obras em Amiens. Confio,
todavia, que não serão insuperáveis, pois a graça de Deus pode dar o suplemento
a todas as nossas insuficiências. É o que fez há mais de vinte e dois anos que
existimos. Tenhamos confiança, meu caríssimo amigo, e contemos bem que, após
algumas provações, encontraremos, afinal, um resultado feliz que, ao mesmo
tempo, nos deixará convencidos de nossa miséria e da bondade misericordiosa de
Deus. O Senhor tende constantemente a nos dar essa dupla visão. Asseguramos que
já a temos, mas nunca está bastante firme e bastante nítida, eis por que a
provação se renova muitas vezes.
A educação das crianças, das
crianças do povo sobretudo, é uma obra rude, de longa paciência, mas quando se
tem resignação para muito aguardar, para muito sofrer, chega a hora em que o
trabalho tem seu fruto e a dedicação, sua recompensa. É assim também para a
formação das almas na vida religiosa. É uma educação também, rude, lenta,
muitas vezes desconcertante. Paciência e coragem perseverante, e se chega!
Enfim, para nossa própria santificação, ter paciência, trabalhar e rezar são os
grandes e soberanos meios. Assim foram formados todos os santos. Portanto,
caríssimo amigo, vamos de dia para dia, sem nos cansarmos; nossas crianças
tornar-se-ão operários bons e cristãos, e nossos irmãos, verdadeiros
religiosos, e nós mesmos, servos segundo o Coração do divino Mestre.
A insuficiência do pessoal é sua
mais dura cruz, sem dúvida. Teria necessidade de um homem capaz para dar alguma
consistência à ação um pouco fraca de seus jovens irmãos. O Sr. Lantiez, que
conhece bem precisamente a situação de nossas forças, o disse quando estava perto
de você: estamos numa impossibilidade absoluta de fornecer atualmente essa
ajuda de que sabemos bem a real utilidade. Deus, espero, preencherá ainda essa
lacuna, fazendo uma parte mais abundante à sua graça.
Tinha previsto essas dificuldades
que deviam inevitavelmente resultar da ocupação definitiva da casa de Saint
Jacques, mas a situação em que se encontravam as duas obras reunidas lhes
impunha outros embaraços. Evitando um mal, se caiu em outro. Virá o
momento em que será possível remediar esta situação, mas, por enquanto, os que
suportam a carga estão bem preocupados. O bom Mestre os verá e, espero, lhes
mandará socorro. Essa fórmula de esperança parece talvez uma repetição, mas é
como a Glória ao Pai que termina os salmos: é sempre preciso acabar dessa
forma.
Acabo de terminar a refundição de
nossa Constituição, segundo a indicação do R.P. Cotel. Parece-me que o trabalho
assim retocado está, enfim, completo, mas, várias vezes já, acreditei que minha
tarefa tinha acabado, e, porém, sempre precisava recomeçar: será ainda assim,
talvez.
Ainda fica para aperfeiçoar, com os
elementos do R.P. Cotel, o Diretório comum e o dos Superiores, mas esses dois
documentos, dizendo respeito apenas ao interior da Congregação, não necessitam
ser submetidos ao exame dos Superiores. O fundo, aliás, em sua substância, está
na Constituição, e as duas partes que sobram têm somente por finalidade
facilitar sua aplicação.
Quase tinha prometido aos nossos
irmãos de Roma que um dos irmãos antigos ou eu talvez iríamos visitá-los no
decorrer deste inverno. Mas, no que me diz respeito, hesito muito, menos por
medo da viagem (pois, se é útil, não se deve hesitar) do que pela dúvida em que
estou sobre a utilidade de minha presença e de meus movimentos em Roma. Sou pouco próprio,
doravante sobretudo, para as intervenções exteriores. Substituir-me em Chaville
para alguns serviços, particularmente no domingo, não se faz sem dificuldade.
De outro lado, tinha pensado algumas vezes que você poderia, se assim for, me
acompanhar. Mas, não seria temeridade sonhar com isso, quando seu pessoal
e suas obras têm uma tão imperiosa necessidade de sua presença? O projeto, no
que me diz respeito, me parece bem pouco realizável. O Conselho julgará se
teria sérias vantagens, efetuado por um dos irmãos antigos.
O Sr. Le Camus, como se podia
presumir, testemunhou o desejo de continuar seus estudos eclesiásticos. Não
achei que devia me negar a isso, já que ele não tem impedimento pessoal e que
já fez um ano de teologia. Acho que o mandaremos a Angers, onde o seminário nos
faz, para o internato, condições suaves. Teria preferido que permanecesse no
interior da Comunidade, onde ainda está pouco assentado. Mas Metz é muito longe
e, para Amiens, como tinha mostrado inclinação para os Lazaristas, à qual
renunciou com um pouco de pesar, não acho que fosse muito prudente
recolocá-lonas mãos deles, por assim dizer, sob a direção de seu precedente
superior de Tours, que se encontra precisamente em Amiens. Por essas
razões, e fora o parecer do Conselho, me determinarei para Angers.
Adeus, meu excelente amigo e filho.
Andemos em espírito de fé, todas as nossas fraquezas e incapacidades são
admitidas nas vistas de Deus para nos situar no sobrenatural e num abandono
filial à sua divina Bondade.
Mil afeições a você e a todos.
Seu amigo e Pai afeiçoado
Le Prevost
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