Falecimento
do irmão Pialot: “o mundo tem poucos falecimentos tão consoladores”. O Sr. Le
Prevost logo em Roma. As
obras dos Círculos: separar o restaurante do Círculo; não fazer pedidos
exagerados ao Comitê; previsões orçamentárias a reduzir.
Chaville,
20 de janeiro de 1869
Meu
caríssimo filho em N.S.,
A
primeira linha desta carta pertence, em direito de caridade, ao nosso irmão
[Pierre] Pialot, que o divino Mestre acaba de chamar de volta para Si. Ontem,
dia 19, às 2h. da tarde, apagou-se mansamente, preparado pela recepção dos
sacramentos e por todas as consolações espirituais com que pudemos cercá-lo.
Não parece ter sofrido muito, mas, há vários meses, retido por um langor e uma
incapacidade absoluta, tinha esse estado doloroso de uma destruição lenta ou,
antes, de uma morte incessante, que se consuma dia-a-dia. É um tipo de cadinho
que purifica. Aceitou perfeitamente seu sacrifício, guardando perfeito
conhecimento até a última hora e entregando, bem submisso, sua alma nas mãos de
Deus. Assim é que morrem os verdadeiros religiosos. Todos os nossos irmãos
falecidos deixaram este mundo com os mesmos sentimentos. Pensemos nisso, nós,
que sobrevivemos, e se, às vezes, nossas provações nos parecem um pouco rudes,
reflitamos que é sábio aceitá-las, para nos assegurar um tal falecimento. O
mundo tem poucos falecimentos tão consoladores e, enquanto em nossa Congregação
a salvação é assegurada, ela fica bem incerta nos cuidados e preocupações da
terra.
Escrevo
uma palavra ao Sr. Charrin para dar-lhe coragem. Espero que a segurança
reiterada de minha próxima chegada vá tranqüilizá-lo e dar-lhe paciência. Não
terá, de resto, que aguardar muito tempo: segundo toda aparência, o mês de
fevereiro não passará sem que me ponha a caminho. Retardei até agora de
propósito minha visita de ano novo ao Monsenhor o Arcebispo de Paris, para
aproveitar a ocasião para obter seu consentimento a essa viagem. É um ato de
deferência necessário, mas, na atual situação, não tenho razão alguma para
temer uma recusa. Uma vez tomada essa providência, poderei acertar
definitivamente o momento em que o Sr. de Varax e eu nos encaminharemos para a
Villa Strozzi ou, antes, para São Pedro de Roma, pois iremos para vocês,
sem dúvida, mas, antes de tudo, é à Cidade eterna, à sede da catolicidade que,
como discípulos de Jesus Cristo, marcamos nossa destinação.
Para
o negócio Gennetier, acho que suas observações são fundamentadas. Já que a
situação atraiu a atenção do Sr. Descemet, você não poderia pedir-lhe para
intervir um pouco junto ao Sr. Gennetier? Seria para lhe fazer entender que as
condições a ele concedidas, para facilitar, num primeiro momento, seu
estabelecimento, não têm mais razão de serem mantidas hoje, quando está perfeitamente
assentado e com excelente êxito. O Sr. Maignen acha, e não é o único com seu
parecer, que seria uma vantagem para o Círculo São Miguel se o restaurante
fosse transportado para fora da casa. Mas Gennetier tem, na situação atual,
demasiadas vantagens para que se resigne de bom grado a se organizar fora.
Teria chance assim, porém, de chegar a um maior desenvolvimento de sua empresa.
A
lista de livros enviada por você para completar uma biblioteca era
infinitamente ambiciosa. Pedi ao Sr. Keller para ter a bondade de indicar qual
importância o Comitê podia destinar a essa despesa, para que, melhor fixados
sobre esse ponto essencial, possa designar as obras que, desde este momento,
seriam as mais necessárias.
Há
algum inconveniente em cair no exagero nos seus pedidos porque, uma vez
desconfiando de sua moderação, estarão dispostos a diminuir em todas as suas
reclamações. Nota-se, por exemplo, nas observações que manda o Sr. Emile
[Beauvais] para justificar suas proposições de orçamento, que indica como
provável a substituição de 4 tapetes dos bilhares. Não é de se presumir que,
tudo de uma vez, se tenha de renovar esses 4 tapetes. De outro lado, o Sr.
Emile avalia em 1000f
esse conserto. Aqui, em Paris, a substituição de um tapete custa 60f. Elevando-o, para Roma, a 100f, ainda se teria uma
singular redução sobre os 1000f
indicados. Fiquem dentro do verdadeiro. O Comitê está muito bem disposto, é
preciso mantê-lo na estima e na afeição que mostra para com vocês. Levarei os
projetos de orçamentos e os acertarei definitivamente com você, não que queira
lhe impor reduções prejudiciais para os Círculos, mas porque, após alguns meses
decorridos, pode desejar revê-los e corrigi-los, como já retificou suas contas
para 1868. Se achar que seria melhor mandá-los imediatamente tais quais,
escreva-me, os mandarei simplesmente ao Sr. Keller.
Não
tenho detalhes de verdadeiro interesse a lhe transmitir sobre a Comunidade e
sobre suas obras. Tudo anda nas condições ordinárias, com a graça de Deus.
Saint Charles se mantém bem. Um déficit de 10 000f na loteria obriga o Sr.
Decaux a diminuir as alocações de todos os patronatos. É uma dificuldade
para cada um. Deus, esperamos, fará sentir de outra maneira seu apoio.
Deixo-o,
caríssimos amigos, para prestar os últimos deveres ao nosso irmão Pialot, cujos
restos mortais estão sendo trazidos para cá. Nossos irmãos estão chegando,
tristes sem dúvida por se separarem desse bom e piedoso menino, mas cheios de
esperança, já que a separação é apenas momentânea e que a hora da reunião virá.
Adeus,
meus caríssimos amigos. Deixo-os também neste momento, mas logo, espero, os
tornarei a ver para rezar com vocês no túmulo dos Santos Apóstolos em Roma. É
como o vestíbulo do Céu.
Seu
amigo e Pai todo afeiçoado em Jesus e Maria.
Le Prevost
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