A estada em Roma. As diligências para
obter a aprovação das Constituições. O Sr. de Varax acrescenta algumas linhas.
Roma,
30 de março de 1869
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Eu
já lhe teria escrito várias vezes desde nossa chegada em Roma, se tivesse escutado
somente meu desejo, mas meu invólucro corporal é tão frágil, sabe, que serve
muito mal às minhas aspirações. Quero, ao menos, mandar-lhe estas poucas linhas
de lembrança, para assegurá-lo de que nem você, nem seus irmãos estão sendo
esquecidos nem, também, suas caras crianças, nas peregrinações que nos é dado
fazer em todos os piedosos santuários que visitamos.
Tencionava
um duplo objetivo em nossa viagem a Roma: recomendar aos Santos Apóstolos a
obra de apostolado que tentamos, todos juntos, há mais de 22 anos entre as
classes operárias, e solicitar a bênção do Vigário de Jesus Cristo neste mundo
sobre a pequena família que se formou ao nosso redor para sustentar essa obra.
Acho que realizamos esse duplo objetivo. Muitas vezes já rezamos na Confissão
de São Pedro, onde estão seus preciosos restos, e temos, o Sr. de Varax e eu,
celebrado a Santa Missa na prisão onde foi encarcerado antes de ser
crucificado. É um horroroso calabouço talhado no rochedo, sem luz nem ar; um
buraco furado na parte de cima e dando acesso para outra prisão servia para
descer, com uma corda, os que deviam gemer nesse local infecto. Aí se pergunta
se se tem o direito de rejeitar as humilhações e o sofrimento, quando os
fundadores da Igreja, nossos ancestrais na fé, foram tão provados. Confio que
essa impressão não será perdida por nós.
Pudemos
também receber, para nós e para nossa cara família, a bênção do Santo Padre,
primeiro em audiência pública, em seguida, duas vezes na praça São Pedro (a
grande bênção Urbi et Orbi, a mais de cem mil pessoas reunidas).
Enfim,
na segunda-feira passada, tivemos uma audiência particular do venerado Pio IX.
Dignou-se permitir-nos entretê-lo de nossa pequena Congregação e de suas obras.
Beijamos seu anel e recebemos sua bênção toda especial.
Feito
isso, parece que nossa missão está cumprida e que poderíamos cantar o Nunc
dimittis servum tuum, Domine [Deixai agora vosso servo ir em paz], como o
velho Simeão. Mas resta-nos acompanhar a questão das nossas Constituições. Já
está em boa posição: nossa Regra, com as cartas dos Bispos que nos recomendam,
estão nas mãos do Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação. Muitas pessoas com
funções importantes aqui se empenharam com a questão e nos apóiam com uma
benevolência toda imerecida, que devemos certamente aos Santos Sacrifícios,
orações e comunhões que toda a família oferece a cada dia por nós. Bendigamos,
então, ao Senhor que nos protegeu visivelmente e não cansemos de invocá-Lo:
toda a nossa força está ali.
Infelizmente,
algumas férias que tomam na Páscoa as administrações eclesiásticas e os
preparativos da festa dos cinqüenta anos de vida sacerdotal de Pio IX vão
atrasar sensivelmente o andamento de nosso assunto que, aliás, não é o único de
sua espécie para exame. Mas temos a confiança fundamentada de que, se não
conseguimos a conclusão durante nossa presença aqui, deixaremos o processo, no
entanto, bastante adiantado para ter boa esperança de seu sucesso.
Teria
muitos detalhes interessantes a acrescentar ainda aqui sobre as particularidades
de nossa estada em Roma, mas o tempo ou as forças me faltam. Há alguns dias,
sinto um cansaço bastante grande para estar obrigado ao repouso. Acho que esse
mal-estar não vai demorar.
Adeus,
meu excelente amigo. É uma grande consolação para mim o pensamento de que terei
conseguido, ao terminar minha carreira, obter, aos pés dos Santos Apóstolos e
do Soberano Pontífice, preciosas e certamente eficazes bênçãos sobre a pequena
família religiosa à qual votei minhas mais ternas afeições.
Seu
todo devotado amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
Um
mal-estar sem gravidade, acho, me obriga a recorrer ao Sr. de Varax, que
me serve complacentemente de secretário.
Caro
Senhor d’Arbois,
Acrescento
uma palavra, de meu lado, à carta do Padre Geral, para dizer-lhe que estou
inteiramente mergulhado nas orações e Santos Sacrifícios oferecidos aqui por
nossas obras. Nesta manhã, beijei as paredes da casa que habitava São Paulo
quando escreveu suas Epístolas aos Hebreus etc. Li, numa coluna de granito das
catacumbas trazida para essa casa, estas palavras gravadas: Verbum Dei non
est alligatum [a Palavra de Deus não está amarrada]. Possam elas ser nossa
divisa, e possamos, até nosso último suspiro, fazer esta única coisa: pregar
Nosso Senhor Jesus Cristo no meio dos operários.
No
Sábado Santo à noite, mandamos pedir ao Santo Padre que se digne abençoar todos
aqueles de nossas obras que fariam sua comunhão pascal no domingo cedo. Você e
os seus, portanto, receberam sua parte dessa bênção especial.
Adeus,
meu bom e venerado irmão. Mil afetuosas lembranças aos Srs. Gauffriau, Moutier,
Léon [Guichard] e a seus caros seminaristas [Srs. Boiry e Cauroy].
Seu
pequeno irmão muito humilde em N.S.
B. de Varax
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