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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1301 - 1400 (1868 - 1869)
    • 1394 - ao Sr. de Varax
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1394 - ao Sr. de Varax

Ao Sr. de Varax, que ficou para as diligências em vista da aprovação, o Sr. Le Prevost conta a viagem até Marselha. Conselhos. Impressão guardada da estada em Roma.

 

Marselha, 19 de abril de 1869

 

Meu caríssimo amigo e filho em N.S.,

 

Chegamos somente hoje em Marselha. Na sexta-feira, o mar estava muito encapelado em Civita, tivemos de parar e passar  a noite. No dia seguinte, embora o mar não estivesse mais calmo, pegamos o navio de transporteles Messageries”. A noite foi das mais ásperas: de uma a outra extremidade do navio, eram só gritos e gemidos. No domingo, no início da noite, o capitão, chegando à altura de Toulon, julgou prudente arribar ali e fazer descer todo seu mundo, não talvez porque haveria real perigo em prosseguir sua viagem, mas porque sobravam três ou quatro horas de travessia, piores do que as anteriores e de noite. Teve receio, sem dúvida, de exceder as potencialidades dos mais cansados. Portanto, com muito tumulto, muita pressa e muito estorvo nos navios de transporte, descemos em Toulon, às 9h30. Nesta manhã de segunda-feira, chegando a Marselha pela estrada de ferro às 11 h., instalamo-nos no hotel do Petit Saint Jean, Miotte414 e eu, para descansar. Quanto ao Sr. Emile [Beauvais], menos massacrado pelo mar, saiu para fazer suas corridas. O jovem soldado, ficando constantemente deitado, evitou quase todo mal. Quanto a mim, o ar sufocante das cabinas, junto com o movimento extremo do navio, me colocou entre os menos poupados. Tive, então, aí como em Roma, um sucesso de compaixão. Designavam-me como uma das mais lamentáveis vítimas, alguns faziam observar que, desde a chegada, já parecia doente. Tudo isso aumenta meu pesar de tê-lo deixado, vendo que você poderia ainda ter tirado partido de meu rosto desfigurado, cujo aspecto lhe parecia tão favorável para o êxito de nossas diligências junto às administrações romanas. Vou pedir a Deus para que a impressãoproduzida não se apague antes que você tenha tudo levado a um final feliz.

 

Um banho que acabo de tomar me aliviou muito. Conto partir amanhã, às 11h30, de Marselha, com o jovem Miotte, e prosseguir meu caminho sem parar até Paris, a menos que um cansaço extremo me force a parar em Lyon. Se guardar um pouco de força para ir diretamente, chegarei em Paris na quarta-feira, às 7 horas da manhã.

 

Receio um pouco que, na minha ausência, ceda demais a seu ardor ativo e faça um uso exagerado de suas forças. Não chamei suficientemente a atenção da Sra. de Varax415 a esse respeito. Peço-lhe com insistência para dizer-lhe essa minha inquietude (velho estilo do qual você gosta), para que fique vigiando tanto quanto puder. Aproveite, por favor, a ocasião para lhe oferecer meus respeitos e dizer-lhe que guardarei uma doce lembrança de suas bondades. A senhorita Lauffer colaborou também, e fico-lhe muito agradecido. Não esqueça de que deve lhe devolver 2f para os Prince-Albert que teve a bondade de comprar. Serviram para todos nós na viagem; 2 desses pequenos Princes constituíram toda a minha comida, com um caldo, durante 36 horas. Por isso, minha viagem a Roma completou minha magreza, que me parece agora chegada à sua mais elevada perfeição. Conto com Chaville para reparar todos esses desastres.

 

Diga a todos os nossos irmãos que fiquei feliz com seus protestos de afeição e que estou contente com o zelo que levam em suas obras. Que o mantenham pelo espírito de oração, para que Deus purifique e aumente ainda sua caridade. Faça-lhes espiritualmente todo o bem que puder. Uma vez mais, verifiquei junto deles que toda a nossa força vem do Senhor e que só nele podemos encontrá-la. Recomende-lhes o suporte e a paciência. José, no Egito, dizia a seus irmãos: “Não discutam no caminho”. Precisa dizer a mesma coisa em Roma, pois os homens não mudaram. Além disso, o Senhor Deus veio entre nós, e Ele também disse: “A Paz esteja convosco”. Quando Deus nos falou, é para obedecer.

 

Resumindo os frutos de minha viagem a Roma, volto feliz e contente. Outros lamentariam não ter feito mais e ter visto tão pouco. Acredito ter feito as coisas mais essenciais e ter visto as coisas mais dignas de serem contempladas. Essas me dão a idéia do resto e o contêm para mim como que implicitamente. Deus me faz a graça de ver um pouco este mundo nele; ali, não se tem necessidade de multiplicidade, a vista de conjunto basta para contentar a alma. Além disso, encontrei em Roma o de que mais gosto nesta terra: muita bondade, muitos corações simpáticos e generosos. Seria muito exigente se não estivesse satisfeito. Bendito seja o Senhor, concedeu-me uma grande graça para terminar; peço-Lhe mais uma só, é a de me bem preparar para me apresentar a Ele.

 

Pensei tarde demais em fazer uma visita à Sra. de Jurieu, cujo endereço a Sra. Courballet sabe, acho. Como faria bem, se visse a primeira e lhe dissesse que a pobre senhorita Antoniette, que cuidou com tanta dedicação da tia da Sra. de Jurieu (tia de quem esta foi herdeira), está em extrema angústia, porque sua pensão, há vários anos, não é paga. Digo-lhe os fatos, você falaria em meu nome, não lhe digo que deveria fazê-lo com delicadeza, é coisa que não precisa lhe recomendar.

 

Agradeça ao Sr. Doutor Laval, que não pude ver antes de minha saída. Escrevo com o avesso de uma pena; mesmo assim, vou tentar fazer duas palavras que mandaria a Monsenhor de Mérode. Você colocaria o endereço, não sei bem seu título e suas funções.

 

Adeus, meu excelente amigo e filho em N.S. Vou rezar muito com nossos irmãos para que complete a obra começada, a fim de voltar logo para nós.

Seu amigo e Pai afeiçoado

 

                                               Le Prevost

 

P.S. Lamento não poder escrever a meu filho Jean-Marie [Tourniquet] e a todos os nossos irmãos. Talvez possa ler para eles ou deixar que leiam esta carta que, em suma, é um pouco omnibus [para todos]; já sabe que faço cartas, sem procurá-lo, que podem ter várias finalidades e receber vários endereços.

 





414 Jovem zuavo pontifical que desejava estudar sua vocação na Comunidade.



415 A Sra. de Varax viera a Roma ao mesmo tempo que seu filho; passava regularmente ali uma parte do inverno.





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