Ao Sr. de
Varax, que ficou para as diligências em vista da aprovação, o Sr. Le Prevost
conta a viagem até Marselha. Conselhos. Impressão guardada da estada em Roma.
Marselha,
19 de abril de 1869
Meu
caríssimo amigo e filho em N.S.,
Chegamos
somente hoje em Marselha.
Na sexta-feira, o mar estava muito encapelado em Civita,
tivemos de parar e passar a noite. No dia seguinte, embora o mar não
estivesse mais calmo, pegamos o navio de transporte “les Messageries”. A noite
foi das mais ásperas: de uma a outra extremidade do navio, eram só gritos e
gemidos. No domingo, no início da noite, o capitão, chegando à altura de
Toulon, julgou prudente arribar ali e fazer descer todo seu mundo, não talvez
porque haveria real perigo em prosseguir sua viagem, mas porque sobravam três
ou quatro horas de travessia, piores do que as anteriores e de noite. Teve
receio, sem dúvida, de exceder as potencialidades dos mais cansados. Portanto,
com muito tumulto, muita pressa e muito estorvo nos navios de transporte,
descemos em Toulon, às 9h30. Nesta manhã de segunda-feira, chegando a Marselha
pela estrada de ferro às 11 h., instalamo-nos no hotel do Petit Saint Jean,
Miotte414 e eu, para descansar. Quanto ao Sr. Emile [Beauvais], menos
massacrado pelo mar, saiu para fazer suas corridas. O jovem soldado, ficando
constantemente deitado, evitou quase todo mal. Quanto a mim, o ar sufocante das
cabinas, junto com o movimento extremo do navio, me colocou entre os menos
poupados. Tive, então, aí como em Roma, um sucesso de compaixão. Designavam-me
como uma das mais lamentáveis vítimas, alguns faziam observar que, desde a
chegada, já parecia doente. Tudo isso aumenta meu pesar de tê-lo deixado, vendo
que você poderia ainda ter tirado partido de meu rosto desfigurado, cujo
aspecto lhe parecia tão favorável para o êxito de nossas diligências junto às
administrações romanas. Vou pedir a Deus para que a impressão já produzida não
se apague antes que você tenha tudo levado a um final feliz.
Um
banho que acabo de tomar me aliviou muito. Conto partir amanhã, às 11h30, de
Marselha, com o jovem Miotte, e prosseguir meu caminho sem parar até Paris, a
menos que um cansaço extremo me force a parar em Lyon. Se guardar um pouco
de força para ir diretamente, chegarei em Paris na quarta-feira, às 7 horas da
manhã.
Receio
um pouco que, na minha ausência, ceda demais a seu ardor ativo e faça um uso
exagerado de suas forças. Não chamei suficientemente a atenção da Sra. de Varax415
a esse respeito. Peço-lhe com insistência para dizer-lhe essa minha inquietude
(velho estilo do qual você gosta), para que fique vigiando tanto quanto puder.
Aproveite, por favor, a ocasião para lhe oferecer meus respeitos e dizer-lhe que
guardarei uma doce lembrança de suas bondades. A senhorita Lauffer colaborou
também, e fico-lhe muito agradecido. Não esqueça de que deve lhe devolver 2f para os Prince-Albert que
teve a bondade de comprar. Serviram para todos nós na viagem; 2 desses pequenos
Princes constituíram toda a minha comida, com um caldo, durante 36 horas. Por
isso, minha viagem a Roma completou minha magreza, que me parece agora chegada
à sua mais elevada perfeição. Conto com Chaville para reparar todos esses
desastres.
Diga
a todos os nossos irmãos que fiquei feliz com seus protestos de afeição e que
estou contente com o zelo que levam em suas obras. Que o mantenham pelo
espírito de oração, para que Deus purifique e aumente ainda sua caridade.
Faça-lhes espiritualmente todo o bem que puder. Uma vez mais, verifiquei junto
deles que toda a nossa força vem do Senhor e que só nele podemos encontrá-la.
Recomende-lhes o suporte e a paciência. José, no Egito, dizia a seus irmãos:
“Não discutam no caminho”. Precisa dizer a mesma coisa em Roma, pois os homens
não mudaram. Além disso, o Senhor Deus veio entre nós, e Ele também disse: “A
Paz esteja convosco”. Quando Deus nos falou, é para obedecer.
Resumindo
os frutos de minha viagem a Roma, volto feliz e contente. Outros lamentariam
não ter feito mais e ter visto tão pouco. Acredito ter feito as coisas mais
essenciais e ter visto as coisas mais dignas de serem contempladas. Essas me
dão a idéia do resto e o contêm para mim como que implicitamente. Deus me faz a
graça de ver um pouco este mundo nele; ali, não se tem necessidade de
multiplicidade, a vista de conjunto basta para contentar a alma. Além disso,
encontrei em Roma o de que mais gosto nesta terra: muita bondade, muitos
corações simpáticos e generosos. Seria muito exigente se não estivesse
satisfeito. Bendito seja o Senhor, concedeu-me uma grande graça para terminar;
peço-Lhe mais uma só, é a de me bem preparar para me apresentar a Ele.
Pensei
tarde demais em fazer uma visita à Sra. de Jurieu, cujo endereço a Sra.
Courballet sabe, acho. Como faria bem, se visse a primeira e lhe dissesse que a
pobre senhorita Antoniette, que cuidou com tanta dedicação da tia da Sra. de
Jurieu (tia de quem esta foi herdeira), está em extrema angústia, porque sua
pensão, há vários anos, não é paga. Digo-lhe os fatos, você falaria em meu
nome, não lhe digo que deveria fazê-lo com delicadeza, é coisa que não precisa
lhe recomendar.
Agradeça
ao Sr. Doutor Laval, que não pude ver antes de minha saída. Escrevo com o
avesso de uma pena; mesmo assim, vou tentar fazer duas palavras que mandaria a
Monsenhor de Mérode. Você colocaria o endereço, não sei bem seu título e suas
funções.
Adeus,
meu excelente amigo e filho em
N.S. Vou rezar muito com nossos irmãos para que complete a
obra começada, a fim de voltar logo para nós.
Seu
amigo e Pai afeiçoado
Le Prevost
P.S.
Lamento não poder escrever a meu filho Jean-Marie [Tourniquet] e a todos os
nossos irmãos. Talvez possa ler para eles ou deixar que leiam esta carta que,
em suma, é um pouco omnibus [para todos]; já sabe que faço cartas, sem
procurá-lo, que podem ter várias finalidades e receber vários endereços.
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