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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 40 - ao Sr. Levassor
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40 - ao Sr. Levassor

O projeto de Casa de estudantes continua firme. O Sr. Le Prevost examina, com sua esposa, outras soluções propostas pelo Sr. Levassor. Dois confrades da Sociedade de São Vicente de Paulo se interessam também pelo projeto.

 

Paris, 17 de março de 1835

 

            Parece agora bem certo, meu caro amigo, que Deus não o quer na situação que tínhamos desejado. Ele, que tem os corações em sua mão, podia facilmente tornar favorável a nós o de sua mãe, e não o fez. Mais tarde, talvez,  nos deixará ver por quê. Hoje, caro amigo, tenhamos confiança e submetamo-nos aguardando a hora dele. Qualquer pesar que me possa causar esse resultado de nossos projetos, sinto bem que ele é mais duro para você do que para mim; você o tinha  previsto menos talvez e aliás ele perturba mais essencialmente a ordem de sua vida.

 

            Mas o que importa isso? Para ambos não há este pensamento consolador de que uma vida, realmente dada a Deus de coração, nunca é inútil, e que ele bem sabe tirar proveito dela e dar-lhe um nobre emprego?

 

     Para você, meu amigo, ele fecha este caminho, pois  o chama para um melhor. Para mim, sem dúvida, a tarefa já a  mim confiada basta à minha fraqueza, se é que não lhe além. Assim, por aflita e triste que me pareça sua alma, estou tranqüilo, pois saberá ou se queixar ou se consolar; não tenha também demasiado pesar por mim, caro amigo. Como você, rezarei e, como você, reencontrarei a paz.

            Não é preciso dizer que não deixei de tentar ou de examinar os diferentes meios que você me indicava em sua carta, para impedir a inteira destruição de nossos projetos.

 

            Apesar da gravidade das considerações de que falei com você muitas vezes quanto aos meus recursos pessoais e às razões que me impedem de dispor deles livremente, examinei uma última vez a situação e consultei também minha esposa. Você sabe, caro amigo, como a doença nervosa de minha esposa a preocupa dolorosamente com pensamentos tristes e temores felizmente infundados; mas devo, você sabe também, para o descanso dela, levar isso em conta e não dar-lhe nenhum motivo de inquietude. Meus anos, disse-me ela, estão contados, se ainda devo ter alguns; durante estes poucos dias quereria repouso, não envolva, portanto, nem você nem a mim em nenhum embaraço, sinto-me incapaz de suportar nada disso. Que tudo isso não fosse fundado na razão, não importa. Não é verdade, meu caro amigo, que é meu dever dar-lhe um valor absoluto e não desprezá-lo? Minha esposa achava bom, no entanto, para não me recusar tudo, que eu tomasse a responsabilidade do aluguel da casa durante os dois últimos anos do contrato e que imediatamente eu desse 1.000 ou 2.000f, metade em móveis, para suprir a insuficiência dos  do estabelecimento, metade em dinheiro, para as outras necessidades, mas isso não enche o vazio, não aplaina nada. Precisa-se de uma importância redonda, um pouco mais redonda até que você parece acreditar. Em primeiro lugar 4.000f com seus 2.000f presumidos de lucro em fim de ano, para completar o pagamento a fazer ao Sr. Dufour. Depois, para assegurar o aluguel da casa durante o primeiro ano, mais 4.000f; para a reforma do mobiliário 1.500f, para primeiros adiantamentos e despesas correntes 2.000f. No total 11.500f e temos para prover  somente 1.000f, a tirar talvez de sua aposentadoria e a mesma quantia que posso oferecer. Sobra sempre, sendo otimistas, um déficit de 8 a 9.000f. Você notará  que esse cálculo é baseado na previsão que confesso pouco admissível, de um não êxito absoluto.

 

            Estive com o Sr. Marziou, com a intenção de lhe oferecer 1/3 do lucro, se quisesse adiantar essa importância, a fim de que uma grande chance lhe fosse dada em vantagem, se pudesse haver alguma chance em correr com saldo negativo. A proporção estava baseada aliás, como dissemos, tanto sobre a idade como sobre o caráter do Sr. Marziou que nos obrigava, ao mesmo tempo que íamos contratando um compromisso com ele, a dar-lhe apoio e força contra nós mesmos. Os outros dois terços do lucro deviam, em meu pensamento, pertencer, um a você, o outro a mim, e servir para completar o pagamento do estabelecimento.

 

            Encontrei o Senhor de la Noue68 no momento de minha visita ao Sr. Marziou e pude fazer minha proposição a este último com tão maiores garantias que podia ter um conselho todo natural num amigo inteiramente desinteressado. Logo na simples exposição dos fatos, ambos pegaram fogo e pediram ardentemente a realização do nosso projeto, oferecendo-se à porfia a concorrer com ele como numa coisa santa e útil para todos os nossos amigos cristãos. Mas, afinal, nem um nem outro tem atualmente a importância disponível de que precisaríamos e não podem assegurar expressamente que poderiam apresentá-la em tempo fixo. O Sr. Marziou está sendo chamado neste momento por sua família para prestação de contas, mas isso pode durar um certo tempo; sua maioridade, aliás, ainda não chegou. Enfim, seria de temer que sua família, numa legítima solicitude pela gestão de sua fortuna, reclame-lhe a direção, com bastante insistência para ligar as mãos ao nosso amigo. Ele partirá, portanto, daqui a pouco e espera poder nos dar resposta num prazo bastante breve; mas você e eu temos bastante conhecimento das coisas para não assentar uma determinação e concluir negócio sobre bases tão pouco seguras. Por outro lado, não vejo caminho nenhum aberto, o pensamento da oposição tão enérgica de sua mãe me aflige, aliás, e não me permite procurar tão livremente como teria querido os recursos que poderiam por acaso existir ainda. Nem mesmo, por vontade expressa, tentei os que você me tinha indicado, porque a você pertence e não a mim apreciar o grau de liberdade legítima que lhe resta sem faltar ao respeito e à submissão que deve à sua família. Limito-me portanto e limitar-me-ei à simples execução de suas instruções. Fica para mim ver o Sr. Dufour. Não pude encontrá-lo. Voltarei à noite. Em todo o caso, oferecerei você e a mim, à escolha dele, para vigiar a casa gratuitamente durante todo o tempo que ele queira se ausentar. Será uma compensação bem fraca pela incerteza em que o temos mantido até agora. Não é, aliás, de se esperar que ele se preste a qualquer conciliação do tipo da que você lhe tinha proposto, quer dizer, de conservar a propriedade do estabelecimento. Eis o meu pensamento, meu caro amigo, posso consignar aqui, com toda a certeza, a ruptura absoluta de nossos projetos e dizer adeus com você a esse agradável sonho.

 

            Posso escrevê-lo com toda a verdade, aquilo de que fico mais  sentido em tudo isso é você, é o apoio cristão que eu esperava encontrar em nossa associação. Deus a isso proverá e ele mesmo me amparará talvez. Reze a ele nessa intenção, eu o suplico, meu amigo, permaneçamos unidos pela oração ao menos, se devemos de outro jeito ficar separados. Mas, estou pensando nisso agora, você, então, vai abandonar Paris? E por quê? É quase somente ali que se pode estudar à vontade! Você não vai, então, passar ali ao menos uma parte de seu tempo? Sua carta parece dizer não, volte a esse assunto em  sua próxima carta. Adeus. Vou contar-lhe meu colóquio com o Sr. Dufour.

            Seu de coração em Jesus Cristo

 

                                               Le Prevost

            Peça por nós dois as orações do Sr. Lecomte.

 

 





68 Um artigo do Boletim da Sociedade de São Vicente de Paulo, intitulado as Origines de la Société de St Vincent-de-Paul, relata o episódio da reunião na qual os membros fundadores da Sociedade se reencontraram para tomarem uma grave decisão: deviam, sim ou não, acolher no seio do grupo um novo membro, na pessoa de Gustave Colas de la Noue? Desde a 3a ou 4a reunião, seja no dia 7 ou 14 de maio de 1833, G. de la Noue foi admitido no pequeno círculo e considerado como o 7o membro, já que Bailly não era, em termos próprios, membro do pequeno grupo (cf. Positio, p.63). Uma primeira virada é tomada naquele dia, pois não foi sem hesitação que o pequeno núcleo fundador se decidiu a admitir um membro suplementar, temendo romper, expandindo-se, o encanto de sua primeira intimidade. De la Noue fará parte das comissões constituídas em dezembro de 1834 e janeiro de 1835 para examinar a proposição de Ozanam de fracionar a conferência em várias seções (Positio, p.81-82).





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