Encorajamento
a firmar suas boas disposições. Não “se deter nos poucos momentos de abatimento
e até de dúvida”. Levar em conta o contexto desfavorável: “os tempos são maus,
a família é quase destruída, o Governo tende a apoderar-se das almas...”.
Necessidade e utilidade de nossas obras, concebidas para ajudar os pobres que
os meios ordinários da Igreja não podem atingir. O Sr. Le Prevost consciente
das forças e fraquezas do Instituto. Confiança para o futuro.
Chaville,
6 de dezembro de 1869
Meu
caríssimo amigo e filho em N.S.,
Respondo
à sua carta do dia 2 deste mês, senão longamente, o que os movimentos e
perturbações aos quais estou constantemente obrigado não me permitem muito, ao
menos para lhe dizer que li com atenção e interesse as aberturas de consciência
que me faz, em continuação a seu último retiro.
Parece-me
que o resultado definitivo desse tipo de inventário de suas disposições
interiores é, em muitos pontos, satisfatório. Alguns progressos em mansidão, em
desprezo e desconfiança de si mesmo, uma vontade mais firme para a obediência,
um amor mais marcado para os pequenos e os fracos, tudo isso é mesmo no
espírito cristão e bem essencial na vida de perfeição à qual aspiramos. Quanto
aos ímpetos da imaginação, dos sentidos, da expansão às vezes excessiva, é
sobretudo desse lado que temos de vigiar em nossa existência de todos os dias.
As ocasiões de faltas se renovam sem cessar, mas o benefício de seu retiro será
especialmente o de levá-lo a redobrar os cuidados e a mortificação para
submeter todas as suas faculdades inferiores à razão elevada divinamente
inspirada e que é a rainha de todo interior bem ordenado. Tudo isso bem visto,
bem sentido, bem aceito, como parece ter feito, dará uma boa e frutuosa
conclusão ao trabalho de seu recolhimento espiritual em Saint Acheul.
8
de dezembro. Imaculada Conceição. Vaugirard.
Retomo
aqui minha carta interrompida, sem ter grande certeza de concluí-la, a grande
festa do dia tendo trazido ao orfanato a maioria de nossos irmãos de Paris e de
Chaville.
Não
estranho, meu caro amigo, que tenha às vezes alguns momentos de saudade, de
abatimento, e mesmo de dúvida sobre a via em que se engajou. Deus providenciará
e esses mal-estares de espírito passarão, se já não estão longe. A casa e as
obras onde está sempre foram consideradas entre nós como sendo das mais rudes.
O pessoal das crianças e dos jovens, por si já bastante difícil, nunca foi
cultivado com bastante persistência e continuação para que tenha sido possível
formar ali um espírito e obter frutos completamente sérios. Para nossa situação
em geral, é preciso considerar que os tempos são ruins. Tudo concorre para
tornar o trabalho espiritual pouco produtivo. A família, esse primeiro e tão
admirável meio da Providência para modelar as almas, é quase destruída, falando
cristãmente, e não vive mais a não ser nos sentimentos naturais que exagera. O Governo,
que tende, per fas et nefas, a apoderar-se das almas, as extravia e as
perverte, e a Igreja mal basta, em seus meios ordinários, para as necessidades
dos fiéis que ainda sabem o caminho da paróquia. O que sobra fora dela é
imenso, o pobre povo sobretudo está errante como um rebanho sem pastor.
Desejamos, de nosso lado, dar-lhe um pouco de assistência; por esse
primeiro ponto ao menos, não se poderia negar que nossa vocação seja santa e
bem fundamentada. As necessidades a satisfazer sendo imensas, as assumimos
audaciosamente (demais talvez) em toda a sua extensão: abraçamos todas as
idades, desde a criança até o idoso. Acompanhamos o pobre e o operário em sua
educação, em seu trabalho, em suas necessidades espirituais e temporais e até
em seus divertimentos. Nos fizemos pobres para eles, partilhamos nossa casa com
eles e vivemos como eles. Se estivemos longe demais, Deus no-lo dirá, mas ao
menos o fundo essencial de uma verdadeira vocação religiosa não nos faltou,
aceitamos cordialmente a renúncia e a imolação. Nossas obras, assentadas nessa
base, podem se modificar com o tempo e segundo a luz que nos vai trazer a
experiência, mas a Congregação, posta em cima desse solo sólido, permanecerá,
tenho confiança. Se estivéssemos extraviados, como o desânimo o sussurrou no
seu ouvido, o bom Deus, que deu êxito e benção a quase todas as nossas obras e
que nos colocou em mãos recursos que nossa indústria, com certeza, não teria
criado, os Bispos que constantemente encorajaram nossos esforços e o Santo
Padre que os aprovou e abençoou, atenuariam muito nosso erro. Acho que podemos
banir essa inquietação.
Sua
apreciação sobre o pessoal da Congregação me parece também se ressentir da
disposição de espírito em que o puseram as dificuldades e os cansaços que
sofreu. Voltando a um sentimento mais justo, observará que temos bastante
sujeitos, tanto eclesiásticos como leigos, de uma virtude sólida para que,
excluindo tudo o que pareceria fraco demais, sobrasse ainda uma sociedade
consistente com bastante vida e valor espiritual para constituir um foco de um
verdadeiro poder. Direi mais, os pouco adiantados mesmo têm, ao menos, salvo
exceções bastante raras, as qualidades das pedras que se esconde na terra nas
construções: suportam os cansaços, as privações de uma vida severa, muitas
vezes bem pobre e sempre laboriosa. Pobres meninos! Faltaram, na maioria
das vezes, de cultura intelectual, das disciplinas do Noviciado. O pouco que
têm lhes é próprio, pois, nesse caso, a Congregação não lhes deu quase nada.
Mas é talvez essa falta da Congregação que você lhe censura e que o colocou em
dúvida sobre seu futuro. Pois bem, como estava escrevendo-lhe estas linhas,
neste mesmo instante, veio me ver o R.P. Sturm, Jesuíta, que está na chefia das
obras mais importantes de Lille e que goza de uma grande estima. Cheio do
pensamento que me ocupava ao responder a você, consultei-o a esse respeito.
Estivemos errados, falei, por ter cedido a circunstâncias que nos pareceram
imperiosas, assumindo mais postos, talvez, do que a prudência teria
aconselhado? Devemos nos inquietar de que um certo número de irmãos, de segunda
classe, estão bastante fracos e faltaram de cultura? Respondeu-me corajosa e
nitidamente: “Não. Do ponto de vista da prudência humana, seria um erro, mas
agiu com reta intenção e para as obras de Deus. Conte bem que Deus está
comprometido em sustentá-lo e que Ele o fará. Nós mesmos, acrescentou, muitas
vezes, ainda hoje, estamos obrigados a agir como você. Quando assumimos a
Bélgica, foi preciso ocuparmos ao mesmo tempo um grande número de postos, para
tomarmos as posições. Faltávamos de sujeitos. No entanto, avançamos, estávamos
fracos em todo lugar, insuficientes, inferiores à nossa tarefa. Mas, com o
tempo, nos fortalecemos, colégios e residências se estabeleceram, e a Bélgica
nos deverá, em muito grande parte, a fé e a vida cristã que a animam. Tenha,
então, boa coragem, me disse ao terminar, não há um só Instituto que, em sua
origem, não teve que atravessar as fases difíceis de que me fala. Sua
Congregação é da época. Com todos aqueles que a conhecem, a considero como
essencial e querida por Deus”. Essa autoridade, acrescida a muitas outras, me
pareceu responder aos pensamentos que o agitaram e de natureza a
tranqüilizá-lo.
O
jovem Eugène [Dufour] tem, com efeito, muitas vezes dores de dentes. Fora
disso, é bastante robusto e deve seguir o regime comum. É preciso não ceder
sobre isso. Bom menino e manso de caráter, ele é um pouco fraco, necessita de
ser amparado por uma direção contínua. Se se confessar a você, será bem.
Fizemos
hoje nosso encerramento do jubileu após três dias de exercícios preparatórios,
e festejamos ao mesmo tempo a Imaculada Conceição. A abertura do Concílio nos
preocupava com razão. Nossos irmãos eclesiásticos ofereceram nessa intenção o
Santo Sacrifício. O dia passou de modo feliz, lamentava-se somente a ausência
do Sr. Lantiez e a do Sr. Planchat que tem, para amanhã, dia 9, a primeira comunhão de 85
adultos e o batismo de um israelita. Você rezará, senão pela primeira comunhão,
ao menos pela perseverança dos que a fazem.
Tomo
parte no cansaço de saúde de nosso irmão Trousseau. Gostaria de lhe escrever
muitas vezes. Infelizmente, o tempo e as forças me faltam. O Sr. Ginet não me
disse qual havia sido a resposta de sua tia e quais [eram] também seus próprios
sentimentos no tocante aos estudos. Assegure bem toda essa casa, como a em que
está, de todos os meus afetuosos sentimentos.
Não
sei se lhe disse que o Sr. Gresser, enfim livre de seus laços, está todo
entregue à vida religiosa e às obras. Um novo seminarista [Sr. Perthuisot], já
bastante adiantado em teologia, tomou lugar em Chaville; pertencia à diocese de
Troyes. Talvez já lhe tenha escrito isso. Parece ser inteligente e bem
disposto. Seis seguem, portanto, as aulas de Versailles [Srs. Cauroy, Pradeaux,
Vernay, Frézet, Castellan e Perthuisot].
Adeus,
meu excelente amigo e filho em N.S., acredite em todos os meus sentimentos mais
afetuosos em Jesus e Maria.
Seu
amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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