Encorajamentos a tirar
as lições do passado, após o fracasso de seu projeto de casamento. Seu amigo
comum Gavard perdeu a mãe. Elogio ao jovem Edouard Guépin. Lacordaire em Notre-Dame. O Sr.
Le Prevost exorta seu amigo a dar à Gerbe uma nota mais católica.
2 de abril
de 1835
Como você está, meu caro Victor? Seu pobre coração, tão ulcerado, recuperou um
pouco de calma e de repouso? De todas suas cartas, a última que me
escreveu é a mais triste e a que mais me atormentou. Porém, passado o primeiro
momento, não pude achar em mim o mínimo pesar pelo essencial desse assunto. Sua
vida não andava por aí em seu verdadeiro caminho, todo o seu ser não poderia
ter ressaltado e ter seu valor. Passados os anos de ardor e de imaginação, você
não se teria encontrado, como lhe é preciso, no centro de uma verdadeira
família com deveres bem naturalmente deduzidos de uma situação boa e simples.
Fique no caminho comum, meu amigo, que é o melhor. É uma grande audácia
fazer-se exceção, e, se os motivos não são então plenamente puros e
justificados diante de Deus, resulta uma vida constantemente em conflito
a torto e a direito, penosa de seguir e cujo fim fica incerto. Você tem
plenas e amplas faculdades, olhe bem qual é o melhor e mais perfeito uso que
pode fazer delas, não para você sozinho, mas para todos, e faça-o enquanto a
escolha lhe fica aberta e livre. Deus veio em seu auxílio desta vez, arranca
violentamente de suas mãos de criança um brinquedo terrível que podia
machucá-lo, mas a experiência amadurece e faz tornar-se homem. Deus, talvez, o
deixará dono de si doravante, a responsabilidade de si mesmo ficará com você,
pense nisso. A vontade é um rude fardo a carregar. Escreva-me logo, meu amigo,
para me assegurar que está hoje mais tranqüilo, que o lado defeituoso de todo
esse passado lhe aparece agora claramente, que você renuncia a ele de coração e
não quer mais, doravante, deixar à imaginação parte tão grande em relação a seu
futuro. Perdoe-me de tomar tão exclusivamente as coisas de um só lado.
Você sabe, eu estava demais inclinado a vê-las favoravelmente enquanto houve
possibilidade de fazê-lo. A situação me parece hoje decidida pelo lado negativo
e insisto nisso com tanto maior força que seu interesse, como minha própria
inclinação, me incitava a isso de dois lados ao mesmo tempo.
Você ficou sabendo, sem dúvida, por intermédio de nosso amigo Gavard, a
perda de sua mãe. Ficou vigiando perto dela durante três dias e três
noites para ter um último olhar ou uma palavra de adeus, mas não havia mais
olhar nem palavra e nosso pobre amigo não conseguiu nada. Aonde vai, então, a
alma, em que recanto se esconde nesse momento, e por que via secreta passa
deste mundo para o mundo melhor? Partir assim, às escondidas, é bem triste, e
para quem vai e para quem fica: não é, amigo, que você não escolheria morrer
assim?
Vi de novo nosso amigo Ed. Guépin. Essa alma está, espero, bem na mão de Deus.
Não vi em nenhuma outra um abandono tão ingênuo, uma vontade tão simples e tão
aberta para a verdade. Creio que Deus e ele se amarão com ternura.
O Sr. Lacordaire, você sabe, faz maravilhas em Notre-Dame, e isso é tanto mais
consolador que a solicitude do auditório ultrapassa de longe o mérito do ensino
e mostra que há disposição providencial nos espíritos. Há, realmente, aqui
muitos motivos de esperança. Espero que isso o contagie e que seja o mesmo a
seu redor. Você, amigo, foco de toda união por ali, empurre, então, um pouco
para essa via de caridade todos aqueles dos quais Deus o fez o chefe.
Transfigure sua Gerbe, amigo, seria lindo e digno de você. O negócio
Levassor hoje morreu, sem retorno. Adeus, meu querido Victor, ame-me, amo-o com
ternura.
Le Prevost
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