Um
postulante não aprende nada da vida religiosa numa casa de obra com movimento incessante.
Cuidado a ter na contabilidade. A falta de reflexão e a impulsividade geram um
ativismo estéril e esgotante. Doença do irmão Gallais.
Chaville,
30 de março de 1870
Meu caro filho em N.S.,
Fiquei sabendo com alegria, por uma carta de nosso
irmão Emile [Beauvais], que nosso jovem Pappaz estava melhorando. Bendito seja
o Senhor! Esperemos que persevere; de outra forma, vigie de bem perto, e não
deixe de nos avisar se enfraquecesse de novo.
O pensamento que teria de pedir ao Sr. Descemet para
autorizar o Sr. Coquerel a habitar na Villa somente poderia ser realizável no
caso de combinar que a estada desse bom jovem em Roma seria temporária. Você
tem demais a experiência da vida que levamos para não ver, como nós, que o Sr.
Coquerel não aprenderá nada da vida religiosa no movimento incessante em que o
coloca seu posto, e com o pouco acompanhamento que se pode dar à sua formação
em seu novo estado. Pode se tratar de uma transição aceitável para um
tempo, mas um tempo limitado somente. Teria desejado que ele me escrevesse para
agradecer à Comunidade que consentiu no seu postulantado, e também para fazer
ato de submissão à condição que lhe pus para sua entrada no Noviciado, após uma
estada determinada em Roma.
Sem dizer-lhe precisamente que faço esta observação, seria
bom aconselhar-lhe que me escreva nesse sentido e que corresponda de vez em
quando comigo para que nossas relações e o laço de família comecem a se
estabelecer entre nós. Quanto mais o Sr. Coquerel parece ter qualidades, mais
importa não alterar seu caminho.
Não saberia recomendar-lhe demais, meu caríssimo
filho, pôr uma séria atenção em suas contas. Não o encontro protegido contra
toda censura nesse campo. Seria sábio, a meu ver e para o Conselho, empreender
menos coisas e fazê-las mais pousadamente. Limite-se, creia-me, às que são as
mais essenciais e execute-as com uma precisão maior. É uma tentação em nossas
obras, bem perigosa, o reconhecemos todos os dias, entregarmo-nos a uma
atividade excessiva, acrescentar sempre aos nossos empreendimentos
aperfeiçoamentos ou acessórios que nos esmagam e nos fazem, de nossa tarefa, um
fardo intolerável. Tudo o que é mal feito há de ser reiniciado, não dura, e,
muitas vezes, faz o mal em vez do bem. Não são censuras que faço, é um aviso de
amigo e de pai, é uma direção para o futuro.
Tinha combinado com o Comitê que as despesas do Sr.
Lantiez não estariam a cargo dessa administração. Vou mandar-lhe, portanto, 100f como indenisação para sua
comida. Sua viagem de ida a Roma não havia sido paga, provisoriamente, porque o
empregado, rua Servandoni, lhe dissera que isso deveria ser acertado em Marseille. Avisado
pelo Comitê, paguei imediatamente essa despesa. Se perceber algum erro notável,
como indicaria a reclamação do Sr. Descemet, dê-lhe uma séria atenção e veja
que fundamento poderia ter essa advertência do Sr. Descemet. Se, por acidente,
tivesse algum excedente, seria prudente não gastá-lo até certeza de que não
haverá razão para lhe ser reclamado.
Se Monsenhor Termoz não lhe reembolsasse os 26f do estojo para escritório,
avise-me para que não o deixe perdedor neste ponto. De outra forma, você tem de
fazer saldar as 26 intenções de missa. Quanto à importância de 13f, devida a você pelo Sr.
Codant, se prestou serviços um pouco apreciáveis às suas obras ou se pôde supor
que, comendo em sua casa, estivessem exercendo a hospitalidade para com ele,
poderia ser colocada essa despesa no capítulo das esmolas; senão, não haveria
inconveniente em lembrar-lhe sua dívida, fazendo-lhe notar que, nos Círculos,
todas as despesas estando a cargo do Comitê, não depende de você que sejam
postas, a seu bel-querer, na conta dele.
Mando ao Sr. Risse a relíquia de São Francisco Xavier
e o resto. O Pároco de Bezons ainda não veio.
Recomendo às suas orações e às de nossos irmãos o Sr.
Gallais, gravemente doente das bexigas. Tinha visitado e cuidado de um jovem de
sua obra atingido por esse mal; depois, sentindo-se cansado e doente, veio a
Chaville e, logo o mal se declarou; é dos mais violentos. O pobre irmão,
desfigurado, inchado, não fala mais e não parece mais ouvir. O médico diz, no
entanto, que não está vendo, até agora, um perigo notável. O mal está, neste
momento, em estado de epidemia em Paris e nos arredores, de tal modo que, de
memória de homem, não se viu nada igual. Todos os estabelecimentos, sem exeção
que eu saiba, fazem vacinar crianças e mestres. A mortalidade é considerável.
Certas instituições tiveram que ser evacuadas. Reze, portanto, pelos doentes, e
peça que um medo salutar prepare muitas conversões.
Seu todo afeiçoado amigo e Pai
Le Prevost
Está vendo o Sr. Choyer? Seu grupo de escultura tem
êxito? Boas lembranças para ele.